domingo, 31 de janeiro de 2021

BOLSONARO TINHA SIMPATIA PELO HUGO CHAVES

 

O bê-á-bá do chavismo

Jair Bolsonaro já fez rasgados elogios ao ditador Hugo Chávez e do defunto caudilho venezuelano pegou vários cacoetes.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Os fanáticos camisas pardas bolsonaristas costumam dizer que “Bolsonaro sempre tem razão”, não por acaso uma das divisas do fascismo italiano. Mas a inspiração do movimento extremista liderado pelo presidente Jair Bolsonaro está bem mais próxima no tempo e no espaço: é o chavismo.

Os bolsonaristas podem não querer se lembrar, mas Bolsonaro já fez rasgados elogios ao ditador venezuelano Hugo Chávez, a quem hoje trata como demônio. Em entrevista ao Estado, em 1999, Bolsonaro disse que Chávez era uma “esperança para a América Latina” e que “gostaria muito que sua filosofia chegasse ao Brasil”.

Do defunto caudilho venezuelano, de fato, Bolsonaro pegou vários cacoetes: o profundo ódio pela imprensa livre, o desprezo pela democracia representativa, a militarização do governo, o apreço pelas teorias da conspiração e a mendacidade sistemática como política de Estado.

A afinidade é tanta que, enquanto Bolsonaro receita a inócua cloroquina como elixir mágico contra a covid-19, o atual tirano chavista, Nicolás Maduro, anunciou a fabricação de um certo “carvativir”, suposto antiviral que, em suas palavras, são “gotinhas milagrosas” que “neutralizam 100% o coronavírus”.

Nada disso, é claro, faz do Brasil sob Bolsonaro automaticamente um congênere da Venezuela chavista, mas há sinais evidentes de que o presidente está estudando com afinco a cartilha de Chávez – em especial os capítulos referentes ao modo como o chavismo tomou o Estado de assalto e subjugou o Legislativo e o Judiciário.

“Vamos, se Deus quiser, participar, influir na presidência da Câmara”, informou Bolsonaro, sem meias-palavras, na quarta-feira, dia 27, em referência à sucessão no comando da Câmara dos Deputados. Para o presidente, isso é necessário “para que possamos ter um relacionamento pacífico e produtivo para o nosso Brasil”.

Por “relacionamento pacífico e produtivo” o presidente certamente entende como subserviente e caudatário. Praticamente desde a posse de Bolsonaro, o Congresso tem sido uma barreira razoavelmente sólida para as pretensões autoritárias do presidente, graças ao perfil democrático e reformista de sua atual liderança.

Mas a eleição para a presidência da Câmara, na próxima segunda-feira, pode alterar drasticamente esse quadro em caso de vitória do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), explicitamente apoiado por Bolsonaro. Fina flor do Centrão, com robusta ficha corrida e igualmente expressiva desenvoltura para angariar apoio em troca de favores, verbas e cargos, o parlamentar, se eleito, será a cabeça de ponte de Bolsonaro para conquistar o Congresso.

Se a cidadela da Câmara cair, o bolsonarismo terá removido um obstáculo crucial para avançar na tomada institucional do Estado, tal como fez o chavismo. Outros já ficaram pelo caminho: a Procuradoria-Geral da República é comandada por um fiel servidor de Bolsonaro e o bolsonarismo se espraia entre policiais e militares. É só o começo.

Profundo conhecedor do baixo estrato do Congresso, pois fez parte dele por três décadas, Bolsonaro sabe como ninguém o que faz brilhar os olhos de parlamentares que mercadejam o voto. Graças a essa habilidade e ao poder da caneta que preenche cargos e libera verbas, Bolsonaro conseguiu cooptar deputados de partidos que não estão em sua base, como DEM e PSDB.

Consta que alguns correligionários do próprio presidente do DEM, ACM Neto, decidiram votar no bolsonarista Arthur Lira porque este lhes prometeu manter apadrinhados em cargos na máquina federal. O fato de uma vitória de Arthur Lira representar enorme risco para a independência da Câmara, com consequências funestas para o País, não lhes pareceu relevante.

Cada um tem o lugar na História que merece: Bolsonaro já assegurou o dele, como o mais nocivo presidente do Brasil; já os parlamentares que elegerão o presidente da Câmara ainda podem escolher como querem ser lembrados, se como políticos responsáveis que honram o mandato que receberam ou como aqueles que, em troca de uma boquinha, entregaram o Congresso de bandeja ao Chávez de Eldorado.

CRÍTICAS AO MINISTRO DA SAÚDE NÃO PROCEDEM

 

A folha de serviços do intendente

Eduardo Pazuello se presta ao papel de títere de um presidente negacionista.

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Seguramente, não é pelo talento administrativo que o intendente Eduardo Pazuello é o mais longevo ministro da Saúde desde a eclosão da pandemia de covid-19. Ele foi alçado ao cargo para que o presidente Jair Bolsonaro, enfim, tivesse à frente da pasta não um ministro da Saúde à altura do desafio de coordenar as ações do governo federal no curso da mais severa crise de saúde pública dos últimos cem anos, mas sim um títere sem brilho – e brio – que se dispusesse a cumprir ordens sem questioná-las, por mais estapafúrdias, ilegais ou imorais que fossem.

Ecoarão pela história desses tempos dramáticos no Brasil duas declarações de Pazuello, dadas em outubro do ano passado, que dizem muito sobre quem ele é e a que veio.

