terça-feira, 31 de maio de 2022

TABELAMENTO DE PREÇOS É UM VELHO ERRO E NÃO DEVE SER UTILIZADO

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


A senadora democrata Elizabeth Warren e colegas de partido propuseram medidas de controle de preços para conter a inflação nos Estados Unidos.| Foto: Ken Cedeno/EFE/EPA/Pool

Em economia é comum surgirem propostas bem-intencionadas, cheia de bondades, mas erradas e maléficas. Uma delas – que parecia enterrada e entendida de uma vez por todas como ineficaz – é o congelamento de preços sempre que eles sobem além do que se considera normal. Eivados de apelo popular e demagogia política, o tabelamento e o controle de preços pelo governo já foram implantados nestes últimos dois séculos em centenas de experiências documentadas… e todas deram errado. Congelamento de preços não é invenção nova e é medida exaustivamente testada ao longo da história, como a imposição de preços máximos fixada pelo imperador romano Diocleciano, no ano 301 d.C.; na Revolução Francesa de 1789; nos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial e também em 1971, na administração Richard Nixon. Nunca resolveu o problema e o saldo de consequências sempre foi desastroso.

Esse erro, no qual o Brasil incorreu várias vezes na tentativa de controlar a inflação, retornou ao cenário político mundial recentemente, por ação de parlamentares do Partido Democrata dos Estados Unidos, liderados pela senadora Elizabeth Warren, que propuseram ao governo norte-americano estabelecer controle e tabelamento de preços, diante da inflação que assola a nação. Esse tipo de medida, que nunca funciona, parte de um princípio economicamente e moralmente errado: a ideia de que a inflação é culpa dos empresários e agentes de mercado que remarcam preços, como se assim o fizessem por pura maldade e como se a economia, quando estável, fosse um sistema pautado na bondade humana.

O mundo já viu, por muitas vezes, governos populistas e irresponsáveis gastarem exageradamente, criarem déficits gigantescos, inundarem a economia com emissão de dinheiro e sucumbirem sob a hiperinflação e a destruição do sistema de preços, mas sempre culpando os empresários pela elevação dos preços. Não são só as empresas que remarcam preços diante de uma desordem monetária e irresponsabilidade na gestão do estoque de meios de pagamentos: todos os agentes econômicos, inclusive os trabalhadores, pressionam por aumento de preços, rendas e salários diante da inflação, que em última análise é quase sempre causada pelo governo.

Eivados de apelo popular e demagogia política, o tabelamento e o controle de preços pelo governo já foram implantados nestes últimos dois séculos em centenas de experiências documentadas… e todas deram errado

O lamentável no atual momento é que os governos não vieram a público dizer que a pandemia, o fechamento de empresas, a paralisação dos estabelecimentos de serviços e o isolamento social de trabalhadores, empresários e consumidores desorganizaram a economia, jogaram a produção para baixo (praticamente permaneceram funcionando somente as atividades sem as quais não há vida) e culminaram com um grave choque de oferta (falta de produtos), de forma que qualquer economista com razoável formação sabia que um dos efeitos seria a inflação. Adicionando-se a gastança de muitos governos – entre os quais está o de Joe Biden e seus gastos acima das possibilidades orçamentárias do governo central dos EUA –, a emissão de dinheiro sem lastro em produção e outros eventos, como a guerra entre Rússia e Ucrânia, tem-se a chamada “tempestade perfeita”, que causou aumento de preços do petróleo, gás, energia, insumos industriais, alimentos e outros, cujo efeito foi jogar a inflação mundial para cima.

No primeiro trimestre de 2020, o preço do barril de petróleo bateu o baixo nível de US$ 23 (em alguns momentos, caiu abaixo desse preço) e, neste segundo trimestre de 2022, oscila em torno de US$ 110. Apenas esse problema já seria suficiente para criar uma confusão na matriz de preços da economia e provocar inflação. Quando uma senadora do país que figura como o mais expressivo do mundo faz um discurso demagógico dizendo que, na crise, os empresários aproveitam para espoliar os consumidores, tem-se, além de diagnóstico errado (que geralmente leva a medidas erradas), o péssimo efeito educativo ao levar a população a crer que o drama se resume a maldades pessoais da classe empresarial.

Do ponto de vista da teoria econômica, admite-se alguma intervenção na liberdade de preços de uma empresa quando ela é protegida contra a concorrência por deter monopólio e, sobretudo, em casos de produtos vitais, como água e energia. Se uma empresa é beneficiada com lei que lhe concede monopólio (caso da Petrobras) ou atua em setor de monopólio natural (caso de água e esgoto), os preços de seus produtos não resultam de mercado competitivo e o consumidor não tem a opção de buscar outro fornecedor; logo, especialmente em caso de produtos vitais, faz sentido algum tipo de limitação no poder monopolista de fixar preços. Há casos em que a empresa monopolista sofre choque de custos em razão do aumento de preços da matéria-prima e insumos de produção. Em alguma medida, essa é a situação da Petrobras, que, embora detentora de monopólio em um pedaço da cadeia produtiva do setor, vincula-se ao mercado internacional exportando petróleo pesado (que as refinarias brasileiras não conseguem refinar) e importando petróleo leve, insumos, máquinas e equipamentos, além de ter acionistas estrangeiros.

Assim, a Petrobras é uma empresa mundial e, por isso, no governo Michel Temer, fixou-se uma política de preços da empresa em linha com o mercado internacional, inclusive como defesa contra governos populistas que pudessem debilitar a empresa, como aconteceu no governo Dilma Rousseff, que congelou preços por um período longo o suficiente para levar a empresa quase ao ponto de insolvência. Claro que se pode pensar em medidas para gerenciar o cronograma temporal de repasse dos aumentos dos preços do petróleo para os derivados, de forma a amenizar as variações abruptas em períodos muito curtos. Porém, por mais que as elevações de preços de derivados de petróleo e a inflação em geral imponham sacrifícios duros à população, o puro e simples congelamento de preços por decisão burocrática do governo não é remédio eficaz para a doença inflacionária. Infelizmente, quando senadores e deputados do país que é líder mundial, os Estados Unidos, surgem com a proposta de tabelamento de preços pelo governo, políticos de outros países começam a gritar a favor da mesma medida, que nunca funcionou nem irá funcionar desta vez.


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BOLSONARO ENVIA PARA O CONGRESSO NOVO EXCLUDENTE DE ILICITUDE

 

Por

Ações policiais

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília


Bolsonaro durante visita ao Bope do Rio de Janeiro, em 2020: aprovar novo excludente de ilicitude é o sonho do presidente| Foto: Marcos Correa/PR

O presidente Jair Bolsonaro (PL) enviou no fim de março à Câmara um projeto de lei que cria o instituto jurídico chamado de “excesso exculpante”, que tenderia a ser usado principalmente em ações policiais que causem mortes. Embora com um termo diferente, é uma nova tentativa do presidente de ampliar as hipóteses em que se aplica o chamado “excludente de ilicitude”, situações nas quais uma pessoa não é punida quando pratica um crime em estado de necessidade, em legítima defesa ou cumprindo um dever legal ou exercendo um direito.

Em 2019, os deputados rejeitaram uma proposta semelhante, à época encampada pelo então ministro da Justiça Sergio Moro, dentro do pacote anticrime. O novo projeto, redigido pelo atual titular da pasta, Anderson Torres, é ainda mais amplo e pode sofrer maior resistência entre os congressistas, num momento de consternação em razão da operação policial na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, que deixou mais de 23 mortos, e da morte de um homem asfixiado com gás lacrimogênio dentro de uma viatura da Polícia Rodoviária Federal, no Sergipe, na semana passada.

A atual redação do Código Penal diz que o agente do crime, ainda que o pratique em legítima defesa, cumprindo um dever ou exercendo um direito, responde pelo crime quando há excesso. O projeto, no entanto, diz que “não é punível o excesso quando resulta de escusável medo, surpresa ou perturbação de ânimo em face da situação”.

Trata-se de uma proposição muito semelhante à que havia no pacote anticrime, que dava ao juiz o poder de reduzir a pena até a metade ou deixar de aplicá-la se o excesso decorresse de “escusável medo, surpresa ou violenta emoção”.

Essa proposta foi rejeitada em 2019 pelo grupo de deputados que analisou o pacote porque continha termos subjetivos, que poderiam ser alegados por um policial para se eximir de responsabilização em caso de abordagens violentas e desnecessárias sobre suspeitos. No novo projeto, o dispositivo é chamado de “excesso exculpante” e o objetivo é garantir maior “amparo jurídico” aos agentes de segurança pública.

O novo projeto ainda contém outros dispositivos não propostos anteriormente. Especifica, por exemplo, que será considerado “exercício regular de direito” – uma das hipóteses do excludente de ilicitude – a defesa da inviolabilidade do domicílio. Significa que uma pessoa que atirar em outra que invade sua casa poderá se livrar da punição criminal.

Novidades no conceito de legítima defesa

Outra novidade em relação ao pacote anticrime relaciona-se ao próprio conceito de legítima defesa. A atual redação do Código Penal diz que ela se aplica a “quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”.

Na discussão do pacote anticrime, em 2019, os deputados aprovaram uma proteção maior para agentes de segurança pública, dizendo que eles poderiam alegar a legítima defesa quando repelissem “agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”. Na prática, poderiam atirar num sequestrador, por exemplo.

O novo projeto estabelece mais duas situações de legítima defesa, ao detalhar de forma mais específica o que poderia se enquadrar no conceito de “injusta agressão”. Ela poderia se revelar num ato “contra a ordem pública ou a incolumidade das pessoas mediante porte ou utilização ostensiva, por parte do agressor ou do suspeito, de arma de fogo ou de outro instrumento capaz de gerar morte ou lesão corporal de natureza grave”.

Um exemplo concreto seria o policial atirar em bandidos armados durante uma incursão numa favela, por exemplo. Outra hipótese de injusta agressão prevista no projeto é um ato de terrorismo, que, na atual legislação, corresponde a atentados contra a vida ou integridade física de pessoa, além de sabotagem ao funcionamento de instalações públicas específicas, como meios de comunicação, transporte e serviços essenciais.

O governo, contudo, também busca ampliar o conceito de terrorismo, para abarcar ataques contra o patrimônio público ou privado e o emprego premeditado de ações violentas com fins políticos ou ideológicos. Uma proposta nesse sentido foi enviada à Câmara no fim de março, junto com o projeto que amplia o excludente de ilicitude.


É meu grande sonho, diz Bolsonaro
Nos últimos tempos, Bolsonaro voltou a defender a ampliação do excludente de ilicitude. No dia 13 de maio, durante cerimônia na Academia de Polícia Militar em São Paulo, disse que seu “grande sonho” na Presidência é aprovar a proposta.

