sábado, 31 de dezembro de 2022

MORRE O PAPA BENTO XVI

 

Papa emérito
Conheça a longa vida de um papa genial

Por
Jônatas Dias Lima – Gazeta do Povo

MADRID, 21/08/2011.- Pope Benedict XVI saids goobye at the flight of steps prior to take his fligh in Barajas airport in Madrid, Spain, 21 August 2011 Benedict XVI ends today his four-day visit in the Spanish capital where he has attended the celebrations of the World Youth Day. The WYD, which runs from 16 August until 21 August 2011, is a worldwide encounter with the Pope which is celebrated every three years in a different country. EFE/Andres Ballesteros


O Papa Bento XVI se despede no lance de escadas antes de pegar um voo no aeroporto de Barajas em Madri, Espanha, 21 de agosto de 2011| Foto: EFE

De alguma forma, o papa João Paulo II parecia saber o destino do homem que por vinte e quatro anos foi seu braço direito e a mente brilhante que o ajudou a erguer um dos pontificados mais marcantes na história da Igreja Católica. A transformação do cardeal Joseph Ratzinger no papa Bento XVI está ligada de forma indelével ao papel que desempenhou junto ao seu santo antecessor na condição de prefeito para a Congregação da Doutrina da Fé e conselheiro pessoal. Por três vezes o fiel cardeal pediu oficialmente para se aposentar, ouvindo um fraterno “não” do pontífice polonês em todas as tentativas. Foi assim, sendo mantido na ativa meio que a contragosto, para além do que se costumava permitir, que Ratzinger entrou na fase mais importante de sua vida aos 78 anos, herdando um trono que ele conhecia bem e por isso mesmo nunca desejou.

Neste sábado (31), o mundo se despediu do papa mais longevo de todos os tempos, embora seu pontificado tenha durado pouco menos de oito anos. Aos 95, enfim Bento XVI completou a corrida, tendo “guardado a fé” (II Tim 4,7) como poucos fizeram com tamanha maestria antes dele.

Selecionar os fatos mais marcantes de uma vida tão extensa e repleta de realizações é um desafio assustador, mas ao menos podemos nos inspirar no exemplo do próprio Ratzinger que, não sem temor, encarou e cumpriu a tarefa de prosseguir e aprofundar o trabalho de um gigante.

O 265º papa da Igreja Católica nasceu na pequena cidade bávara de Marktl am Inn, em 1927, num Sábado de Aleluia, sendo batizado no mesmo dia. Com um pai policial, ele passa os primeiros dez anos de sua vida viajando muito e a família acaba adotando como lar a cidade de Traunstein, próximo da fronteira com a Áustria. É ali onde ele passa a maior parte de sua infância e adolescência, sempre acompanhado de seus irmãos mais velhos, Maria e Georg. Ambos se fizeram muito presentes na vida de Ratzinger mesmo após sua mudança para Roma.

Chega a década de 1940 numa Europa em ebulição, assombrada com as ameaças de uma nova guerra e sua Alemanha ocupa o centro das tensões, graças ao regime totalitário imposto pelo novo fuhrer. Contudo, a educação e a fé transmitidas por sua família preparam Joseph para as dificuldades que viriam em seguida.  Em seu livro de memórias, Ratzinger conta que viu os nazistas açoitarem o pároco da capela que frequentava antes de começar a celebração da missa. Pouco tempo depois, seguindo a sina de todo garoto alemão daquele período, foi obrigado a participar de atividades da Juventude Hitlerista.

O horror de um novo conflito mundial se concretiza, bem como o derramamento de sangue que todos sabiam que ocorreria. Em 1945, nos últimos meses da Segunda Guerra, o regime que o jovem Joseph detestava começa a fraquejar e impõe que estudantes internos devem trabalhar para mantê-lo. “Assim, o pequeno grupo de seminaristas da minha classe – nascidos em 1926 e 1927 – foi convocado para a Flak, em Munique”. Flak era o nome dado às baterias de defesa antiaéreas dos nazistas. Sobre esse período, sua autobiografia não diz muito, mas revela que foram dias amargos: “não preciso contar detalhadamente os muitos aborrecimentos que o tempo na Flak trouxe consigo, especialmente para uma pessoa tão pouco militar como eu”.

De fato, sua verdadeira luta, aquela na qual investiria todos os seus esforços e potências, viria décadas depois, servindo ao verdadeiro Senhor, não a um tirano. Ratzinger acaba por desertar e volta para casa. Mais tarde é preso por soldados norte-americanos e solto com o fim da guerra.

Com o pesadelo nazista chegando ao fim, surge a possibilidade de retomar o caminho rumo ao sacerdócio, sendo ordenado em 29 de junho de 1951, aos 24 anos. Seguindo uma vocação irresistível ao ensino, começa a lecionar já no ano seguinte, assumindo como professor na Escola Superior de Freising. Dois anos depois, torna-se doutor em teologia, com uma tese focada na obra de Santo Agostinho. Posteriormente, só em doutorados honoris causa viriam outros dez.

A partir desse ponto, sua vida acadêmica não parou mais, tendo produzido novos escritos inclusive após se tornar papa emérito. Como professor de teologia passou por universidades em Bonn, Münster e Tubinga, onde se tornou catedrático de Dogmática e História do Dogma na Universidade de Ratisbona, da qual também foi vice-reitor.

Estamos na década de 60, quando o papa João XXIII convoca o Concílio Vaticano II, um importante evento que reuniu bispos de todo o mundo e cuja última edição havia ocorrido há quase um século. O encontro que teve consequências tremendas para a Igreja das próximas décadas foi assistido de perto pelo padre Ratzinger que foi escolhido para atuar como perito, ao lado do cardeal Joseph Frings, arcebispo de Colônia. Depois, o destaque obtido o leva a desempenhar cargos importantes na Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.

Em 1977, o papa que encerra o concílio, Paulo VI, nomeia o prodigioso sacerdote como arcebispo de Munique e Freising, num salto de etapas pouco comum, já que para arquidioceses importantes o padrão era o de se nomear bispos ou bispos auxiliares, mas não padres. A ascensão na hierarquia ganharia um grau a mais no mesmo ano, quando o pontífice lhe concede o barrete escarlate. Foi quando o alemão recebeu o primeiro título pelo qual ficará conhecido em todo o mundo, atraindo amigos e inimigos: cardeal Ratzinger.

Papa Bento XVI, durante a missa celebrada no aeródromo Cuatro Vientos em Madrid, Espanha, 21 de agosto de 2011. EFE/Javier Lizon| EFE
João Paulo II 
A providência quis que já no ano seguinte à sua chegada ao cardinalato, Ratzinger fosse convocado a colocar em prática o mais precioso dos atributos da função, o de votar no conclave que escolheria o novo papa. Em agosto de 1978 acompanha a eleição do cardeal italiano Albino Luciani, que assumiria o nome pontifício de João Paulo. Passados 33 dias, uma surpresa trágica abala a Igreja e de forma muito particular aos cardeais que participaram daquele conclave. O papa morre de embolia pulmonar, deixando a sede vacante pela segunda vez no mesmo ano, o que exige dos cardeais uma nova eleição.

No mês de outubro, a maioria dos votantes opta dessa vez por um não italiano, o primeiro em 455 anos, cuja relativa juventude também chamou a atenção dos observadores. Aos 54 anos, Karol Wojtyła, o cardeal arcebispo de Cracóvia, na Polônia, se tornava o papa João Paulo II. Poucos anos depois, a vida do cardeal Ratzinger seria profundamente modificada pelas escolhas do novo sucessor de Pedro.

Em 1980, a inteligência e a cordialidade de Ratzinger se sobrassaem novamente durante o sínodo dos bispos que discutiu o tema “A missão da família cristã no mundo contemporâneo”, evento no qual ocupou o papel de relator. Um ano depois, o papa polonês o nomeia prefeito da Congregação para Doutrina da Fé, tornando-o a máxima autoridade abaixo do papa no que diz respeito ao ensino da Igreja nas questões de fé e moral. Posteriormente, biógrafos de João Paulo II relatarão que ele raramente faria algum discurso ou publicaria qualquer texto sem que o mesmo não tivesse sido revisado por Ratzinger.

A lealdade do cardeal alemão ao papa e o zelo pela correta doutrina eram tão notórias que seus críticos logo o apelidariam de Rottweiller de Deus, o que remetia muito mais à sua origem germânica e ao seu dever de guardião da fé do que ao seu temperamento pacato. Os ataques à ortodoxia defendida por Ratzinger cresceram sobremaneira após 1984, quando foi publicada com sua assinatura a instrução Libertatis nuntius, na qual são formalmente condenados alguns aspectos da Teologia da Libertação, corrente teológica popular na América Latina e que interpretava a fé cristã a partir da visão marxista, frequentemente substituindo pontos cruciais da doutrina católica por conceitos mais úteis ao pensamento revolucionário.

Expor e criticar a instrumentalização da Igreja por uma ideologia foi um ato corajoso que lhe custou caro. Muito das narrativas difamatórias usadas contra Bento XVI após sua eleição como papa eram, na verdade, versões recicladas dos insultos emitidos por teólogos da década de 80 diretamente afetados pelo documento e que nunca superaram seu rancor.

Catecismo 
Relevantes analistas católicos apontam hoje que, ao menos em parte, o avanço da Teologia da Libertação podia ser explicado pela confusão instaurada na Igreja após o Concílio Vaticano II e a reforma litúrgica que veio em seguida. Os mais tradicionalistas não hesitam em depositar a culpa no concílio em si, enquanto outros – Ratzinger entre eles – apontavam para as interpretações enviesadas dos documentos pastorais emitidos naquela ocasião. Faltava clareza quanto ao que de fato a Igreja dizia sobre uma extensa lista de questões e nesse quesito – clareza – Ratzinger sempre foi um especialista. Foi então que João Paulo II confiou a ele a presidência da comissão encarregada de produzir um novo catecismo para a Igreja, uma espécie de compêndio que explicasse de forma didática em que consiste a fé católica, fazendo uso de linguagem acessível ao homem contemporâneo, mas fiel à Tradição de dois mil anos.

