terça-feira, 30 de junho de 2020

COLUNA ESPLANADA DO DIA 30/06/2020

Águas da discórdia

 

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini

 

 

Uma das funções constitucionais dos governadores é a de a representar os interesses estaduais junto à União na busca de investimentos e obras. Mas não foi isso que ocorreu na sexta-feira quando o presidente Jair Bolsonaro foi inaugurar novo trecho da transposição do rio São Francisco, em Penaforte (CE), na divisa com Pernambuco. Camilo Santana (PT) e Paulo Câmara (PSB), governadores do Ceará e Pernambuco, respectivamente, ignoraram solenemente a presença do presidente nos seus Estados e nem mandaram representantes. Não existe lei que os obrigue a participar dos eventos. Mas faltou bom senso, contam políticos suprapartidários. Perde o povo.
 
Pioneiro

Proprietário da Rede D’Or, Jorge Moll Filho vai entrar para a História como investidor pioneiro se essa vacina da Astrazeneca e Oxford contra o Covid-19 der certo. E lucrar algumas centenas de milhões, claro.
 
Navio fantasma
Cadê o navio culpado de ter despejado centenas de toneladas de óleo cru e piche na Costa brasileira? Ninguém sabe, ninguém viu. Nem os satélites. 
 
Iceberg à vista?
A Marinha e a PF seguem nas investigações. Mas já está descartado que foi vazamento de plataforma ou navio venezuelano, como supôs certa vez o presidente Jair Bolsonaro, e que pode render incidente internacional diplomático quando o inquérito for encerrado.
 
Do pátio
Em julgamento 17 de junho, o procurador-chefe do CADE, Walter Agra Jr., fez defesa da empresa Marimex, em sessão que suspendeu cobrança pelo Serviço de Segregação e Entrega do terminal da Embraport em Santos, para a liberação de contêineres. Agra Jr., que já foi assessor do ex-senador Cícero Lucena (PSDB-PB), foi sócio de escritório de advocacia na Paraíba, especializado em assuntos aduaneiros e comércio internacional.
 
Alvo certo
O diretório do PT do Recife perdeu a bússola. O seu presidente Cirilo Mota, ao detonar a candidatura de Marília Arraes, defende a união da esquerda para acabar com “projeto fascista de Jair Bolsonaro”. Indignada, a pré-candidata não comentou. Parte do PT e todo o PSB, aliados de longa data, detonam a apadrinhada de Lula da Silva. 
 
Cabidão
Dos 44 delegados(as) com direito a voto, sete não participaram, pois defendiam a candidatura própria. Os 37 votaram majoritariamente por aliança com o PSB, partido que dá emprego a muitos deles e apadrinhados no Estado. O PT, hoje, tem mais de 400 cargos no Governo de Paulo Câmara. 
 
Hein!?
Em vídeo de divulgação da Embratur, num inglês macarrônico tupiniquim, o presidente Gilson Machado diz que o Brasil é similar à Austrália? Quem viu algo, nos avise. 
 

Sonhe, cidadão 
 Vem aí a SuperSete, novo jogo da loteria da Caixa. A União continua a monopolizar jogos de azar, com cassinos e bingos à espera de aval para investir bilhões de reais.
 
Novo escritório  
Constatações em consultas da Coluna a empresas de Brasília, Rio e São Paulo: patrões descobriram grande negócio para fechar contas do mês: o home office garante corte de vale-transporte e vale-refeição dos funcionários. Muitas empresas vão mantê-los em casa até fim do ano. Talvez mais tempo. E muitos porque não têm nenhum dinheiro para isso, com perda de capital de giro e calotes de clientes.  
 
Autofagia bancária
Bancos de investimentos começaram autofagia na última semana atrás de clientes tubarões insatisfeitos com suas corretoras. Nas TVs, Safra, Itaú Personalité, Órama e BTG Pactual se vangloriam nos anúncios publicitários. É uma pequena amostra. 
 
Ribeirinhos & índios
Ajuda humanitária no combate ao coronavírus na Amazônia: A Americanas doou 300 mil máscaras e 21,5 mil unidades de álcool em gel para 34 municípios da floresta no Amazonas, que vão ajudar 19 mil famílias em comunidades indígenas e ribeirinhas.
 
Esplanadeira
  
A Esplanadeira, lançada em 2018, é a seção da Coluna para divulgação de notas curtinhas sobre Cultura, Esporte, Ações Sociais e Mercado. Informações podem ser enviadas para reportagem@colunaesplanada.com.br .

ESPLANADEIRA

# Gerente de Cybersecurity da TIM Brasil, Márcia Bolesina recebe o prêmio 'Top Women in Cybersecurity – Latin America’ # A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Terrestre de Passageiros denuncia ausência de fiscalização do transporte clandestino que vem operando sem protocolos sanitários na pandemia. # Dados da ASSERJ mostram que em apenas um ano dois bilhões de sacolas plásticas foram retiradas do meio ambiente.

