terça-feira, 30 de novembro de 2021

OS CANDIDATOS SÉRGIO MORO E BOLSONARO SÃO OS PREFERIDOS DOS MILITARES

 

Rodolfo Costa – Gazeta do Povo

Maioria dos praças ainda apoia o presidente Bolsonaro, mas parte dos oficiais vê com bons olhos uma candidatura de terceira via.| Foto: Clauber Cleber Caetano/PR

Os militares estão divididos para as eleições de 2022. Boa parte dos praças, oficiais e oficiais-generais segue disposto a apoiar o presidente Jair Bolsonaro e dar seu voto a ele. Mas outra parcela considerável das Forças Armadas, da ativa e da reserva, prefere um candidato da terceira via – e o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) larga na frente nessa preferência. Apenas uma parcela pequena pode vir a apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Bolsonaro obteve o apoio dos militares em 2018 ao se apresentar como o candidato da renovação na política e contra a corrupção. À época, seus principais “fiadores” nas Forças Armadas foram os generais Augusto Heleno e Oswaldo Ferreira. Heleno, desde o início do governo Bolsonaro, chefia o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.

Mas muitos militares estão insatisfeitos, principalmente após a aproximação de Bolsonaro com o Centrão, a ponto de o presidente estar próximo de se filiar a um partido do bloco – o PL, partido comandado pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no caso do mensalão.

Por esse motivo, muitos integrantes das Forças Armadas começaram a cogitar a ideia de apoiar, em seus círculos mais próximos, um candidato da chamada terceira via. Outros podem se manifestar publicamente – a exemplo do general Santos Cruz, ex-ministro de Bolsonaro, que deve disputar uma cadeira ao Senado ou à Câmara dos Deputados no ano que vem.

Tratado como “traidor” pelos militares mais ideológicos que apoiam Bolsonaro, Santos Cruz se filiou ao Podemos na quinta-feira passada (25) para apoiar de forma mais prática e enérgica a candidatura do ex-juiz Sergio Moro. O general disse que “não se pode criminalizar a política” e que é preciso combater o “fanatismo e o extremismo” na política, que, segundo ele, só levam à “violência”. Com seu gesto, Santos Cruz pretende induzir outros militares a fazerem o mesmo.

O general reformado Paulo Chagas é outro que apoia a ideia de uma candidatura da terceira via, sobretudo a de Moro. Ele também cogita se filiar, embora não tenha decidido lançar candidatura.

O partido que preenche as melhores condições de acordo com o meu pensamento político e ideológico é o Podemos. Estava entre ele e o Novo. Mas já me defini pelo Podemos. A tendência é me filiar. Tem muita gente fazendo pressão para eu me candidatar a deputado federal, mas sinceramente não estou motivado a isso”, afirma o general.

Moro – ou outro candidato da terceira via mais à direita – tem mais chances de obter o apoio dos militares por causa do perfil da maioria deles: “conservador, patriota e de direita”.

Já a esquerda tem pouco apoio nas Forças Armadas, embora haja integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica que simpatizam com esse campo ideológico. “Sempre houve uma ala petista [nas Forças Armadas], mas é tão ínfima e tão pequena que eu nunca conheci alguém que se dizia petista”, afirma Chagas.


Como ocorre a discussão política entre os militares
Atualmente, a discussão eleitoral entre os militares ocorre por meio de grupos de WhatsApp e pelas redes sociais. Em geral, são nesses meios que os militares falam sobre candidatos de preferência e trocam material de leitura sobre as eleições de 2022.

O general Paulo Chagas diz que, em alguns casos, as discussões se dão num tom mais acalorado. “Algumas são, até certo ponto, acirradas, e que acabam, de alguma forma, interferindo até na amizade de companheiros. Santos Cruz e eu mesmo somos achincalhados por muitos [militares] ‘bolsonaristas’ mais fanáticos. Mas muitos falam mal de mim às escondidas, diferente do que acontece com o Santos Cruz”, afirma.

O que pensam os militares que apoiarão Bolsonaro
A maioria dos militares que já ingressou na política apoia Bolsonaro. Eles usam seu capital político para trabalhar suas candidaturas à reeleição e dar sustentação a Bolsonaro. Alguns exemplos são os deputados federais General Peternelli (PSL-SP) e General Girão (PSL-RN).

Mesmo o vice-presidente, general Hamilton Mourão (PRTB), que se distanciou de Bolsonaro, conta nos bastidores com o apoio do presidente para sair candidato a algum cargo majoritário: Senado ou governo estadual – possivelmente pelo Rio de Janeiro ou Rio Grande do Sul. Isso, porém, não impediu Mourão de manter conversas com o ex-ministro Sergio Moro. Segundo o jornal O Globo, o movimento faria parte dos esforços do ex-juiz para obter apoio dos militares para sua candidatura.

Os militares que apoiam Bolsonaro afirmam que o presidente da República manterá o apoio da maioria dos integrantes das Forças Armadas. “A cada cinco eleitores militares, você vai achar um a favor do Moro dentro das Forças Armadas, e olha lá”, diz um oficial da ativa do Exército de forma reservada.

A avaliação feita por militares apoiadores do presidente é de que Moro encontra maior apoio na cúpula do Exército e, sobretudo, entre oficiais-generais. Mas ponderam que a grande maioria dos praças e oficiais estarão com Bolsonaro em 2022.