“Eu nem sabia o que era SUS (antes de assumir o Ministério da Saúde)”, disse o ministro durante o lançamento da campanha Outubro Rosa. Dias depois, ao ser desautorizado publicamente por Bolsonaro após anunciar tratativas com o governo de São Paulo para incorporar 46 milhões de doses da Coronavac ao Programa Nacional de Imunizações (PNI), Pazuello assimilou a humilhação – “Um manda, o outro obedece, é simples assim” – em vez de apresentar imediatamente a sua carta de demissão, como faria um ministro imbuído de espírito público e amor-próprio.

Um ministro com esse perfil se mostra disposto a tudo, mesmo que os resultados de sua atuação sejam desastrosos para a população.

A inabalável submissão de Pazuello aos delírios persecutórios e aos cálculos políticos de Bolsonaro ensejou a abertura de inquérito policial contra o ministro para apurar sua possível omissão no colapso do sistema de saúde de Manaus, que levou dezenas de pacientes de covid-19 à morte por asfixia em decorrência da falta de cilindros de oxigênio nos hospitais da cidade.

No âmbito administrativo, a situação do intendente não é menos desconfortável. Desde o início da pandemia, o Tribunal de Contas da União (TCU) tem elaborado relatórios de acompanhamento da gestão da crise sanitária pelo governo federal e é nítida a debacle do Ministério da Saúde a partir da posse de Eduardo Pazuello.

Na sessão do TCU de quarta-feira passada, na qual o colegiado analisou mais um dos relatórios produzidos pelo ministro Benjamin Zymler, o vice-presidente da Corte de Contas, ministro Bruno Dantas, fez um dos mais enfáticos discursos contra o descalabro em que se tornou a gestão da crise pelo governo federal.

“O Ministério da Saúde já gastou R$ 250 milhões para distribuir o chamado ‘kit covid’ por meio do programa Farmácia Popular. Este valor seria suficiente para comprar cerca de 13 milhões de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca”, disse o ministro Dantas.

O tal “kit covid” é formado por medicamentos que não têm eficácia cientificamente comprovada contra a covid-19, como a cloroquina. O que o ministro Dantas não disse, mas é possível inferir, é que o ministro da Saúde jogou milhões de reais no lixo ao concentrar suas ações na produção e distribuição do tal kit. E não fez isso, por óbvio, desobedecendo a Bolsonaro, o mais ardoroso defensor dessa mandinga.

O ministro Dantas afirmou, com razão, que o Ministério da Saúde foi tomado por negacionistas da gravidade da emergência que se abateu sobre o País e está completamente alheio às reais necessidades da população. “A sociedade brasileira clama por vacinas já. Se existem ‘terraplanistas’ no Ministério da Saúde (que propõem tratamentos ineficazes), essa gente precisa ceder espaço para a ciência. Não é possível que um tratamento como esse seja dado a famílias que estão perdendo seus entes queridos”, concluiu o ministro.

Em que pese a presença de valorosos servidores de carreira, que só Deus sabe a que tipo de pressões estão resistindo, Bolsonaro reduziu o Ministério da Saúde a um valhacouto de “terraplanistas” sob a chefia do intendente. Isto tem custado bem mais do que recursos públicos. Tem custado vidas.

AFAGO DO BOLSONARO AO CONGRESSO

 

Governo também privilegiou caciques no Congresso na reforma da Previdência

Estratégia revoltou o baixo clero no Congresso. ‘Você não pode colocar um deputado com R$ 3 milhões e outro com R$ 40 milhões. É discriminação’, afirmou o deputado Fabio Ramalho, candidato avulso à presidência da Câmara

Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA – A estratégia do Palácio do Planalto de privilegiar os “caciques” partidários na distribuição de recursos “extras” para cooptar votos nas eleições no Congresso provoca insatisfação no chamado baixo clero. Como revelou o Estadão, o governo de Jair Bolsonaro inovou na troca de verbas por apoio ao dar predileção a lideranças, mesmo sem mandato. A prática não começou agora. O atual candidato governista na disputa pelo comando da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), já tinha sido favorecido em 2019. Na votação da reforma da Previdência, ele foi contemplado com R$ 75 milhões do Ministério da Saúde, conforme planilha interna da pasta a que o Estadão teve acesso.

Além de Lira, o deputado Elmar Nascimento (BA), na época líder do DEM, pode direcionar R$ 78,5 milhões para seu reduto eleitoral e o líder do PL, deputado Wellington Roberto (PB), R$ 71,1 milhões. Os três, que votaram a favor da reforma do INSS, uma das primeiras vitórias do governo no Congresso, aparecem com os maiores valores distribuídos pela pasta da saúde.

A revelação é mais um fator de descontentamento do baixo clero. A Secretaria de Governo, liderada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos, despejou verbas especialmente em redutos de lideranças influentes para garantir que Lira seja eleito em primeiro turno – ele teria que obter pelo 257 votos. Até agora, Lira diz contar com 217 votos. Por outro lado, Baleia Rossi (MDB-SP), apoiado pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), trabalha com empate no primeiro turno, 232 votos de cada lado.

O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA); parlamentar, que votou a favor da reforma da Previdência, pode direcionar R$ 78,5 milhões para seu reduto eleitoral Foto: Dida Sampaio/Estadão

O descontentamento de deputados do baixo clero pode reduzir o favoritismo do candidato do Planalto e levar a disputa na Câmara para o segundo turno. Sem prioridade na planilha de recursos extras do governo, o grupo tem candidato próprio.

