Luiz Hippert
Ai que tédio. Não aguento mais essa
rotina... Quem nunca ouviu ou mesmo fez este lamento que atire a primeira
pedra. Certamente nenhuma pedra foi atirada. Pois é, o assunto de hoje é ela
mesma, essa grande injustiçada, a tal da rotina.
Olha só, vamos lá aos idos de muito
antigamente, no tempo das cavernas. O cara tinha que sair pra caçar, senão
ninguém comia, incluindo ele mesmo. Depois precisava fazer o que? Caçar outra
vez, afinal comer é uma rotina da qual não dá pra abrir mão.
Na evolução, o povo começou a se
organizar mais. Passou a plantar, a criar animais, enfim, a garantir o rango de
todo dia. Aos poucos foram descobrindo os movimentos da natureza. Hora de
plantar, hora de colher, hora de alimentar a bicharada, hora de ordenhar e até
a hora de sacrificar a criação. Atividades com tempo bem organizadinho e
determinado. Rotina.
Talvez você se lembre que outro dia
falei de planejamento, produtividade e foco. Então, nada disso existe se a
gente não se dobrar diante da realidade da importância de estabelecer rotinas.
Isso mesmo, a grande vilã dos discursos sobre mudanças de vida, liberdade no
trabalho e coisa e tal.
Ah tá, tudo bem. Mas com atividades
ditas criativas, aí o papo é outro, né? Será? Vai o músico não tocar seu
instrumento horas a fio, vai o ator ou bailarino não ensaiar exaustivamente a
mesma fala ou passo, vai o escritor não sentar comportadamente na frente de um
teclado, ou mesmo com papel e lápis na mão. Os resultados serão somente sonhos
sonhados, e não realizados. Sem a rotina o máximo que você vai ter, muito
provavelmente, é aquele projeto de livro que já dura três anos e tem apenas
cinco páginas escritas, ainda por revisar.
No final das contas, é tudo bem
simples: Fazer na hora que der é igual a não fazer. Porque o tempo não aparece,
sempre tem alguma coisa na frente ou então tem vontade de menos. Não existe
método mais eficiente pra driblar essa sabotagem natural do que determinar hora
e local regulares pra cumprir o que precisa ser feito. Verdade, muitas vezes a
gente precisa se obrigar a fazer, até mesmo quando se trata de fazer o que se
gosta.
Lembra daquela história de “faça o que
eu digo, mas não faça o que eu faço”? Olha ela aqui de novo. Porque não posso
mentir e dizer que sou o cara mais disciplinado do mundo. Vou é passar vergonha
na frente das pessoas que me conhecem de perto. Mas, em minha defesa, posso
dizer que tudo que falo aqui é super sincero. Sincero e testado, se não por mim
(mas por mim também), por muitas pessoas que viram a sua vida de procrastinador
se transformar a partir de pequenas mudanças de hábitos e, principalmente, no
questionamento de crenças. Sim, porque demonizar a rotina não passa de uma
crença disseminada como se houvesse aí um conflito com liberdade. Não há. A
rotina é grande amiga da liberdade, e quem experimenta a convivência das duas
percebe isso sem nenhuma dificuldade.
Só presta atenção numa coisa. É muito
fácil confundir rotina com zona de conforto. Aí sim, a coisa pega. Mas isso é
papo pra outra coluna, qualquer dia desses aí pela frente.
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