“O desejo por uma terceira via reflete muito uma visão da cúpula do Exército, ali no alto comando, e ecoa entre os generais da reserva. Mas isso é mais um fenômeno da cúpula, e não da tropa. Na Marinha e na Força Aérea, a esmagadora maioria apoia o presidente”, diz um militar da ativa da Marinha. “A posição e opinião de oficiais-generais e superiores não refletem a ‘massa’ de militares”, complementa.

Alguns motivos são elencados pelos militares que apoiam Bolsonaro. Um deles é o prestígio que as Forças Armadas receberam do governo do atual presidente. “Ele vai nos eventos [militares], e isso é levado muito em conta. Está sempre afagando a tropa. Se ele não fez tudo o que poderia, e todos entendem as dificuldades de um país como o nosso, ele prestigia os militares. E isso, na base, é muito bem visto”, justifica um dos militares ouvidos pela reportagem.

É dito na cúpula das Forças Armadas, inclusive, que Bolsonaro vai comparecer a eventos militares até 2022 a fim de testar sua força junto aos militares e reforçar seu apoio. No sábado (27), por exemplo, ele compareceu a uma cerimônia de formatura de 391 cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), em Resende (RJ).

Outro militar ressalta que Bolsonaro é quem mais reflete o sentimento militar “antiesquerda” e de defesa de valores conservadores. “Bolsonaro é contra os exageros da esquerda e sempre verbaliza isso; é quem mais reflete o nosso pensamento. O Moro levanta as bandeiras do conservadorismo? É contra a política de ideologia de gênero? Ele parece ter uma única bandeira, a da anticorrupção”, diz. “Assim como a maioria da população, nós não desejamos o retrocesso ou os ‘modismos’ do progressismo”, acrescenta outro militar.

Institucionalmente e publicamente, nenhum dos comandantes das Forças Armadas vai verbalizar apoio formal a qualquer candidato. Mas seus gestos são vistos pelas tropas como indicativos sobre quem seria o favorito deles para 2022; e isso pode influenciar o voto de seus comandados.

No Exército, muitos na cúpula entendem que seu comandante, Paulo Sérgio de Oliveira, não fará gestos de apoio a Bolsonaro. Os demais comandantes, entretanto, já sinalizaram quem, eventualmente, terá o voto deles em 2022, na avaliação feita por militares ouvidos pela reportagem.

O desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios em agosto foi visto dentro das Forças Armadas como um gesto de alinhamento do comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, ao governo. “Aquilo, de certa forma, divulgou a Operação Formosa [da Marinha], mas foi um gesto de prestigiar o presidente em reconhecimento ao prestígio que ele dá às Forças Armadas”, analisa um dos militares ouvidos pela Gazeta do Povo.

Já o comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, curtiu, em agosto, um tuíte de uma internauta que acusou os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “ininterruptas interferências e perseguições” contra Bolsonaro e no qual os chama de “inimigos eternos”. Recentemente, ele também republicou um tuíte do deputado federal Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) em que faz críticas às menções de que o STF atua como um “poder moderador” do Executivo.

“Não era de competência do poder moderador fazer ativismo, alterar a constituição, criar leis ou mandar prender. O poder moderador era para manter harmonia através do veto, sanção e remoção de juízes abusivos”, comentou Orleans e Bragança na última sexta-feira (19) na mensagem republicada pelo comandante da Aeronáutica. O Poder Moderador existia no período da monarquia e era exercido pelo imperador do Brasil.

O que pensam os militares que buscam uma terceira via
Ao contrário do que dizem os militares que apoiam Bolsonaro, os que defendem a terceira via afirmam que a tendência dentro das Forças Armadas é que a maioria apoie outro candidato que não seja o atual presidente e nem Lula. “Esse pessoal que ainda está com o Bolsonaro é uma turma que ainda acha que a solução é um governo militar forte. Isso tudo é uma grande bobagem e um grande retrocesso. Não tenho dúvida que, qualitativamente, o apoio à terceira via é superior”, diz Paulo Chagas.

O general afirma que embasa seu argumento em conversas que tem tido com colegas e amigos que estão na ativa. Segundo ele, há muitos militares que se dizem desapontados com o governo. “Tenho encontrado mais gente decepcionada, e revoltada com o fato do Bolsonaro querer envolver a Força como fator de apoio ao governo dele, do que gente bolsonarista”, diz.

Essa ala dos militares entende que Bolsonaro inverteu as pautas defendidas durante as eleições em seu governo e “traiu” o eleitorado ao abandonar pautas como o combate à corrupção. “Os bolsonaristas chamam o Moro e o Santos Cruz de traidores. Mas traidor foi o Bolsonaro, que, no momento em que venceu a eleição, inverteu o quadro e passou a ouvir as pessoas erradas, como os filhos e o gabinete do ódio”, diz Chagas.

Além de críticas à ala mais ideológica do governo, Chagas também critica a aproximação de Bolsonaro com o Centrão. “Tem alguns que falam que ele se juntou com o Centrão porque o cara [o presidente], para governar, precisa fazer esse tipo de aliança. Eu discordo. E muita gente como eu discorda”, diz.

Apesar da defesa de uma terceira via e da preferência por Moro, Chagas evita dar apoio ao ex-juiz agora e diz que outros militares seguem o mesmo entendimento. “Se definir agora [o apoio por um candidato] vai se dividir. Tem que chegar no momento em que a terceira via se une em cima de um nome, e isso só vai acontecer lá por abril e maio [quando encerra o prazo eleitoral de registro de candidatura]”, diz.