Fábio Ramalho (MDB-MG) concorre de maneira avulsa, sem aval do partido e confirma a insatisfação do setor com a planilha de controle de recursos do governo. Ele aposta no basta à “discriminação” para garantir votos. “Você não pode colocar um deputado com R$ 3 milhões e outro com R$ 40 milhões. É discriminação”, afirmou o parlamentar mineiro. “Existe o baixo clero e temos que acabar com essa discriminação que existe no Orçamento, dentro da Casa e na falta de chamar essas pessoas para discutir as matérias.”

Os deputados do baixo clero já vinham incomodados com o escanteamento ao qual foram submetidos por conta da suspensão dos trabalhos das comissões temáticas ao longo de 2020. Nesses colegiados, eles podem debater os temas nos quais militam.

Oficialmente, Baleia tem apoio do DEM, do PSDB e do PT

Numa situação inédita desde a redemocratização, partidos de campos ideológicos diferentes integram uma Frente Ampla, abrindo caminho de diálogo entre opositores de Bolsonaro no processo sucessório de 2022. Traições à parte, a candidatura de Baleia Rossi na Câmara tem, até agora, apoio oficial do DEM, do PSDB e do PT. O governo, porém, bombardeia o grupo com verbas extras para arrancar votos de dissidentes. A maior parte dos recursos, porém, fica com os caciques. Só Arthur Lira foi contemplado com R$ 109,5 milhões na planilha informal do governo.

Às vésperas da votação da reforma da Previdência, em 2019, o deputado foi o integrante do Progressistas que mais pôde escolher as bases que receberiam verbas federais. Na ocasião, o valor de R$ 75 milhões liberados em emendas para Lira foi quase quatro vezes maior do que a liberação obtida pelo segundo correligionário mais favorecido. Aguinaldo Ribeiro (PB) teve R$ 22 milhões para destinar às bases eleitorais.

Apenas com as emendas publicadas em julho de 2019, dias antes da aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno pela Câmara, Lira beneficiou 36 cidades do seu Estado. E ainda pôde destinar R$ 1 milhão para Boa Vista (RR) e Ibirité (MG).

A reportagem do Estadão revelou que uma planilha de controle do Ministério do Desenvolvimento Regional indica R$ 3 bilhões em dinheiro extra para 285 congressistas – 250 deputados e 35 senadores.

Até o presidente do PSD, Gilberto Kassab, que não tem mandato, aparece como beneficiário. A maior parte do recurso foi entregue ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que trabalha para emplacar Rodrigo Pacheco (DEM-MG) como seu sucessor, candidato apoiado pelo Palácio do Planalto. A lista de repasses da “caixinha” paralela contempla, ainda, líderes partidários como os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Wellington Roberto (PL-PB) e Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

Estadão procurou os deputados Arthur Lira, Elmar Nascimentos e Wellington Roberto sobre os valores que receberam após a aprovação da reforma da Previdência, mas eles ainda não se manifestaram até a publicação deste texto.

DIREITO À VIDA NÃO IMPEDE A ABERTURA DAS ESCOLAS

 

Direito à vida

Byvaleon

 JAN 31, 2021

Direito à vida

Hoje, quem realmente governa as escolas paulistas é o sindicato dos professores

J. R. Guzzo, O Estado de S.Paulo

Logo depois que a covid apareceu na vida diária de São Paulo, junto com a do Brasil e do mundo, o governo perdeu o controle sobre as escolas e o ensino público. Quem realmente manda na área, desde então, não são os barões do governo estadual que aparecem de máscara preta nas entrevistas coletivas para a imprensa – eles falam, mas hoje quem realmente governa as escolas paulistas é o sindicato dos professores, com a cumplicidade de médicos oficiais, burocratas variados e, agora, juízes de direito.

O resultado dessa aberração é que o governo do Estado, um dos campeões nacionais do “distanciamento social” e da “ciência, ciência, ciência”, teve de recorrer ao Tribunal de Justiça para devolver às crianças de São Paulo o direito parcial – apenas parcial – de voltar a ter aulas. Esqueça a reabertura das escolas: tudo que a Secretaria de Educação estava pedindo é que voltassem a funcionar 35% das salas, e só a partir do dia 8 de fevereiro. Nada feito. Uma juíza, atendendo ao sindicato de professores paulista, proibiu que as autoridades estaduais alterassem em um milímetro a paralisia atual. Não daria para reabrir pelo menos um terço das escolas? Não, decidiu a juíza. Não dá. Foi preciso que o TJ anulasse a sua decisão.

Justiça de São Paulo suspendeu nesta quinta-feira, 28, a retomada de aulas presenciais no Estado Foto: Felipe Rau/Estadão

A principal causa do sindicato, hoje, é manter as escolas fechadas – uma bandeira realmente extraordinária para pessoas que são pagas pela população para exercer o trabalho de educadores. Tão deformada quanto a “luta dos professores” é a decisão de uma juíza que deveria ser a esperança de proteção do poder público para as crianças, grosseiramente agredidas no seu direito a aprender – mas que, em vez disso, se alia aos agressores e mostra um talento especial em atirar nos feridos que não podem se defender.

A juíza atendeu ao sindicato em nome, como disse, do “direito à vida” – repetindo uma bobagem genérica que qualquer “influenciador” de YouTube diz hoje em dia, uma justificativa sem valor jurídico, nenhum traço de vida inteligente e um mínimo de senso de responsabilidade. “Não é possível que as escolas fiquem fechadas e a colônia de férias dos professores continue aberta”, disse o secretário de Educação do governo paulista ao anunciar seu recurso ao TJ. Mas é aí, justamente, que está o verdadeiro centro da questão: o “distanciamento social” se transformou numa anomalia que dá conforto a alguns grupos, todos da elite, em detrimento do interesse da imensa maioria.

