quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

DÍVIDA CRESCENDO E GASTOS AUMENTANDO



  

José Antônio Bicalho




Aproveito a penúltima coluna do ano para um balanço das contas públicas federais. Vale para entender o tamanho do rombo, a velocidade da deterioração dos principais indicadores e a urgência de mudança na política econômica. Peço um pouco de paciência já que trataremos com muitos números, relativos a novembro, divulgados ontem pelo Tesouro Nacional.

Os resultados são do governo central que reúne as contas do Tesouro Nacional (todos os poderes públicos federais), mais Previdência Social e Banco Central. Portanto de toda a máquina pública federal. Vamos primeiramente ao déficit primário, que em novembro foi de R$ 21,3 bilhões, o pior mês de toda a série histórica iniciada em 1997 (mesmo sem os números anteriores, podemos afirmar que se trata do pior resultado da história). No acumulado de janeiro a novembro, o saldo ficou negativo em R$ 54,6 bilhões (1,03% do PIB), também recorde histórico.

O déficit é fruto de uma queda nas receitas muito superior ao esforço de economia feito pelo governo. De janeiro a novembro, as despesas caíram 3,4%, para R$ 1,016 trilhão, um corte de R$ 35,8 bilhões. Este é o resultado do esforço fiscal feito pelo ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy, principalmente através dos cortes nos gastos discricionários do Executivo, ou seja, naqueles que não são obrigatórios.

O esforço afetou sobremaneira os investimentos nos programas sociais do governo. Dois terços da economia veio dos cortes no Minha Casa, Minha Vida, que recebeu R$ 49,5 bilhões até novembro, uma queda de 32,7% na comparação com os R$ 73,6 bilhões recebidos pelo programa no mesmo período de 2014 (R$ 24,1 bilhões a menos).

Porém, a economia foi engolida pela derretimento das receitas. Nos onze meses até novembro deste ano, as receitas caíram 6,6%, para R$ 1,163 trilhão. Daí o rombo dos R$ 54,6 bilhões no resultado primário, contra déficit de R$ 19,7 bilhões do mesmo período de 2014.

Vamos, então, ao reflexo dessa deterioração das contas públicas sobre a dívida. De outubro para novembro, o estoque da Dívida Pública Federal apresentou aumento, em termos nominais, de 2,66%, passando de R$ 2,646 trilhões para R$ 2,717 trilhões. Quase três por cento a mais em apenas um mês, uma velocidade alucinante. Na comparação com dezembro do ano passado, o crescimento do estoque da dívida foi de 18,3%.

A dívida em novembro equivaleu a 65,1% do PIB, outro recorde e maior patamar desde o início da série histórica do Banco Central, iniciada em dezembro de 2006.

Essa evolução, absolutamente preocupante, reflete não apenas o aumento do déficit do governo central, mas também a elevação das despesas com o pagamento dos juros. O custo médio da dívida pública federal em novembro foi de 16,05% ao ano, contra 13,75% há doze meses.

Resumo da ópera: o governo apertou o cinto nos gastos, mas não conseguiu fazer o superávit primário prometido porque a recessão gerada derrubou as receitas acima do que foi economizado. Além disso, o custo da dívida disparou, o que projeta um rombo gigantesco no resultado nominal para este ano, que é efetivamente o que interessa. E se continuarmos nessa toada, a dívida sairá do controle.

Até agora, o novo ministro da Fazenda Nelson Barbosa vem repetindo que dará continuidade ao programa de ajuste fiscal de seu antecessor. Trata-se de estratégia para não assustar o mercado. Diante dos números acima, que apontam para o desastre iminente, ele sabe que uma guinada radical na política econômica é inevitável.

