quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

SAIR DA ROTINA OU NÃO?



  

Luiz Hippert




Ai que tédio. Não aguento mais essa rotina... Quem nunca ouviu ou mesmo fez este lamento que atire a primeira pedra. Certamente nenhuma pedra foi atirada. Pois é, o assunto de hoje é ela mesma, essa grande injustiçada, a tal da rotina.
Olha só, vamos lá aos idos de muito antigamente, no tempo das cavernas. O cara tinha que sair pra caçar, senão ninguém comia, incluindo ele mesmo. Depois precisava fazer o que? Caçar outra vez, afinal comer é uma rotina da qual não dá pra abrir mão.
Na evolução, o povo começou a se organizar mais. Passou a plantar, a criar animais, enfim, a garantir o rango de todo dia. Aos poucos foram descobrindo os movimentos da natureza. Hora de plantar, hora de colher, hora de alimentar a bicharada, hora de ordenhar e até a hora de sacrificar a criação. Atividades com tempo bem organizadinho e determinado. Rotina.
Talvez você se lembre que outro dia falei de planejamento, produtividade e foco. Então, nada disso existe se a gente não se dobrar diante da realidade da importância de estabelecer rotinas. Isso mesmo, a grande vilã dos discursos sobre mudanças de vida, liberdade no trabalho e coisa e tal.
Ah tá, tudo bem. Mas com atividades ditas criativas, aí o papo é outro, né? Será? Vai o músico não tocar seu instrumento horas a fio, vai o ator ou bailarino não ensaiar exaustivamente a mesma fala ou passo, vai o escritor não sentar comportadamente na frente de um teclado, ou mesmo com papel e lápis na mão. Os resultados serão somente sonhos sonhados, e não realizados. Sem a rotina o máximo que você vai ter, muito provavelmente, é aquele projeto de livro que já dura três anos e tem apenas cinco páginas escritas, ainda por revisar.
No final das contas, é tudo bem simples: Fazer na hora que der é igual a não fazer. Porque o tempo não aparece, sempre tem alguma coisa na frente ou então tem vontade de menos. Não existe método mais eficiente pra driblar essa sabotagem natural do que determinar hora e local regulares pra cumprir o que precisa ser feito. Verdade, muitas vezes a gente precisa se obrigar a fazer, até mesmo quando se trata de fazer o que se gosta.
Lembra daquela história de “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”? Olha ela aqui de novo. Porque não posso mentir e dizer que sou o cara mais disciplinado do mundo. Vou é passar vergonha na frente das pessoas que me conhecem de perto. Mas, em minha defesa, posso dizer que tudo que falo aqui é super sincero. Sincero e testado, se não por mim (mas por mim também), por muitas pessoas que viram a sua vida de procrastinador se transformar a partir de pequenas mudanças de hábitos e, principalmente, no questionamento de crenças. Sim, porque demonizar a rotina não passa de uma crença disseminada como se houvesse aí um conflito com liberdade. Não há. A rotina é grande amiga da liberdade, e quem experimenta a convivência das duas percebe isso sem nenhuma dificuldade.
Só presta atenção numa coisa. É muito fácil confundir rotina com zona de conforto. Aí sim, a coisa pega. Mas isso é papo pra outra coluna, qualquer dia desses aí pela frente.

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