A predileção por Moro de parte dos militares remete, de certa forma, ao mesmo espírito que levou os integrantes das Forças Armadas a apoiar Bolsonaro em 2018: a expectativa por um candidato que possa representar a “nova política” e que mantenha a defesa dos valores conservadores nos costumes e liberais na economia. “Os militares têm esse perfil e, mesmo que alguns não tenham, a maioria tem um perfil antagônico ao do PT e do resto da esquerda”, explica Paulo Chagas.

Ter Santos Cruz como um dos principais cabos eleitorais de Moro também é outro motivo que tem estimulado os militares inclinados à terceira via.

“Se isso [opção de Santos Cruz por Moro] vai ter alguma influência mais significativa ou não sobre os militares, isso aí a gente tem que esperar ainda um pouco porque ele está sendo massacrado por esse pessoal que ainda está do lado do Bolsonaro e está muito fanatizado”, diz Chagas.


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SABATINA DE ANDRÉ MENDONÇA INDICADO AO STF SERÁ AMANHÃ NO SENADO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo

O Advogado- Geral da Uniao (AGU), Andre Luiz de Almeida Mendonca, durante a coletiva de imprensa no Palacio do Planalto, sobre as acoes de enfrentamento no combate ao coronavirus (O Advogado- Geral da Uniao (AGU), Andre Luiz de Almeida Mendon

André Mendonça, ex-ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), foi indicado por Bolsonaro para o STF em meados de julho e será sabatinado no início de dezembro.| Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado realizará nesta quarta-feira, dia 1.º, a sabatina do ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União André Mendonça, quatro meses e meio após sua indicação por Jair Bolsonaro para uma vaga no Supremo Tribunal Federal. A segunda nomeação presidencial para cadeiras no STF se dá em circunstâncias bastante diferentes da primeira. No fim de 2020, Kassio Nunes Marques, apadrinhado pelo Centrão, passou tranquilamente por uma amistosa sabatina na CCJ e não teve problemas na votação, tanto na comissão quanto no plenário do Senado. Mendonça encontrará um ambiente bastante diverso.

O presidente da CCJ, Davi Alcolumbre (DEM-AP), aproveitando que o regimento do Senado não dava prazos fixos para a marcação de sabatinas de autoridades, segurou a indicação pelo máximo possível de tempo, e não é segredo para ninguém em Brasília que o senador gostaria de ver outro nome no Supremo, o de Augusto Aras, procurador-geral da República. Não será surpresa se senadores do grupo de Alcolumbre tentarem colocar Mendonça nas cordas, na esperança de que o indicado cometa algum deslize que custe o voto de algum senador indeciso – nos bastidores, acredita-se em uma confirmação de Mendonça, mas por margem muito curta; algumas poucas mudanças de opinião poderiam levar à rejeição de seu nome, na CCJ ou no plenário.

A composição atual do STF não tem nenhum ministro com o “pacote completo” tão desejável para fazer do Judiciário um poder que trabalhe efetivamente pelo bem do país

O Brasil sabe, há muito tempo, de que tipo de ministro do STF o país precisa. Vida ilibada, envergadura intelectual e o “notório saber jurídico” são essenciais, mas não bastam: precisamos de alguém que prestigie o bom combate à corrupção e não seja leniente com a roubalheira; que seja um defensor da vida e da família; que não se deixe levar por corporativismos ou estatismos; que respeite a separação de poderes e as prerrogativas do Executivo e do Legislativo; e que entenda seu grande papel de guardião da Constituição, e não seu redator, defendendo com todas as forças as liberdades e garantias individuais. O passado recente mostrou como o Supremo tem falhado em vários desses assuntos, do apagão da liberdade de expressão à vergonhosa sequência de decisões teratológicas que fizeram de Lula um ficha-limpa e de Sergio Moro um magistrado suspeito.

E a composição atual do STF não tem nenhum ministro com o “pacote completo” tão desejável para fazer do Judiciário um poder que trabalhe efetivamente pelo bem do país. Há ministros que têm posturas corretas em temas de vida e família, mas cujas decisões e votos estão destruindo a Lava Jato e minando o combate à corrupção; há ministros duros com a ladroagem, mas que defendem o que há de pior na pauta de costumes “progressista”; há quem decepcione em ambos os aspectos; há os que não demonstram o menor respeito pelas garantias do artigo 5.º da Constituição e seguem adiante com inquéritos ilegais e abusivos; há os que veem o Supremo como um “superpoder” e não titubeiam antes de tomar o lugar do Executivo e do Legislativo.


Mas nem sempre o ministro de que o Brasil precisa é o ministro que os senadores querem ver entronizado em uma cadeira do Supremo. Muitos parlamentares não escondem a preocupação com a possibilidade de Mendonça representar uma sobrevida para a Lava Jato dentro do STF – e o novo ministro terá como destino a Segunda Turma, que julga processos relativos à operação. Na comunidade jurídica, Mendonça é descrito como “lavajatista” ou “punitivista” moderado, mas ele vem afirmando que, no Supremo, será um “garantista” – ninguém será ingênuo de imaginar que o sabatinado comprometerá suas chances desagradando senadores; se Mendonça resolver contemporizar, no entanto, estará revelando mais sobre os senadores que sobre si mesmo, pois é muito preocupante o fato de haver um número razoável de senadores que veriam com maus olhos um candidato que afirme com todas as letras seu compromisso com o bom combate à corrupção.