A tarefa consumiu boa parte do tempo e energia do cardeal entre os anos de 1986 e 1992, quando o resultado do intenso trabalho foi enfim publicado. Em pouco tempo, o Catecismo da Igreja Católica escrito por Ratzinger e seus colaboradores se tornaria o manual de cabeceira de todo católico que buscasse crer e viver conforme ensina a Igreja fundada por Cristo e governada pelos sucessores dos apóstolos. O texto foi traduzido para inúmeros idiomas e posteriormente ganhou novas versões, algumas mais resumidas, na forma de perguntas e respostas, outras, adaptadas para jovens e crianças. Para muitos, o Catecismo da Igreja Católica é seu maior e mais duradouro legado espiritual.

A despedida do amigo 
A chegada do novo milênio trouxe para Ratzinger a esperança de que sua missão estivesse perto de ser concluída e, quem sabe, logo poderia enfim dedicar-se a uma vida mais contemplativa, ou voltar à vida acadêmica que amava, o que lhe permitiria escrever os livros que havia planejado há muito tempo, mas jamais conseguira graças à agenda intensa do papa e as consequentes tarefas que caíam sobre sua mesa. No entanto, como sabemos, o desenrolar da história não foi bem assim.

Em 2002, um João Paulo II já bastante debilitado pelo Parkinson aprova a eleição de Ratzinger como decano do colégio cardinalício, posição que lhe permitiria exercer uma série de funções importantes após a morte do pontífice, fato que ocorreria três anos mais tarde, em 2 abril de 2005. No dia 8, numa Praça de São Pedro completamente lotada, incluindo a presença de chefes de estado de todo o mundo, é o próprio Ratzinger quem celebra o funeral do papa e amigo que mudou sua vida.

Poucos dias depois, o cargo de decano do colégio cardinalício impunha também sobre ele o dever de presidir a missa de abertura do conclave que definiria o sucessor de João Paulo II. Na homilia, uma mensagem forte para o escolhido, seja lá quem fosse, sobre as nefastas consequências do relativismo, tema que se faria presente por todo o seu pontificado.

A eleição 
Quando as portas da Capela Sistina se fecharam, as listas de papabile fervilhavam na imprensa e nas casas de apostas. O nome de Ratzinger não constava em muitas delas, principalmente por causa dos seus 78 anos de idade. Outros, ainda mais equivocados, achavam impossível que os cardeais escolhessem alguém que, de certa forma, seria considerado mais conservador do que o próprio João Paulo II.

A torcida contrária não surtiu efeito e no dia 19 de abril de 2005, logo após a subida da fumaça branca que anuncia eleição de um novo papa, a figura que surge na sacada do Palácio Apostólico é a do cardeal Ratzinger, ou melhor, Bento XVI, o nome que assume fazendo referência, principalmente, ao padroeiro da Europa, São Bento de Núrsia, pai da tradição monástica no Ocidente.

Assim, o intelectual discreto, dotado de uma mente potente, mas comedido e até tímido nos gestos, teria de se acostumar com o clamor das multidões que criavam enormes expectativas a cada aparição do pontífice, em muito, graças às duas décadas de cativantes performances de João Paulo II, um líder nato, agraciado com personalidade magnética e muito carisma, qualidades às quais Bento XVI sabia bem que não possuía e que eram inimitáveis.

Ciente do quanto seu velho amigo transformou a figura do que vem a ser um papa, Bento assumiu tentando dar continuidade à forma de pastoreio iniciada pelo polonês: muitas viagens, uso intenso da mídia e eventos de massa. É claro que adaptações foram necessárias, afinal, Wojtyła inventou aquela rotina aos 54, mas Bento também foi favorecido pela sorte – ou pela providência? – já que herdou como primeiro megaevento agendado a Jornada Mundial da Juventude em Colônia, Alemanha, sua terra. O encontro reuniu 1,5 milhão de jovens católicos provenientes do mundo todo para celebrar a memória do amado João Paulo II e conhecer o novo líder que logo teria o nome musicado entre palmas e tambores, exatamente como faziam com JP2, o acrônimo predileto com o qual se referiam ao antigo pontífice.

No natal daquele mesmo ano, 2005, seria publicada sua primeira encíclica, Deus caritas est, uma reflexão profunda sobre o amor. A próxima foi dedicada a outra virtude teologal, Spe Salvi, de 2007, sobre a esperança cristã. Na terceira, publicada em 2009, Bento XVI deixa sua contribuição à doutrina social da Igreja. Intitulada Caritas in veritate, o texto faz uma análise da economia contemporânea, critica a divisão crescente entre ricos e pobres e chega a pedir uma verdadeira “autoridade política mundial” que seja preocupada com o bem comum.

Também em 2009 ocorre um de seus gestos mais determinantes na busca por ovelhas desgarradas. O papa retira a excomunhão de quatro bispos ordenados ilicitamente por Marcel Lefebvre, 1988, um arcebispo francês que liderou uma revolta contra as reformas instauradas após o Concílio Vaticano II, especialmente no campo litúrgico. O objetivo era o de facilitar a reconciliação com o grupo fundado por ele, a Fraternidade Sacerdotal São Pio X, mas também não deixava de ser um reflexo da preocupação que o então cardeal Ratzinger demonstrou em vários escritos com a decadência na liturgia católica, a falta de zelo pelo sagrado e o quanto isso afetava até mesmo a fé eucarística, central na vida da Igreja. Essa tentativa de reaproximação foi preparada dois anos antes, sobretudo com o motu proprio Summorum Pontificum, um documento que autorizou o clero de todo o mundo a celebrar, de forma extraordinária, a missa em latim conforme o missal anterior à reforma litúrgica realizada na década de 60, uma demanda preciosa para as comunidades tradicionalistas.

Viagens 
Durante seu pontificado Bento XVI fez 25 viagens apostólicas, aquelas feitas para outros países, fora da Itália. Dessas, destaca-se a visita ao Brasil, 2007, para acompanhar a 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, ocorrida em Aparecida. Antes de se reunir com os bispos, ele vai à São Paulo, reúne-se com jovens no estádio do Pacaembu e canoniza Frei Galvão, o primeiro santo nascido no Brasil.

Em 2009, cumprindo o que passou a ser visto como obrigatório para todo papa, vai à Jerusalém rezar na igreja do Santo Sepulcro. Em 2012, para renovar a delicada ponte construída por seu antecessor, visita Cuba e se encontra com o ditador Fidel Castro. Na mesma viagem vai ao México, ocasião na qual sofre uma queda, fato posteriormente citado pelo próprio Bento XVI como determinante para a decisão que tomaria no ano seguinte e que surpreenderia o mundo.

Renúncia 
Em 11 de fevereiro de 2013, numa reunião com cardeais, Bento XVI lê a carta de renúncia que havia preparado há meses, afirmando que a partir de 28 de fevereiro daquele ano, a sede de São Pedro ficaria vaga e que deveria ser convocado um novo conclave para a eleição do próximo Sumo Pontífice.

No texto, Bento XVI diz:

“Após ter examinado perante Deus reiteradamente minha consciência, cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério petrino. Sou muito consciente que este ministério, por sua natureza espiritual, deve ser realizado não unicamente com obras e palavras, mas também e em não menor grau sofrendo e rezando.

No entanto, no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé, para conduzir a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor tanto do corpo como do espírito, vigor que, nos últimos meses, diminuiu em mim de tal forma que eis de reconhecer minha incapacidade para exercer bem o ministério que me foi encomendado.

Por isso, sendo muito consciente da seriedade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao Ministério de Bispo de Roma, sucessor de São Pedro, que me foi confiado por meio dos Cardeais em 19 de abril de 2005 (…)”.

Como não podia deixar de ser, o anúncio provocou enorme perturbação na Igreja em todo o mundo e, claro, especulações. Para todos, era bastante compreensível que aos 85 anos manter uma agenda de compromissos como a que um papa tem era bem difícil, portanto, a justificativa seria plausível. O problema estava no ineditismo do ato. Embora houvesse outros casos na história de papas que renunciaram, eles ocorreram séculos atrás e nenhum deles o fez em tempos de paz, de forma completamente livre, como Bento decidiu fazer. Em todos os casos sempre houve o contexto de guerras, deposições, sequestros, enfim, situações trágicas não tão incomuns para governantes da Idade Média.

Dessa vez não era o caso. Bento XVI simplesmente concluiu que não desempenhava mais tão bem suas funções e escolheu abrir mão de um poder único no mundo, de forma totalmente livre, conforme enfatizou tanto na carta de renúncia quanto em entrevistas posteriores, como a que concedeu ao jornalista Peter Seewald, no livro O Último Testamento, publicado em 2017. Para quem não dispõe de uma vida espiritual que dê sentido a tamanho desprendimento, o ato parecia incompreensível, até suspeito. Grupos anticlericais sedentos por ferir a credibilidade da Igreja apontavam para os casos de abusos de menores por padres ocorridos em décadas passadas e relatados sobretudo na Europa e Estados Unidos. Para vinculá-los a pontífice alemão era preciso omitir todas as estruturas eclesiais e procedimentos criados pelo próprio Bento XVI para que crimes horrendos como aqueles não voltassem a ocorrer, incluindo maior punição para culpados e estipulando regras mais rígidas na seleção de candidatos ao sacerdócio.

Por outro lado, a renúncia também provocou reação nas alas mais tradicionalistas da Igreja que variavam entre considerar o ato um erro grave ou uma completa impossibilidade teológica. De fato, mesmo após a eleição do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio como o sucessor de Bento XVI, houve quem nunca o tenha reconhecido, pois, para eles, supostamente, só poderia haver um papa e este seria Bento XVI até sua morte, independentemente do que fosse proclamado ou formalmente estabelecido. Esses grupos, que o amavam profundamente, foram a verdadeira razão pela qual o agora papa emérito se preocupou tanto em reafirmar que tomou a decisão livremente e que agora havia um novo sucessor de Pedro no trono.

