quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

MOBBING A NOVA PRAGA DO TRABALHO



  

Simone Demolinari




Mobbing é um termo ainda recente no Brasil, mas é tão antigo quanto o trabalho. É usado para descrever a violência emocional que acontece no ambiente corporativo. A palavra deriva do inglês que tem o sentido de “atacar”.
As empresas, ao recrutarem funcionários, avaliam sua capacidade de gerar resultado e dão pouca importância às suas características comportamentais. A questão é que um líder sem competência emocional pode gerar inúmeros conflitos numa equipe, inclusive mobbing.
Mobbing ou assédio moral, trata-se de reiteradas condutas ofensivas dirigidas a uma pessoa com o principal objetivo de humilhar, denegrir, depreciar e desestabilizar sua saúde psíquica. Muitas vezes, as agressões ocorrem de forma dissimulada, não ficando óbvio para os demais o que está acontecendo. Aliás, muitos até duvidam da versão da vítima, a julgando sensível demais ou com mania persecutória.
Um dos primeiros estudiosos a falar sobre esse assunto foi o psicólogo sueco Heinz Leymann, que definiu o fenômeno da seguinte forma:
“Uma psicologia do terror manifestado no ambiente de trabalho por uma comunicação hostil e sem ética direcionada a um indivíduo ou mais. A vítima, como forma de defesa, reprime-se, desenvolvendo um perfil que somente facilita ao agressor a prática de outras formas de assédio moral.”
Engana-se quem pensa que esse comportamento somente ocorre de chefe para subordinado. Apesar de mais raro, é possível ser o contrário – de subordinado para o chefe ou então entre colegas do mesmo nível hierárquico, o que é bastante comum. Um dado curioso é que as estatísticas atuais apontam maior número de ocorrências entre as mulheres.
O fenômeno pode ser classificado da seguinte forma:
Individual: é a agressão feita de forma “gratuita” com o único objetivo de mostrar poder.
Estratégico: esta forma tem o claro objetivo de provocar um pedido de demissão através da rendição emocional. Seja pelo funcionário causar incomodo ao agressor, pelo fato de ele custar caro para a organização ou por outros motivos semelhantes.
Transversal: este ocorre com membros da mesma equipe. Geralmente a vítima é alguém que destoa dos demais ou por não querer fazer conchavos ou por ser favorável a empresa.
Institucional: é o assédio implantado na cultura organizacional. Um exemplo típico são as empresas que estabelecem metas inatingíveis deixando o funcionário sempre em dívida com a empresa. Há um permanente clima de pressão gerando desgaste emocional e insatisfação geral da equipe.
Muitas vezes a empresa faz “vista grossa” para a situação, imbuída numa falsa crença de que a motivação pelo medo e humilhação trazem bons resultados. Razão pela qual esse comportamento se incorpora na cultura organizacional, fazendo daquela, uma empresa emocionalmente doente para se trabalhar.
Nem todos tem coragem de denunciar as agressões, com isso vivem em constante sofrimento e aos poucos vão se sentindo angustiados, tristes e deprimidos chegando ao ponto de pedir demissão para se ver livre daquela tortura emocional.

OS RICOS TAMBÉM ESTÃO SENDO PRESOS



  