“Gostaria muito, de um dia, aprovar o excludente de ilicitude, para que vocês, após o término da missão, fossem para casa se recolher no calor de seus familiares e não esperar a visita de um oficial de Justiça”, disse durante seu discurso.

“Com todo o respeito aos profissionais da segurança pública, temos que diminuir a letalidade sim, mas é a do cidadão de bem e de pessoas como vocês. E não da bandidagem. Se vocês, na rua, portam uma arma na cintura ou no peito é para usá-la. Nós, chefes do Executivo, quer seja o presidente ou governadores, devemos dar respaldo e segurança após o cumprimento da missão”, afirmou ainda o presidente.

Poucos dias antes, na mesma semana, Anderson Torres foi à Comissão de Segurança Pública da Câmara defender o projeto do “excesso exculpante”. “O que amarra a segurança pública, o que amarra os policiais, é a legislação, o entendimento da legislação, por conta do Ministério Público e do Judiciário. Isso é muito grave”, afirmou o ministro, que também é delegado da Polícia Federal.

Disse aos deputados que, se todo cidadão tem o direito de se defender, “por que o policial não tem?”. “O cara tem filho em casa, tem família. Agora, se a sua vida estiver em risco, o que você vai fazer?”

Ao comentar o texto do projeto, afirmou que a proposição para a legítima defesa – que isentaria um policial que atirasse num bandido armado ou em alguém enquadrado como terrorista – “é muito mais efetiva do que a questão da excludente da ilicitude”, que, segundo ele, já estaria bem elaborada na atual legislação.

“Os ‘policiólogos’ e os ‘estudiólogos’ que existem por aí querem dizer como o policial deve agir, quando o fogo está vindo de lá, quando ele está encurralado, quando ele está sendo ferido e alvejado. E ainda querem dizer onde ele tem de atirar, como tem de atirar, enfim, eles acham que os policiais são máquinas. Então, isso aqui eu acho que é muito mais efetivo do ponto de vista prático e do ponto de vista dos policiais”, afirmou o ministro.

Durante a audiência, o deputado Sargento Fahur (PSD-PR) afirmou que o projeto não significa uma “licença para matar”. “É simplesmente algo para proteger o policial no seu serviço”, disse. Relatou ainda que, no início do mandato de Bolsonaro, ouviu dele que não adiantaria mandar um policial para a fronteira do país e ele voltar preso.

Oposição vai tentar barrar novo excludente de ilicitude
Assim como ocorreu no pacote anticrime, a oposição tentará barrar o avanço da proposta. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), que participa das discussões no colegiado, disse que a operação na Vila Cruzeiro e a morte no Sergipe expõem os problemas da proposta.

“Esse projeto deve ser para reproduzir mais essas cenas, para reintroduzir essas cenas de barbárie. Bolsonaro já tentou isso cinco vezes, e não vamos deixar passar. Esses episódios demonstram que tem que ter outro padrão de policiamento, com câmera, inteligência. Isso que estão propondo é inaceitável”, afirmou à reportagem.

Um fator complicador é o fato de ter sido designado como relator o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) por ameaçar ministros e que, na carreira de policial militar no Rio, foi punido em mais de 60 sanções disciplinares por mau comportamento, incluindo uma prisão de 26 dias e uma detenção de 54 dias.

Nos próximos dias, o presidente da Comissão de Segurança Pública, Aluisio Mendes (PSC-MA), deve se reunir com integrantes da comissão para discutir o projeto. Ele considera que o texto atual é bom, mas que pode mudar para não sofrer grande resistência no plenário da Câmara.

“Eu não faria nenhuma supressão. Mas deputados da oposição me disseram que vão fazer sugestões, que não me apresentaram ainda. Na comissão, eu tenho certeza da aprovação, mas no plenário é outra coisa. Se conseguirmos um acordo, para fazer ajustes com a oposição antes, fica mais fácil aprovar no plenário”, disse o deputado.

Ele também deverá discutir a substituição de Daniel Silveira como relator para facilitar o diálogo com outros parlamentares.

O objetivo é levar o projeto para votação na segunda ou terceira semana de junho – o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já prometeu que irá pautar propostas na área de segurança nesse período.

Além do novo projeto da excludente de ilicitude, Mendes quer levar o projeto do governo de combate ao “novo cangaço”, que define conceito mais amplo para terrorismo e pune com mais rigor quadrilhas que promovem assaltos generalizados em cidades. Também há interesse em pautar o Estatuto da Vítima, proposto pelo PT e que tem apoio do governo, que protege os direitos de quem sofre danos físicos, emocionais ou econômicos por ser vítima de crimes, desastres naturais ou epidemias.

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BRASIL AUMENTA IMPORTAÇÃO DA RÚSSIA EM PLENA GUERRA NA UCRÂNIA

 

Comércio exterior

Por
Vandré Kramer – Gazeta do Povo


Veículos russos tentam tirar minas em siderúrgica de Mariupol, na Ucrânia.| Foto: Alessandro Guerra/EFE/EPA

Em meio à guerra na Ucrânia, a participação da Rússia nas importações brasileiras cresceu de 1,97% no primeiro quadrimestre de 2021 para 2,94% no mesmo período de 2022, aponta a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do governo federal. O Brasil comprou US$ 2,39 bilhões em mercadorias russas de janeiro a abril, uma alta de 89% sobre o mesmo período do ano passado – ou seja, os desembolsos quase dobraram.

Com isso, a Rússia passou de 12º a quinto maior fornecedor de produtos ao Brasil, atrás de China, Estados Unidos, Alemanha e Argentina.

Mas, no geral, isso não quer dizer que o Brasil está comprando mais quantidade da Rússia. Na verdade, os dados mostram que o país está pagando bem mais caro por um volume um pouco menor de produtos. Ao todo, foram importados 4,41 milhões de toneladas de mercadorias da Rússia nos quatro primeiros meses do ano, 5,84% a menos que em igual período de 2021.

A escalada nos preços de commodities e outros insumos, motivada em parte pela guerra e em parte por um desajuste entre oferta e demanda que vem desde o começo da pandemia, ajudam a explicar esse cenário.

Segundo a Secex, 69% do que o Brasil importou neste ano da Rússia é adubo ou fertilizante químico, 15% carvão e 7%, óleos combustíveis. Com isso, a participação desses três itens nas compras brasileiras de produtos russos aumentou de 78%, um ano atrás, para 91%.

Até abril, chegada de fertilizantes ao Brasil foi dentro da normalidade
Segundo o Itaú BBA, nos quatro primeiros meses do ano, a importação brasileira de fertilizantes foi 5% maior que no mesmo intervalo de 2021, atingindo 10,4 milhões de toneladas. Apesar da redução nos três primeiros meses do ano, o fluxo nos portos evoluiu em abril e foi registrado um aumento de 62% em relação ao mesmo mês do ano anterior.

“Até abril, as importações provenientes da Rússia e da Belarus chegaram ao Brasil dentro da normalidade, já que no primeiro quadrimestre de 2022 foram registradas 2,4 milhões de toneladas em compras vindas da Rússia e 744 mil toneladas de Belarus, valores parecidos com o mesmo período de 2021”, aponta relatório do banco de investimentos. São necessários aproximadamente 90 dias entre a encomenda e a chegada do produto ao país.

Mas os números dos próximos meses podem ser diferentes, em razão da guerra. A instituição financeira projeta um menor volume chegando ao Brasil. “A maior quantidade importada em abril pode ter refletido uma antecipação de compras, na medida em que a oferta de matérias primas começou a ficar mais incerta.”

Com guerra, cresce a participação de outros fornecedores de fertilizantes
A guerra já está se refletindo no fornecimento de insumos para fertilizantes. No caso do cloreto de potássio, o volume importado não apresentou grande diferença em relação ao ano passado. A partir de abril, o Canadá passou a liderar o fornecimento, seguido por Rússia e Belarus, que vêm sofrendo sanções.

“Será importante acompanhar de perto o volume a ser desembarcado e os preços a serem praticados do cloreto de potássio no país nos próximos meses”, apontam os analistas do Itaú BBA.


O volume de nitrato de amônio importado no primeiro quadrimestre de 2022 foi 52,8% inferior ao de 2021, causado principalmente pela redução do volume proveniente da Rússia. O país bloqueou as exportações em fevereiro para reforçar o atendimento da demanda doméstica. Com isso, cresceu a participação da Holanda no fornecimento do insumo. A participação do país nas importações brasileiras passou de 31%, em 2021, para 56% em 2022.

Outro produto cujo volume de chegada foi maior em abril em comparação ao mesmo mês de 2021 foi o MAP, dos quais 40% são originários da Rússia. Mas no primeiro quadrimestre do ano, segundo a Secex, as compras somam 954 mil toneladas, 15% menos que o registrado em igual período de 2021.

“Com os problemas logísticos decorrentes da guerra, também é um produto importante a ser acompanhado nos portos brasileiros nos próximos meses”, diz o Itaú BBA.

Outro item em que a participação russa na oferta ao Brasil foi menor é a de ureia. Ela diminuiu de 26% para 16%. A perda foi compensada pelo maior volume de compras de Omã (cuja fatia subiu de 11% para 16%) e Nigéria (7% para 23%).

Brasil compra mais petróleo e carvão russos
O Brasil importou uma maior quantidade de óleos combustíveis de petróleo ou de minerais betuminosos da Rússia no primeiro quadrimestre de 2022 – foram 196,5 mil toneladas, 177,8% a mais do que no mesmo período do ano anterior, aponta a Secex. Mas, por causa do descompasso entre oferta e demanda do produto, foi pago 341,6% a mais, ou US$ 169,1 milhões.

É uma situação similar à do carvão. O Brasil importou 1,53 milhão de toneladas da Rússia entre janeiro e abril, 13,3% a mais do que nos mesmos meses do ano passado. Mas o valor pago mais do que triplicou, atingindo US$ 357,6 milhões.


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OMISSÃO DE PREFEITOS EXPLICA OS DESASTRES NATURAIS NAS FAVELAS

 

Opinião

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo
De Porto Alegre

Bairro de Jardim Monteverde, região limítrofe entre Recife e Jaboatão dos Guararapes, atingido pelas fortes chuvas na Região Metropolitana do Recife


Deslizamentos de terra como o que causa sofrimento à população de Recife e Jaboatão dos Guararapes é um evento previsível por parte das prefeituras.| Foto: TV Brasil

As prefeituras de Recife e de cidades vizinhas na região metropolitana decretaram que não haverá festa junina neste ano. Estes eventos, todos sabem, são em homenagem aos santos do mês de junho e são muito fortes no Nordeste. Santo Antônio vem primeiro; depois São João, São Pedro e São Paulo.