Talvez este seja o grande problema com a eventual “dureza” dos senadores em relação a Mendonça na sabatina. Ordinariamente, é o que se esperaria de uma sessão de perguntas e respostas: que fosse ocasião não de salamaleques, mas de um interrogatório objetivo, com pressão, cobrança de posicionamentos e esclarecimentos, questionamentos sobre possíveis incoerências. Todo candidato ao Supremo deveria passar por uma sabatina criteriosa. Mas o rigor, aqui, servirá não para que tenhamos um indicado com o perfil de que o país necessita, mas para atender os interesses de um grupo político que preferia outro nome, ou para arrancar compromissos de leniência em um tema tão importante quanto o combate à corrupção. Que na quarta-feira o Brasil esteja atento às respostas de Mendonça, mas também às perguntas dos senadores.


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TERCEIRA VIA POLARIZADA ENTRE DORIA E SÉRGIO MORO

 

Eleições

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo

João Doria comemora vitória nas prévias tucanas, após um sistema de votação conturbado.| Foto: Divulgação / PSDB

O governador de São Paulo, João Doria, é enfim o candidato do PSDB para presidente da República – falta a decisão oficial da convenção, é claro, mas o jogo já acabou. Partindo desse ponto, a pergunta seguinte é e daí?

Um observador neutro, e que contasse só com números para basear sua opinião sobre a cena eleitoral do Brasil, poderia não se impressionar muito. Afinal, o PSDB perdeu cinco eleições presidenciais seguidas, uma depois da outra, numa sequência de quase 20 anos: perdeu em 2002, 2006, 2010, 2014 e 2018, quando conseguiu a proeza de ficar com só 4% dos votos. Se é esse o currículo de realizações que o partido tem a apresentar para 2022, por que todo esse barulho em torno da candidatura Doria?

A visão convencional da política brasileira de hoje mostra dois candidatos de verdade, o presidente Bolsonaro e o ex-presidente Lula – e depois, numa salada de nomes que inclui Doria, uma penca de candidatos disputando a medalha de bronze. Essa é, naturalmente, a situação como ela aparece hoje, um ano antes da eleição. A experiência mais elementar exige que se considere todos os cenários eleitorais de hoje como momentos de um filme que está em realização. Um ano, para uma eleição, é tempo demais – quem sabe o que vai acontecer até lá? Cuidado, portanto.

Nessa briga pelo terceiro lugar – ou, talvez, coisa mais gorda do que isso –, Doria parece ser o que tem mais volume de jogo, como dizem os locutores de futebol. Precisa ver, é claro, se tem voto, e voto do Oiapoque ao Chuí – é isso o que resolve, e não papagaiada na mídia.

Mas, por estar no governo de São Paulo, Doria tem chances de apresentar um bom show para o público no ano que vem – obras dignas de um Cirque du Soleil, por exemplo, e mais uma avalanche de comerciais mostrando as máquinas do Instituto Butantan em plena explosão produtiva da vacina. Seus adversários não têm nada parecido – só conversa. Doria vai fazer, também, o número clássico na política brasileira dos últimos anos: “ou eu ou o Lula”. Não vai deixar esse filé só para Bolsonaro.

O problema de Doria, como candidato, é o seu opaco lugar nas pesquisas, como elas estão hoje; se ficar nisso que tem agora, sua candidatura não ganha musculatura e os que disputam o bronze com ele tendem a se firmar como a “alternativa” a Bolsonaro e a Lula – a tal “terceira via” da qual você já se cansou de ouvir. É trabalho duro. Para alcançar seu competidor Sergio Moro, por exemplo, Doria tem de aumentar umas 10 vezes de tamanho.

O resto não parece interessar muito – é uma tiriricada do “Centrão”, com essa tal de “União Brasil” que pretende juntar numa candidatura só as piores figuras do Congresso e as centenas de milhões de reais que vão faturar com o fundo eleitoral. Disso aí, possivelmente, vai sair muita gente rica – mas presidente, mesmo, não sai.

Doria e Moro, portanto, é a corrida a acompanhar – quer dizer, para quem acha que vai haver uma outra corrida que não seja Bolsonaro x Lula.


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SENADORES QUEREM INTERFERIR NO PREÇO DE COMBUSTÍVEIS

 

Projeto de lei

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo

Projeto na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado interfere na política de preços da Petrobras.| Foto: Agência Petrobras

A sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado de André Mendonça, indicado pelo presidente da República para a vaga em aberto no Supremo Tribunal Federal, foi marcada para amanhã, quarta-feira (1º), finalmente. Ele foi indicado no dia 13 de julho, o primeiro do mês do semestre, e vai ser sabatinado agora, no início do último mês do semestre e do ano.

A sabatina é importante porque destrava o processo de nomeação de Mendonça. O Supremo deve ter 11 ministros, mas atualmente conta com apenas dez. Isso vem causando empates em julgamentos na Corte, inclusive de ações penais. O ministro Luiz Fux, presidente do STF, decidiu que nem todo empate irá beneficiar o réu, como já aconteceu na Segunda Turma.

O julgamento do ex-deputado André Moura, que foi líder na Câmara do governo Temer, deu empate de 2 x 2. A turma deveria ter cinco ministros, mas está com uma a menos. No plenário, novo empate, agora por 5 x 5. Por isso, Fux decidiu que tem que esperar que o novo ministro chegue e desempate esse julgamento, entre outros, dando o voto de minerva.

E vamos ver se os senadores sabatinam logo também três novos conselheiros indicados do Conselho Nacional de Justiça, que está com três cadeiras vagas. Tudo por causa de uma vontade pessoal do senador David Alcolumbre (DEM-AP), presidente da CCJ.

Interferência na política de preços da Petrobras
O senador Otto Alencar (PSD-BA), que vocês conhecem da CPI da Covid, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, vai examinar e votar um projeto de lei que interfere na política de preço da Petrobras. Eu acho isso muito fascista, comunista.