Em 2019, em entrevista ao jornal Corriere della Sera, por exemplo, ele recordou a histórica luta da Igreja Católica para manter sua unidade, destacando que ela sempre esteve em perigo: “Foi assim em toda a sua história. Guerras, conflitos internos, ameaças de cismas. Mas sempre prevaleceu a consciência de que a Igreja é e deve ficar unida. A sua unidade sempre foi mais forte do que as lutas e as guerras internas”. Concluiu afirmando, enfaticamente: “O Papa é um só: Francisco”.

Emérito 
A prudência de Bento XVI e o profundo respeito por seu sucessor – por mais diferentes que fossem e sem compartilhar da mesma proximidade que o unia a João Paulo II – o levaram a optar por uma vida de reclusão, dentro do próprio Vaticano, de modo a não interferir de modo algum no novo pontificado. Assim, a partir do dia em que se tornou emérito, seus dias se assemelhavam aos de um monge. Conforme contou seu secretário pessoal, o arcebispo Georg Gänswein, por ocasião do aniversário de 95 anos, a rotina de Bento XVI no Mosteiro Mater Eclesiae, seu lar final, não mudou muito desde que se mudou para lá, em 2013.

Fisicamente cada vez mais frágil, mas incrivelmente lúcido, o pontífice ancião começava o dia com a missa e as orações do breviário. Depois, o café da manhã, uma pausa, e então se dedicava às correspondências e às leituras da manhã. “De vez em quando, há espaço para a música, até a hora do almoço”, dizia Gänswein, completando que o período da tarde era dedicado a receber eventuais visitas e a recitação do terço durante uma pequena caminhada nos Jardins do Vaticano. À noite, a janta e uma oração antes de se deitar.

Foi assim, contemplativo, vivendo num quarto modesto até demais, que Bento XVI terminou seus dias, livre de todo o poder que somente o líder máximo de 1,3 bilhão de católicos tem ao seu alcance. Serenamente, o genial Joseph Ratzinger, cuja formidável obra deve um dia render-lhe o título de Doutor da Igreja, completa sua Páscoa deixando em todos que o amam a certeza de que profético o lema escolhido para seu episcopado, décadas atrás, só pode ter sido revelado pelo próprio Deus, dada a precisão com que foi cumprido. O “cooperador da Verdade” finalmente descansa e se encontra com aquele que guiou seus quase cem anos de vida dedicados a fazer Cristo ser conhecido, amado e compreendido.


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PROMESSAS DE RETROCESSO NA ECONOMIA

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Fernando Haddad, que será ministro da Fazenda no governo Lula, é filiado ao PT desde 1983 e revela simpatia por ideias marxistas.| Foto: Raul Martinez/EFE


Como se não bastassem todas as perspectivas negativas que se descortinam desde as primeiras declarações de Lula sobre responsabilidade fiscal, o futuro ministro da Fazenda, Fernando Haddad, antecipou que o próximo governo pode desfazer uma conquista importante dos dois antecessores do petista. “Nós temos uma interface com a OCDE que não é pequena. Em relação à entrada na OCDE do Brasil, isso é uma política que vai ser definida pelo governo, não pelo Ministério da Fazenda. É uma decisão de governo que vai ser reconsiderada pelo presidente Lula e vai revisitar esse tema a partir de janeiro”, afirmou Haddad no Centro Cultural Banco do Brasil, sede da equipe de transição.

No fim de janeiro deste ano, o conselho da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico aprovou um convite para que o Brasil e mais cinco nações (Argentina, Bulgária, Croácia, Peru e Romênia) iniciassem as negociações formais para a adesão ao “clube dos países ricos”, assim chamado porque a maioria de seus membros é de nações desenvolvidas, com PIB per capita alto e boas práticas socioeconômicas. Em sua primeira passagem pelo Planalto, o petismo jamais teve interesse em aderir à OCDE – no máximo, assinou um acordo de cooperação em 2015, sob Dilma Rousseff. A adesão passou a ser um objetivo brasileiro a partir de 2017, com Michel Temer, e que foi mantido por Jair Bolsonaro e sua equipe econômica. À época do convite, estimava-se que o Brasil levaria de três a cinco anos para adaptar suas normas aos padrões da entidade: o sucesso neste trabalho demonstraria que o Brasil teria condições de se juntar efetivamente à OCDE, e ainda havia muito a fazer.

Quando finalmente abrem-se as portas para o acesso a um grupo que puxa seus membros para cima, o petismo parece querer mantê-las bem trancadas

Dos 147 instrumentos normativos da OCDE aos quais o Brasil ainda precisava aderir, nas contas do chanceler Carlos França em janeiro, vários deles lidavam com temas importantíssimos, como reforma tributária, abertura comercial e combate à corrupção. Este último tema levou a OCDE a prestar especial atenção ao Brasil ao menos desde que o Supremo Tribunal Federal acabou com a prisão após condenação em segunda instância; o chefe de um grupo de trabalho anticorrupção da OCDE foi enviado ao Brasil para se informar sobre a decisão e manifestou preocupação com outros retrocessos, como a Lei de Abuso de Autoridade e a desfiguração do pacote anticrime proposto pelo ex-ministro Sergio Moro. Desde então, a situação apenas piorou, com o desmonte completo da Lava Jato, a anulação de seus resultados e a iminente posse no cargo máximo do país daquele que foi o principal investigado da operação, e que só está prestes a receber a faixa presidencial porque o mesmo STF que acabou com a prisão em segunda instância tirou da cartola uma inacreditável anulação de processos baseada em “erro de CEP” e uma igualmente inacreditável suspeição de Moro.

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O Brasil e o convite para a OCDE (editorial de 27 de janeiro de 2022)
A liberdade econômica patina no Brasil (editorial de 16 de fevereiro de 2022)
O recado da OCDE para o Brasil (editorial de 16 de dezembro de 2020)


Olhando por esse aspecto, não chega a surpreender que o PT não queira que o Brasil avance no processo de adesão à OCDE, pois isso significaria promover muito do que o partido abomina em termos de políticas econômicas, responsabilidade fiscal, liberdade econômica, grau de intervencionismo estatal na economia, boa governança e combate à ladroagem. As normas da OCDE, apesar de serem o resultado de décadas de acúmulo de experiência sobre a melhor forma de promover o desenvolvimento para a população dos países-membros, são reduzidas pela retórica petista a meros instrumentos “neoliberais”, de redução da autonomia brasileira ou qualquer outro termo dos surrados dicionários esquerdistas para atacar medidas cujo efeito positivo sobre o crescimento econômico é amplamente documentado.

Desistir do ingresso na OCDE, como Haddad dá a entender que Lula fará, será uma nova confirmação de uma sina brasileira, nas palavras de Roberto Campos: a de não perder uma oportunidade de perder uma oportunidade. Quando finalmente abrem-se as portas para o acesso a um grupo que puxa seus membros para cima, o petismo parece querer mantê-las bem trancadas. O que seria um impulso para o Brasil realizar as importantes reformas que segue relutando em fazer estará perdido, ao menos enquanto o petismo permanecer no poder. A nova “herança maldita” já começa a se desenhar.


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REFORMA ADMINISTRATIVA DE BOLSONARO

 

Serviço público
Governo Lula quer “enterrar” reforma administrativa proposta por Bolsonaro

Por
Guilherme Grandi


Relatório do gabinete de transição de Lula afirma que a reforma administrativa proposta por Bolsonaro tinha “más intenções”.| Foto: André Borges/EFE


Duas das reformas estruturantes mais esperadas pelo mercado e que já estão no Congresso devem ter caminhos diferentes no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A primeira, a tributária, foi elencada como prioritária pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A reforma administrativa do Estado, por sua vez, deve ser “enterrada”.

O deputado Rogério Correia (PT-MG), que coordenou a área técnica do trabalho na equipe de transição, sugeriu que a reforma administrativa da PEC 32/2020 seja arquivada.

O relatório final do gabinete de transição de Lula afirma que a reforma administrativa do governo Bolsonaro tinha “más intenções”, ecoando avaliações que PT e esquerda fizeram nos últimos anos a respeito da ideia de rever as regras do serviço público.

“[No governo Bolsonaro] a gestão pública permaneceu à deriva, distante de uma concepção de Estado republicano, democrático e desenvolvimentista. Ao contrário, essa agenda foi fortemente dominada pelas más intenções da PEC 32/2020, que mais atrapalharam que ajudaram a identificar os verdadeiros problemas estruturais do setor público brasileiro, a saber: o autoritarismo, o burocratismo, o privatismo, o fiscalismo e o corporativismo”, diz um trecho do relatório da transição.

A PEC 32/2020 foi enviada à Câmara dos Deputados em setembro de 2020 e aprovada um ano depois por uma comissão especial. Deveria ser votada em plenário na sequência, mas não avançou por falta de esforço do governo Bolsonaro, conforme o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que o “entorno do presidente bloqueou” o avanço da reforma.

Entre as propostas da reforma administrativa que desagradam os servidores estão:

possibilidade de demissão por desempenho insuficiente;
corte transitório de jornada de trabalho e remuneração em até 25% em caso de crise fiscal;
permissão para contratação temporária pelo prazo de dez anos;
travas para benefícios tidos como “privilégios”; e
fim da aposentadoria compulsória como modalidade de punição.
Tais medidas não prosperariam no Congresso em pleno ano eleitoral, segundo sentenciou o deputado Ricardo Barros (PP-PR), líder do governo Bolsonaro na Câmara, no fim de 2021.

A discussão da reforma administrativa quase não ganhou holofotes durante a campanha presidencial. Lula pouco a citou em seu plano de governo e em sabatinas. De modo geral, o PT e toda a esquerda se opunham a regras mais rígidas para o serviço público.

O presidente eleito reconhecia que era preciso rever as carreiras de Estado, mas não ia muito além. Falava genericamente, defendendo “dar mais transparência aos processos decisórios, no trato da coisa pública de modo geral, direcionando a esfera pública e a ação governamental para as entregas públicas que realizem os direitos constitucionais”.

Para Mário Sérgio Lepre, professor e mestre em Ciência Política pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), qualquer reforma administrativa terá muita dificuldade em avançar em um Congresso muito sensível a pressões corporativistas.