O Rio de Janeiro já teve várias oportunidades de cancelar o carnaval no ano em que aconteceram tragédias próximas às datas da folia, mas nunca fez isso. Por exemplo, quando arrastaram o menino João Hélio pelas ruas do Rio, santificando o asfalto carioca com o sangue de um menino de 6 anos. O carnaval saiu logo depois e todo mundo festejou.

Eu digo parar o Carnaval para chocar, dizer que essa cidade não tem segurança, que arrasta um menino pelas ruas e nós festejamos e não damos bola. Será que nós merecemos ter segurança ou somos alheios à isso? O problema é que o lobby do carnaval é muito forte no Rio.

Pois, na região metropolitana do Recife, as prefeituras todas decretaram que não haverá a festa que equivale ao carnaval. São festas muito fortes na cultura nordestina, mas foram suspensas mesmo assim por causa das mortes. São quase 100 óbitos, além de dezenas de desaparecidos, e mais de 5 mil desabrigados.

Agora, quero falar algo que vale para todos os quase 5.700 municípios do Brasil. É responsabilidade das prefeituras a fiscalização da construção e da licença para construir em áreas perigosas e/ou de risco. Olha só o que aconteceu em Petrópolis, Teresópolis, Angra, Rio, Recife… em toda parte. A prefeitura permitiu, por omissão, construções em áreas de risco.

E aí a consequência é essa: choro, ranger de dentes e morte, vidas que não se recuperam mais. Famílias carregadas pelo lodo, pelas pedras, é terrível!

E ainda ficam politizando a situação, com o prefeito de Recife e o governador de Pernambuco querendo saber por que o presidente Jair Bolsonaro foi lá e não avisou. Na emergência, a pessoa sai correndo arregaçando as mangas para ajudar.

O pior é que a gente sabe que vai acontecer de novo no ano que vem. E no outro, e no outro… Estou há mais de 50 anos no jornalismo e, desde que eu comecei, estamos noticiando isso. É uma tristeza!

É uma responsabilidade da prefeitura ou sendo mais direto. É responsabilidade do prefeito permitir ou não construção em área de risco; permitir ou não construção em terreno alheio; permitir ou não loteamentos ilegais.

Há uma mania de meus colegas jornalistas chamarem o que é ilegal de “loteamento irregular”. Loteamento irregular é loteamento que está torto; ilegal é o fora da lei. Assim como construções ilegais, que depois ruem e provocam catástrofes. O edifício desabou, não tinha habite-se, mas ninguém viu sendo construído? Um prédio imenso e não tem um fiscal da prefeitura que tenha visto?

É um problema que está perto da gente. Não é um problema federal ou estadual: é municipal. Está na nossa vizinhança, na nossa cara. As ocupações irregulares e o inchaço de cidades na base da ilegalidade. Que exemplo estamos dando aos jovens, sabendo que podem construir de qualquer jeito? Não tem lei que segure.

Em Brasília, eu vejo isso desde que cheguei, há 46 anos. Vai expandindo, vai fazendo loteamento ilegal, bairro irregular, condomínio ilegal, e na época de eleição, o candidato regulariza, transforma o ilegal em legal. É o toque de Midas. E o que acontece? Desaba tudo. Desaba a estrutura legal de uma cidade.


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LINGUAGEM NEUTRA NAS ESCOLAS

 

Opinião

Por
J.R. Guzzo – Gazeta do Povo


Veteranos do curso de Letras da UFMG recepcionam calouros com uso da linguagem neutra.| Foto: Reprodução

A linguagem “neutra”, que tanto encanta burocratas de RH, gerentes de marketing inclusivos e demais devotos de “pautas” definidas por eles mesmos como “progressistas”, é um tipo de estupidez francamente incomum. Em geral, esse tipo de anomalia germina nos lixões mentais onde se cultivam e se colhem as ideias vadias. No caso, porém, a mania de eliminar o feminino e o masculino da gramática portuguesa vem de onde se espera que venha justamente o contrário – as escolas secundárias e as universidades, cujo dever perante a sociedade é promover o avanço do conhecimento, da cultura e da lógica. É para isso que são pagas. Se for para propagar o erro e a ignorância, elas perdem o sentido. É o que está acontecendo.

A linguagem do “todes” e do “iles”, que tanto prospera hoje em dia nas cerimônias de formatura de universidades e no credo ideológico de escolas de gente rica, é antes de tudo um erro de português – seria mais o menos como ensinar, na aritmética, que 2 + 2 são 22, ou que o ângulo reto ferve a 90 graus. Não há, realmente, como sair disso: usar o feminino e o masculino é um requisito fundamental do português, idioma oficial do Brasil e, mais do que tudo, a língua que o povo brasileiro fala no seu dia a dia, de maneira livre, natural e sem nenhuma imposição vinda de cima ou de fora.

O cidadão fala o português da maneira como aprende em casa, como lhe vem à cabeça e como está acostumado a falar em sua vida: não pode, simplesmente, ser obrigado a falar de um modo diferente. Querer impor o contrário é uma violência. Acima de tudo, é contra a lógica. Nossos catedráticos e outros altos pedagogos querem que os bebês sejam chamados de ”menines”. Tudo bem: mas é menino ou menina? Xeque-mate.

Fica, desde logo, um problema insolúvel: por acaso as escolas e as universidades vão passar a reprovar, nos exames, os alunos que escreverem ou falarem o português correto? Os devotos da “abolição de gêneros” não admitem que se chame uma mulher de “ela” e um homem de “ele”, mas nos manuais de gramática portuguesa está escrito que é isso, exatamente isso, o que as pessoas devem fazer, se quiserem se expressar no idioma nacional.

Como é que fica, então? Os militantes da “linguagem neutra” vão chamar o Ministério Público para processar criminalmente os infratores por atos contra a democracia, o igualitarismo e as “causas identitárias”? Ou, pior ainda, por “homofobia” – crime “equivalente ao racismo”? Será que vão apresentar um projeto de lei no Congresso para impor a sua nova língua à população?

Tudo isso é um completo absurdo, mas é assim que os responsáveis pelas universidades e escolas secundárias querem que seja. Não vão conseguir, é claro. O que chama a atenção, nessa história toda, não é o efeito concreto da fantasia que querem impor; ninguém vai começar a falar “ile”, “bem vinde” e outras cretinices do mesmo tipo, porque ninguém consegue obrigar um povo a falar uma língua que não é a sua.

Língua não é produto de alguma cerebração intelectual processada em agências de publicidade, e sim da vontade, da prática e da inclinação da população em falar de uma determinada maneira. A “linguagem neutra”, nesse sentido, tem as mesmas possibilidades de sucesso que o esperanto, e demais tentativas de se criar línguas artificiais. O que impressiona, mesmo, é o tamanho da farsa.


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AEROPORTO DE GUARULHOS-SP VAI TER TREM MODERNO

 

  1. Brasil 

Veículos serão totalmente automatizados, sem a presença de motorista; previsão de entrega é no 1º semestre de 2024

Paulo Favero, O Estado de S.Paulo

A Rail, divisão de trens da Marcopolo, assinou o contrato com o consórcio AeroGru para a produção dos People Movers que irão transportar passageiros do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, até a estação do metrô Linha 13 Jade, da CPTM.

A assinatura do contrato ocorreu em um evento realizado na sede da Marcopolo, com a presença do Ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio. O encontro formalizou o fornecimento de três veículos Marcopolo Auster A-200, compostos por dois carros articulados, com capacidade de 200 passageiros e funcionamento autônomo (driverless). 

Governo de SP anuncia início das obras de monotrilho

Marcopolo Auster A-200, veículo que ligará CPTM ao aeroporto de Cumbica
Modelo de veículo que ligará a estação de trem da CPTM ao aeroporto de Guarulhos Foto: Marcopolo AeroGru/Divulgação

A fabricação dos modelos ocorrerá entre os meses de maio de 2022 e julho de 2023. Os veículos passarão por modernização das linhas externas, bem como novos acabamentos e layouts adequados à operação.

“A expertise de mercado da companhia, aliada à capacidade técnica de desenvolvimento e produção da Marcopolo Rail, garantirão a qualidade do fornecimento e ampliarão a capacidade de mobilidade de milhares de pessoas que fazem o trajeto diariamente”, explica Petras Amaral Santos, gerente executivo da unidade de negócio Marcopolo Rail.

A construção do “Automated People Mover” está prevista para ser concluída no primeiro semestre de 2024. Os modelos de veículos começaram a ser fabricados neste mês e devem ser terminados em julho de 2023. Segundo a Rail, os veículos “passarão por modernização das linhas externas, bem como novos acabamentos e layouts adequados à operação”.

Imbróglio

A estação final da Linha 13 Jade da CPTM foi inaugurada em 2018 quando a previsão inicial era para ser usada na Copa do Mundo de 2014. Só que ela não tinha uma ligação direta com os terminais, ou seja, os passageiros que usam o transporte coletivo ainda têm uma grande distância a percorrer até chegar ao aeroporto.

Depois de entregue, a operação dos trens será de 24 horas e haverá espaço nos vagões para acomodar as bagagens. Ainda trará informações sobre pousos e decolagens e terá wi-fi disponível.

O tempo de viagem estimado entre a estação e o Terminal 3, o mais distante, é de aproximadamente seis minutos – ele também vai parar nos terminais 1 e 2. A economia de tempo dos passageiros será grande, pois atualmente a ligação da estação da CPTM com o aeroporto é feita por uma linha circular de ônibus e leva cerca de 25 minutos.

TROCA NA PRF DEPOIS DE ABORDAGEM POLICIAL MAL SUCEDIDA

 

  1. Brasil 

Diretor-executivo e diretor de inteligência foram dispensados das funções nesta terça-feira, 31. Relação com o caso da semana passada não foi esclarecida

Isabela Moya, O Estado de S.Paulo

O diretor-executivo da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Jean Coelho, foi dispensado das suas funções nesta terça-feira, 31, conforme publicação no Diário Oficial da União, assinada pelo Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. Também foi dispensado o diretor de inteligência, Allan da Mota Rebello.

Sergipe
Homem é morto após ser trancado em viatura policial com gás em Sergipe Foto: Reprodução Redes Sociais

A dispensa ocorre uma semana depois da morte de Genivaldo de Jesus Santos, de 38 anos, vir à tona. O homem foi posto no porta-malas de uma viatura da corporação, que foi transformada por agentes em uma “câmara de gás”, em uma tentativa de contê-lo durante uma abordagem. A vítima morreu no mesmo dia após ser atendida em um hospital de Umbaúba, no sul de Sergipe. A relação entre a dispensa dos diretores e esse caso não foi esclarecida pelo governo.