 

 

O GOVERNO ATUAL NÃO DÁ APOIO À OPERAÇÃO LAVA JATO DA POLÍCIA FEDERAL



O enfraquecimento da operação Lava Jato

 

Polêmica com grupo de Aras é mais um capítulo na ofensiva para encerrar as investigações

 

 

 

 

Por Ricardo Corrêa
Não é de hoje que a Lava Jato perdeu o apoio que tinha em outros tempos. Vários episódios em sequência fizeram com a operação, que era a queridinha do Brasil, perder atenção na sociedade e ver-se enfraquecida por ações de bastidores. O episódio da polêmica entre o grupo de Augusto Aras, o procurador geral da República,  e os responsáveis pela força-tarefa é mais um exemplo claro disso.
A Lava Jato já não é mais a mesma, pois parte da sociedade tinha na operação não uma ação efetiva de combate à corrupção, mas uma estratégia para mudança de poder. Isso ficou claro quando, após a queda do governo petista e a ascensão do bolsonarismo, muita gente que tinha na operação um símbolo do novo Brasil abandonou as investigações na estrada. Ainda que seja inegável a contribuição da Lava Jato para a revelação de enormes escândalos de corrupção e a impensável punição de empreiteiros e importantes membros da classe política, a ação ficou pelo caminho. Muito ainda ficou por ser analisado e aquela força que a Lava Jato tinha para romper as barreiras que se colocavam no caminho se esvaiu.
Também marca essa mudança a saída do ex-juiz Sergio Moro da 13ª Vara Federal no Paraná para o governo de Jair Bolsonaro. Principal símbolo da operação, Moro levou junto parte da força que a ação tinha. E, além disso, deixou evidente uma predileção que fez com que os alvos fossem escolhidos a dedo sobretudo em períodos eleitorais.
Veio depois Augusto Aras no comando da PGR. Escolhido por Jair Bolsonaro, ele sempre foi um crítico da operação. Foi colocado ali para colocar um freio na Lava Jato também. E, entre outras coisas, essa ideia ganhou ainda mais força com a aliança de Bolsonaro com o Centrão. Afinal, alguns dos líderes dos partidos que compõem o grupo eram os próximos da lista de alvos da operação de combate à corrupção.
Ao buscar dados sigilosos e interferir na constitucional independência funcional dos membros do MP, o grupo de Aras, representano no episódio pela procuradora Lindôra Araújo, tentou dar mais um golpe na Lava Jato. A saída de alguns dos importantes procuradores do grupo de trabalho que lida com o caso na PGR enfraqueceu ainda mais as investigações a respeito de pessoas com foro privilegiado. Se na primeira instância a Lava Jato continua nas ruas, pegando operadores e figuras menores, no nível maior há quase uma paralisia.
Quando a Lava Jato tenta avançar um pouco mais, como no Rio com a tentativa de prisão do ex-ministro Silas Rondeau, vem logo alguém para encerrar essa iniciativa e devolver as coisas ao status quo atual. A Lava Jato hoje já não tem mais força para enfrentar a estrutura que se coloca diante dela.



EPIDEMIA DO COVID-19 EXPÕE A CRISE NO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO

 

salvar

Uma finalização distante

Vittorio Medioli

O Brasil se ressente de uma fragilidade histórica do sistema de saúde pública, destroçado por casos de corrupção e incompetência

 

 

O enfrentamento da pandemia no Brasil vem se dando pelo “achatamento da curva”. Não tem outro, pois faltam leitos, equipamentos, mão de obra em geral, para o atendimento da demanda. A responsabilidade caiu nos prefeitos de mais de 5.000 municípios, metade dos quais tem menos de 10 mil habitantes e condições ínfimas de acesso ao conhecimento e à metodologia correta. Com recursos para a Covid-19 centralizados e responsabilidades pulverizadas, o resultado não pode ser muito diferente da catástrofe em ato. Os municípios não têm preparação, num momento em que a receita despencou, para enfrentar um desafio gigantesco. Um quadro pior é raro ter acontecido anteriormente no país. As ajudas emergenciais para manter o povo alimentado não serão por longo prazo. Isso dura desde março, mais de três meses. No mesmo prazo a maioria dos países superou a fase aguda e já volta à normalidade. No Brasil apesar de isolamento, paralisação de atividades, barreiras, a situação pior parece que ainda está por vir.

O Brasil se ressente de uma fragilidade histórica do sistema de saúde pública, destroçado por casos de corrupção e incompetência, que invalidaram o esforço contributivo da população.

É declarado pelos cientistas mais qualificados que as pandemias se extinguem quando o RO (índice de reprodução de contágio) em relação aos suscetíveis de contaminação (ou não imunes) é menor que 1.

