Produção
espanhola ‘La Casa de Papel’ se firma como fenômeno na Netflix
Jéssica Malta
SUCESSO – Com uma
estreia sem muito alarde, a série, adicionada no final do ano passado no
catálogo da Netflix, acompanha a história de oito pessoas recrutadas para um
grande assalto
“O que é roubar um
banco, comparado a fundar um banco?”. A frase do dramaturgo e poeta alemão
Bertolt Brecht é a escolhida pelo pesquisador e professor de cinema Athaídes
Braga para definir a produção espanhola “La Casa de Papel”, que mesmo sem muito
alarde inicial, sem divulgação grandiosa pela Netflix, se firmou como um
fenômeno da plataforma.
Não por acaso,
referências a história – que acompanha oito pessoas recrutadas para um grande
assalto à Casa da Moeda de Madri – povoaram o Carnaval brasileiro nas fantasias
de vários foliões, que ostentavam os uniformes vermelhos e máscaras do pintor
Salvador Dalí, utilizadas pelos personagens da série
Mas o frisson vai
além da inspiração carnavalesca. A produção está entre as vinte séries mais
populares do mundo na lista da base de dados IMDB, além de ser habitué na lista
de conteúdos em alta da Netflix.
Para Braga, a
justificativa para tanto sucesso está relacionada principalmente ao formato e
origem do seriado, que trazem vários elementos inesperados. “É uma produção bem
diferente do modelo norte-americano”, pontua. “Os ganchos não são previsíveis,
a apresentação dos personagens é bem distinta, não existe aquele reconhecimento
direto do protagonista, do antagonista e do bandido. A cada momento acontece um
desdobramento diferente e isso é algo que raramente acontece em produções
norte-americanas”, observa.
O foco na cultura
espanhola – o que acaba fugindo da hegemonia hollywoodiana ou britânica –
também é um dos pontos fortes da produção para o pesquisador. “É uma série
menos industrial. Não vem de um grande estúdio, com um grande investimento e aposta
em uma narrativa, uma cultura e uma língua diferentes do que estamos
acostumados”, diz.
O caráter político e
combativo de “La Casa de Papel” é outro fator destacado por Braga. “A série tem
uma crítica muito forte e uma proposta de ser revolucionária. Tem um pensamento
marxista de tomar a ferramenta que produz o dinheiro, através da ocupação da
Casa da Moeda.
O pesquisador
enfatiza ainda a relação da produção com o contexto sociopolítico atua, o que
pode ser uma chave para a identificação da audiência. “Pode ser que um público
mais conservador não goste, mas a série está trazendo exatamente um sintoma
desses tempos de hegemonia do capital financeiro sobre todo mundo, da relação
com as instituições, com a polícia”, explicita. “E traz essas questões com uma
beleza plástica. É uma série diferenciada e genial”, exalta.