Em nota, a PRF havia informado que, durante a abordagem da equipe, Genivaldo reagiu de forma agressiva e precisou ser contido com técnicas de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo. O órgão disse ainda que abriu procedimento disciplinar para averiguar a conduta dos policiais envolvidos, que foram afastados.

Além da apuração aberta na esfera criminal, para acompanhar as investigações sobre a responsabilidade dos policiais pela morte de Genivaldo, a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão abriu uma apuração no âmbito cível sobre “violações aos direitos dos cidadãos e, em especial, aos direitos das pessoas com deficiência”. Segundo a família de Genivaldo, o homem sofria de esquizofrenia e fazia uso de medicamentos há 20 anos.

TROCAS NO COMÉRCIO E FIDELIZAÇÃO DOS CLIENTES

 

Mauricio Cwajgenbaum, CEO e Co-Founder da Genius Returns

Trocas e devoluções são comuns no e-commerce, mas elas não devem se tornar uma dor de cabeça para clientes ou comerciantes. Pensando nisso, Mauricio Cwajgenbaum, CEO e Co-Founder da Genius Returns, dá algumas dicas importantes para diminuir esses impactos quando eles forem inevitáveis.

Especialista em logística reversa traz dicas para evitar a insatisfação do consumidor e diminuir impactos das trocas e devoluções

Levantamento do Sebrae e do E-Commerce Brasil estima que mais de 6% do faturamento de um negócio online é destinado à logística reversa. Outro estudo, da Ebit|Nielsen, aponta que 30% das compras online são trocadas ou devolvidas. Os segmentos que lideram o volume de trocas, segundo a Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas, são vestuário, calçados e acessórios, itens que também são os campeões de vendas nas datas sazonais e, portanto, estão mais sujeitos a essas situações.

Trocas e devoluções sempre irão ocorrer no varejo, especialmente no virtual, já que os consumidores não têm acesso direto ao produto, para verificar sua real dimensão e qualidade. Pensando nisso, Mauricio Cwajgenbaum, CEO e Co-Founder da Genius Returns, plataforma de automação de logística reversa, destaca os principais cuidados que podem evitar pedidos de trocas e devoluções no e-commerce e diminuir seus impactos quando eles forem inevitáveis.

Crie expectativas reais

As vendas online facilitam muito o processo de compra, entretanto, a distância entre o consumidor e a mercadoria pode ocasionar problemas referentes à percepção da qualidade do produto. “É comum encontrarmos clientes atraídos por lojas que descrevem seus itens de maneira exagerada ou que prometem funções muitas vezes não desempenhadas da maneira esperada. A melhor forma de evitar que essas devoluções aconteçam está no equilíbrio entre o que o marketing externa e a realidade do produto. Estabelecer uma relação de confiança com os clientes é fundamental e essa confiança também passa pelo alinhamento de expectativas”, explica o CEO.

Facilite escolhas certas

Sem a possibilidade de experimentar, ver e tocar o produto, as chances de errar na escolha do tamanho ou de não ter todas as informações necessárias para uma decisão de compra segura são grandes, o que pode gerar conflitos e muitos pedidos de troca ou devolução.

“Para evitar que isso aconteça, é importante enriquecer o site do seu negócio na Startup Valeon com o máximo de informações detalhadas e precisas sobre os produtos ofertados, além de recursos visuais, como fotos e vídeos, em diferentes ângulos, para que os clientes tenham uma noção mais aproximada do que estão adquirindo. No caso de roupas, lojas com manequins virtuais, que ajudam a simular o melhor tamanho das peças, conforme as medidas indicadas pelo consumidor, também são um diferencial”, pontua Maurício.

Invista em logísticas eficientes 

Mesmo com todos os cuidados, pedidos de trocas ou devoluções são inevitáveis. Esse aspecto do negócio não pode ser uma dor de cabeça, nem para o empreendedor e nem para o cliente. A logística reversa é parte fundamental do pós-venda e deve-se buscar soluções que tornem esse processo menos custoso e burocrático, gerando mais agilidade e eficiência, o que é bom para ambos os lados.

“Plataformas de automação encurtam os prazos da logística reversa, gerando maior satisfação e fidelização, e também diminuem os custos desses processos, amenizando o impacto que as trocas e devoluções têm sobre os resultados do negócio. Um e-commerce precisa avaliar constantemente sua performance e identificar as falhas e oportunidades de aprimoramento. Isso pode inclusive transformar a logística reversa em um processo positivo para a jornada do consumidor, afinal, quando erros são corrigidos, aumentam as chances de fidelização e até mesmo de recompra”, finaliza o especialista.

A Startup Valeon reinventa o seu negócio

Enquanto a luta por preservar vidas continua à toda, empreendedores e gestores de diferentes áreas buscam formas de reinventar seus negócios para mitigar o impacto econômico da pandemia.

São momentos como este, que nos forçam a parar e repensar os negócios, são oportunidades para revermos o foco das nossas atividades.

Os negócios certamente devem estar atentos ao comportamento das pessoas. São esses comportamentos que ditam novas tendências de consumo e, por consequência, apontam caminhos para que as empresas possam se adaptar. Algumas tendências que já vinham impactando os negócios foram aceleradas, como a presença da tecnologia como forma de vender e se relacionar com clientes, a busca do cliente por comodidade, personalização e canais diferenciados para acessar os produtos e serviços.

Com a queda na movimentação de consumidores e a ascensão do comércio pela internet, a solução para retomar as vendas nos comércios passa pelo digital.

Para ajudar as vendas nos comércios a migrar a operação mais rapidamente para o digital, lançamos a Plataforma Comercial Valeon. Ela é uma plataforma de vendas para centros comerciais que permite conectar diretamente lojistas a consumidores por meio de um marketplace exclusivo para o seu comércio.

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segunda-feira, 30 de maio de 2022

VARÍOLA DOS MACACOS

 

  • RedeTV! – 

Disseminação tem causado preocupação no mundo

O trauma naturalmente causado por uma pandemia acaba por deixar muitas pessoas preocupadas quando veem, logo em seguida, alertas sobre o surgimento de uma doença em locais onde antes ela não era detectada. É o que ocorreu após notícias de que humanos se contaminaram com a chamada varíola dos macacos, doença que é endêmica em países africanos. Mas sua disseminação para países não endêmicos, como na Europa e nos Estados Unidos, causou apreensão. Até agora, existem mais de 250 casos confirmados ou suspeitos em cerca de 20 países onde o vírus não circulava anteriormente.

Diante dessa situação, a Agência Brasil consultou fontes e especialistas para elucidarem eventuais dúvidas sobre o que é a varíola dos macacos, bem como sobre sintomas, riscos, formas de contágio e sobre o histórico dessa doença que recentemente tem causado tanta preocupação nas pessoas.

Médico infectologista do Hospital Universitário de Brasúlia (UnB), André Bon trata de tranquilizar os mais preocupados. “De maneira pouco frequente essa doença é grave. A maior gravidade foi observada em casos de surtos na África, onde a população tinha um percentual de pacientes desnutridos e uma população com HIV descontrolado bastante importante”, explica o especialista.

Segundo ele, no início dos anos 2000 houve um surto da doença nos Estados Unidos. “O número de óbitos foi zero, mostrando que, talvez, com uma assistência adequada, identificação precoce e manejo adequado em uma população saudável, não tenhamos grandes repercussões em termos de gravidade”.

grupo que corre maior risco são as crianças. Quando a contaminação abrange grávidas, o risco de complicações é maior, podendo chegar a varíola congênita ou até mesmo à morte do bebê.

Uma publicação do Instituto Butantan ajuda a esclarecer e detalhar o que vem a ser a varíola dos macacos. De acordo com o material, a varíola dos macacos é uma “zoonose silvestre” que, apesar de em geral ocorrer em florestas africanas, teve também relatos de ocorrência na Europa, nos Estados Unidos, no Canadá, na Austrália e, mais recentemente, na Argentina.

Histórico e ocorrências

A varíola dos macacos foi descoberta pela primeira vez em 1958, quando dois surtos de uma doença semelhante à varíola ocorreram em colônias de macacos mantidos para pesquisa. O primeiro caso humano dessa variante foi registrado em 1970 no Congo. Posteriormente, foi relatada em humanos em outros países da África Central e Ocidental.

“A varíola dos macacos ressurgiu na Nigéria em 2017, após mais de 40 anos sem casos relatados. Desde então, houve mais de 450 casos relatados no país africano e, pelo menos, oito casos exportados internacionalmente”, complementa a publicação recentemente divulgada pelo instituto.

Segundo o instituto, entre 2018 e 2021 foram relatados sete casos de varíola dos macacos no Reino Unido, principalmente em pessoas com histórico de viagens para países endêmicos. “Mas somente este ano, nove casos já foram confirmados, seis deles sem relação com viagens”.

Casos recentes

Portugal confirmou mais de 20 casos, enquanto a Espanha relatou pelo menos 30. Há também pelo menos um caso confirmado nos Estados Unidos, no Canadá, na Alemanha, na Bélgica, na França e na Austrália, segundo a imprensa e os governos locais, conforme informado pelo Butantan.

“Neste possível surto de 2022, o primeiro caso foi identificado na Inglaterra em um homem que desenvolveu lesões na pele em 5 de maio, foi internado em um hospital de Londres, depois transferido para um centro especializado em doenças infecciosas até a varíola dos macacos ser confirmada em 12 de maio. Outro caso havia desenvolvido as mesmas lesões na pele em 30 de abril, e a doença foi confirmada em 13 de maio”, informou o Butantan.

Mais quatro casos foram confirmados pelo governo britânico no dia 15 de maio, e, no dia 18, mais dois casos foram informados – nenhum deles envolvendo alguém que tivesse viajado ou tido contado com pessoas que viajaram, o que indica possível transmissão comunitária da doença.

Dois tipos

De acordo com o instituto, esse tipo de varíola é causada por um vírus que infecta macacos, mas que incidentalmente pode contaminar humanos. “Existem dois tipos de vírus da varíola dos macacos: o da África Ocidental e o da Bacia do Congo (África Central). Embora a infecção pelo vírus da varíola dos macacos na África Ocidental às vezes leve a doenças graves em alguns indivíduos, a doença geralmente é autolimitada (que não exige tratamento)”, explica o instituto.

André Bon descreve essa varíola como uma “doença febril” aguda, que ocorre de forma parecida à da varíola humana. “O paciente pode ter febre, dor no corpo e, dias depois, apresentar manchas, pápulas [pequenas lesões sólidas que aparecem na pele] que evoluem para vesículas [bolha contendo líquido no interior] ate formar pústulas [bolinhas com pus] e crostas [formação a partir de líquido seroso, pus ou sangue seco]”.