O RO divulgado pelos cientistas chineses no caso da Covid-19, e aceito internacionalmente, é 2,6 contagiados por indivíduo portador. Significa que o primeiro portador transmitiu a outras 2,6 pessoas o vírus que carregava. Nessa velocidade a Covid-19 se expande até encontrar indivíduos imunes e resistentes não hospedeiros. Nesse ponto registram-se a inflexão e o decréscimo em velocidade proporcional. A equação é 2,6 x 35/100 = 0,98, ou seja, menor que 1. Se a vacina aumentasse o número de imunes a mais de 60%, a pandemia cessaria.

Na China o isolamento da região de Wuhan inteira procurou imunizar sua população. No Brasil a Covid-19 surgiu ao mesmo tempo em vários Estados, que a trataram de formas diferentes. Quem fez barreiras sérias achatou a curva, mas decretou um alongamento, proporcional à capacidade de sua rede de saúde, de leitos, de equipamentos, de mão de obra qualificada. Algo quase impossível.

Pacificou-se no planeta inteiro que o índice de óbitos em relação ao número de infectados resulta em 3,4%, ou seja, 34 mil vítimas mortas para cada 1 milhão de casos confirmados. O Brasil apresenta um índice superior à média mundial: ontem era de 4,3%. Na região metropolitana de Belo Horizonte as divergências entre municípios são absurdamente gritantes, e a relação de mortes por síndrome respiratória aguda na maioria das cidades que declaram os menores números de óbitos por Covid-19 (matéria da “Folha” de 9.6) subiu 20 vezes em relação ao ano anterior, refletindo o caos e as subnotificações, tanto pela falta de testagem nos pacientes, vivos e mortos, como pela ausência de transparência.

A realidade mostra que no país as mortes por síndrome respiratória aguda aumentaram quase 1.000%, e as notificações mascaram a Covid-19.

Vivemos no mundo da fantasia, e isso se reflete na impropriedade de medidas, no seu direcionamento e efetividade. Os municípios que agem corretamente são castigados por notícias sensacionalistas e superficiais, que não aprofundam as incongruências e aceitam a inconsistência como verdade.

O custo de um teste equivale a pelo menos três cestas básicas. E dificilmente um prefeito deixará de dar preferência à alimentação para testar vivos e mortos.

O número de óbitos se relaciona à falta de precocidade da intervenção e à qualidade do atendimento na rede de saúde.

Os pacientes sintomáticos tratados adequadamente no insurgir do contágio, com fármacos apropriados, dificilmente precisam chegar aos respiradores, medida terminal de tratamento. Recentemente (em 16 de junho) foi recomendado o uso, exclusivamente para casos graves de ventilação invasiva, do fármaco dexametasona (corticoide com potente ação anti-inflamatória). Segundo revelou a Universidade de Oxford, os pacientes submetidos à ventilação e tratados com o corticoide apresentaram uma redução de 35% de óbitos em relação aos tratados sem o medicamento.

Ocorre que no Brasil a população, aterrorizada e estonteada pelo sensacionalismo e pelas incongruências de despreparados, e, ainda, pela avalanche de fake news criminosas, pelo oportunismo de hienas políticas, acaba por atrasar o socorro nas redes de saúde, deixando a situação se tornar irreparável. A maioria dos municípios tem prefeitos “culpados” de não possuir a menor condição de atendimento, mal dão conta do básico, e fica inimaginável assumir tratamentos delicados e caros.

Também é realidade que os números oficiais de óbitos sofrem graves desvios pela falta de testagem, tornando o enfrentamento um voo cego sem instrumentos e requerendo medidas drásticas, por vezes destrutivas de outras realidades imprescindíveis.

Como dizem os cientistas, 60% de população imunizada, seja por motivos naturais, incluindo os indivíduos que naturalmente são imunes ao vírus, nos liberará. Na Alemanha um estudo relaciona o baixo risco de contágio e alta imunidade com a idade jovem, a presença de boa dose de vitamina D3, o pH do indivíduo, a dieta etc. Os 80% de assintomáticos de certa forma tranquilizam que a humanidade não se extinguirá pela Covid-19. Restam os 20% que merecem a possibilidade de atenção adequada, e o achatamento da curva diluiu essa possibilidade.

Quanto maior o número de leitos, de equipamentos e mão de obra qualificada (outra tarefa “impossível”), menores serão os sustos, as consequências e as perdas humanas.

O isolamento prolongado esgarça a resistência de empreendimentos; já levou a mais de 14 milhões de novos desempregados e colocou o Brasil no risco de falência.

As ideias são conturbadas e confusas, assim como as estratégias delegadas ao último vagão do comboio.

 

 

MULTAS DA LAVA JATO VÃO PARAR NO STF

  Brasil e Mundo ...