Os professores estão ganhando salário integral, há quase um ano, sem ter de sair de casa. Os juízes, nesse tempo todo, despacham sem ir ao fórum. Os médicos, altos funcionários e “conselheiros” de todo tipo que vem a público diariamente para anunciar que a situação está horrível e para dizer “fique em casa” também estão com a vida ganha. Mas em nenhum momento se lembram de um fato indiscutível, nem se importam com ele – para garantir as comodidades de sua vida no mundo online, do home office e do delivery, é indispensável que milhões de pessoas não façam “distanciamento social” algum, e trabalhem o tempo todo no atendimento de suas necessidades.

Os professores mantêm as escolas fechadas, os juízes dão sentenças em casa, os executivos e similares fazem home office e rodam nas ciclovias, mas é preciso, todos os dias, que 8 milhões de trabalhadores se amontoem nos ônibus e no sistema de metrô e trens urbanos – não é possível promover “aglomeração” maior do que essa – para manter em funcionamento o delivery, os hospitais, a farmácia, o supermercado, os serviços de água corrente, luz elétrica e gás para a cozinha e o banho quente, o conserto do elevador que quebrou e mais um milhão de coisas.

Ninguém, aí, tem “direito à vida”.

BOLSONARO VAI TER O CONTROLE DO CONGRESSO

 

Com o Congresso no bolso

Bolsonaro constrói os pilares do governo sobre os escombros de suas promessas em 2018

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

Eleições e jogos de futebol não se ganham de véspera, mas, pelo andar da carruagem, dos cargos e emendas extras, os dois grandes vencedores na disputa de amanhã pelo comando da Câmara e Senado serão o presidente Jair Bolsonaro e o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP). O grande derrotado tende a ser o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que teve importante papel na longa presidência da Câmara, mas tropeçou na reta final.

Assim como os militares aderiram à velha boquinha e à subserviência por conveniência que tanto criticavam nos políticos, Bolsonaro mergulhou de cabeça na velha política, na compra de votos, no toma lá dá cá, no Centrão e até nas mordomias que estufava o peito para condenar. Era tudo de boca para fora. Agora cai o pano, caem os pruridos, os escrúpulos.

Na mesma semana em que o governo anunciou o maior rombo das contas públicas da história, com um déficit de R$ 743,1 bilhões, ou 10% do PIB, o Estadão nos informa que o Planalto despejou R$ 3 bilhões em recursos “extras” – além das emendas parlamentares tradicionais – para 250 deputados e 35 senadores. Não é pura coincidência ser justamente agora, às vésperas das eleições no Congresso.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil Foto: Evaristo Sá/AFP

Dinheiro para prorrogar o auxílio emergencial não há e fórmulas para ampliar a abrangência e o valor do Bolsa Família ainda não estão no ar, mas o site Metrópoles revelou gastos de R$ 2,2 milhões com chicletes e R$ 15,6 milhões com leite condensado, para dar “energia” aos soldados. Bolsonaro, sendo Bolsonaro, reagiu atacando a imprensa e contaminando o ar com palavrões. E se fosse no governo Lula?

É sobre os escombros de suas promessas de 2018 que o presidente vai construindo a sustentação de seu governo, de suas ideias, projetos e pautas demolidoras. Foi assim que ele moldou uma vitória e tanto no Congresso, onde desfilou por 28 anos. A gente achava que não tinha aprendido nada, mas aprendeu tudo direitinho.

Com a faca e o queijo na mão, mais chiclete e leite condensado à vontade, Bolsonaro usa cargos e acena com ministérios para satisfazer a gula da turma. É preciso explicar: o Centrão está louco pelas vagas, mas Bolsonaro está louco é para cooptar parte do DEM (o próprio Alcolumbre?), MDB e PSDB para o governo. Seu objetivo é rachar o centro. A esquerda racha sozinha.

No Senado, Alcolumbre escolheu o favorito Rodrigo Pacheco (DEM-MG), o levou de bandeja para Bolsonaro e viabilizou sua vitória, enquanto o MDB fazia a lambança de sempre e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) achava possível ganhar com uma campanha de ideias, princípios e juras de independência. Um sonho de verão.

Na Câmara, o líder do Centrão Arthur Lira (PP-AL) é favorito e única chance de mudança de última hora é que, com nove candidatos, três têm potencial para ter uns votinhos, forçar o segundo turno e se unir em torno de Baleia Rossi (MDB-S). Outro sonho de verão.

Baleia Rossi, candidato de Rodrigo Maia, e Arthur Lira, apoiado por Bolsonaro, lideram corrida pela presidência da Casa; siga distribuição de votos por deputado, partidos e Estados

Bolsonaro perdeu a guerra da primeira vacina e da primeira foto para João Doria, mas ri à toa diante da perspectiva de vitória para Rodrigo Maia, candidato a ser o grande derrotado amanhã. Uma pena. Em três mandatos consecutivos na Presidência da Câmara, ele se superou, galgou vários degraus na hierarquia política e assumiu a cara e a voz da oposição a Bolsonaro.

Sempre pode haver surpresas (vide Severino Cavalcanti em 2005), mas Maia blefou com a reeleição no STF, demorou a definir um candidato, superestimou suas armas diante do arsenal do Planalto e, assim, ameaçou sua posição de ponte entre líderes e partidos de centro para 2022.

Ele, porém, tem 50 anos e oxigênio político nesse deserto de homens e ideias. O mundo dá voltas, a política é como nuvem e o Brasil precisa, mais do que leite condensado e chiclete, de seus principais quadros para enfrentar o que está aí.