De acordo com o Butantan, é comum também dor de cabeça, nos músculos e nas costas. As lesões na pele se desenvolvem inicialmente no rosto para, depois, se espalhar para outras partes do corpo, inclusive genitais. “Parecem as lesões da catapora ou da sífilis, até formarem uma crosta, que depois cai”, detalha. Casos mais leves podem passar despercebidos e representar um risco de transmissão de pessoa para pessoa.

Transmissão e prevenção

No geral, a varíola dos macacos pode ser transmitida pelo contato com gotículas exaladas por alguém infectado (humano ou animal) ou pelo contato com as lesões na pele causadas pela doença ou por materiais contaminados, como roupas e lençóis, informa o Butantan. Uma medida para evitar a exposição ao vírus é a higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel.

O médico infectologista do HUB diz que a principal forma de prevenção dessa doença – enquanto ainda apresenta “poucos casos no mundo” e está “sem necessidade de alarde” – tem como protagonistas autoridades de saúde. “Elas precisam estar em alerta para a identificação de casos, isolamento desses casos e para o rastreamento dos contatos”, disse.

“Obviamente a utilização de máscaras, como temos feitos por causa da covid-19 por ser doença de transição respiratória por gotículas e evitar contato com lesões infectadas é o mais importante nesse contexto”, enfatiza Bon ao explicar que a varíola dos macacos é menos transmissível do que a versão comum.

O Butantan ressalta que residentes e viajantes de países endêmicos devem evitar o contato com animais doentes (vivos ou mortos) que possam abrigar o vírus da varíola dos macacos (roedores, marsupiais e primatas). Devem também “abster-se de comer ou manusear caça selvagem”.

O período de incubação da varíola dos macacos costuma ser de seis a 13 dias, mas pode variar de cinco a 21 dias, conforme relato do Butantan. Por isso pessoas infectadas precisam ficar isoladas e em observação por 21 dias.

Vacinas

André Bon explica que as vacinas contra varíola comum protegem também contra a varíola dos macacos. Ele, no entanto, destaca que não há vacinas disponíveis no mercado neste momento.

“Há apenas cepas guardadas para se for necessário voltarem a ser reproduzidas. Vale lembrar que a forma como a vacina da varíola era feita antigamente não é mais utilizada no mundo. Era uma metodologia um pouco mais antiga e atrasada. Hoje temos formas mais tecnológicas e seguras de se fazer a vacina, caso venha a ser necessário”, disse o médico infectologista.

Bon descarta a imediata necessidade de vacina no atual momento, uma vez que não há número de casos que justifiquem pressa. “O importante agora é fazer a observação de casos suspeitos”, disse.

O Butantan confirma que a vacinação contra a varíola comum tem se mostrado bastante eficiente contra a varíola dos macacos. “Embora uma vacina (MVA-BN) e um tratamento específico (tecovirimat) tenham sido aprovados para a varíola, em 2019 e 2022, respectivamente, essas contramedidas ainda não estão amplamente disponíveis”.

“Populações em todo o mundo com idade inferior a 40 ou 50 anos não tomam mais a vacina, cuja proteção era oferecida por programas anteriores de vacinação contra a varíola, porque estas campanhas foram descontinuadas”, informou o instituto.

BOLSONARO ESTÁ CHEIO DE INQUÉRITOS E LULA NENHUM

 

Na mira de Moraes

Por
Renan Ramalho
Brasília


O ministro do STF Alexandre de Moraes, próximo presidente do TSE, e o presidente Jair Bolsonaro, durante encontro em 2019.| Foto: Palácio do Planalto

O presidente Jair Bolsonaro (PL) responde a diversos inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) há mais de dois anos. Atualmente, existem cinco investigações em andamento e não há, no curto prazo, perspectiva de que alguma delas avance para eventual denúncia, por parte da Procuradoria-Geral da República (PGR), que possa levar o presidente a se tornar réu pelos supostos crimes de que é suspeito.

Sob o comando do procurador-geral Augusto Aras, indicado pelo próprio presidente, a PGR já se manifestou a favor do arquivamento de dois inquéritos, relativos a uma suposta prevaricação nas negociações para a compra da vacina indiana Covaxin (pedido aceito pela ministra Rosa Weber, do STF, que encerrou o caso) e outro relacionado à divulgação de uma investigação supostamente sigilosa sobre um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2018 (apesar do pedido, o ministro do STF Alexandre de Moraes não encerrou o caso e decidiu estender a investigação).

Os outros inquéritos são os das fake news, das milícias digitais, um pela associação feita por Bolsonaro de que a vacina contra Covid pode causar Aids e outro por suposta interferência na Polícia Federal (PF). Nesses, também tocados por Moraes, não há qualquer indicação nos autos de que a PGR cogite imputar crimes ao presidente.

Se isso ocorresse, a denúncia teria de ser remetida à Câmara dos Deputados, a quem caberia autorizar o STF a analisar o caso. E, se entendesse que há indícios suficientes, abriria uma ação penal contra o presidente, o que acarretaria seu afastamento do cargo. Trata-se, hoje, de uma hipótese distante.

Entenda melhor, abaixo, a origem, o atual estágio e a perspectiva futura de cada uma dessas investigações.

  1. Inquérito 4781: fake news
    Bolsonaro passou a ser investigado no inquérito das fake news em agosto de 2021, a pedido do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No final de julho, Bolsonaro realizou uma live apenas para questionar a integridade das urnas eletrônicas, com base em vídeos que circulam na internet. A expectativa, como ele mesmo havia anunciado, é que fossem apresentadas provas incontestáveis de uma suposta fraude na eleição de 2018, o que Bolsonaro não fez.

O então presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, pediu diretamente a Alexandre de Moraes para incluir Bolsonaro no inquérito das fake news. Sem consultar a PGR, Moraes aceitou o pedido, apontando que o presidente teria cometido crimes contra a honra (calúnia, injúria e difamação), de apologia ao crime, associação criminosa, denunciação caluniosa, crimes contra a segurança nacional e eleitorais.

Moraes disse que Bolsonaro teria se posicionado de forma “criminosa e atentatória às Instituições”, imputando aos ministros do STF a intenção de fraudar a eleição deste ano para favorecer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além de dizer que o voto eletrônico é fraudado e não é auditável. A ligação com o inquérito das fake news estaria no fato de que essas “afirmações falsas” fariam parte de uma “narrativa” que deslegitima as instituições, incluindo o STF, para destituir as pessoas que as representam e substituí-las por outras alinhadas a Bolsonaro.


A investigação sobre Bolsonaro passou a tramitar em autos apartados, dentro de uma petição sigilosa (PET 9842), dentro da qual foram tomados depoimentos de quem teria colaborado para a realização da live, como o ministro da Justiça, Anderson Torres, e o coronel do Exército Eduardo Gomes da Silva. Ao ouvi-los, a delegada Denisse Ribeiro concluiu que a live foi preparada de maneira enviesada para reforçar o discurso de fraude nas urnas.

Num relatório elaborado em setembro, a delegada também pediu que a investigação fosse apensada (juntada) a um inquérito aberto de ofício por Moraes no final de julho, o das “milícias digitais” (INQ 4874), que substituiu outro, o dos “atos antidemocráticos” (INQ 4828), arquivado a pedido da PGR por falta de indícios envolvendo autoridades com foro privilegiado no STF.

Denisse Ribeiro afirmou que a live de Bolsonaro estava relacionada à atuação de uma organização criminosa, composta por seus apoiadores e que atua nas redes sociais para disseminar notícias falsas sobre a conduta dos ministros do STF e sobre o sistema de votação.

Em dezembro, a subprocuradora-geral da República, Lindôra Araújo, enviou ao STF parecer contrário a um recurso de Bolsonaro para retirá-lo da investigação e concordando com os pedidos da PF para incluí-lo no inquérito das milícias digitais.

“A suposta divulgação de informação com baixa confiabilidade ocorrida no episódio apurado aparentemente foi seguida dos mesmos mecanismos de propagação de fake news nas redes sociais utilizados pelos grupos investigados no INQ 4874”, afirmou a subprocuradora.

No início de maio, Moraes acolheu o pedido da delegada e juntou a investigação sobre a live de Bolsonaro ao inquérito das milícias digitais, “cujo objeto é uma organização criminosa complexa, de forte atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político, com objetivo de atacar o Estado Democrático de Direito”.

  1. Inquérito 4874: milícias digitais
    Aberta por Alexandre de Moraes no final de julho do ano passado, a investigação sobre as milícias digitais está focada em apoiadores de Bolsonaro que, segundo o ministro, formariam uma organização criminosa. O foco do inquérito, segundo o próprio Moraes, é apurar o financiamento da disseminação, nas redes sociais, de “ataques” às instituições, ao Estado de Direito e à democracia.

Informações sobre esse grupo começaram a ser levantadas nos inquéritos das fake news e dos atos antidemocráticos. Delegados da PF que respondem diretamente a Moraes apontaram a existência de quatro núcleos: o primeiro voltado para produção de notícias falsas; o segundo de divulgação desse material nas redes; um terceiro composto por políticos; e um quarto, por financiadores.

“Foram observados em ambos os inquéritos ataques coordenados e sistemáticos contra as Instituições, o Estado de Direito e a Democracia, todos ocorrendo no mesmo dia ou no dia seguinte de manifestações presidenciais, por uma série de perfis e páginas nas redes mundiais de computadores, sempre visando a ameaçar, agredir e a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e à própria Corte”, descreveu o ministro numa decisão de agosto de 2021.

Os “ataques sistematizados” se iniciariam de forma concomitante e cessariam a partir um “comando específico” e usariam as redes como “instrumento de agressão, de propagação de discurso de ódio e de ruptura ao Estado de Direito e da Democracia”. Estariam envolvidos parlamentares, assessores parlamentares e do governo, incluindo pessoal ligado à Secretaria de Comunicação da Presidência da República, que fariam parte do “gabinete do ódio”.

A base dessas investigações é um relatório de 2020 da empresa Atlantic Council, contratada pelo Facebook para identificar perfis anônimos que promoveriam desinformação política na plataforma. Foram banidas contas ligadas a auxiliares de Bolsonaro e de seus filhos.

Desde a live de julho de 2021 em que Bolsonaro levantou suspeitas sobre as urnas, Moraes indicou que ele deveria fazer parte do inquérito das milícias digitais. “Observou-se, como consequência das condutas do Presidente da República, o mesmo modus operandi de divulgação utilizado pela organização criminosa investigada em ambos os inquéritos, com intensas reações por meio das redes virtuais, pregando discursos de ódio e contrários às Instituições, ao Estado de Direito e à Democracia, inclusive defendendo de maneira absurda e inconstitucional a ausência de eleições em 2022”, afirmou no mesmo documento de agosto do ano passado.