“Isso mexe em uma série de coisas que vão gerar um ambiente corporativista que impede o debate, porque o próprio deputado está inserido nisso. [O funcionalismo] é um setor extremamente delicado e que vai utilizar toda a sua força política. Imagina fazendo greves para todos os lados. Eles têm um instrumento de pressão muito forte”, diz Lepre.

O cientista político comenta que os próprios estudos para se fazer uma reforma administrativa passam por servidores que são concursados e têm estabilidade de emprego, e que vão depender de outros servidores igualmente na mesma situação: “São poucos deputados que votariam tranquilamente”.

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O que a gestão Bolsonaro fez para facilitar a vida do empreendedor, e onde é preciso avançar
Petista defende discutir com os servidores antes de elaborar nova reforma
O deputado Rogério Correia afirmou que Lula deve negociar com Lira para o projeto não avançar. Para ele, é preciso rediscutir o serviço público no país com os próprios servidores antes de elaborar uma nova reforma.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Correia defendeu a substituição da PEC 32/2020 por “uma mesa de diálogo com os servidores públicos, governo e sociedade em geral para discutir o funcionamento do serviço público no Brasil pós-pandemia e pós-governo Bolsonaro”.

Segundo ele, o pente-fino feito pelo grupo de transição constatou “grande defasagem” de servidores que se aposentaram e não foram repostos em áreas como educação, saúde, meio ambiente e outras. Para o deputado, a reforma administrativa do governo Bolsonaro ia na contramão da necessidade do Estado, ao buscar enxugar o serviço público, permitindo o acúmulo de funções e a redução da jornada de trabalho.

Outro dispositivo criticado pelo petista permitia a celebração de convênios com a iniciativa privada para diversos serviços públicos, e não apenas para ações e programas específicos que hoje já são realizados por organizações da sociedade civil de interesse público (OSCIPs) e organizações sociais (OSs).

“O cerne dela é a privatização dos serviços públicos. No final das contas, essa PEC vai definhando o serviço público e substituindo pela iniciativa privada. Por isso a necessidade de retirá-la da tramitação. Mas isso não significa que a gente não tenha que discutir mais eficiência, como melhorar [os serviços prestados], quais são os parâmetros, direitos e deveres dos servidores, tudo entra nos debates que temos que fazer”, disse o deputado.

Reforma administrativa do governo Bolsonaro não alcançava Judiciário nem Legislativo

Um dos pontos mais criticados, mesmo por defensores da reforma administrativa, foi que as regras propostas pelo governo Bolsonaro não mexiam com os poderes Judiciário e Legislativo, onde estão alguns dos servidores mais bem-remunerados do Estado.

Essa lacuna foi usada pela esquerda como pretexto para obstruir as discussões. “Os principais argumentos do governo de garantir bons serviços à população e reduzir privilégios parecem contraditórios à medida que o texto da PEC deixou de fora de algumas carreiras, como militares, juízes e Ministério Público, além de cargos políticos, os quais também não serão afetados pelas medidas propostas”, disse a deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA) em voto conjunto com parlamentares do PT e do PSB.

A deputada observou que algumas dessas carreiras recebem benefícios que não são afetados pelo teto constitucional. Uma outra proposta no Congresso busca atacar exatamente esse ponto: o projeto de lei 6.726/2016, que normatiza as regras para o pagamento de adicionais aos salários de servidores públicos (como gratificações e auxílios).

O relator do projeto, deputado federal Rubens Bueno (Cidadania-PR), afirma que a economia aos cofres públicos poderia chegar a R$ 3 bilhões. Segundo ele, a tramitação travou no Senado por pressão de magistrados e procuradores.

Em uma audiência pública, representantes de associações que integram a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público (Frentas) disseram que o projeto conteria “riscos à democracia e à independência funcional das categorias”.

Quais os principais pontos da reforma administrativa do governo Bolsonaro
No texto apresentado por Paulo Guedes para justificar a reforma administrativa, o tema da estabilidade foi um dos que mais gerou controvérsia, por condicioná-la à avaliação de desempenho e tempo de trabalho, além de estabelecer novos vínculos jurídicos com o Estado.

Segundo o ministro da Economia, o ingresso no serviço público continuaria sendo por concurso, mas com diferentes regimes de contratação:

  1. Vínculo de experiência – período de experiência efetivo como etapa do concurso para ingresso em cargo por prazo indeterminado ou em cargo típico de Estado, estabelecendo um marco bem delimitado para avaliação mais abrangente e tomada de decisão quanto à admissão do servidor em cargo que compõe o quadro de pessoal de caráter permanente, a depender de classificação, dentro do quantitativo previsto no edital do concurso público, entre os mais bem avaliados ao final do período;
  2. Vínculo por prazo determinado – vai possibilitar a admissão de pessoal para necessidades específicas e com prazo certo, a atender: (a) necessidade temporária decorrente de calamidade, de emergência, de paralisação em atividades essenciais ou de acúmulo transitório de serviço; (b) atividades, projetos ou necessidades de caráter temporário ou sazonal, com indicação expressa da duração dos contratos; e (c) atividades ou procedimentos sob demanda;
  3. Cargo com vínculo por prazo indeterminado – para o desempenho de atividades contínuas que não sejam típicas de Estado, abrangendo atividades técnicas, administrativas ou especializadas e que envolvem maior contingente de pessoas;
  4. Cargo típico de Estado – com garantias, prerrogativas e deveres diferenciados, será restrito aos servidores que tenham como atribuição o desempenho de atividades que são próprias do Estado, sensíveis, estratégicas e que representam, em grande parte, o poder extroverso do Estado;
  5. Cargo de liderança e assessoramento – vai corresponder não apenas aos atuais cargos em comissão e funções de confiança, mas também a outras posições que justifiquem a criação de um posto de trabalho específico com atribuições estratégicas, gerenciais ou técnicas.
    “De qualquer forma, é importante destacar que nem os atuais servidores ocupantes de cargo efetivo nem aqueles que vierem a ser admitidos no novo serviço público poderão ser desligados pelo arbítrio de uma pessoa ou em virtude de motivação político-partidária”, disse Guedes na justificativa.

A PEC 32/2020 também propõe a suspensão de férias por períodos maiores de 30 dias por ano, veda aumento de remuneração ou de parcelas indenizatórias com efeitos retroativos e também a aposentadoria compulsória como modalidade de punição.

A reforma passa a permitir a acumulação de cargos, “aproximando a realidade do setor público à do setor privado”. “Propõe-se a inversão da lógica: a acumulação será, em regra, permitida desde que haja compatibilidade de horário e não implique conflito de interesse”, afirma a justificativa da PEC.

As medidas, entre outras, seriam regulamentadas posteriormente por leis específicas. Após a apresentação, a PEC recebeu mais 75 emendas dos deputados, entre elas a garantia da estabilidade aos servidores contratados antes da aprovação; a que cria um regime jurídico “peculiar” específico para policiais civis da União, Distrito Federal, estados e municípios; a que disciplina o acúmulo de cargos, entre outras.


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BOLSONARO ABANDONOU OS SEUS SEGUIDORES?

 

Reação à live de despedida
O que eles dizem
Por
Leonardo Desideri – Gazeta do Povo
Brasília

-FOTODELDÍA- BRA50. BRASILIA (BRASIL), 29/12/2022.- Soldados prestan guardia en los alrededores de un campamento de simpatizantes del presidente brasileño, Jair Bolsonaro, hoy, en el Cuartel General del Ejército, en Brasilia (Brasil). Uno de los mayores desafíos que afrontará el presidente electo brasileño, Luiz Inácio Lula da Silva, será extirpar la política de los cuarteles y desmilitarizar el Gobierno, tras cuatro años de puertas abiertas con Jair Bolsonaro. EFE/ Andre Borges


Manifestante na frente do QG do Exército, em Brasília| Foto: André Borges/EFE

O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez uma transmissão ao vivo no YouTube nesta sexta-feira (30) para prestar contas da sua gestão e comentar o atual momento político do país. A live, que quebrou um longo período de silêncio de Bolsonaro, foi mal recebida por grande parte de seus apoiadores, mas também ganhou declarações em tom de agradecimento.

Em mensagens a que a Gazeta do Povo teve acesso de grupos de WhatsApp que reúnem apoiadores e personalidades próximas ao presidente, a reação foi majoritariamente negativa. Em um deles, uma figura política de alto escalão afirmou pelo app: “Estamos desesperados! Seremos cassados, caçados e presos!”. Outras mensagens enviadas nestes grupos durante a live dão o tom da repercussão:

“Se for pra ter um líder desse, melhor nem ter.”
“Que ânimo um cara desses dá?”
“Está visivelmente acabado.”
“Bolsonaro foi colocado pelos petistas para arrasar com tudo.”
“Ele tira completamente a esperança do povo. Se o Haddad tivesse ganhado em 2018, seria melhor.”
“Ele segue falando dos problemas como se não tivesse parte nem pudesse fazer nada. Como se fosse um mero comentarista político.”
“De todos os fins possíveis, Bolsonaro nos deu o pior.”


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Na transmissão, Bolsonaro defendeu o legado de seu governo, que, segundo ele, teve “um saldo bastante positivo, em que pesem os problemas que tivemos”.

O presidente também deu um recado aos manifestantes que acamparam em quartéis-generais para protestar contra a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT): “Creio no patriotismo, na inteligência, na garra de vocês. Sei o que vocês passaram ao longo desses dois meses de protestos, com sol, chuva. Isso não vai ficar perdido. Imagens foram para fora do Brasil. Aqui dentro despertou milhões de pessoas a estudarem por que tivemos essas manifestações. O pessoal passou a entender o que tem a perder, o que é a política brasileira”, disse.

No Twitter, algumas reações às falas do presidente entre figuras da direita também tiveram um tom de decepção:

“Eu apoiava o Bolsonaro até o momento em que ele deixou famílias embaixo da chuva durante dois meses mesmo sabendo ser inviável qualquer manobra política para reverter as eleições. Mas, em retrospectiva, ele nunca foi um líder. Não seria agora que viraria. Foi, na verdade, uma figura extremamente carismática, honesta e criada no tsunami do terremoto que foi o acesso à informação na internet. Não posso imaginar o que ele tenha passado sendo arremessado ao cargo, quase que contra sua vontade, sem a competência necessária”, disse a advogada Débora Luciano.