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

SEGREDOS DA COMPETIÇÃO

 

SEGREDOS DA COMPETIÇÃO

Uma das coisas que mais tira o sono dos bons profissionais hoje em dia é a feroz competição contra “lobos” que vivem arranhando a porta de seus desafios. Para te ajudar a combater esses “lobos”, escrevi um artigo com dicas inteligentes. Leia ” Torne os seus concorrentes irrelevantes”

Torne os seus concorrentes irrelevantes

Mauro Condé*

A competição é uma guerra onde o mercado é o campo de batalha, o lucro é o troféu, os clientes são o alvo e os concorrentes são os grandes inimigos.

Ganhe esta guerra tornando seus concorrentes irrelevantes através de uma estratégia vencedora.

O melhor jeito que eu conheço de tornar os seus concorrentes irrelevantes é evitar competir no mesmo espaço que eles – hoje em dia as empresas que concorrem pelo mesmo espaço, seja ele dentro da fábrica, da loja ou até da casa do cliente, acabam se atacando no campo da redução constante de preços.

Competir no mercado com produtos considerados commodities (produtos que não têm diferencial competitivo em relação aos concorrentes) te leva para um beco sem saída, não te deixando outra saída a não ser reduzir seus preços até que esta redução provoque uma acelerada hemorragia nos lucros.

A saída mais inteligente é descobrir novos usos para seus produtos e serviços e principalmente criar valor agregado para atrair aqueles que não são seus clientes e nem dos concorrentes no momento.

Vá para um lugar onde os concorrentes ainda não atuam, fuja do mercado comum.

Atraia um público alvo que ainda não tenha percebido valor nos seus produtos e serviços.

Um dos grandes exemplos desta estratégia é o Circo de Soleil.

Enquanto todos os circos morriam um em cima do outro por obsolescência e competição pelo mesmo espaço, ele atraiu novos clientes para os quais criou muito valor.

Pare de brigar com seus concorrentes em mercados muito disputados onde sua única arma é a redução dos preços e migre inteligentemente para um mercado não explorado onde você possa atrair não clientes e reinar sozinho por um bom período, tendo como principal arma a geração de valor.

Eu já apliquei esta técnica com sucesso quando sugeri a um grande cliente do ramo alimentício que ampliasse o foco da venda de seus novos produtos da linha natural e diet – além dos grandes supermercados (redutores implacáveis de preços) para grandes laboratórios de exames clínicos, onde vários não clientes em potencial precisavam de alimentos saudáveis depois de seus exames e ninguém ainda tinha percebido.

Leia o livro A Estratégia do Oceano Azul para aprofundar sua inspiração neste tema.

Torne seus concorrentes irrelevantes se transformando em relevante para seus clientes e não clientes.

*Condé é palestrante, consultor e fundador do blog do Maluco.

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“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente. Quem sobrevive é o mais disposto à mudança.”

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1-VISUAL : APRECIE A PINTURA:

“Caixa de Pandora” pintura óleo sobre tela de 1896 de John William Waterhouse.

Esse quadro foi inspirado em Pandora, aquela que teria sido a primeira mulher de acordo com a mitologia grega que existiu, criada por Hefesto e Atena, auxiliados por todos os deuses e sob as ordens de Zeus, com a finalidade de agradar aos homens e de introduzir todos os males neles.

Cada um deu-lhe uma qualidade.

Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais.

A obra retrata o momento em que a mulher, após ter sido enviada a Epimeteu, que depressa a tomaria como esposa, apesar do aviso que lhe fora dito por Prometeu, abre inadvertidamente a Caixa de Pandora e todos os bens escaparam, exceto a esperança.

Com estes bens, foi dado início aos tempos de inocência e ventura, conhecidos como Idade de Ouro.

Aberto o baú, todos os males da humanidade foram libertos, tais como a velhice, doença, paixão, pobreza, etc.

Texto original – wikiart.org

2-LITERÁRIA – LEIA O LIVRO :

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O ATRASO DA VACINAÇÃO VAI CUSTAR MUITO CARO AO BRASIL

 

Atraso em vacinação contra covid-19 deve custar pelo menos R$ 150 bi ao PIB do País em 2021

Segundo cálculo da consultoria LCA, caso 70% dos brasileiros fossem vacinados até agosto, a economia poderia crescer 5,5%; mas, com esse patamar de imunização previsto só para dezembro, avanço deve ser reduzido em 2 pontos porcentuais

Luciana Dyniewicz, O Estado de S.Paulo

A lentidão e a desorganização no programa nacional de vacinação contra a covid-19 vão retirar pelo menos dois pontos porcentuais do Produto Interno Bruto (PIB) do País em 2021. Segundo cálculos do economista Bráulio Borges, da consultoria LCA, caso 70% dos brasileiros fossem vacinados até agosto, a economia cresceria 5,5% neste ano. Se a vacinação atingir esse patamar apenas em dezembro – hipótese que hoje já é considerada otimista –, o crescimento do PIB deve ficar entre 3% e 3,5%. Nesse cenário, o País deixará de movimentar R$ 150 bilhões.

Funcionário do Instituto Butantan fecha uma caixa com doses da Coronavac Foto: Amanda Perobelli/ Reuters

Borges também traçou uma hipótese otimista: estimando o impacto de uma vacinação mais ágil na economia, em um ritmo semelhante ao de Israel – país mais avançado na imunização. Nesse cenário, 70% seriam vacinados até junho, permitindo que as medidas de distanciamento social fossem relaxadas e garantindo o retorno de atividades em que há aglomeração. O PIB poderia, nesse caso, avançar 7,5%, um incremento de R$ 260 bilhões.