Antes das “ilações” contra as urnas, o ministro disse que o mesmo modo de agir foi usado para culpar o STF pela impossibilidade de o governo federal atuar na pandemia e também para acusar ministros de beneficiar Lula eleitoralmente livrando-o das condenações na Lava Jato.

Por estar focado nas críticas de Bolsonaro às urnas eletrônicas, o inquérito tende a ser usado também no âmbito do TSE, onde tramita desde o ano passado um inquérito administrativo, conduzido pelo corregedor-geral eleitoral, atualmente o ministro Mauro Campbell, que reúne todas as declarações do presidente contra o sistema eleitoral.

Há a possibilidade de que as provas desse inquérito do TSE sejam usadas por partidos, candidatos adversários ou Ministério Público para impugnar a candidatura de Bolsonaro à reeleição. Em novembro do ano passado, ao receber um relatório da PF sobre a live de julho do presidente, o próprio Moraes destacou uma decisão do TSE à época que cassou o mandato do deputado estadual Fernando Francischini por causa de uma live em 2018, no dia das eleições, na qual apontou que estariam ocorrendo fraudes nas urnas para retirar votos de Bolsonaro.

“Ataques ao sistema eletrônico de votação e à democracia, disseminando fatos inverídicos e gerando incertezas acerca da lisura do pleito, em benefício de candidato, podem configurar abuso de poder político ou de autoridade – quando utilizada essa prerrogativa para tal propósito – e/ou uso indevido dos meios de comunicação quando redes sociais são usadas para esse fim […] O ataque ao sistema eletrônico de votação, noticiando-se fraudes que nunca ocorreram, tem repercussão nefasta na legitimidade do pleito, na estabilidade do Estado Democrático de Direito e na confiança dos eleitores nas umas eletrônicas”, diz o acórdão da condenação.

Na época, o TSE também arquivou ações do PT que acusavam Bolsonaro de estar por trás de um suposto esquema de disparo de fake news para atacar o partido, via WhatsApp, nas eleições de 2018. Os ministros concluíram que não havia provas do envolvimento do presidente, mas ressaltaram que isso também pode levar à cassação por abuso de poder.

  1. Inquérito 4878: divulgação de dados do TSE
    O inquérito foi aberto em agosto do ano passado, por causa de uma entrevista ao vivo em que Bolsonaro revelou detalhes de uma investigação da PF sobre um ataque hacker ao TSE em 2018, e em seguida publicou nas redes sociais links que davam acesso aos autos.

O TSE alegou que foram divulgados dados sigilosos e sensíveis do tribunal, ligados à segurança de sua área de tecnologia. Moraes abriu o inquérito e assumiu a relatoria por ver ligação do caso com o inquérito das fake news, em razão do contexto de críticas do presidente ao sistema eleitoral e aos ministros do STF, que também integram a Corte Eleitoral.

A hipótese apontada é que Bolsonaro teria cometido os crimes de divulgação de segredo e violação de sigilo funcional. A investigação da PF revelou que havia divergência interna quanto ao sigilo do inquérito divulgado por Bolsonaro: o delegado que investigava o ataque hacker disse que não havia segredo, mas a delegada Denisse Ribeiro, que investigou a divulgação, entendia que sim.

Em fevereiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, pediu o arquivamento do inquérito, por não ver crime na conduta de Bolsonaro. Argumentou que não havia sigilo no inquérito e que sua divulgação, portanto, não poderia ser punida.

Apesar desse pedido de arquivamento, até o momento Moraes manteve o inquérito em andamento. Em março, resolveu compartilhar seu conteúdo com o TSE, a pedido do corregedor-geral eleitoral, Mauro Campbell, que também quer usar o material no inquérito administrativo que tramita na Corte Eleitoral.

Já em maio, o Moraes pediu à PF um novo relatório, dessa vez para analisar mais a fundo os dados obtidos na quebra de sigilo telemático de Mauro Cid, um ajudante de ordens de Bolsonaro. Foi ele quem providenciou a disponibilização, na internet, de cópia do inquérito divulgado pelo presidente.

A PF conseguiu acessar arquivos armazenados em sua conta de e-mail e encontrou textos curtos, críticos às vacinas e às medidas restritivas adotadas para conter a pandemia de Covid. No primeiro relatório relacionado a esse material, o delegado Fábio Shor indicou que esses textos seriam usados por Bolsonaro em suas lives, transmitidas todas as quintas-feiras.

Moraes quer um novo relatório sobre esse material, para que a PGR se manifeste se existem crimes. A PF ainda não enviou esse novo relatório ao ministro. A Advocacia-Geral da União (AGU) já recorreu, para requerer o imediato arquivamento do inquérito.

  1. Inquérito 4888: associação de vacina à Aids
    O inquérito foi aberto por Alexandre de Moraes em dezembro do ano passado, a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM), presidente da CPI da Covid. O motivo foi uma live de outubro em que Bolsonaro disse que “relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida [Aids] muito mais rápido do que o previsto”.

Na época, os senadores da CPI pressionavam a PGR a abrir várias investigações sobre Bolsonaro por vários crimes que teria cometido na pandemia, mas estavam incomodados com a demora de Aras em abrir inquéritos. Assim, acionaram diretamente Alexandre de Moraes para investigar a declaração ligando vacinas à Aids.

O ministro abriu o inquérito, por ver relação com as fake news, mesmo contrariando a PGR, que pediu que o caso fosse analisado por outro ministro, no caso, Luís Roberto Barroso, que já havia recebido um pedido de apuração sigiloso relacionado ao assunto.


“Não há dúvidas de que as condutas noticiadas do Presidente da República, no sentido de propagação de notícias fraudulentas acerca da vacinação contra o Covid-19 utilizam-se do modus operandi de esquemas de divulgação em massa nas redes sociais, revelando-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados, especialmente diante da existência de uma organização criminosa”, justificou Moraes.

A PGR disse que apurava o caso internamente, num procedimento sigiloso. Mas Moraes disse que era necessária supervisão judicial e pediu que tudo fosse esclarecido dentro do inquérito pedido pela CPI, relacionado à desinformação na pandemia.

Em abril, a PF pediu uma gravação integral da live. O ministro requisitou o material do Google, que hospeda o YouTube. E a empresa remeteu o vídeo no final do mês. Desde então, não houve mais decisões ou novidades na investigação.

  1. Inquérito 4831: interferência na PF
    Trata-se da investigação mais antiga aberta contra Bolsonaro, na condição de presidente, em tramitação no STF. Foi aberta a pedido da PGR, em 2020, logo após a saída do ex-ministro Sergio Moro do governo. No final de abril daquele ano, numa entrevista à imprensa, ele anunciou que pediu demissão do Ministério da Justiça por supostas tentativas do presidente de interferir na direção da PF, para que pudesse obter informações de investigações sobre familiares e aliados.

Desde 2019, Bolsonaro pressionava Moro a substituir na direção-geral da PF o delegado Maurício Valeixo, escolhido por Moro, por outro mais próximo e de sua confiança, como o delegado Alexandre Ramagem, que chefiou sua equipe de segurança na campanha de 2018.

Moro resistia e, diante do impasse, deixou o governo em 2020 e passou a criticar Bolsonaro. Diante de suas declarações, a PGR pediu inquérito ao STF para apurar se o presidente teria cometido crimes como obstrução de Justiça, coação no curso do processo e advocacia administrativa. O ex-juiz e ex-ministro também passou a ser investigado por denunciação caluniosa, na hipótese de ter mentido sobre Bolsonaro.

Desde então, diversos delegados e militares do governo prestaram depoimento, todos negando que a troca no comando da PF tenha dado a Bolsonaro informações privilegiadas ou poder de prejudicar ou direcionar as investigações.

Em março deste ano, a PF concluiu que Bolsonaro não cometeu nenhum crime e que também não seria possível imputar delitos a Moro. “No decorrer dos quase dois anos de investigação, dezoito pessoas foram ouvidas, perícias foram realizadas, análises de dados e afastamentos de sigilos telemáticos implementados.

Nenhuma prova consistente para a subsunção penal foi encontrada. Muito pelo contrário, todas testemunhas ouvidas foram assertivas em dizer que não receberam orientação ou qualquer pedido, mesmo que velado, para interferir ou influenciar investigações conduzidas na Polícia Federal”, escreveu no relatório final o delegado Leopoldo Soares Lacerda.

A PF analisou seis investigações que poderiam ser de interesse de Bolsonaro, incluindo uma sobre suposto vazamento ao senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) sobre movimentações financeiras de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, investigado por operar, em seu favor, um esquema de “rachadinha” na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Outro caso de interesse seria o próprio inquérito das fake news, por envolver parlamentares que apoiam Bolsonaro.

Moraes negou o compartilhamento das provas do inquérito das fake news, o que inviabilizou o aprofundamento da investigação sobre a suposta interferência. “Os vastos elementos reunidos nos autos demonstram a inexistência de ingerência política que viessem a refletir diretamente nos trabalhos de Polícia Judiciária da União”, afirmou o delegado.

No fim de abril, Moraes, que assumiu a relatoria da investigação (substituindo Celso de Mello, que se aposentou em 2020), pediu a manifestação final da PGR sobre o caso. A tendência é que o órgão peça o encerramento do caso sem denunciar ninguém.

Inquérito 4875: prevaricação no caso Covaxin (arquivado)
Aberto no ano passado contra Bolsonaro, o inquérito sobre uma suposta omissão do presidente ante irregularidades nas negociações para compra da vacina Covaxin foi arquivado em abril deste ano pela ministra Rosa Weber, do STF.

A investigação foi aberta em julho de 2021 a pedido de senadores da CPI da Covid, após um depoimento do deputado Luís Miranda (Republicanos-DF), em que relatou uma “pressão incomum” dentro do Ministério da Saúde para a compra da vacina indiana contra a Covid. Ele disse ter comunicado o caso diretamente ao presidente, que não teria acionado a PF para investigar o caso.

Num relatório sobre o caso entregue no final de janeiro, a PF concluiu que Bolsonaro não tinha a obrigação legal de comunicar irregularidades nas negociações, que não foram concretizadas. “Ainda que não tenha agido, ao Presidente da República Jair Messias Bolsonaro não pode ser imputado o crime de prevaricação. Juridicamente, não é dever funcional (leia-se: legal), decorrente de regra de competência do cargo, a prática de ato de ofício de comunicação de irregularidades pelo Presidente da República”, escreveu o delegado William Marinho.

Na mesma linha, o procurador-geral Augusto Aras pediu em fevereiro o arquivamento do inquérito, por não ver crime na conduta do presidente. Em março, Rosa Weber negou esse pedido, pois considerou que a omissão poderia sim configurar crime do presidente da República.

Aras então recorreu, acrescentando que não seria possível reunir provas contra Bolsonaro. Só então a ministra aceitou o pedido e encerrou o caso. “Não me resta alternativa senão acolher, desta feita, o pedido formulado”, escreveu Rosa Weber.