Isso interfere no planejamento estatal e faz imposição numa empresa de capital aberto, que tem ações no mercado e não apenas na bolsa de São Paulo (B3), mas no mundo inteiro. Tudo bem que a maioria das ações com voto são do governo federal, o que dá o direito ao governo de nomear o presidente da empresa, por exemplo. Agora, não se pode interferir em algo que compete à companhia definir de acordo com sua planilha de custos e operações. Eu acho muito estranho.

E tem mais: o projeto cria um imposto sobre exportação de petróleo. É uma enorme interferência, que não dá certo. É uma mania nesse país, dos socializantes, que na verdade agem como fascistas ou comunistas, em que o Estado manda em tudo. E aí reprime a liberdade. Os cidadãos que deveriam ser os patrões do Estado, que deveria existir para servir aos contribuintes, têm que assistir situações absurdas como essa.

Por sinal, estava lendo uma carta de Raul Pilla para o então general Olímpio Mourão Filho e ele dizia que não é justo que haja centralização de planejamento econômico numa democracia. Porque se trata de dinheiro do público, que tem que ser aplicado de acordo com a vontade do público. E não de acordo com a vontade do Estado.

TSE conclui testes com urna eletrônica
O Tribunal Superior Eleitoral anunciou o resultado da experiência de 29 tentativas de entrar e violar a votação da urna eletrônica. Cinco foram exitosas. Uma delas, da Polícia Federal, chegou a entrar na rede do TSE, mas não alterou o resultado de eleição. Outra conseguiu violar o sigilo do eleitor na urna eletrônica. E outra conseguiu pôr um bluetooth que transmitiu os votos da urna para um hacker.

Segundo o ministro Luis Roberto Barroso, presidente do TSE, nenhuma delas alteraria o resultado de uma eleição, mas levantou pontos fracos que terão de ser resolvidos.

Ação contra garimpeiros
Eu vi imagens e o depoimento de famílias de garimpeiros do Rio Madeira, e fico me perguntando: será que era necessária tanta violência? Queimaram balsas que serviam de moradia para os garimpeiros com suas famílias. Queimaram roupa de cama, roupas, dinheiro guardado, tudo. Eles saíram só com a roupa de corpo e sem a comida para o dia.

Esse tipo de ação choca bastante. Não vou entrar no mérito sobre o garimpo. Acho que há outras formas de se cumprir as leis quando não se trata de bandidos perigosos. Era gente que estava trabalhando, inclusive para o país, retirando a riqueza do solo que, teoricamente, é da União.

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BIOGRAFIA DE LULA É UMA FARSA POLÍTICO-INTELECTUAL

 

Volume 1

Por
Paulo Polzonoff Jr. – Gazeta do Povo

Em “Lula, volume 1”, o biografado é um herói abnegado, um ungido vítima de uma injustiça e investido da missão de provar sua inocência e, mais uma vez, salvar o país do jugo das elites.| Foto: Reprodução/ Twitter

Terminei de ler “Lula, volume 1”, de Fernando Morais, há uma semana. Abandonei o Kindle sobre o criado-mudo e, sei lá, fui viver a vida. Não fiz anotações, não dei estrelinhas no Goodreads. Sabendo que teria de escrever sobre o assunto, o máximo que consegui concatenar ao virar a última frase foi o título que encima esta coluna. E que, por puro milagre, não esqueci.

Foi necessária uma bronca do meu editor para que eu me lembrasse da leitura do calhamaço inútil. “Quero o texto sobre a biografia do Lula sobre a minha mesa até as 17h!”, exigiu ele. Me prontifiquei a fazer o que fosse possível. E, assim, os dias foram passando sem que eu fosse capaz de escrever sobre um livro que nada mais é do que um razoável fenômeno editorial oportunista de uma época corrompida pela estupidez ideológica.

Meu trabalho de Hércules tinha um complicador: o fato de eu escrever, em tese, para uma maioria de leitores que não nutre exatamente admiração pelo biografado. Nem pelo biógrafo. Ora, eu mesmo não nutro admiração ou simpatia por eles. Se Lula desperta em mim alguma coisa além de asco é só porque se trata de uma figura de inegável importância histórica. Quanto a Fernando Morais, eu agradeço pelo prazer que senti ao ler “Chatô” na adolescência. Fora isso, que pena, Fernandinho. Que pena!…

Aí se impõe o primeiro desafio ao leitor: como consumir com “neutralidade”, ou melhor, com honestidade intelectual um produto que se sabe de antemão contaminado por desonestidades político-intelectuais de toda sorte? A meu ver, é impossível. E olha que eu tentei, hein? Ah, se tentei. Linha por linha dos primeiros capítulos eu li dando todos os tipos de descontos para o autor e o objeto de sua obra. Mas o que fazer se, também linha por linha, me deparava com adjetivos e advérbios malandramente planejados para compor uma peça de propaganda muito distante de se passar por documento histórico?