Ernesto Araújo, ex-ministro das Relações Exteriores, disse que “acabou a chance de devolver as instituições ao povo, de subordinar o Estado à Nação”. “Virá agora o ataque furioso do corruptariado (todo o aparato estatal, elite política, mídia, capitalismo de laços e o tripé Crime-Clima-China) para destruir a alma e tiranizar o corpo da Nação. O povo está sozinho. E sua única esperança é justamente assumir a solidão, essa estranha solidão de 214 milhões contra algumas dezenas de espertos, omissos e criminosos, para que das profundezas do desalento possamos extrair um novo sentido de vida e luta”, afirmou.


O influenciador católico Bernardo Küster demonstrou pessimismo em relação à política como caminho para transformação: “A bigorna da realidade chegou e está causando, infelizmente, muito desespero na população, que foi em grande parte enganada foi vendedores de ilusões (tic-tac, 72 horas, Diário Oficial e áudios de Zap). Foco na lucidez, estudo, família e Deus. Não dê suas energias a políticos.”

Paulo Eneas, editor do site conservador Crítica Nacional, disse que “a única preocupação de Bolsonaro após o segundo turno das eleições era procurar uma narrativa conveniente para preservar seu capital político-eleitoral”. A jornalista Fernanda Salles, popular entre apoiadores de Bolsonaro, disse: “Fomos completamente abandonados!”

A deputada federal reeleita Bia Kicis (PL-DF) tuitou: “O sistema é perverso. Agora precisamos de resiliência. Vamos lembrar dos ensinamentos: tempos fáceis fazem homens fracos, homens fracos fazem tempos difíceis, tempos difíceis fazem homens fortes.”

Apoiadores também fazem declarações em tom de agradecimento a Bolsonaro
Apesar das críticas e do tom pessimista de alguns direitistas, outras personalidades da direita preferiram usar o Twitter para agradecer ao presidente.

A ex-ministra Damares Alves, afirmou que Bolsonaro “entra para a história como o homem que ressuscitou em nós o amor pela Pátria”. “Ele deixa um legado para gerações e formou líderes que estão prontos para dar continuidade a sua luta. Obrigada por tudo, presidente! Que Deus o abençoe. Juntos sempre!”

Para Bárbara Destefani, do canal Te Atualizei, a live de Bolsonaro não dá motivos para pessimismo. “O Brasil não acaba em 1° de janeiro. Ficar com raiva é esperado, até humano. Mas eu sou grata ao presidente e tudo que ele simbolizou. Não é o fim do livro, eu vejo como o início de um novo capítulo. Eu sei que não é hora para ser otimista, mas aos que desistiram: me incluam fora dessa.”

Para o influenciador Kim Paim, durante a live, Bolsonaro “deu a direção, falou sobre a necessidade de obter consensos e formar maioria” e “deixou claro as dificuldades e falta de apoio”. “Creio que ele fez de tudo o que podia. Também fez questão de ressaltar que o Brasil não acaba dia 1⁰”, comentou.

A deputada federal reeleita Carol De Toni (PL-SC) agradeceu a Bolsonaro e disse: “Por mais que seja difícil aceitar a atual conjuntura, a direita precisa de união e força para enfrentar o que vem pela frente. Não vamos desistir do Brasil.” Já o deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL-MG) não fez comentários sobre a live e se limitou a agradecer: “Obrigado, @jairbolsonaro”.

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OS MANDANTES ATUAIS QUEREM MUDAR TUDO

 


O maior poder

Por
Alexandre Garcia – Gazeta do Povo


Rodrigo Pacheco e Ricardo Lewandowski durante entrega do anteprojeto para uma nova lei do impeachment no Senado.| Foto: Roque de Sá/Agência Senado

Ao estabelecer os poderes da República, o segundo artigo da Constituição começa pelo Legislativo. Depois vem o Executivo e, por fim, o Judiciário. Escritos assim, com inicial maiúscula, numa ordem que não é a alfabética, mas de importância. Portanto, já mostrando que quem faz e desfaz leis e até muda a própria Constituição, é o Parlamento dos representantes do povo. Depois vem o Poder Executivo, cujo chefe é também eleito, com mais votos que qualquer parlamentar. Por fim, o Judiciário, composto por juízes que não têm voto, mas votam em julgamentos em que interpretam as leis e as aplicam.

No dia de Natal, a editora do Wall St. Journal, Mary O’Grady, alertou para uma inversão dessa ordem constitucional no Brasil. A Suprema Corte estaria emasculando o Legislativo e beneficiou Lula com seu ativismo político. O título, na página de opinião, resume tudo: “A Volta de Lula e a Ameaça Judicial à Democracia no Brasil”.

O devido processo legal deixou de existir quando passou a haver um interminável inquérito sem o promotor da ação, que é o Ministério Público e, pior, em que a suposta vítima é que investiga, julga e pune.

Está totalmente dentro dessa visão do Journal, a proposta de mudar a Lei do Impeachment, entregue neste mês pelo ministro do Supremo Ricardo Lewandowski ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Pelo anteprojeto, ministros do Supremo não podem ser condenados por interpretação da Constituição; pedaladas fiscais não são motivo de impeachment, mas o presidente criticar o Supremo ou o TSE pode ser crime de responsabilidade.

O que vê, segundo o maior jornal americano em tiragem, não tem sido notado por boa parte do noticiário brasileiro em relação às ações inconstitucionais, contra direitos fundamentais, contra cláusulas pétreas. E contra mandatos do poder que está em primeiro lugar na Constituição: invioláveis “por quaisquer palavras”. Triste comparar com dezembro de 1968, quando um discurso em plenário da Câmara, pelo deputado Márcio Moreira Alves, provocou o AI-5.

A partir de 1º de janeiro haverá outro chefe de Poder Executivo; um mês depois, haverá outra legislatura na Câmara e no Senado. A eleição do primeiro turno resultou em 73% de centro-direita na Câmara e 67% no Senado. Como lembrou a editorialista do Journal, o ministro Gilmar Mendes se antecipou a dificuldades futuras do novo governo, garantindo um fura-teto para programas sociais. No dia seguinte, o Supremo alterou até hábitos internos do Legislativo, interferindo nas emendas de relator.

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Quando o deputado Daniel Silveira foi preso houve silêncio geral, concordando que o mandato não é absolutamente inviolável, como manda a Constituição. O devido processo legal deixou de existir quando passou a haver um interminável inquérito sem o promotor da ação, que é o Ministério Público e, pior, em que a suposta vítima é que investiga, julga e pune.

Agora já há mais prisões por crime de opinião, de um jornalista e um humorista – que deveriam estar na primeira instância, se fossem denunciados pelo Ministério Público – do que por, digamos, crime de injúria ou calúnia. Espalha-se o medo de ser preso pelo arbítrio ao abrir a boca e expressar o pensamento, a despeito do inciso IV da Constituição, se criticar o Supremo.

Se criticar o presidente, ou jogar futebol com um clone de cabeça presidencial, não haverá problema, pois o comandante supremo das Forças Armadas se mantém dentro das quatro linhas. Mas se alguém criticar um ministro do Supremo, não há a quem recorrer, como teria dito Ruy Barbosa. O Legislativo teria a solução; é o maior poder, mas o medo o apequena.


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FOFINHOS NÃO ERRAM NÃO COMETEM EQUÍVOCOS

 

Donos da verdade

Por
Luís Ernesto Lacombe

Gatos: Esses felinos maravilhosos | Revista Decifra-me


| Foto: Neven Divkovic/Pixabay

É a gente mais fofa do mundo, mais amorosa, mais compreensiva, solidária e empática. É a gente mais espirituosa, divertida, mais bem-humorada. Um mais charmoso do que o outro, um mais inteligente do que o outro. Condutas irrepreensíveis sempre. São todos dignos, honestos, virtuosos. Detonam os canastrões, com toda a classe. São de primeira classe, são o suprassumo do suprassumo. É mesmo uma gente fofa, fofa, fofa.

Essa é a turma que conhece as emoções de verdade, os sentimentos genuínos, sinceros. São pessoinhas especiais, quase guias espirituais. Nossas emoções são direcionadas por elas, as sete emoções: alegria, tristeza, medo, nojo, surpresa, raiva e desprezo. Estamos autorizados a sentir as mesmas emoções que elas, exatamente as mesmas, na hora em que elas determinarem, com a intensidade e do jeitinho que elas permitirem.

Essa gente não erra, não comete equívocos, tem certeza de tudo, é certeira, precisa. Essa gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a obrigação de acreditar no mundo dos fofinhos

É uma gente linda construindo o mundo ideal, sem problemas. Gente moderna, revolucionária, apresentando soluções para tudo. O que tem importância para os fofinhos é o que tem importância. A causa é da galerinha descolada? É legítima, inquestionável. Não pode haver quem não pense como eles, não pode haver quem não goste deles.

Discutir com a turma é mais do que inútil, é um desrespeito, uma petulância. Presunçosos e vaidosos somos nós, rebeldes sem causa. Os protagonistas são eles. Vamos reconhecer. Eles têm os sorrisos mais lindos, as lágrimas mais sinceras, as melhores atuações, as melhores piadas, o mais incrível boa-noite. Tudo neles, até o deboche, é respeitoso e bem-intencionado.

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Essa é a turma da verdade, a dona dos fatos. Essa gente não erra, não comete equívocos, tem certeza de tudo, é certeira, precisa. Essa gente deve ser a única voz. Temos, todos nós, a obrigação de acreditar no mundo dos fofinhos. Eles são o bem, o caminho único e correto. O que dizem é tão lindo, tão perfeitinho. Vamos abandonar nossa arrogância, essa ideia louca de pensar, de sentir e falar livremente.

Eles têm o poder das estrelas, das superestrelas. São únicos, elevados, especiais, são tudo de bom. Usam figurino, maquiagem, brilham. São artistas, jornalistas, apresentadores de tevê, seres infalíveis e mágicos. Eles têm pó de pirlimpimpim… Luz, câmera, ação!