O crescimento de 3% a 3,5% esperado para a economia no pior dos cenários (com a maior parte da população vacinada até o fim do ano) pode parecer positivo, dado que a última vez que o País avançou 3% foi em 2013. Na prática, porém, significará que a economia passou o ano todo estagnada. Isso decorre do que os economistas chamam de “carrego estatístico” – quando a base de comparação é baixa (o resultado médio do PIB em 2020), mas o ponto de partida é elevado por conta da recuperação ao longo do último semestre do ano.

A alta de 3,5% também significará que o País terá, no fim de 2021, um PIB 1% abaixo do registrado em 2019. A economia per capita terá um resultado ainda mais negativo: 2,5% inferior ao de 2019. “Esses cálculos são um exercício simplificado que mostra como podemos ter um crescimento econômico se andarmos mais rápido com a vacinação, o que hoje parece uma realidade bem distante”, afirma Borges.

Por enquanto, a LCA projeta que o PIB ficará nos 3,5% neste ano. Mas Borges reconhece que talvez a realidade “seja ainda pior que esse cenário ruim”.

Tendências Consultoria é mais pessimista e estima um PIB de 2,9%. “Nossa projeção é cautelosa porque já tínhamos uma preocupação com o quadro pandêmico e não tínhamos a perspectiva de que haveria um movimento de vacinação afetando parte relevante da população no primeiro semestre. Outra preocupação é com a situação fiscal”, diz a economista-chefe da consultoria, Alessandra Ribeiro.

Classificação de risco do Brasil

O economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que há inclusive um risco de o Brasil ter sua classificação de risco novamente rebaixada por causa do atraso na imunização. “Há um risco indireto porque, à medida que não temos uma vacinação em massa, a confiança dos agentes econômicos cai. As pessoas também ficam mais em casa e isso afeta um componente que é analisado para determinar o risco, que é o PIB.”

economista Zeina Latif alerta que a perda de doses de vacinas, como tem sido verificado em algumas cidades por problemas técnicos, e a eficácia de 50% da Coronavac fazem com que seja mais difícil atingir a imunidade de rebanho. “Esse fator de incerteza vai pesar em 2021. Ainda vamos passar um bom tempo com limitações para a atividade econômica. E o setor de serviços é o mais impactado pela pandemia, além de ser o que tem maior peso no PIB. Acho difícil a gente não ter decepções com a economia.”

Segundo estimativa do Ministério da Saúde, a vacinação deve levar “até 12 meses após a fase inicial”. Isso, no entanto, dependerá “do quantitativo de vacinas disponibilizadas para uso”. A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou o Programa Nacional de Imunizações por oito anos, lembra, porém, que já houve atrasos no recebimento das primeiras doses de imunizante e que não é possível ter certeza de que o prazo será cumprido. “Mesmo quem comprou as vacinas antecipadamente está com problema (para recebê-las). Imagina quem não comprou. Esse vai para o fim da fila, porque a demanda mundial é muito grande.”

BUSCAI A VERDADE E ELA OS LIBERTARÁ

 

Comunicar a verdade

É necessário sair da presunção cômoda do ‘já sabido’, diz o papa Francisco.

  •  Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Na mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais, o papa Francisco apresentou algumas reflexões sobre a “comunicação humana e autêntica”, que podem ser úteis para os dias de hoje. Ante a abundância de desinformação, preconceitos e simplismos, observa-se uma grande demanda por informação confiável, baseada em uma apuração isenta dos fatos.

De alguma forma, pode-se dizer que os tempos atuais redescobriram a importância da verdade – desse conhecimento que, indo além do que seria mera versão de um acontecimento, expressa o mais possível a realidade tal como ela é, com suas complexidades, matizes e contradições. Nessa empreitada pela verdade, não há atalhos ou fórmulas prontas. “Para poder contar a verdade da vida que se faz história, é necessário sair da presunção cômoda do ‘já sabido’ e mover-se, ir ver, estar com as pessoas, ouvi-las, recolher as sugestões da realidade, que nunca deixará de nos surpreender em algum dos seus aspectos”, diz o papa Francisco.

A mensagem papal frisa a relevância, para uma informação confiável, do conhecimento pessoal. “Na comunicação, nada pode jamais substituir, de todo, o ver pessoalmente. Algumas coisas só se podem aprender experimentando-as”, diz Francisco, alertando que isso se aplica a todas as dimensões comunicativas da vida humana.

O papa Francisco diz que esse “ir e ver” os acontecimentos de perto é a sua “sugestão para toda a expressão comunicativa que queira ser transparente e honesta: tanto na redação de um jornal como no mundo da web, tanto na pregação comum da igreja como na comunicação política ou social”. Essa sugestão do papa, na verdade, uma recomendação, é atualíssima perante tantas falsas notícias, produzidas entre quatro paredes com o objetivo de confundir e enganar.

Nessa busca por conhecer a verdade, o papa Francisco menciona o papel do jornalismo e dos profissionais da comunicação. “Temos de agradecer a coragem e determinação de tantos profissionais, se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas”, diz o papa.

“Seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes (dos profissionais da comunicação): um empobrecimento para a nossa humanidade”, diz Francisco. É interessante que, nos dias de hoje, ao mesmo tempo que se verifica uma demanda por verdade e informação confiável, seja necessário lembrar a importância do jornalismo.

Em alguns ambientes, tornou-se corriqueiro desautorizar a atividade da imprensa, como se ela dificultasse o acesso à verdade. O papa Francisco afirma o exato oposto. Sem o jornalismo, seria impossível conhecer muitas realidades que alguns desejam esconder.