Aristóteles Atheniensis



Vários advogados, juristas e professores publicaram uma “carta aberta de repúdio pela supressão episódica de direitos e garantias” que estaria havendo na operação Lava Jato. As críticas foram duras e severas: estaria desmontado o estado de direito no Brasil. Não haveria mais presunção de inocência, direito pleno de defesa, garantia de imparcialidade, juiz natural, uso devido da prisão provisória, vazamento seletivo de documentos, e por aí vai. Conclui a carta o amplo rol de violações, com a afirmativa de que há em curso uma “neoinquisição”.
A acusação merece reflexões, principalmente quando se diz violado o próprio estado democrático de direito, conquistado depois de tanto sacrifício, para o retorno à democracia. O que assusta na Lava Jato é a mudança cultural de um padrão longamente adotado no curso de nossa história: a inabalável convicção de que cadeia só existia para pobre e a Justiça só funcionava a favor dos ricos.
Esta crença está sendo derrubada pela confluência de três fatores convergentes: um Judiciário atuante, um Ministério Público vigilante e ativo e uma polícia (Polícia Federal) competente e compromissada. Todos estes fatores fixaram-se na solidez de um fato social que numa democracia é tudo: o apoio da vontade popular, cansada da impunidade.
Por isto é que as providências tomadas às vezes choca-me, à primeira vista, parecem arbitrárias. As prisões provisória e preventiva foram usadas dentro dos padrões legais. Ninguém foi forçado a firmar delação premiada. A decisão foi tomada porque a iminência de condenação severa levou os réus a optar pela colaboração, pela verdade dos fatos, em vez de ocultá-los. E vão ter o benefício que a lei lhes outorga. Em sua grande maioria, as prisões têm sido mantidas pelos tribunais superiores. Então, pergunta-se: todo o Judiciário brasileiro, em todas as instâncias, é submisso e corrupto?
A resposta é negativa. O Judiciário brasileiro tem muitos defeitos, mas a honestidade pessoal é um atributo elogiável da maioria de seus juízes. Se houve a opção de manter réus presos é porque a legalidade permitiu. O advogado Técio Lins e Silva criticou severamente a Lava Jato, afirmando que vivemos um momento pior do que os idos da ditadura. Mas é ele próprio que afirma que seu cliente e muitos outros réus foram soltos pelo STF. Logo o estado de direito e a Justiça funcionaram corretamente. Se a situação de fato for a mesma, outros terão a idêntica sina e o julgamento vai dizer quem deve cumprir pena.
Estávamos acostumados a outra realidade. Sempre que havia um escândalo de corrupção, forma-se a tal “batalha jurídica”, disparando-se pelos defensores dos réus a bateria de intermináveis recursos por quatro instâncias, até que os crimes prescrevessem ou os réus fossem absolvidos por falta de provas. Se os recursos existem, não se pode acusar o advogado de usá-los. Agora a situação mudou e o resultado todos estão vendo. O estado de direito também precisa de defesa e ela está atuando.
O “sagrado direito de defesa” tem como contraposto o igualmente sagrado direito do autor. É dever do Estado fazer valer o ordenamento jurídico, reprimir os furtos e roubos dos cofres públicos e mostrar ao povo que o dinheiro dos tributos está sendo empregado para o bem-estar coletivo e não mais guardado no bolso de gatunos.
Resta agora ao Congresso completar a mudança: aprovar a emenda Peluso, limitando-se a duas, e não mais a quatro, as instâncias. Dotar o país de leis penais simples e objetivas que permitam inocentar e culpar, como a mesma rapidez, os acusados, para mostrar ao povo que vivemos novos tempos. Se não formos capazes disto, a corrupção tomará conta de tudo. Então não haverá salvação para ninguém.
*Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SAIR DA ROTINA OU NÃO?



  

Luiz Hippert




Ai que tédio. Não aguento mais essa rotina... Quem nunca ouviu ou mesmo fez este lamento que atire a primeira pedra. Certamente nenhuma pedra foi atirada. Pois é, o assunto de hoje é ela mesma, essa grande injustiçada, a tal da rotina.
Olha só, vamos lá aos idos de muito antigamente, no tempo das cavernas. O cara tinha que sair pra caçar, senão ninguém comia, incluindo ele mesmo. Depois precisava fazer o que? Caçar outra vez, afinal comer é uma rotina da qual não dá pra abrir mão.
Na evolução, o povo começou a se organizar mais. Passou a plantar, a criar animais, enfim, a garantir o rango de todo dia. Aos poucos foram descobrindo os movimentos da natureza. Hora de plantar, hora de colher, hora de alimentar a bicharada, hora de ordenhar e até a hora de sacrificar a criação. Atividades com tempo bem organizadinho e determinado. Rotina.
Talvez você se lembre que outro dia falei de planejamento, produtividade e foco. Então, nada disso existe se a gente não se dobrar diante da realidade da importância de estabelecer rotinas. Isso mesmo, a grande vilã dos discursos sobre mudanças de vida, liberdade no trabalho e coisa e tal.
Ah tá, tudo bem. Mas com atividades ditas criativas, aí o papo é outro, né? Será? Vai o músico não tocar seu instrumento horas a fio, vai o ator ou bailarino não ensaiar exaustivamente a mesma fala ou passo, vai o escritor não sentar comportadamente na frente de um teclado, ou mesmo com papel e lápis na mão. Os resultados serão somente sonhos sonhados, e não realizados. Sem a rotina o máximo que você vai ter, muito provavelmente, é aquele projeto de livro que já dura três anos e tem apenas cinco páginas escritas, ainda por revisar.
No final das contas, é tudo bem simples: Fazer na hora que der é igual a não fazer. Porque o tempo não aparece, sempre tem alguma coisa na frente ou então tem vontade de menos. Não existe método mais eficiente pra driblar essa sabotagem natural do que determinar hora e local regulares pra cumprir o que precisa ser feito. Verdade, muitas vezes a gente precisa se obrigar a fazer, até mesmo quando se trata de fazer o que se gosta.
Lembra daquela história de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”? Olha ela aqui de novo. Porque não posso mentir e dizer que sou o cara mais disciplinado do mundo. Vou é passar vergonha na frente das pessoas que me conhecem de perto. Mas, em minha defesa, posso dizer que tudo que falo aqui é super sincero. Sincero e testado, se não por mim (mas por mim também), por muitas pessoas que viram a sua vida de procrastinador se transformar a partir de pequenas mudanças de hábitos e, principalmente, no questionamento de crenças. Sim, porque demonizar a rotina não passa de uma crença disseminada como se houvesse aí um conflito com liberdade. Não há. A rotina é grande amiga da liberdade, e quem experimenta a convivência das duas percebe isso sem nenhuma dificuldade.
Só presta atenção numa coisa. É muito fácil confundir rotina com zona de conforto. Aí sim, a coisa pega. Mas isso é papo pra outra coluna, qualquer dia desses aí pela frente.