É isso o que “Lula, volume 1” faz: torna o leitor cúmplice de uma farsa político-intelectual. Político-editorial? Político-historiográfica? Enfim, uma farsa. Como se o simples ato de ler 600 páginas chancelasse a falsa narrativa épica do herói descalço que virou imperador dos pobres, foi preso injustamente por um juiz malvado e ressurgiu das cinzas nos braços do povo, em meio a um regime fascista. Olha só esse trecho aqui (um dos poucos que anotei) em que Fernando Morais fala da violência das delações premiadas que culminaram com a prisão de corruptos e corruptores: “Nem todos, porém, se deixaram vergar à violência. Isso não ocorreu apenas entre militantes do PT, como o bancário João Vaccari Neto…”

Em resumo, se eu lesse “Lula, volume 1” no ônibus, teria que ficar balançando negativamente a cabeça, só para mostrar aos outros passageiros que não concordo com nada daquilo. O que, por lógica, me faz crer que a biografia tenha sido escrita justamente para que os militantes exibam a sua fidelidade ao líder petista, numa triste (mas provável) sinalização de desvirtude. Curiosamente, só senti uma espécie de prazer intelectual ao ler “Lula, volume 1” depois que comecei a imaginar como um militante petista estava lendo aquele troço. Digo, tudo o que eu lia levemente indignado o petista deveria estar lendo com um prazer escandaloso.

A começar pela opção do autor de contar a vida de Lula partindo de sua prisão. Veja só. O homem governou o país por 8 anos; durante esse tempo, falou e fez o que quis; se deixou de fazer alguma coisa, não foi por falta de oportunidade; teve o apoio (comprado) do Congresso, do Judiciário, da maioria da população; deixou o cargo com recordes estratosféricos de aprovação. E ainda assim o biógrafo tem a pachorra de me dizer que Lula estava sendo preso para impedir a salvação do Brasil?

Sem falar nos muitos momentos, uns mais explícitos, outros até que sutis, de idolatria. “Lula aparentava tranquilidade” é uma descrição que, não por acaso, aparece trocentas vezes ao longo da narrativa da prisão. Que, por sinal, Fernando Morais introduz como um momento de ruptura na normalidade democrática. “A atmosfera era a de um modorrento fim de expediente como qualquer outro”, escreve Morais. Na primeira frase do livro!

Em “Lula, volume 1”, o biografado é sempre racional. Sempre carinhoso. Sempre compreensivo. Se Lula se zanga, sua ira é justificável. Afinal, ele é um herói abnegado, um ungido vítima de uma injustiça e investido da missão de provar sua inocência e, mais uma vez, salvar o país do jugo das elites. Não que eu, conhecendo o trabalho de Fernando Morais como conheço, esperasse dele uma “análise crítica” de Lula. Mas seria demais pedir um pouco de parcimônia? Um pouco de humanidade – no sentido até de se querer entender as motivações erradas de um personagem que é imperfeito por ser humano, e não só por ser petista, esquerdista, comunista, adorador de ditadores, mitômano, narcisista, messiânico, hipócrita, etc.

Felizmente para Morais, consta que o livro está vendendo bem, obrigado. Cinquenta mil cópias teriam sido vendidas na primeira semana. O que só prova que, entre os raros leitores deste país, Lula ainda é uma sereia de canto mortalmente sedutor. Isso sem falar nos que compraram o livro apenas para expô-lo na mesinha de centro, a fim de que ele sirva de tema de conversa. Ou provocação.

Infelizmente para Morais, e felizmente para quem resiste a se deixar seduzir pela sereia rouca, acintosos esforços de propaganda como “Lula, volume 1” tendem a perder força com o tempo, sobretudo depois que o biografado morre, o mito se decompõe e a verdade prevalece, senão nas estantes dos quartos-e-salas fedorentos da intelligentsia, nesse éter justo que chamamos de imortalidade.


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FILIAÇÃO DE BOLSONARO AO PARTIDO PL SERÁ HOJE

Eleições
Por
Wesley Oliveira – Gazeta do Povo
Brasília

Bolsonaro negociou diretamente os acordos para se filiar ao PL| Foto: Marcos Corrêa/PR

Depois de dois anos sem uma legenda, o presidente Jair Bolsonaro assina nesta terça-feira (30) sua filiação ao Partido Liberal (PL). Integrante do Centrão, a sigla tem a terceira maior bancada da Câmara com 43 deputados, atrás apenas do PSL (54) e do PT (53).

O evento de filiação vai ocorrer em Brasília na data em que se comemora o Dia do Evangélico na capital do país. Segundo aliados do Planalto, a ideia é que a filiação tenha um tom religioso e que lideranças evangélicas participem da cerimônia ao lado do presidente Bolsonaro, entre elas o deputado Marco Feliciano (PL-SP). Esse grupo é um dos principais aliados do Palácio do Planalto.

O evento de filiação deve contar ainda com parte da bancada do PSL, como a deputada Carla Zambelli (SP), Bia Kicis (DF), Hélio Negão (RJ) e Major Vitor Hugo (GO). A expectativa é de que cerca de 30 deputados que atualmente estão no PSL sigam o presidente para o PL durante a janela partidária do próximo ano.

Flávio Bolsonaro e Marinho também vão se filiar ao PL
Além do presidente da República, o senador Flávio Bolsonaro (RJ) também vai assinar sua filiação ao PL na mesma cerimônia. O parlamentar está filiado ao Patriota há cerca de seis meses, quando tentou acertar a entrada do pai na legenda, o que acabou não se concretizando.

Ministros do alto escalão do governo também devem marcar presença no evento, como a ministra Damares Alves (Mulher e dos Direitos Humanos); Tereza Cristina (Agricultura); Tarcísio Freitas (Infraestrutura), entre outros. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e demais parlamentares do Centrão também são esperados para a cerimônia.

Outro nome que pretende entrar no PL na mesma cerimônia é o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. O chefe da pasta planeja disputar uma cadeira no Senado pelo estado do Rio Grande do Norte, onde disputa espaço com o ministro das Comunicações, Fábio Faria, que deve deixar o PSD para se filiar ao PP.

