Jornal Hoje em Dia
No início da Revolução Industrial, que
aconteceu na Inglaterra a partir do desenvolvimento das máquinas a vapor, a
partir de 1760, a sociedade experimentou uma mudança radical. Do trabalho
totalmente artesanal, dominado pelas chamadas corporações de ofício, passa-se a
uma produção até dez vezes maior, com a mecanização dos processos industriais,
sobretudo na área têxtil. Os cavalos, que eram a força motriz até então, são
substituídos pelos motores.
A população, até ali basicamente rural
e produtora dos artefatos de que precisava para sua sobrevivência, passa a
migrar para as cidades em busca do trabalho assalariado, outra novidade que
surge com a Revolução. Entretanto, a burguesia manufatureira nascente passa a explorar
intensamente os trabalhadores, que têm jornadas de até 15 horas por dia. Houve
até revoltas contra as máquinas, que eram quebradas pelos revoltosos. Mas não
adiantou, a mudança estava consolidada.
Outras revoluções industriais se
seguiram, com o desenvolvimento da eletricidade, dos motores a explosão e das
locomotivas. Depois vieram a eletrônica, os computadores e a internet. Conforme
mostra reportagem nesta edição, uma nova revolução está em curso. Utiliza
ferramentas sofisticadas como a nanotecnologia, que é o desenvolvimento de
produtos em escala microscópica.
Relatório do Fórum Econômico Mundial,
que acaba de se encerrar na Suíça e reúne os principais capitalistas do mundo,
prevê a extinção de diversas categorias profissionais devido às novas tecnologias.
A conclusão é alarmante. Até 2020, esse processo poderá gerar até 5 milhões de
desempregados no mundo. É o que o filósofo Karl Marx denominou de “exército
social de reserva”.
O problema é que isso poderá gerar
legiões de indigentes, agravando as desigualdades sociais. A solução, segundo
analistas, é a especialização e a requalificação dos trabalhadores para que se
adaptem à nova realidade. E esse trabalho terá que ser feito exclusivamente
pelos poderes públicos, já que a iniciativa privada está mais voltada para a
economia de mercado e a alta competitividade.
É o futuro chegando a passos largos,
com carros automáticos, robôs farmacêuticos e a fantástica impressora 3D. O
avanço é inexorável, mas precisará, de alguma forma, ser humanizado.
A quarta onda industrial
deve extinguir 5 milhões de vagas em quatro anos
Raul Mariano - Hoje
em Dia
Os avanços proporcionados pela convergência de tecnologias que vêm
modificando o mercado de trabalho podem criar, até 2020, um contingente de
cinco milhões de desempregados em todo o mundo.
A constatação está no relatório do Fórum Econômico Mundial, realizado na
última semana em Davos, na Suíça. A chamada “quarta revolução industrial”, que
para especialistas já começou, será marcada pela conexão de avanços que estão
na fronteira da ciência, como a nano, bio e neuro-tecnologias. Com isso,
profissões tradicionais passarão a ser cada vez mais desempenhadas por robôs ou
computadores.
E não é preciso ir muito longe para verificar tais mudanças. A função de
trocador de ônibus, por exemplo, foi extinta em linhas que atendem à região
metropolitana de Belo Horizonte, uma vez que o pagamento das passagens é feito
por meio do cartão magnético.
Profissões como caixas de bancos e operador de telemarketing já são
desempenhadas, em grande parte, por sistemas informatizados. Nas montadoras de
veículos várias etapas da linha de produção já são realizadas por robôs.
Serviços de montagem na indústria de eletroeletrônicos seguem o mesmo caminho
Com a popularização da impressão 3D, considerada um ícone da quarta
revolução, até mesmo a atividade de um joalheiro poderá ser desenvolvida por
uma máquina. A preocupação dos especialistas é o descompasso entre a velocidade
com que a tecnologia avança sobre o mercado de trabalho e a capacidade dos
países de criar mão de obra qualificada para novas funções.
Se, por um lado, os ganhos de produtividade trazidos pela tecnologia
podem melhorar os resultados para as empresas, problemas como a desigualdade
social podem ser ainda mais aprofundados. “Essas novas tecnologias serão
poupadoras de mão de obra. Com isso, empregos vão deixar de existir. Então, é
imprescindível que haja políticas públicas que permitam a qualificação de
trabalhadores que se adaptem à esse novo modelo. Se isso for conduzido
exclusivamente pelas forças de mercado, podemos esperar acentuação das
desigualdades entre países e, sobretudo, dentro de cada país”, explica o
economista da Unicamp Paulo José Whitaker Wolf.
Para o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho de Minas Gerais
Fernando Rios Neto, o poder público deve antecipar os impactos causados pela
quarta revolução e criar políticas que minimizem os impactos no mercado de
trabalho.
“Da mesma forma que preocupações para evitar doenças no campo da saúde
pública, deve-se trabalhar na prevenção das perdas de postos de trabalho”,
avalia.
Transformações
Desde que a invenção da máquina a vapor modificou processos de produção
artesanais dando início à primeira revolução industrial, há mais de três
séculos, as formas de trabalho em todo mundo vem sendo profundamente alteradas.
Especialistas explicam que, com a invenção da eletricidade na segunda
revolução industrial e o surgimento da eletrônica e da robótica na terceira,
problemas como a degradação ambiental e a miséria se tornaram comuns.
“O que precisamos fazer é enfrentaras consequências das outras três
revoluções industriais. Os países mais ricos precisam trabalhar baseados menos
na competição e mais na cooperação. É um desafio muito grande, mas iniciativas
que reúnem chefes de bancos e de Estados podem levar a uma maior cooperação.
Davos está no topo do mundo e dali devem sair soluções para a vida das
pessoas”, afirma Dias Neto.
Impressora 3D é linha de produção experimental para projetos da indústria
Os empresários Jurandir Lima e Neio Oliveira apostam na tecnologia da
impressão 3D e acreditam que a popularização dos aparelhos é uma questão de
tempo. Há dois anos no ramo, garantem que a demanda é crescente para os mais
diversos setores.
“É cada vez mais comum a impressão de peças industriais em pequena
escala, para estudos de viabilidade de projetos na indústria. Além disso, há
demandas da área de construção, decoração e hospitalar”, explica Jurandir.
A produção vai de próteses para portadores de necessidades especiais a
réplicas de órgãos do corpo humano. “Mas é possível imprimir qualquer coisa.
Com um aplicativo simples o usuário pode transformar uma foto em um desenho
tridimensional “, destaca.