Desmontando o circo
Manoel Hygino
Passada a Olimpíada, ela não escapa à mídia. Haverá assunto pelos anos
enfora para os que dela participaram e terão o que contar, bem como para os que
a acompanharam, principalmente pela televisão. Um festival de belas imagens que
serão conservadas na memória.
Mas nem tudo é belo e colorido, e já não me refiro à população do
Maranhão e do Acre, doloridamente estigmatizada pelas rebeliões de malfeitores
internados em presídios regionais, revoltados pela proibição de comunicar-se
por celulares ou assemelhados para ordenar ataques a bens públicos e privados,
sobretudo coletivos. Um absurdo o que as autoridades fazem com os coitadinhos
dos presidiários!
Newton Oliveira, professor, um dos responsáveis pela estratégia de
segurança dos Jogos Paraolímpicos no Rio, observou: um efetivo policial duas
vezes superior ao dos Jogos de Londres não seria suficiente para legar um Rio
de Janeiro mais seguro após a Olimpíada 2016. Comentou: “apesar das promessas
durante a candidatura (à realização dos Jogos), a violência está pior no
Estado” do Rio. “A Rio–2016 é como um circo que chega na cidade, faz o espetáculo,
vai embora e não deixa legado algum”.
Depois do período esportivo frenético, em que o Brasil se tornou o foco
mundial, temos na pauta cotidiana o impedimento da PresidentA. Está instaurada
a fase decisiva do processo, que parou o Brasil mais do que merecia e se
esperava. No uso do jus esperniandi, a defesa da acusada apelou à Comissão de
Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos, mas Senado e Câmara dos
Deputados explicaram quer não há ilegalidade no impedimento. Fim de papo.
Agora, manguinhas de fora porque a campanha política municipal está
desencadeada. E, como vivemos em país fora de série (não confundir com fora de
sério), deparo, sem surpresa, a notícia baseada em dados do Superior Tribunal
Eleitoral e da estimativa populacional para 2016 do próprio IBGE.
Em 348 cidades brasileiras, há mais eleitores do que habitantes. Elas
representam 6,2% do total de 5.568 municípios, nos quais haverá eleição este
ano. A maior diferença está em Canaã dos Carajás, onde Judas deve ter perdido a
bota. Lá há 39.832 eleitores e o IBGE calcula 33.632 pessoas. Isto é, existem
6.200 eleitores mais que moradores. E não somente na terra de Canaã, mas o
fenômeno é explicado pelo STE. Nem sempre o domicílio eleitoral é o mesmo
civil.
Nos tempos cruéis para a PresidentA, que logo deixará de sê-lo,
aplicar-se-ia a frase de Lord Acton: “O poder corrompe. O poder absoluto
corrompe absolutamente”. Caberia também lembrar um nobre francês, antes de
guilhotinado e cujo nome a história não registra: “Acima de tudo, jamais
confesse”.
Outra declaração partiu de Mme Roland, a caminho da máquina de cortar
pescoços humanos: “Ó Liberdade, quantos crimes se cometem em teu nome”.
Fernando Guedes de Mello, porém, acrescenta: “Ó, pobres, quanta roubalheira é
cometida em teu nome”.