As fantasias deles não são fantasias. O mundo real é o que eles quiserem. São professores, mestres, doutores. Amam como ninguém, de múltiplas formas. Amam todo mundo, exceto quem eles decidiram que não merece ser amado. Amam, sobretudo, o ódio, mas o ódio deles é o mais engraçadinho e fofinho do mundo.


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METAS E OBJETIVOS PARA O ANO NOVO

 

Por
Deltan Dallagnol – Gazeta do Povo

Confident happy woman meets dawn in mountains for new year 2023. numbers 2023 on top of mountain against background of sunset and successful independent woman. Welcome Happy new year in 2023


| Foto: Bigstock

Você já preparou seus planos, resoluções ou objetivos de ano novo? Talvez queira ser mais saudável, fazer exercícios, comer melhor, reunir economias ou fazer trabalho voluntário? Será que faz sentido estabelecer metas no ano novo? E como tirá-las do papel?

Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos. Falta aquele empurrãozinho, aquele momento propício para romper com o passado e construir um futuro diferente.

Pesquisadores apontam que o início de ciclos são marcos temporais que geram um efeito do novo começo, o “fresh start effect”. É como se recebêssemos mais uma página do livro da nossa história para começar a escrever um novo capítulo. Temos uma motivação renovada para iniciar novos planos e estabelecer objetivos.

O ano novo é o rito de passagem por excelência ao qual atribuímos um significado compartilhado de sonhar e traçar planos e metas. Isso, mais do que uma tradição de ano novo, é uma excelente oportunidade para mover a vida na direção dos nossos propósitos.

Marcos temporais como um novo dia, semana, mês ou ano, um aniversário ou um novo trabalho são uma boa oportunidade para fazermos nas nossas vidas mudanças que queremos há tempo, mas procrastinamos

Muita gente embarca na tradição de formular objetivos do ano novo – nos Estados Unidos, perto de metade dos participantes de pesquisas repetidas ao longo de três anos. As metas mais frequentes se relacionam com saúde física e mental, perda de peso, mudanças de hábitos alimentares e crescimento pessoal.

Contudo, um outro estudo mostrou que dentre os 41% dos americanos que, naquela pesquisa, estabeleceram metas de ano novo, apenas 9% se sentiram bem-sucedidos em alcançá-las, e a taxa é baixa assim mesmo quando metade das pessoas se sentem confiantes de que as alcançarão.

No mesmo sentido, uma pesquisa feita pelo YouGov com cerca de 1.200 americanos em 2018 apontou que apenas 12% cumpriram todas ou a maioria de suas resoluções. Levantamento similar feito em 2019 indicou que 7% cumpriram todas as resoluções e 19% cumpriram algumas delas.

O cumprimento dos compromissos de ano novo cai bastante rápido. Segundo um estudo de Norcross e Vangarelli, que acompanhou 200 pessoas, só 55% mantinham suas resoluções depois de um mês, 43% depois de três meses e apenas 19% após dois anos.

Dentre as razões do fracasso, estão a escolha de objetivos poucos realistas ou de muitos objetivos, não registrar metas e o progresso, abandonar tudo diante das primeiras escorregadas e não considerar as rotinas e as exigências do dia a dia.

Então, como aproveitar este momento para fazer mudanças com sucesso? Não há receita única, mas aqui vão as cinco melhores sugestões que encontrei, tiradas de uma pesquisa ampla sobre resoluções de ano novo publicada na revista Plos One e do livro Get it Done de Ayelet Fishbach.

Primeiro, estabeleça objetivos orientados a “fazer algo”, como fazer exercícios três vezes por semana, em vez de “não fazer algo”, como deixar de ser sedentário. A taxa de sucesso em fazer algo é maior do que em evitar um comportamento – na pesquisa divulgada pela Plos One, a diferença foi de cerca de 12%.

Segundo, escolha objetivos fortes ou apaixonantes, que tenham a ver com seu propósito de vida, e faça eles específicos. Um método que pode ser usado é o SMART, segundo o qual os objetivos devem ser específicos (specific), mensuráveis (mensurable), atingíveis (achievable), relevantes (relevant), e com prazo definido (time-bound).

Terceiro, encontre diversão nas suas metas. Pedale ou corra ouvindo sua música ou podcast favorito ou programe uma recompensa a você mesmo sempre que realizar seu objetivo.

Quarto, e muito importante, convide alguém para acompanhar sua jornada rumo aos objetivos e marque um encontro periódico com essa pessoa para compartilhar como está indo o processo.

Por fim, cuidado com o maior obstáculo: o meio da jornada. Nele a motivação é menor do que no começo, quando largamos cheios de energia, ou perto da linha de chegada, quando temos uma tendência de dar nosso melhor – é o “goal gradient effect”.

Por isso, não estabeleça apenas um objetivo final, mas objetivos intermediários, mensais ou semanais, usando em seu favor marcos temporais ao longo da jornada que deem uma sensação ou motivação de novo começo. E não tenha vergonha de recaídas, mas seja resiliente e recomece quantas vezes for preciso.

Eu já escolhi meus objetivos para o ano novo. E você, que tal avançar para aquela mudança de vida que faz tempo que está programando? Como disse Fernando Pessoa, “feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era e transforme-se em quem é.” Esta é a hora.

Eu desejo a você que acompanha minhas colunas um feliz ano novo e, mais do que isso, um ano novo em que você possa crescer e alcançar seus objetivos.

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MARCAS FORTES ATRAEM MAIS

 

*Ana Meneguini é fundadora da ITM

Se tem uma dúvida recorrente na cabeça de muitos empreendedores e líderes de negócios certamente é “como destacar minha marca?”. A pergunta por trás da pergunta em geral se desdobra em duas: como vender mais e como fidelizar melhor meu cliente?

Essas são as dores, mas a solução está na marca. Marcas fortes atraem mais. Marcas fortes engajam e convergem mais. Marcas fortes duram por mais tempo. Por isso, vivem um ciclo virtuoso. E como tornar sua marca forte? Como destacá-la da concorrência?

Cuidado da tríade PBR – People, Branding, Revenue.  People, em inglês, quer dizer, pessoas, branding, marca, revenue, receita.

Parece óbvio mas não é: a marca é o alicerce sobre o qual a receita se constrói. Você pode estar se perguntando “mas eu só queria vender mais”. Explico: pessoas são a matéria prima sobre a qual a marca se alicerça. São as pessoas que executam as entregas que transformam suas promessas de marca em tangíveis que são usufruídos pelo mercado consumidor, gerando receita.

Se você não cuida das pessoas, não dá a elas um norte claro, uma estratégia clara, seus números vão denunciar dispersão de energia e perda de oportunidade. E isso tudo impacta negativamente a geração de novas vendas.

Foque nas pessoas. Alicerce sua marca nelas. Deixe que elas façam seu trabalho, inspire-as a impactarem a economia, a se envolverem com a comunidade que se interessa e que precisa da sua solução, e aí, colha rentabilidade sustentável. Porque pessoas autênticas formam times fortes, que advogam pela sua marca porque se identificam legitimamente com a mudança que ela faz, e suportam as intempéries do mercado e as volatilidades do cotidiano – se, é claro, sua marca for de verdade verdadeira.

Uma vez que as pessoas estejam bem direcionadas, é hora de olhar para o mercado e entender: “o que o meu concorrente faz melhor que eu?” – Uma pergunta que, quando bem elaborada, pode trazer inovação no seu jeito de oferecer seu produto ou serviço. E novas oportunidades de se comunicar melhor e vender mais.

Retorne para as pessoas! Seus clientes. Clientes são pessoas que podem se tornar advogados e embaixadores da sua marca. É possível co-criar com seus clientes? Não perca a oportunidade. O senso de comunidade é o novo cartão fidelidade. Abrace essa causa. Pessoas, marca e receita: três elementos voláteis, orgânicos, mutáveis. E exatamente por isso, belos, desafiadores, apaixonantes.

É possível fazer algum tipo de sucesso cuidando apenas de um? Sim, claro. Este sucesso é sustentável a longo prazo? Não, com certeza não.

*Sobre a Ana Meneguini

Fundadora e estrategista em Branding, Geração de Demanda e Receita na ITM. Possui mais de 20 anos de experiência e com especialização em Branding, Growth, trade marketing, vendas, comunicação interna e institucional. O alto nível de especialização nestes temas, deve-se ao fato de ser visionária dos lugares que pode alcançar como empreendedora e com um perfil de liderança movido por desafio e voltado a resultados.

Mindset correto é o que vai fazer você alcançar (ou não) o sucesso

Junior Borneli, co-fundador do StartSe

Mulher negra e sorridente segurando um IPad e olhando para frente (Fonte: Getty Images)

Mindset é a sua programação mental, é como você encara tudo que está ao teu redor

Mindset. Você já ouviu essa palavinha algumas vezes aqui no StartSe. Ela é importante, talvez uma das coisas mais importantes para “chegar lá” (seja lá onde for que você quiser chegar).

É sua habilidade de pensar o que você precisa para ter sucesso. E como a maioria das coisas que você possui dentro de você, ela é uma espécie de programação do seu ser. Tanto que é possível que você adquira outro mindset durante a vida, convivendo com as pessoas corretas, conhecendo culturas diferentes.

Algumas pessoas dizem que é isso das pessoas que faz o Vale do Silício ser a região mais inovadora do mundo. Eu, pessoalmente, não duvido. Fato é: você precisa de ter a cabeça no lugar certo, pois a diferença entre um mindset vencedor e um perdedor é o principal fator entre fracasso e sucesso.

Para isso, é importante você começar do ponto inicial: um objetivo. “Todo empreendedor precisa ter um objetivo. Acordar todos os dias e manter-se firme no propósito de fazer o máximo possível para chegar lá é fundamental”, diz Junior Borneli, co-fundador do StartSe e uma das pessoas mais entendidas de mindset no ecossistema brasileiro.