Filiação abre caminho para a construção de candidaturas de aliados 
Além da articulação da candidatura à reeleição de Bolsonaro, a filiação do presidente ao PL vai pavimentar a candidatura de aliados aos governos estaduais e ao Senado. Uma das exigências de Bolsonaro é indicar os nomes de candidatos ao Senado em todos os estados na disputa do próximo ano.

Até então o presidente vinha sendo pressionado por aliados para que a escolha de seu partido fosse feita ainda neste ano, para que eles tivessem tempo de construir alianças e palanques regionais. Além do PL, Bolsonaro deve contar com o apoio do PP, presidido pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e do Republicanos, ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. O trio compõe o núcleo duro do Centrão, base de sustentação do governo no Congresso.

A expectativa é de que as filiações de aliados bolsonaristas sejam divididas entre os três partidos. A ideia, segundo aliados do Planalto, é que a construção dos palanques e as candidaturas a deputados federais e estaduais passem necessariamente pelas negociações conjuntas dos três principais partidos. A deputada Alê Silva (PSL-MG), por exemplo, deve ir para o Republicanos, enquanto a ministra Tereza Cristina deve ir para o PP.

Na Bahia, por exemplo, o ministro da Cidadania, João Roma, pretende disputar o governo pelo Republicanos com apoio do Palácio do Planalto. Na Paraíba, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pretende disputar uma cadeira do Senado, mas ainda não houve acordo para onde irá sua filiação.

No Rio Grande do Sul, o ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, pretende disputar o governo estadual e já encaminha sua filiação ao PL. A candidatura, no entanto, depende de uma composição com o senador Luiz Carlos Heinze, que é pré-candidato pelo PP. Lideranças dos dois partidos admitem que um acordo terá que ser construído nos próximos meses para que não haja uma divisão do grupo no estado.

Filiação de Bolsonaro ao PL deve provocar debandada de opositores 
A chegada do presidente Bolsonaro ao PL deve provocar uma debandada de alguns quadros do partido que fazem oposição ao Palácio do Planalto. Apesar disso, a expectativa é de que não haja retaliação por parte do presidente do PL, Valdemar Costa Neto. Entre as possíveis baixas estão o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), o deputado Tiririca (SP) e o ex-ministro Mauricio Quintella, que preside o diretório do PL em Alagoas e é aliado do governador Renan Filho (MDB).

Mesmo com as baixas, Costa Neto acredita que o saldo final da chegada de Bolsonaro será positivo e a bancada do partido será ampliada na próxima legislatura. Nos cálculos, integrantes do PL estimam eleger cerca de 65 deputados e ao menos 10 senadores apoiados pelo presidente.

Antes de acertar a filiação de Bolsonaro, o presidente do PL recebeu “carta branca” dos demais diretórios estaduais. “Todo mundo vai receber o presidente de braços abertos”, sinalizou o senador Jorginho Mello (PL-SC), um dos entusiastas da chegada do presidente ao partido.

Idas e vindas 
A concretização do acordo foi marcada por idas e vindas, e inicialmente a filiação de Bolsonaro estava prevista para ocorrer no dia 22 de novembro, pois a data faria alusão ao número do PL nas urnas. No entanto, Bolsonaro acabou recuando depois de entraves em diretórios como o de São Paulo, onde havia um acordo para que o partido apoiasse a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB), atual vice-governador, para a sucessão de João Doria em 2022. “A gente não vai aceitar, por exemplo, São Paulo apoiar alguém do PSDB”, disse o chefe do Planalto na ocasião.

Além disso, havia acordos do PL com aliados do PT em estados do Nordeste como Piauí e Pernambuco, por exemplo. Agora, tanto integrantes do PL quanto aliados do Planalto admitem que a situação está pacificada e que Bolsonaro irá participar da construção das chapas aos governos estaduais e indicar nomes para o Senado.

“Tudo certo para ser um casamento [com o PL] que seremos felizes para sempre. Acertamos São Paulo, alguns estados do Nordeste. No macro, foi tudo conversado com Valdemar, sem problema”, afirmou Bolsonaro na semana passada.

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COMBUSTÍVEIS VERDE EXISTEM E DEVEM SER IMPLMENTADOS NO FUTURO

 

Empresas buscam ampliar a capacidade de produção de combustíveis menos poluentes para caminhões, carros e até aviões como forma de reduzir a emissão de carbono no País

Luciana Dyniewicz – Jornal Estadão

A 35 quilômetros de Assunção, capital do Paraguai, em uma cidade de pouco mais de 35 mil habitantes chamada Villeta, o grupo brasileiro ECB (dono da fabricante de biodiesel BSBios) está investindo US$ 800 milhões (cerca de R$ 4,5 bilhões) em uma usina que produzirá combustíveis do futuro. Serão fabricados no local diesel verde (HVO) e querosene de aviação renovável. A planta deve começar a operar apenas em 2025, mas toda sua produção até 2030 já está vendida para a Shell e a BP.

Se estivesse operando hoje, a unidade elevaria a receita anual do grupo ECB em US$ 1,2 bilhão (R$ 6,7 bilhões). Em 2020, o faturamento do grupo foi de R$ 5,3 bilhões e, para 2021, estão previstos R$ 8 bilhões. “O comprometimento da sociedade (com a redução de carbono) em 2030 vai ser ainda maior. Então, a expectativa é que o negócio fique ainda melhor depois disso”, diz o presidente do EBC, Erasmo Carlos Battistella.