GOVERNANTES CONTRA O POVO E A FAVOR DOS SEUS INTERESSES




  

Márcio Doti




A lição mais importante para os brasileiros precisa ser aprendida depressa. O povo será sempre a parte perdedora se não souber gritar a sua vontade, seu interesse. Neste exato momento, enquanto cada um descansa e se prepara visando as festas de final de ano, governadores de dez estados se reúnem na casa do governador do Distrito Federal com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, querendo trocar apoio ao imposto do cheque por verbas federais, melhor negociação da dívida dos estados e a delegação aos estados, da condição de cobrar de planos de saúde por serviços prestados na rede pública. Em poucas palavras, dane-se o bolso do povo, que se implante o imposto do cheque sobre tudo o que circular no país e que governadores sejam aliviados em suas contas. Querem dinheiro para aliviar os seus cofres, para gastar na eleição municipal. Eles que já cuidaram de aumentar o ICMS de modo exagerado nos estados, como fez em Minas o governador Fernando Pimentel.
O brasileiro estará condenado ao sofrimento e sempre será a parte perdedora dos embates se não souber se impor, manifestar a sua vontade e deste modo obrigar chefes de governo, da República e estaduais, parlamentares e magistrados a levar em conta o seu lado, o lado mais importante de qualquer questão. Haverá de prevalecer a justiça e ela não pode ter lado, mas lado nenhum, deverá sempre decidir pelo que é correto e justo. Deputados e senadores têm o dever de exercer mandato interpretando a vontade do povo para que a democracia funcione plenamente. E os ocupantes de nossos palácios devem respeito àqueles em nome de quem governam os nossos estados, a nossa República.
Todos os que decidem em nossos nomes e o fazem nas nossas cortes, nos nossos palácios e nos nossos parlamentos, devem manter abertos os dois ouvidos. O que vem ocorrendo é que as pressões têm sido exercidas pelo poder econômico, pelo poder político mais influente nos núcleos de governo. O povo, em nome de quem esses agentes devem governar, é justamente a parte menos influente. Afetado pelo desânimo de ver se repetirem os erros e os absurdos, o povo entrega os pontos e seu afastamento produz impunidade e, em consequência, encoraja os erros e os errados. Seremos eternamente fracos e vencidos se não formos capazes de fazer ouvir a nossa voz e as nossas vontades.

Vida de gado

Zé Ramalho


Vocês que fazem parte dessa massa,
Que passa nos projetos, do futuro
É duro tanto ter que caminhar
E dar muito mais, do que receber.
E ter que demonstrar, sua coragem
A margem do que possa aparecer.
E ver que toda essa, engrenagem
Já sente a ferrugem, lhe comer.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz

Lá fora faz um tempo confortável
A vigilância cuida do normal
Os automóveis ouvem a notícia
Os homens a publicam no jornal
E correm através da madrugada
A única velhice que chegou
Demoram-se na beira da estrada
E passam a contar o que sobrou.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado, ê
Povo feliz

O povo, foge da ignorância
Apesar de viver tão perto dela
E sonham com melhores, tempos idos
Contemplam essa vida, numa cela
Esperam nova possibilidade
De verem esse mundo, se acabar
A arca de Noé, o dirigível
Não voam, nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar,
Não voam nem se pode flutuar.

Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz
Eh, ôô, vida de gado
Povo marcado e,
Povo feliz


UM DOS MALES DESSE SÉCULO





Jornal Hoje em Dia

Como nunca é demais repetir, no Brasil, apenas se reage aos fatos depois que acontecem e, em geral, tardiamente. O contrário, o que seria mais correto e inteligente, seria se antecipar a eles. É o que acontece, por exemplo, com os surtos de dengue, que surgem todos os anos no período chuvoso. Neste ano, o mosquito Aedes aegypti – uma verdadeira “máquina de guerra biológica” – trouxe consigo também os vírus da chikungunya e da zika. Que não são novidade, mas parecem estar mais presentes nesta temporada em todo o território nacional.

O governo do Estado anunciou ontem, quando estamos no meio do período chuvoso, a criação de um comitê que será o gestor das políticas de enfrentamento desses vírus. É como os chamados gabinetes de crise, utilizados nos países do Primeiro Mundo em casos de problemas urgentes. Só que, após o anúncio do comitê, informou-se que ele irá se reunir somente no próximo dia 11 de janeiro.

