‘Laranjas’ na mira: PF investiga candidaturas de
fachada no PSL-MG, e caso pode chegar a ministro
PF apreendeu
computadores e documentos na sede do PSL, na Savassi, em Belo Horizonte, e em
sete gráficas da região metropolitana e do Vale do Aço
Após mirar suspeitos
próximos ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio (PSL), em operação
deflagrada ontem para investigar candidaturas-laranja de mulheres no PSL de
Minas, a Polícia Federal (PF) vai apurar se houve envolvimento do ministro no
caso, se comprovado o esquema de corrupção. Ele foi presidente estadual da
legenda em 2018.
Batizada de
“Sufrágio Ostentação”, a operação cumpriu mandados de apreensão em sete
gráficas do Estado que teriam imprimido materiais de campanha das supostas
candidaturas-laranja e apreendeu documentos e computadores na sede do PSL de
Belo Horizonte. Ninguém foi preso.
Desde fevereiro, a
PF apura a denúncia de quatro candidatas aos cargos de deputadas estadual e
federal do PSL, que afirmam terem sido usadas como laranjas do partido no
pleito de 2018. Segundo o Ministério Público Eleitoral (MPE), as candidatas
acusam o atual ministro do Turismo de ser o pivô do esquema ao cobrar a
devolução para o diretório do PSL de parte do dinheiro destinado às
candidaturas femininas. O objetivo, segundo a PF, seria maquiar para a Justiça
Eleitoral a destinação obrigatória de 30% do dinheiro do Fundo Eleitoral para
as mulheres.
]Até o momento, as
investigações da PF apontam que as candidaturas-laranja tiveram um custo até 30
vezes maior do que outras do PSL em Minas. “Enquanto uma candidatura de um
deputado eleito gera um gasto médio de R$ 10 por voto, no caso dessas
candidatas o gasto ficou entre R$ 150 e R$ 300”, disse o delegado federal
Marinho Rezende, que conduz as investigações.
Além da sede do PSL,
localizada na rua Inconfidentes, na Savassi, os policiais federais cumpriram
mandados de busca e apreensão em Contagem e Lagoa Santa, onde materiais de duas
gráficas foram apreendidos, em Coronel Fabriciano e Ipatinga, no Vale do Aço.
Em Ipatinga, a PF
fez buscas na residência de Reginaldo Donizete Soares, dono de uma gráfica na
cidade e irmão de Roberto Silva Soares, primeiro-secretário do PSL em Minas.
Segundo o delegado
federal Marinho Rezende, na prática, a gráfica de Ipatinga que teria imprimido
os materiais das candidatas-laranja não funcionava há dois anos, o que reforça
a suspeita da PF sobre o esquema de corrupção.
“Essa gráfica
funcionava em Ipatinga e era dividida, na verdade, em duas empresas
registradas, mas trabalhava como uma só. Mas o que nos chama a atenção é que
nenhuma das duas tinha atividades há dois anos”, disse o delegado.
Ainda de acordo com
Rezende, caso seja comprovado o crime eleitoral, a segunda fase da operação irá
investigar os dirigentes do PSL em Minas, incluindo o ministro Marcelo Álvaro
Antônio, que presidiu o PSL-MG no ano passado.
“O envolvimento do
ministro Marcelo Álvaro Antônio só será apurado na próxima fase, que, se
confirmada a existência do crime, vai investigar tanto as candidatas quanto os
dirigentes do partido em Minas durante as eleições, e o ministro era um deles”,
explicou Rezende.
Por meio de nota, o
Ministério do Turismo informou que “o ministro Marcelo Álvaro Antônio reitera
que o partido seguiu rigorosamente o que determina a legislação eleitoral”. No
comunicado, o ministro também afirma que “há mais de um mês” se ofereceu “para
prestar depoimento às autoridades do caso” e que as investigações são resultado
de “uma disputa política local”.
ALÉM DISSO
A primeira denúncia
formal do suposto esquema fraudulento de desvio de verba eleitoral veio da
ex-candidata Cleuzenir Barbosa, que concorreu ao cargo de deputada estadual
pelo PSL ano passado. Em entrevista ao Hoje em Dia, Cleuzenir disse que
foi surpreendida ao receber as mensagens dos assessores do partido pedindo o
desvio da verba. “Eles me pediram para transferir R$ 50 mil para uma gráfica
com a qual eu não tinha contratado serviços e eu me recusei”, disse.
Após a recusa,
Cleuzenir, que chegou a fazer dobradinha eleitoral com o então candidato a
deputado federal Marcelo Álvaro Antônio, afirma que foi excluída dos grupos de
campanha e vetada da agenda do PSL para divulgar a própria candidatura.
Cleuzenir mora em
Portugal desde dezembro de 2018 e lamenta não ter sido protegida pelas autoridades
brasileiras. “O Brasil tem que proteger as pessoas que denunciam esse tipo de
irregularidade”, disse a ex-candidata.