De lá, é importante você fazer o máximo que puder e não perder o foco, mantendo-se firme. “Não importa se no final do dia deu tudo certo ou errado. O importante é ter a certeza de que você fez tudo o que foi possível para o melhor resultado”, avisa.

Com a atitude certa, é capaz que você sempre consiga canalizar as coisas como positivas. “Você sempre tem duas formas de olhar um a mesma situação: aquela em que você se coloca como um derrotado e a outra onde você vê os desafios como oportunidades. Escolha sempre o melhor lado das coisas, isso fará com que sua jornada seja mais leve”, alerta o empreendedor.

Esses tipo de sentimento abre espaço para uma característica importantíssima dos principais empreendedores: saber lidar com grandes adversidades. “Um ponto em comum na maioria os empreendedores de sucesso é a superação”, destaca Junior Borneli.

Saber lidar com essas adversidades vai impedir que você pare no primeiro problema (ou falência) que aparecer na sua frente. “São muito comuns as histórias de grandes empresários que faliram várias vezes, receberam diversos ‘nãos’ e só venceram porque foram persistentes”, afirma.

É importante ter esse mindset resiliente, pois, nem sempre tudo será fácil para você – na verdade, quase nunca será. “Empreender é, na maior parte do tempo, algo muito doloroso. Até conseguir algum resultado expressivo o empreendedor passa por muitos perrengues. A imensa maioria fica pelo caminho”, diz.

É como uma luta de boxe, onde muitas vezes, para ganhar, você terá que apanhar e apanhar e apanhar até conseguir desferir o golpe (ou a sequência) certo. “Na minha opinião, não há melhor frase que defina a trajetória de um empreendedor de sucesso do que aquela dita por Rocky Balboa, no cinema: ‘não importa o quanto você bate, mas sim o quanto aguenta apanhar e continuar. É assim que se ganha’”, ilustra.

O problema talvez seja que alguns aspectos do empreendedorismo tenham glamour demais. “Empreender não é simplesmente ter uma mesa com super-heróis e uma parede cheia de post-its coloridos. Você vive numa espécie de montanha russa de emoções, onde de manhã você é ‘o cara’ e à tarde não tem dinheiro pro café”, salienta.

Vale a pena, porém, perseverar neste caminho. “Para aqueles que são persistentes e têm foco, a jornada será difícil, mas o retorno fará valer a pena!,” destaca o empreendedor.

DERROTA TAMBÉM ENSINA

Um ponto importante do sucesso é saber lidar com o fracasso e, de lá, tomar algumas lições para sair mais forte ainda. “Toda derrota nos ensina algumas lições e assim nos tornamos mais fortes a cada nova tentativa. A cultura do fracasso, aqui no Brasil, é muito diferente dos Estados Unidos”, afirma Junior.

No Vale do Silício, falhar é encarado algo bom, na verdade – e aumenta suas chances de sucesso futuro. “Por lá, empreendedor que já falhou tem mais chances de receber investimentos porque mostrou capacidade de reação e aprendeu com os erros”, conta o empreendedor.

Mas ao pensar sobre fracasso, você precisa ter o filtro correto para não deixar a ideia escapar. “Encarar os erros como ensinamentos e entender que falhar é parte do jogo torna as coisas mais fáceis e suportáveis”, salienta.

Foco é a palavra de ordem para você conseguir alcançar os objetivos traçados no caminho, mesmo que em alguns momentos pareça que está tudo dando errado. “Por fim, buscar o equilíbrio mental e o foco são fundamentais. Nas vitórias, tendemos a nos render à vaidade e ao orgulho. E nas derrotas nos entregamos ao desânimo e a depressão. Mentalize seus objetivos, foque nos caminhos que vão leva-lo até eles e siga firme em frente”, afirma.

É importante que você tenha noção de que para ser uma exceção, você não pode pensar da maneira comodista que a maior parte das pessoas. “Se você quer chegar onde poucos chegaram, precisará fazer o que poucos têm coragem e disposição para fazer”, completa.

O “não” do cliente a uma proposta. Por quê?

Moysés Peruhype Carlech

Fiquei pensando e ao mesmo tempo preocupado com o seu “não”, sem nenhuma explicação, à nossa proposta de divulgação da sua loja e de resto todas as lojas dessa cidade no Site da nossa Plataforma Comercial da Startup Valeon.

Esse “não” quer dizer, estou cheio de compromissos para fazer pagamentos mensais, não estou faturando o suficiente para cobrir as minhas despesas, a minha loja está vendendo pouco e ainda me vem mais uma “despesa” de publicidade da Startup Valeon?

Pergunto: como vou comprar na sua loja? Se não sei qual é a sua localização aí no seu domicílio? Quais os produtos que você comercializa? Se tem preços competitivos? Qual a sua interação online com os seus clientes? Qual o seu telefone de contato? Qual é o seu WhatsApp?

Hoje em dia, os compradores não têm tempo suficiente para ficarem passeando pelos Bairros e Centros da Cidade, vendo loja por loja e depois fazendo a decisão de compra, como antigamente.

A pandemia do Covid-19 trouxe consigo muitas mudanças ao mundo dos negócios. Os empresários precisaram lutar e se adaptar para sobreviver a um momento tão delicado como esse. Para muitos, vender em Marketplace como o da Startup Valeon se mostrou uma saída lucrativa para enfrentar a crise. Com o fechamento do comércio durante as medidas de isolamento social da pandemia, muitos consumidores adotaram novos hábitos para poder continuar efetuando suas compras. Em vez de andar pelos corredores dos shoppings centers, bairros e centros da cidade, durante a crise maior da pandemia, os consumidores passaram a navegar por lojas virtuais como a Plataforma Comercial Valeon. Mesmo aqueles que tinham receio de comprar online, se viram obrigados a enfrentar essa barreira. Se os consumidores estão na internet, é onde seu negócio também precisa estar para sobreviver à crise e continuar prosperando.

É importante você divulgar a sua loja na internet com a ajuda do Site da Startup Valeon, que no caso não é uma despesa a mais e sim um investimento para alavancar as suas vendas. Desse modo, o seu processo de vendas fica muito mais profissional, automatizado e eficiente.  Além disso, é possível a captação de potenciais compradores e aumentar o engajamento dos seus clientes.

Não adianta pensar dessa forma: “Eu faço assim há anos e deu certo, porque eu deveria fazer diferente? Eu sei o que preciso fazer”. – Se você ainda pensa assim, essa forma de pensar pode representar um grande obstáculo para o crescimento do seu negócio, porque o que trouxe você até aqui é o que você já sabe e não será o que levará você para o próximo nível de transformação.

O que funcionava antes não necessariamente funcionará no futuro, porque o contesto está mudando cada vez mais rápido, as formas como os negócios estão acontecendo são diferentes, os comportamentos dos consumidores está se alterando, sem contar que estão surgindo novas tecnologias, como a da Startup Valeon, que vão deixar para trás tudo aquilo que é ineficiente.

Aqui, na Startup Valeon, nós sempre questionamos as formas de pensar e nunca estamos totalmente satisfeitos com o que sabemos justamente por entender que precisamos estar sempre dispostos a conhecer e aprender com o novo, porque ele será capaz de nos levar para onde queremos estar.

Mas, para isso acontecer, você precisa estar disposto a absorver novas formas de pensar também e não ficar amarrado só ao que você já sabe.

Se este for seu caso, convido você a realizar seu novo começo por meio da nossa forma de anunciar e propagar a sua empresa na internet.

Todos eles foram idealizados para você ver o seu negócio e a sua carreira de uma forma completamente diferente, possibilitando levar você para o próximo nível.

Aproveite essa oportunidade para promover a sua próxima transformação de vendas através do nosso site.

Então, espero que o seu “não” seja uma provocação dizendo para nós da Startup Valeon – “convença-me”.

E-Mail: valeonbrasil@gmail.com

Site: https://valedoacoonline.com.br/

Fones: (31) 98428-0590 / (31) 3827-2297

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

MORRE PELÉ O REI DO FUTEBOL

 

Editorial
Por
Gazeta do Povo


Pelé, além dos gols e dos inúmeros títulos ganhos, ajudou a recuperar a autoestima do futebol brasileiro.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo


“Rei do Futebol”, “Atleta do Século”. Bastam esses dois epítetos para nos darmos conta das dimensões da perda que o Brasil e o mundo esportivo choram nesta quinta-feira, com a morte de Pelé, aos 82 anos. O menino que, em 1950, consolava um pai em prantos após o Maracanazo, prometendo dar-lhe um dia a alegria de ver o Brasil campeão do mundo, fez muito mais que isso: tornou-se uma lenda do esporte, uma referência a ponto de dar um novo significado ao número 10 que vestiu no Santos e na seleção brasileira. E, com isso, mostrou a todos até onde o Brasil poderia chegar e deu-nos uma lição que transcende o esporte.

Se a camisa canarinho tornou-se um símbolo de nossa nação, facilmente reconhecida aonde quer que se vá mundo afora, Pelé tem uma parte fundamental nisso. A conquista de 1958 foi essencial para a recuperação da autoestima do brasileiro, fragilizada pelo fracasso de 1950 a ponto de Nelson Rodrigues ter cunhado a expressão “complexo de vira-latas” na última crônica que escreveu antes da estreia brasileira na Suécia. A vitória naquela Copa do Mundo mostrou a nós mesmos e ao mundo todo que sim, éramos capazes de coisas grandiosas, éramos capazes de excelência – algo que Pelé perseguiu e atingiu em grau máximo dentro dos gramados, como bem demonstram vídeos que viralizam nas redes sociais, mostrando que ele já realizava todo tipo de jogada magistral que hoje admiramos quando feitas por outros grandes nomes do esporte. Por mais que o país caminhe para um jejum de 24 anos sem o campeonato mundial, continuamos a ser reconhecidos como celeiro de craques, onde as principais ligas do mundo vêm buscar talentos abundantes, como bem demonstra o número de brasileiros nos maiores times da Europa. O Brasil jamais deixou de ser “o país do futebol” e não deixará de sê-lo por um bom tempo.