PODEROSOS REUS DA LAVA JATO



  

Márcio Doti




Começa a mostrar as suas garras um movimento aparentemente só de advogados contra a mais elogiada e vitoriosa operação de combate à corrupção já desfechada no Brasil. Esse movimento, que num primeiro momento divulgou uma carta aberta, apoiado pelo presidente do PT, Rui Falcão, por razões muito lógicas, representa o que há de mais desrespeitoso ao interesse do povo brasileiro. É como se de repente se juntassem os praticantes de determinados crimes para criticar e tentar impor rótulos de radicais em corporações de combate ao crime que estivessem levando para a cadeia bandidos que atormentam a vida dos cidadãos de bem.
Para explicar esse absurdo só um ambiente em que faltam panelas nas mãos dos milhões que são vítimas dessa manobra sórdida e de indisfarçável atrevimento. Os réus da Lava Jato são poderosos proprietários ou diretores de empresas apanhadas pelos defensores da lei e que ontem abasteciam os bolsos dos operadores do poder com um dinheiro tirado dos brasileiros para encher, sobretudo, os seus próprios cofres com muita fartura e total impunidade. Eles tinham como parceiros os membros de partidos poderosos e da política que hoje navegam no mesmo iate às escondidas e em armações para desmontar os braços da Justiça, representados pelos setores não políticos e menos poderosos da Polícia Federal, do Ministério Público Federal e da própria Justiça do país.
O advogado Nabor Bulhões, que defende Marcelo Odebrecht, concede entrevista ao jornal “Folha de São Paulo” e faz inúmeras críticas ao juiz Sérgio Moro, repetindo o que fizeram advogados que lançaram a tal carta com o mesmo propósito de atacar a Lava Jato. Além de uma brilhante carreira de advogado, Bulhões tem em seu currículo a atuação como defensor do ex-presidente Fernando Collor no processo de impeachment, o bicheiro Carlinhos Cachoeira e o governo da Itália no processo de extradição de Cesare Battisti. São réus conhecidíssimos.
Era de se esperar que em meio aos preparativos feitos pelos palácios de Brasília e alguns palácios estaduais, como derrubar a Lei Anticorrupção e permitir que empresas às voltas com acusações de corrupção continuem prestando serviços e fornecendo materiais aos governos, também viessem aqueles preparativos originários dos poderosos endinheirados, amigos do poder, amigos do ex-presidente Lula, favorecidos por qualquer governo, a se lançar audaciosamente contra a única coisa verdadeiramente séria do Brasil atual, tão atolado em lama, qual seja o aparato baseado em Curitiba e do qual fazem parte a Polícia Federal, o Ministério Público Federal e o bem disposto e determinado juiz federal Sérgio Moro.
Que façam jus aos milhões que ganham esses advogados. Mas que não joguem pedras em quem está conseguindo desenterrar tantos malfeitores, tantos crápulas que se apoderam do sagrado dinheiro que pertence aos brasileiros, necessitados de itens básicos, enquanto esses se fartam indevidamente de tantos milhões de dólares e de reais. Mas no Brasil dos nossos dias, convenhamos, vale tudo.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...