Ao falar das novas tecnologias, Francisco lembra que as muitas oportunidades de interação geram também responsabilidade. Em concreto, menciona o cuidado que se deve ter ao compartilhar notícias e informações. “Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controle que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade: a ir, ver e partilhar”, diz o papa.

No fim da mensagem, Francisco cita umas palavras do personagem Bassânio, da peça O Mercador de Veneza, de William Shakespeare: “Graciano fala sempre uma infinidade de nadas, como ninguém em Veneza. Suas ideias razoáveis são como dois grãos de trigo perdidos em dois alqueires de palha: gastais um dia inteiro para encontrá-los; mas, uma vez achados, não compensam o trabalho”. Diz Francisco: “Pensemos na quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo, em todas as esferas da vida pública”.

Ante a abundância de mensagens e informações, é indispensável diferenciar o que é relevante e o que é confiável. Com o rigor e a independência do seu trabalho, o jornalismo tem muito a contribuir nessa tarefa.

BOLSONARO ESPERA A ELEIÇÃO DOS SEUS CANDIDATOS NO CONGRESSO

 

Bolsonaro tenta coroar aliança com o Centrão em eleição no Congresso

Disputa tem forte significado para interesses do Executivo nos próximos dois anos; Planalto fez investida por aliados

Felipe Frazão e Vinícius Valfré, O Estado de S.Paulo

Deputados e senadores vão eleger nesta segunda-feira, 1º, quem comandará a Câmara e o Senado pelos próximos dois anos, numa disputa que vai muito além dos interesses do Congresso. O resultado da eleição pode significar um cheque em branco nas mãos do presidente Jair Bolsonaro ao entregar a dois aliados dele a chefia do Legislativo. A interferência de Bolsonaro na campanha indicou que as práticas da velha política, com distribuição de cargos e verbas, sepultaram de vez a expectativa de renovação manifestada nas urnas, em 2018.

Ameaçado no cargo por 59 pedidos de impeachment, o presidente investiu pessoalmente na costura de acordos e na cooptação de votos para selar a eleição do deputado Arthur Lira (Progressistas-AL) e do senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Para Bolsonaro, a eleição de Lira e Pacheco nas duas Casas do Congresso significa a blindagem do seu mandato.

Os dois indicaram, por exemplo, que são contrários a instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os erros do governo na condução da pandemia de covid-19 e também à abertura de processo de afastamento do presidente. “Não vou comprar briga nem procurar acotovelamento”, disse Lira. “Não podemos banalizar o instituto do impeachment”, afirmou Pacheco.

Lira e deputados discutem, em 2019, proposta sobre porte e posse de armas de fogo Foto: DIDA SAMPAIO/ESTADÃO-30/10/2019

A vitória dos dois candidatos, se confirmada, também coroa o acordo de Bolsonaro com o Centrão. O grupo de centro-direita, sem apegos ideológicos e notabilizado pelo fisiologismo, ressurgiu em 2015 sob a liderança de Eduardo Cunha (MDB-RJ), que deixou a presidência da Câmara e acabou sendo preso.

Bolsonaro se aliou ao Centrão após embates com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) e a partir do avanço de investigações contra o seu núcleo familiar, principalmente sobre um esquema de “rachadinhas” no gabinete do atual senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) quando era deputado estadual no Rio.

Remanescente da “tropa de choque” de Cunha e réu na Lava Jato, Lira manifestava a intenção de presidir a Câmara desde 2018, mas nunca conseguiu se consolidar como sucessor do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lançou a candidatura do deputado Baleia Rossi (MDB-SP).

Com sua ambição frustrada, Lira deixou o grupo de Maia e atualmente é o líder do Centrão, encabeçando uma bancada suprapartidária que reúne aproximadamente 200 dos 513 deputados. Trata-se de um núcleo acostumado a explorar oportunidades num Executivo de base congressual frágil.

Estadão revelou que o governo liberou R$ 3 bilhões em recursos “extras”, do Ministério do Desenvolvimento Regional, para 250 deputados e 35 senadores destinarem a obras em seus redutos eleitorais. As tratativas foram conduzidas no gabinete do ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, que nega o balcão de negócios. Dos contemplados, grande parte declarou apoio aos candidatos do governo no Congresso.

Principal adversário de Lira, Baleia conseguiu o apoio de partidos que vão da centro-direita à esquerda, na maior frente ampla construída desde a redemocratização. O grupo é visto pelo Planalto como o primeiro passo de um movimento articulado para desgastar ainda mais Bolsonaro. Na prática, a aliança antibolsonarista pode representar um ensaio para a disputa presidencial de 2022.

Ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, entrega caneta a Bolsonaro durante sua cerimônia de posse Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil (04/07/2019)

Após as eleições no Congresso, Bolsonaro vai promover uma reforma ministerial. Na sexta-feira, ele condicionou a recriação dos ministérios da Cultura, do Esporte e da Pesca à vitória de seus aliados na Câmara e no Senado, mas sábado recuou e disse que essas pastas continuarão como secretarias. Indicou, porém, que Onyx Lorenzoni deve ser transferido do Ministério da Cidadania para a Secretaria-Geral da Presidência. Com isso será aberta uma vaga para o Centrão, provavelmente para o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal. Cidadania é o ministério que cuida do Bolsa Família, programa que Bolsonaro pretende usar como passaporte para sua candidatura à reeleição, em 2022.

Contemplados até agora com cargos de segundo e terceiro escalões, os líderes do Centrão querem deixar a periferia do poder e mostram apetite por ministérios com orçamento bilionário. Além de Cidadania, estão na lista de desejos do bloco as pastas de Saúde, Desenvolvimento Regional e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). O grupo também quer a recriação do Ministério da Indústria e Comércio Exterior.