Arte, esporte e ciência muitas vezes dependem de talentos ou características específicas. Treino e estudo intensos suprem muitas lacunas, mas a genialidade é reservada para poucos. Já a excelência na virtude, esta pode ser atingida por todos

A excelência tem uma série de dimensões, embora todas elas tenham em comum a admiração que despertam. Ela pode ser individual, mas também pode se tornar um fenômeno coletivo quando uma sociedade lhe dá valor e incentiva seus talentos. Foi o que ocorreu com o futebol brasileiro, e que poderíamos muito bem levar a outros campos, não só os esportivos: um ambiente propício para a arte ou para a ciência, por exemplo, permite que uma sociedade ou um país como um todo se beneficiem – tanto de forma material quanto imaterial – com as realizações de cada vez mais pessoas talentosas que são “empurradas” a buscar o seu melhor por um clima que favorece sua atividade e reconhece seu esforço. O Brasil não precisa, nem deve ser apenas o “país do futebol”: pode se tornar referência em muitas outras realizações humanas, mas para isso precisará valorizar sua importância. Quantos grandes cientistas brasileiros, por exemplo, não acabam deixando o país todos os anos em busca de outras nações onde tenham mais condições de desenvolver sua atividade?

Mas existe ainda um outro aspecto da excelência que deveria falar ainda mais alto em cada um de nós. Arte, esporte e ciência muitas vezes dependem de talentos ou características específicas. Treino e estudo intensos suprem muitas lacunas, mas a genialidade é reservada para poucos. Já a excelência na virtude, esta pode ser atingida por todos – e quem se empenha em ser excelente em um campo específico pode ou não dar atenção a isso: gênios da arte, da ciência e do esporte podem tanto ser boas pessoas quanto ter falhas graves de caráter, e não raro só depois da morte de tais gênios o público toma conhecimento do que eles faziam de bom ou mau – não devem ser poucos, por exemplo, os brasileiros que jamais souberam do trabalho humanitário de Pelé ou de seu apoio à educação e à saúde por meio da fundação que leva seu nome.

VEJA TAMBÉM:
Convicções da Gazeta: Ética e a vocação para a excelência
Em busca da excelência (editorial de 26 de julho de 2012)
A excelência que devemos buscar (editorial de 9 de agosto de 2015)


Fato é que a excelência moral é algo muito mais amplo: não se trata de ser o melhor atleta, o melhor cientista, o melhor artista, mas sim a melhor pessoa que se puder ser. E não nos deixemos enganar pela carga “religiosa” que às vezes se atribui ao conceito de virtude: a busca por essa perfeição não é exclusividade de nenhuma fé, pelo contrário: é algo que a filosofia antiga já exaltava. Trata-se de ser o mais generoso, o mais sincero, o mais honesto, o mais trabalhador, o mais dedicado à família, o mais fiel que se puder ser. Isso não exige nenhuma habilidade específica, apenas força de vontade. Para quem for capaz de exercer essas virtudes em alto grau, a recompensa será ainda maior que o aplauso dos fãs de um atleta ou artista: será a felicidade, como a definiam os antigos gregos. E ainda mais venturosa que uma sociedade que valoriza a arte ou a ciência será uma sociedade que valorize o exercício de qualidades como a honestidade, a generosidade e a laboriosidade.

Aquilo que Pelé fez em campo precisa servir de lição para todos nós, individualmente e em sociedade. A maioria de nós jamais terá uma fração do talento que ele teve com a bola nos pés, mas precisa ter o mesmo afinco que ele teve quando se tratar de desenvolver nossos talentos para outras atividades e, especialmente, para o exercício das virtudes que estão ao alcance de todos. E que o Brasil possa um dia ser reconhecido mundialmente não só pela excelência do seu futebol, mas por muitas outras excelências, especialmente aquelas que nos farão um país melhor, de gente admirada por suas qualidades humanas.


Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/editoriais/pele-e-a-excelencia-que-podemos-alcancar/
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INQUÉRITOS CONTRA BOLSONARO CONTINUARÃO NO STF/TSE?

 


O que acontecerá com os inquéritos abertos contra Bolsonaro no STF após o fim do mandato

Por
Renan Ramalho – Gazeta do Povo
Brasília


O presidente Bolsonaro entre Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski (ministros do STF) e Rodrigo Pacheco (presidente do Senado): fim do foro privilegiado| Foto: Antonio Augusto/Secom/TSE

Com o encerramento de seu mandato, no próximo sábado, dia 31, o presidente Jair Bolsonaro (PL) perderá o foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal (STF). Em tese, desceriam para a primeira instância da Justiça os quatro inquéritos que ainda tramitam contra ele na Corte, conduzidos pelo ministro Alexandre de Moraes. Mas, entre observadores e assessores dos ministros, cogita-se a possibilidade de que, seguindo a lógica singular aplicada pelo ministro nessas investigações, Moraes mantenha os casos sob estrito controle em seu gabinete.

Um indicativo disso foi a declaração de Moraes, no dia da diplomação do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no Tribunal Superior Eleitoral, de que quem questionou o resultado da disputa presidencial, já foi identificado e será responsabilizado.

“Essa diplomação atesta a vitória plena e incontestável da democracia e do estado de direito contra os ataques antidemocráticos, contra a desinformação e contra o discurso de ódio proferidos por diversos grupos organizados que, já identificados, garanto serão integralmente responsabilizados. Para que isso não retorne nas próximas eleições”, afirmou o ministro no último dia 12.

Não é apenas no STF que Bolsonaro pode continuar enfrentando problemas. No âmbito do próprio TSE, que continuará comandado por Moraes até 2024, o presidente é alvo de um inquérito administrativo, por lançar dúvidas sobre as urnas eletrônicas numa transmissão ao vivo em julho de 2021; e ainda de outras 16 ações de investigação judicial eleitoral (Aijes) apresentadas por opositores em razão de atos durante e antes da campanha eleitoral.

A maioria delas questiona o suposto uso da máquina do governo para promover a candidatura de Bolsonaro. Nesse grupo estão, por exemplo, ações sobre as comemorações do Bicentenário da Independência; sobre as viagens a Londres e Nova York para eventos oficiais; o uso dos Palácios do Planalto e da Alvorada para encontros com aliados e entrevistas; e a formação de uma suposta “rede de desinformação” para espalhar mentiras contra Lula.

Todas essas ações no TSE estão sob relatoria do ministro Benedito Gonçalves, que ocupa o cargo de corregedor nacional da Justiça Eleitoral. Diferentemente das investigações criminais do STF, essas ações não levam à prisão, mas podem tornar Bolsonaro inelegível e interromper qualquer tentativa de voltar à Presidência. Embora não seja o relator, Moraes tem a responsabilidade de pautar as ações quando elas estiverem prontas para serem julgadas no plenário da Corte.

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Já no âmbito do STF, os inquéritos de que o presidente é alvo foram abertos por iniciativa do próprio ministro ou são mantidos por ele à revelia do Ministério Público. Dois deles – o inquérito das fake news e o das milícias digitais – têm como alvos pessoas que também não têm foro privilegiado; nesses casos, só tramitam no STF porque os próprios ministros seriam as “vítimas”, em razão de supostas ameaças e ofensas recebidas nas redes sociais.

PF concluiu que Bolsonaro cometeu crime na pandemia
Em outro inquérito, aberto a pedido da CPI da Covid, Bolsonaro é investigado por associar o vírus da aids à vacina contra a Covid-19, uma “fake news” na visão de Moraes, o que justificaria sua condução do caso. Na última quarta-feira (28), a Polícia Federal encaminhou ao ministro do STF o relatório final da investigação, que concluiu que Bolsonaro cometeu crime durante a pandemia ao disseminar informações falsas a respeito da doença.

Por fim, Moraes herdou de Celso de Mello o inquérito sobre a suposta interferência de Bolsonaro na Polícia Federal, em razão da troca na direção da corporação em 2019. Nesse caso, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o arquivamento, mas Moraes mantém o inquérito ativo. Em todos esses casos, o ministro mantém interlocução direta com delegados de sua confiança da PF que sempre buscam, por ordem do ministro, abrir novas linhas de apuração, sobre suspeitas que inicialmente não faziam parte do objeto original da investigação.

No inquérito das fake news, Bolsonaro passou a ser investigado em razão da mesma live de julho de 2021 que questionou as urnas eletrônicas – a investigação tinha por objetivo inicial, quando de sua abertura em 2019, desvendar “ataques” à “honorabilidade” dos ministros.

Para Moraes, Bolsonaro teria se posicionado de forma “criminosa e atentatória às instituições”, imputando aos ministros do STF a intenção de fraudar a eleição deste ano para favorecer Lula, além de dizer que o voto eletrônico é fraudado e não é auditável. A ligação com o inquérito das fake news estaria no fato de que essas “afirmações falsas” fariam parte de uma “narrativa” que deslegitima as instituições, incluindo o STF, para destituir as pessoas que as representam e substituí-las por outras alinhadas a Bolsonaro.

Posteriormente, porém, Moraes passou a investigar Bolsonaro pelos mesmos fatos no inquérito das milícias digitais, aberto também em 2021 com o objetivo de apurar o financiamento da disseminação, nas redes sociais, de “ataques” às instituições, ao estado de direito e à democracia – escopo semelhante ao que se tornou o inquérito das fake news.

Também sob a relatoria de Moraes tramita outro inquérito para investigar Bolsonaro em razão da divulgação, em agosto de 2021, de uma investigação da PF sobre um ataque hacker ao TSE em 2018. A PGR já pediu o arquivamento do caso por considerar que a investigação não era sigilosa, mas Moraes estendeu a duração do inquérito para vasculhar as trocas de mensagens do presidente com seu ajudante de ordens, o militar Mauro Cid.

Embora não constituam inquéritos, existem ainda no STF outras “apurações preliminares” contra Bolsonaro abertas a partir das investigações da CPI da Covid. No total, foram abertos dez procedimentos do tipo, e a PGR já pediu o arquivamento de nove. Um dos casos, sob a condução de Luís Roberto Barroso, foi prorrogado por 60 dias no início de dezembro. Caberá ao ministro decidir se ele descerá para a primeira instância ao fim desse prazo.


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