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GATANÇA DOS EX-PRESIDENTES DA REPÚBLICA

 

  • Lúcio VazPorLúcio Vaz – Gazeta do Povo

Presidência da República paga gastos com segurança em viagens de presidentes em campanha pela reeleição| Foto: Roberto Stuckert Filho

Presidentes candidatos à reeleição contam com uma mordomia que não está à disposição dos seus adversários. A Presidência da República paga as despesas com servidores da segurança e apoio técnico em qualquer deslocamento presidencial, inclusive para eventos eleitorais. As despesas com hospedagem e alimentação desses servidores são consideradas indispensáveis à segurança, atendimento logístico e pessoal nas viagens do presidente. Esta prática fica clara nos gastos com cartões corporativos nos deslocamentos da então presidente Dilma Rousseff em agosto e setembro de 2014, quando ela presidia o país e estava em campanha eleitoral. Ela teve o reforço de Lula em comícios de 2010.

Os dados foram obtidos pelo blog por meio da Lei de Acesso à Informação. Nas prestações de contas dos pagamentos feitos com cartões corporativos estão registrados os “eventos eleitorais” e as despesas com hospedagem de seguranças e assessores e alimentação de policiais civis, federais, rodoviários, bombeiros e até militares das Forças Armadas. Eles participam do esquema de segurança quando há presença de público.

As prestações de contas estão registradas em meio físico, em arquivos que enchem uma sala de um anexo da Secretaria Geral da Presidência. A análise de milhares de documentos foi feita em visitas presenciais ao arquivo, com a solicitação e entrega de cópias das páginas selecionadas pela reportagem. O pedido de acesso foi apresentado em 25 de abril.

Não estão incluídas as diárias pagas aos servidores integrantes da comitiva presidencial. Mas nem tudo é de graça. O ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial pelo presidente da República e sua comitiva, em campanha eleitoral, é responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja vinculado. Todos esses dados são mantidos em sigilo durante o mandato presidencial, por questões de segurança, e divulgados somente após o término do mandato.

Eventos da “presidenta”

Na viagem para Belém, em 10 de setembro de 2014, o relatório de viagem é explícito: “Participação da excelentíssima senhora presidenta no comício de campanha eleitoral”. No documento, Dilma é tratada como “presidenta”, como ela exigia. A presidente chegou à capital paraense com a sua comitiva numa quarta-feira e teve apenas um evento da cidade – justamente o comício. Encerrado o evento, ela retornou para Brasília.

Em 6 de setembro, esteve em São Paulo num “Evento Eleitoral”, como descrevem os registros da viagem. Foi um “encontro com taxistas”, na sede do Sindicato dos Taxistas do Estado de São Paulo. Dilma chegou ao aeroporto de Congonhas ás 9h50. A comitiva presidencial deslocou-se para o sindicado às 10h, em comboio terrestre. O encontro, na Vila Clementina, durou 1 hora, com encerramento às 11h15.

Dali, a comitiva seguiu em comboio terrestre para a quadra do Sindicato dos Bancários, onde foi realizado o “Ato político mulheres com Dilma”, também classificado como “Evento Eleitoral”. Nos registros de custos de viagens da Presidência, a estada em São Paulo custou R$ 35 mil aos cofres públicos, (em valores atualizados pela inflação).

Em 25 de setembro, já nas proximidades do primeiro turno das eleições, a presidente Dilma esteve em Feira de Santana (BA). Os registros arquivados na Presidência deixam clara a finalidade dessa viagem: “Participar de caminhada (Evento Eleitoral), em Feira de Santana”. O evento ocorreu às 11h.

Participação em debates

Dilma visitou a cidade de Aparecida (SP) em 16 de setembro. A finalidade era apenas uma: “Participar de debate com os candidatos à Presidência da República”, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e TV Aparecida. Ficou registrado que se tratava de um “Evento Eleitoral”. A presidente chegou à cidade e dirigiu-se à Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Terminado o debate, pegou o avião presidencial e partiu para Brasília.

As equipes de segurança local não passaram fome. O sistema de segurança presidencial no município serviu 318 lanches para militares do Exército, 75 para policiais militares, 60 para policiais rodoviários federais, 60 para guardas municipais, 15 para policiais civis e 12 para policiais federais, num total de 540, com preço unitário de R$ 17,00. Como não houve pernoite em Aparecida, não houve despesa com hospedagem.

Em 1º de setembro, uma segunda-feira, Dilma participou do debate com candidatos à Presidência da República na emissora de TV SBT, em São Paulo. Ela chegou a Congonhas no domingo à noite. Deslocou-se de helicóptero até a Base do Ibirapuera e, depois, em veículos, até o hotel Unique. Na segunda, preparou-se para o debate no hotel, até às 16h. Chegou ao heliponto do SBT às 16h35. Dali, seguiu em comboio de veículos até os estúdios da emissora. O debate teve início às 17h45, com duração de duas horas. Chegou ao hotel, onde pernoitou, às 20h. A hospedagem de 28 integrantes da comitiva, paga com cartão corporativo, custou R$ 47,8 mil.

No dia seguinte, ao meio dia, ela foi de helicóptero para o Campo de Futebol 1º de maio. Seguiu logo em comboio até o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde participou de caminhada na Praça da Matriz de São Bernardo do Campo, às 15h. Chegou de helicóptero a Congonhas, de onde partiu para Brasília às 15h40.

Aviões, helicópteros, comboio terrestre

Como mostraram os registros da viagem para São Paulo, os deslocamentos nos locais dos eventos exigem uma enorme estrutura de transporte. Na viagem para Belo Horizonte, dia 13 de setembro, Dilma partiu do Palácio da Alvorada de helicóptero, às 9h, com cinco assessores, com destino à Base Aérea. Chegou ao aeroporto da Pampulha às 10h30, sendo recebida pelo “candidato a governador”, Fernando Pimentel; o “candidato a vice-governador”, Antônio Andrade; e o “coordenador da Campanha em Minas Gerais”, Walfrido Mares Guia, como registram os documentos oficiais.

A comitiva de 17 autoridades, políticos e servidores ocupou dois helicópteros. Todos seguiram para o heliponto do Clube das Quintas. Dali, seguiram em veículos para o heliponto da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em três carros e duas vans. Dilma foi recebida nas escadarias da Igreja por grupo religioso de matriz africana para “agradecimento das lideranças do Movimento Negro pelo avanço na política pública de promoção da igualdade racial”. Em seguida, entrou na igreja e foi conduzida ao palco.

Às 11h, a “comitiva de campanha” chegou ao Marco Zero. Usaram a palavra os candidatos a senador, Josué Alencar; a governador; e o representante do Movimento Negro. Às 13h, a comitiva partiu para a residência do “coordenador da Campanha em Minas”, onde houve um almoço privado. Às 15h30, no Marco Zero, Dilma participou do “Encontro com a Juventude”, ao lado dos seus candidatos. Logo após, todos retornaram à Pampulha em veículos. A comitiva presidencial partiu para Brasília às 17h20.

Mas a campanha não teve apenas “almoços privados”, reservados à cúpula da campanha. Dilma foi ao Rio de Janeiro em 15 de setembro, para o lançamento do livro “Um País Chamado Favela”, na Central Única de Favelas (CUFA), em Madureira. Um cartão corporativo pagou R$ 22 mil por 1.163 kit-lanches, sendo 700 para agentes de segurança de área (Exército); 250 policiais militares, 28 bombeiros e 10 operadores de ambulâncias.

  • Lúcio VazPorLúcio Vaz – Gazeta do Povo

Presidência da República paga gastos com segurança em viagens de presidentes em campanha pela reeleição| Foto: Roberto Stuckert Filho

Presidentes candidatos à reeleição contam com uma mordomia que não está à disposição dos seus adversários. A Presidência da República paga as despesas com servidores da segurança e apoio técnico em qualquer deslocamento presidencial, inclusive para eventos eleitorais. As despesas com hospedagem e alimentação desses servidores são consideradas indispensáveis à segurança, atendimento logístico e pessoal nas viagens do presidente. Esta prática fica clara nos gastos com cartões corporativos nos deslocamentos da então presidente Dilma Rousseff em agosto e setembro de 2014, quando ela presidia o país e estava em campanha eleitoral. Ela teve o reforço de Lula em comícios de 2010.

Os dados foram obtidos pelo blog por meio da Lei de Acesso à Informação. Nas prestações de contas dos pagamentos feitos com cartões corporativos estão registrados os “eventos eleitorais” e as despesas com hospedagem de seguranças e assessores e alimentação de policiais civis, federais, rodoviários, bombeiros e até militares das Forças Armadas. Eles participam do esquema de segurança quando há presença de público.

As prestações de contas estão registradas em meio físico, em arquivos que enchem uma sala de um anexo da Secretaria Geral da Presidência. A análise de milhares de documentos foi feita em visitas presenciais ao arquivo, com a solicitação e entrega de cópias das páginas selecionadas pela reportagem. O pedido de acesso foi apresentado em 25 de abril.

Não estão incluídas as diárias pagas aos servidores integrantes da comitiva presidencial. Mas nem tudo é de graça. O ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial pelo presidente da República e sua comitiva, em campanha eleitoral, é responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja vinculado. Todos esses dados são mantidos em sigilo durante o mandato presidencial, por questões de segurança, e divulgados somente após o término do mandato.

Eventos da “presidenta”

Na viagem para Belém, em 10 de setembro de 2014, o relatório de viagem é explícito: “Participação da excelentíssima senhora presidenta no comício de campanha eleitoral”. No documento, Dilma é tratada como “presidenta”, como ela exigia. A presidente chegou à capital paraense com a sua comitiva numa quarta-feira e teve apenas um evento da cidade – justamente o comício. Encerrado o evento, ela retornou para Brasília.

Em 6 de setembro, esteve em São Paulo num “Evento Eleitoral”, como descrevem os registros da viagem. Foi um “encontro com taxistas”, na sede do Sindicato dos Taxistas do Estado de São Paulo. Dilma chegou ao aeroporto de Congonhas ás 9h50. A comitiva presidencial deslocou-se para o sindicado às 10h, em comboio terrestre. O encontro, na Vila Clementina, durou 1 hora, com encerramento às 11h15.

Dali, a comitiva seguiu em comboio terrestre para a quadra do Sindicato dos Bancários, onde foi realizado o “Ato político mulheres com Dilma”, também classificado como “Evento Eleitoral”. Nos registros de custos de viagens da Presidência, a estada em São Paulo custou R$ 35 mil aos cofres públicos, (em valores atualizados pela inflação).