A reta final da campanha tem sido marcada por defecções no arco de aliados dos candidatos adversários do Planalto. Baleia perdeu apoiadores atraídos pelas benesses oferecidas pelo governo e Simone Tebet (MDB-MS) também se viu abandonada na última hora por seu próprio partido, que preferiu rifar a candidatura dela ao comando do Senado e apoiar Rodrigo Pacheco, o nome avalizado pelo Planalto, em troca de cargos na Mesa Diretora.

“O jogo está pesado. Querem transformar o Senado num apêndice da Presidência. Não será possível dar saídas aos problemas da sociedade sem independência”, lamentou Tebet, que manteve a candidatura sem aval do MDB. Agora, o mais cotado para ocupar a primeira vice-presidência do Senado, caso Pacheco vença, é o líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO).

Na Câmara, mesmo com as traições a Baleia, há chance de segundo turno. Ele formou uma frente que reuniu pela primeira vez partidos rompidos desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Mas o grupo começou a ruir. Baleia perdeu votos no DEM, PDT, PSDB e PSL. Alguns dos antigos aliados de Maia, artífice da candidatura, mudaram de lado na semana passada.

Antes, todos frequentavam a residência oficial, num grupo apelidado de “expresso da meia-noite” — costumavam chegar tarde aos encontros noturnos de Brasília, regados a vinhos e destilados, onde se discutem os rumos da política. Um deles, que celebrou a primeira eleição de Maia para a Câmara, ocorreu no apartamento funcional que ele dividia com Elmar Nascimento (DEM-BA). Embora morasse junto com Maia, Elmar rompeu com ele ao ser preterido como candidato e hoje trabalha para eleger Lira.

O “malvado favorito” de Bolsonaro, aliás, era do mesmo grupo, que também incluía Alexandre Baldy (PP), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Paulinho da Força (Solidariedade-SP) e Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).

A saída de Maia deve abrir espaço à pauta conservadora gestada por Bolsonaro. Por outro lado, reformas da agenda econômica do governo avançaram, agora devem esbarrar no desinteresse do presidente e da nova cúpula parlamentar, como a trava nas privatizações, que levou a debandadas no meio empresarial. Uma reforma administrativa se choca com a prometida criação de ministérios.

Na tributária, há conversas para ressuscitar a CPMF. O presidente quer facilitar acesso a armas, aprovar o excludente de ilicitude policiais. E seus novos aliados pretendem liberar os jogos de azar. Lira Simpatiza com a ideia. A jogatina é bandeira do presidente do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PI), e os desertores do DEM baiano Elmar Nascimento e Paulo Azi. Além disso, ele tende a reduzir a transparência na condução da Câmara. Já avisou que não dará entrevistas diárias e que pretende desalojar o comitê de imprensa de perto do plenário.

Aliados de Baleia apostam nas “surpresas” em eleições na Câmara. O caso mais lembrado nos anais da Casa é a vitória de Severino Cavalcanti (PP-PE). Em 2005, ele ganhou explorando divisões na base do governo Luiz Inácio Lula da Silva. O candidato oficial do PT era o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh. Na véspera da votação, ele promoveu churrasco numa mansão do Lago Sul, bairro nobre de Brasília. Ministros, parlamentares e dirigentes partidários compareceram em peso. Foram 192 deputados, da direita à esquerda. Todos se convenceram do favoritismo de Greenhalgh, mas as urnas guardavam um revés ao governo. Os deputados foram à festa, mas não votariam no petista.

Apoiadores do candidato do MDB não esquecem o episódio. Apostam justamente nessa virada em massa para levar a eleição ao segundo turno. Dizem que os deputados estão acuados pela “chantagem”palaciana e darão o troco na urna. Segundo propagam, congressistas declaram voto pró-Planalto apenas como forma de defesa, mas seriam contra Lira.

“Tem uma parte da eleição que não se percebe a olho nu. Ela é subterrânea, está abaixo da linha d’água, pertence aos bastidores”, diz o ex-ministro e ex-presidente da Câmara Aldo Rebelo, hoje sem partido, mas sempre auscultado pelo generalato das Forças Armadas e até pelo Planalto. “Nem o candidato apoiado por Bolsonaro é tão situação como se diz, nem o outro é tão oposição como se fala. Nem Lira vai segurar Bolsonaro, nem Baleia vai derrubá-lo. Um presidente que depende de ter como fiador de seu poder o presidente da Câmara é porque está muito fraco.”

Outra suspeita é quanto dura a lealdade de Lira a Bolsonaro. E quem terá mais força na relação. Reservadamente, dirigentes partidários calculam as chances de Bolsonaro virar “refém” de Lira. O ex-senador Eunício Oliveira (MDB-CE), presidente do Congresso quando Bolsonaro assumiu o poder, afirma que o Planalto pode conseguir uma vitória de “Pirro”.

“Ninguém é presidente de dois poderes ao mesmo tempo”, alerta o emedebista, partidário de Baleia. Embora contrário ao impeachment, Eunício diz que Bolsonaro desequilibrou o jogo e que deputados poderão radicalizar contra as pautas do governo em reação. “Não é bom nem para o Executivo. Ele ganha, mas não leva. O presidente da Câmara pode muito, mas não pode tudo. Esses ímpetos sem dimensão não contribuem. É a desmoralização total da democracia a distribuição de R$ 3 bilhões em meio à academia. Não tem dinheiro para comprar vacina, mas tem para comprar voto.”

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