Área no Paraguai onde a usina do grupo ECB será erguidaDIVULGAÇÃO/GRUPO ECB

O empresário pretende desenvolver um projeto semelhante no Brasil assim que o HVO for regulado no País – o assunto está em debate no Congresso. Adiantado-se a isso, a Brasil Biofuels, produtora de óleo de palma, anunciou na semana passada a construção da primeira unidade de HVO do País, que será instalada na Zona Franca de Manaus e receberá um aporte de R$ 1,8 bilhão.

HVO (sigla em inglês para óleo vegetal hidrotratado) emite até 85% menos gás carbônico que o diesel comum e pode ser usado em veículos a diesel sem que os motores precisem ser adaptados. Ele é produzido a partir de óleo de cozinha, de óleos vegetais, como óleo de palma, soja ou girassol, e de gorduras animais, que reagem com o hidrogênio.

Apesar de haver só um projeto anunciado para o País até agora e de a regulação ainda estar indefinida, o HVO – e outros biocombustíveis – tem grande potencial no Brasil, além de um mercado promissor que deve surgir com a descarbonização da economia. “O País tem potencial de ser o maior e mais importante produtor de biocombustíveldo mundo em 2050. Só precisamos de políticas públicas para chegar lá”, diz Battistella, do grupo ECB. “Precisamos começar a pensar em rota tecnológica, implementação de mercado, diversificação de matéria-prima, certificação de cadeia produtiva. Se fizermos o dever de casa, temos um potencial gigante, mas dependemos de os líderes organizarem isso.”

Demanda por diesel verde será ainda maior depois de 2030, diz BattistellaDIOGO ZANATTA

A experiência do Brasil com o etanol e a possibilidade de a agricultura oferecer matéria-prima para a indústria são os fatores que podem impulsionar o setor de combustíveis avançados por aqui, alavancando também o agronegócio. “Os combustíveis são mais um canal de absorção de produtos agrícolas, o que  vai exigir aumento da produção local. E a gente tem área já antropizada e tecnologia para produzir”, afirma Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.

O potencial é tão latente e a demanda por combustíveis de baixa emissão é tão alta que empresas estrangeiras estão incentivando a exploração da indústria no País. O diretor-geral da Boeing no Brasil, Landon Loomis, por exemplo, afirma que o Brasil pode ser um dos principais parceiros da indústria aérea na produção de combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês).

O SAF é fabricado a partir de resíduos, como óleo de cozinha usado e gordura animal, e pode reduzir em até 80% as emissões de carbono da aviação comercial. Hoje, a produção global de SAF é de 100 milhões de litros por ano, o que representa 1% da demanda por combustível do setor.

“Estamos olhando para o mundo para tentar aumentar a produção de SAF. Para mim, o Brasil é um parceiro muito atraente. Tem a segunda maior indústria de biocombustíveis do mundo, atrás apenas dos EUA, e já criou uma indústria de biocombustível do nada. Fez isso com o etanol nos anos 70 em reação à crise do petróleo”, diz Loomis.

O executivo destaca que, para garantir que o SAF não tenha sua origem em produtos agrícolas cultivados em terras com desmatamento ilegal, a Boeing está trabalhando com parceiros para construir uma base de dados de uso da terra. “O Brasil tem uma capacidade enorme para elevar a produção de matéria-prima sem prejudicar a segurança alimentar. Quando se fala em SAF, o S é de sustentabilidade. E ser sustentável inclui se preocupar com todo o ciclo do combustível.”

Para Loomis, da Boeing, Brasil pode ser parceiro da indústria aéreaWERTHER SANTANA//ESTADÃO

Na usina no Paraguai que o grupo ECB está construindo, haverá produção também de combustível para aviação. O querosene renovável que será fabricado no local deve ser composto por 5% de óleo de cozinha reciclado, 35% de gordura animal e 60% de óleo vegetal. O presidente da empresa acredita que, até 2030, os aviões possam estar operando com uma mistura de 10% de SAF e 90% de querosene tradicional. Hoje, a participação do combustível sustentável é de 1%.

No Brasil, uma oportunidade na área seria utilizar uma tecnologia chamada ATJ (álcool para jato, na sigla em inglês), que transforma o etanol em combustível de aviação, diz o professor Gonçalo Pereira, da Unicamp. “Com essa tecnologia, o Brasil poderia se transformar em um celeiro do produto, que tem um valor alto e é um grande negócio.”

Pereira afirma acreditar que o etanol pode ser uma opção melhor para o setor aéreo quando comparado a combustíveis feitos a partir de óleo, que é mais demandado globalmente. “O preço do óleo de soja, por exemplo, pode acabar inviabilizando que ele seja uma saída. O etanol tem o caminho mais aberto”, diz.

ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO

Além da criação de combustíveis sustentáveis para o uso em caminhões, ônibus e aviões, a indústria também trabalha em uma tecnologia relativamente nova para os carros: o etanol de segunda geração (E2G). A Raízen, por exemplo, fabrica E2G em Piracicaba (SP) desde 2015 e, agora, está construindo sua segunda unidade do produto em Guariba (SP), que terá o dobro de capacidade da primeira.

Como é produzido a partir de resíduos da fabricação do etanol tradicional (palha e bagaço da cana-de-açúcar), o E2G não aumenta a necessidade de cultivo de cana. O vice-presidente comercial, de logística e distribuição da Raízen, Leonardo Pontes, destaca que o novo combustível é altamente atraente sobretudo na Europa, onde a produção de matéria-prima para biocombustíveis disputa espaço com a de alimentos.

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