Em 25 de setembro, já nas proximidades do primeiro turno das eleições, a presidente Dilma esteve em Feira de Santana (BA). Os registros arquivados na Presidência deixam clara a finalidade dessa viagem: “Participar de caminhada (Evento Eleitoral), em Feira de Santana”. O evento ocorreu às 11h.

Participação em debates

Dilma visitou a cidade de Aparecida (SP) em 16 de setembro. A finalidade era apenas uma: “Participar de debate com os candidatos à Presidência da República”, promovido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e TV Aparecida. Ficou registrado que se tratava de um “Evento Eleitoral”. A presidente chegou à cidade e dirigiu-se à Basílica de Nossa Senhora Aparecida. Terminado o debate, pegou o avião presidencial e partiu para Brasília.

As equipes de segurança local não passaram fome. O sistema de segurança presidencial no município serviu 318 lanches para militares do Exército, 75 para policiais militares, 60 para policiais rodoviários federais, 60 para guardas municipais, 15 para policiais civis e 12 para policiais federais, num total de 540, com preço unitário de R$ 17,00. Como não houve pernoite em Aparecida, não houve despesa com hospedagem.

Em 1º de setembro, uma segunda-feira, Dilma participou do debate com candidatos à Presidência da República na emissora de TV SBT, em São Paulo. Ela chegou a Congonhas no domingo à noite. Deslocou-se de helicóptero até a Base do Ibirapuera e, depois, em veículos, até o hotel Unique. Na segunda, preparou-se para o debate no hotel, até às 16h. Chegou ao heliponto do SBT às 16h35. Dali, seguiu em comboio de veículos até os estúdios da emissora. O debate teve início às 17h45, com duração de duas horas. Chegou ao hotel, onde pernoitou, às 20h. A hospedagem de 28 integrantes da comitiva, paga com cartão corporativo, custou R$ 47,8 mil.

No dia seguinte, ao meio dia, ela foi de helicóptero para o Campo de Futebol 1º de maio. Seguiu logo em comboio até o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, onde participou de caminhada na Praça da Matriz de São Bernardo do Campo, às 15h. Chegou de helicóptero a Congonhas, de onde partiu para Brasília às 15h40.

Aviões, helicópteros, comboio terrestre

Como mostraram os registros da viagem para São Paulo, os deslocamentos nos locais dos eventos exigem uma enorme estrutura de transporte. Na viagem para Belo Horizonte, dia 13 de setembro, Dilma partiu do Palácio da Alvorada de helicóptero, às 9h, com cinco assessores, com destino à Base Aérea. Chegou ao aeroporto da Pampulha às 10h30, sendo recebida pelo “candidato a governador”, Fernando Pimentel; o “candidato a vice-governador”, Antônio Andrade; e o “coordenador da Campanha em Minas Gerais”, Walfrido Mares Guia, como registram os documentos oficiais.

A comitiva de 17 autoridades, políticos e servidores ocupou dois helicópteros. Todos seguiram para o heliponto do Clube das Quintas. Dali, seguiram em veículos para o heliponto da Igreja Nossa Senhora do Rosário, em três carros e duas vans. Dilma foi recebida nas escadarias da Igreja por grupo religioso de matriz africana para “agradecimento das lideranças do Movimento Negro pelo avanço na política pública de promoção da igualdade racial”. Em seguida, entrou na igreja e foi conduzida ao palco.

Às 11h, a “comitiva de campanha” chegou ao Marco Zero. Usaram a palavra os candidatos a senador, Josué Alencar; a governador; e o representante do Movimento Negro. Às 13h, a comitiva partiu para a residência do “coordenador da Campanha em Minas”, onde houve um almoço privado. Às 15h30, no Marco Zero, Dilma participou do “Encontro com a Juventude”, ao lado dos seus candidatos. Logo após, todos retornaram à Pampulha em veículos. A comitiva presidencial partiu para Brasília às 17h20.

Mas a campanha não teve apenas “almoços privados”, reservados à cúpula da campanha. Dilma foi ao Rio de Janeiro em 15 de setembro, para o lançamento do livro “Um País Chamado Favela”, na Central Única de Favelas (CUFA), em Madureira. Um cartão corporativo pagou R$ 22 mil por 1.163 kit-lanches, sendo 700 para agentes de segurança de área (Exército); 250 policiais militares, 28 bombeiros e 10 operadores de ambulâncias.

Lula também esteve em comícios

Em setembro de 2010, em campanha para o seu primeiro mandato como presidente, Dilma recebeu uma força do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, seu maior cabo eleitora. No dia 22, Lula voou para Curitiba, onde tinha um “compromisso “privado”, às 17h30. Seguiu do aeroporto para o compromisso em comboio terrestre. Às 19h30, chegou a um “Comício de Campanha”. O evento aconteceu na Praça do Semeador, no bairro Sítio Cercado, com a presença de Dilma e do candidato ao governo do estado Osmar Dias (PDT.

Depois, Dilma seguiu em comboio para o /Bourbon Convention Hotel, onde pernoitou. Os policiais e militares que atuaram na segurança local receberam 187 lanches, sendo 69 para militares do Exército, 72 para policiais militares, 10 para policiais rodoviários e 20 para servidores da Força Aérea, entre outros.

Em 17 de setembro, Lula visitou Juiz de Fora (MG). Deixou Brasília às 14h, utilizando uma numa aeronave Legacy, numa sexta-feira. Às 16h, já estava na inauguração das instalações do Campi Universitário do município. Às 18h, partiu para o local do “evento privado (comício)”. O comício ocorreu no Terreirão do Samba, ao lado da candidata Dilma, na presença de um público de 15 mil pessoas. Depois, seguiu para São Paulo.

Bem mais cedo, foi servido almoço em restaurante para “alimentar a tropa antes do evento”. Foram servidos 130 lanches para militares do Exército, 19 para policiais militares, 8 para bombeiros e 3 para agentes de saúde.

O que diz a Lei Eleitoral

A Secretaria Geral da Presidência da República, que faz o pagamento das despesas feitas pelo presidente da República, afirmou ao blog que somente as despesas elencadas no art. 76 da Lei 9.508/1997 são objeto de ressarcimento. O art. 76 diz que o ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial pelo Presidente da República, e sua comitiva, em campanha eleitoral, será de responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja vinculado.

Mas a Secretaria Geral acrescentou que as despesas dos “servidores necessários à segurança e ao apoio técnico que ocorrem em qualquer deslocamento presidencial não são objeto de ressarcimento. Estes encontram-se desempenhando suas atividades vinculadas à competência institucional dos órgãos da Presidência da República”.

Em nota anterior, relativa ao pagamento das despesas com hospedagem de servidores e alimentação, a Secretaria Geral já havia informado que “tais despesas são inerentes à indispensável segurança, atendimento logístico e pessoal nas viagens do presidente, em consonância com a Resolução TSE 23.610/2019. A resolução diz que, “no transporte da(o) presidente em campanha ou evento eleitoral, serão excluídas da obrigação de ressarcimento as despesas com o transporte dos servidores indispensáveis à sua segurança e atendimento pessoal, bem como a utilização de equipamentos, veículos e materiais necessários à execução daquelas atividades”.

Como não houve alteração na Lei Eleitoral, o presidente da República, Jair Bolsonaro, terá direito a todas as mordomias oferecidas aos ex-presidentes Lula e Dilma em campanha pela reeleição. A pré-campanha de Bolsonaro já está em ritmo acelerado, com muitas visitas e inauguração de obras pelo país. Em março e abril, ele gastou R$ 2,9 milhões com cartões corporativos.

Lula também esteve em comícios

Em setembro de 2010, em campanha para o seu primeiro mandato como presidente, Dilma recebeu uma força do então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, seu maior cabo eleitora. No dia 22, Lula voou para Curitiba, onde tinha um “compromisso “privado”, às 17h30. Seguiu do aeroporto para o compromisso em comboio terrestre. Às 19h30, chegou a um “Comício de Campanha”. O evento aconteceu na Praça do Semeador, no bairro Sítio Cercado, com a presença de Dilma e do candidato ao governo do estado Osmar Dias (PDT.


Depois, Dilma seguiu em comboio para o /Bourbon Convention Hotel, onde pernoitou. Os policiais e militares que atuaram na segurança local receberam 187 lanches, sendo 69 para militares do Exército, 72 para policiais militares, 10 para policiais rodoviários e 20 para servidores da Força Aérea, entre outros.

Em 17 de setembro, Lula visitou Juiz de Fora (MG). Deixou Brasília às 14h, utilizando uma numa aeronave Legacy, numa sexta-feira. Às 16h, já estava na inauguração das instalações do Campi Universitário do município. Às 18h, partiu para o local do “evento privado (comício)”. O comício ocorreu no Terreirão do Samba, ao lado da candidata Dilma, na presença de um público de 15 mil pessoas. Depois, seguiu para São Paulo.

Bem mais cedo, foi servido almoço em restaurante para “alimentar a tropa antes do evento”. Foram servidos 130 lanches para militares do Exército, 19 para policiais militares, 8 para bombeiros e 3 para agentes de saúde.

O que diz a Lei Eleitoral

A Secretaria Geral da Presidência da República, que faz o pagamento das despesas feitas pelo presidente da República, afirmou ao blog que somente as despesas elencadas no art. 76 da Lei 9.508/1997 são objeto de ressarcimento. O art. 76 diz que o ressarcimento das despesas com o uso de transporte oficial pelo Presidente da República, e sua comitiva, em campanha eleitoral, será de responsabilidade do partido político ou coligação a que esteja vinculado.

Mas a Secretaria Geral acrescentou que as despesas dos “servidores necessários à segurança e ao apoio técnico que ocorrem em qualquer deslocamento presidencial não são objeto de ressarcimento. Estes encontram-se desempenhando suas atividades vinculadas à competência institucional dos órgãos da Presidência da República”.

Em nota anterior, relativa ao pagamento das despesas com hospedagem de servidores e alimentação, a Secretaria Geral já havia informado que “tais despesas são inerentes à indispensável segurança, atendimento logístico e pessoal nas viagens do presidente, em consonância com a Resolução TSE 23.610/2019. A resolução diz que, “no transporte da(o) presidente em campanha ou evento eleitoral, serão excluídas da obrigação de ressarcimento as despesas com o transporte dos servidores indispensáveis à sua segurança e atendimento pessoal, bem como a utilização de equipamentos, veículos e materiais necessários à execução daquelas atividades”.

Como não houve alteração na Lei Eleitoral, o presidente da República, Jair Bolsonaro, terá direito a todas as mordomias oferecidas aos ex-presidentes Lula e Dilma em campanha pela reeleição. A pré-campanha de Bolsonaro já está em ritmo acelerado, com muitas visitas e inauguração de obras pelo país. Em março e abril, ele gastou R$ 2,9 milhões com cartões corporativos.