Fazer alguma coisa sempre é melhor do que não fazer nada. Mas será que essa equipe não deveria começar a trabalhar de pronto, em função dos inúmeros casos registrados de infecção? O governo admite a urgência do problema, mas essa admissão não se reverte em ações concretas e imediatas.

Nos últimos dois meses, 2.243 casos de dengue foram confirmados em Minas. O chamado Levantamento Rápido do Índice de Infestação pelo Aedes, o LIRAa, mostra em que grau está o nível de infestação em cada município. As residências são divididas em grupos e recebem a visita dos pesquisadores. Se a porcentagem de infestação for inferior a 1% dos imóveis, o LIRAa aponta que a área está em condições satisfatórias; de 1% a 3,9%, a situação é de alerta; e superior a 4%, o caso é de risco de surto.

Minas tem municípios onde o LIRAa chega a 7,9%, como é o caso de Ubá, e 6,9% em Pará de Minas. Os prefeitos reclamam da falta de recursos, que já estão sendo repassados pelo governo estadual, mas que tem chegado a conta-gotas. A educação da população sobre as medidas preventivas é de capital importância no combate ao mosquito.

Do contrário, os custos dos serviços públicos de saúde serão aumentados por causa do número de pacientes. Então, não há caminho melhor do que a prevenção, por parte de todos, seja governo, seja população.

Mosquito da Dengue
Mosquitos


A dengue pode ser transmitida por duas espécies de mosquitos (Aëdes aegypti e Aëdes albopictus), que picam durante o dia e a noite, ao contrário do mosquito comum, que pica durante a noite. Os transmissores de dengue, principalmente oAëdes aegypti, proliferam-se dentro ou nas proximidades de habitações (casas, apartamentos, hotéis), em recipientes onde se acumula água limpa (vasos de plantas, pneus velhos, cisternas etc.).



O Aedes aegypti
O Mosquito Aedes aegypti mede menos de um centímetro, tem aparência inofensiva, cor café ou preta e listras brancas no corpo e nas pernas.

Costuma picar nas primeiras horas da manhã e nas últimas da tarde, evitando o sol forte, mas, mesmo nas horas quentes, ele pode atacar à sombra, dentro ou fora de casa. Há suspeitas de que alguns ataquem também durante a noite.

O indivíduo não percebe a picada, pois no momento não dói e nem coça.
Modo de transmissão

A fêmea pica a pessoa infectada, mantém o vírus na saliva e o retransmite.
A transmissão ocorre pelo ciclo homem-Aedes aegypti-homem. Após a ingestão de sangue infectado pelo inseto fêmea, transcorre na fêmea um período de incubação. Após esse período, o mosquito torna-se apto a transmitir o vírus e assim permanece durante toda a vida. Não há transmissão pelo contato de um doente ou suas secreções com uma pessoa sadia, nem fontes de água ou alimento.
setaO mosquito Aedes aegypti também pode transmitir a febre amarela.
Período de incubação

Varia de 3 a 15 dias, mas tem como média de cinco a seis dias.
O Ciclo do Mosquito




O ciclo do Aedes aegypti é composto por quatro fases: ovo, larva, pupa e adulto. As larvas se desenvolvem em água parada, limpa ou suja. Na fase do acasalamento, em que as fêmeas precisam de sangue para garantir o desenvolvimento dos ovos, ocorre a transmissão da doença.
O seu controle é difícil, por ser muito versátil na escolha dos criadouros onde deposita seus ovos, que são extremamente resistentes, podendo sobreviver vários meses até que a chegada de água propicia a incubação. Uma vez imersos, os ovos desenvolvem-se rapidamente em larvas, que dão origem às pupas, das quais surge o adulto.
O único modo possível de evitar a transmissão da dengue é a eliminação do mosquito transmissor.
A melhor forma de se evitar a dengue é combater os focos de acúmulo de água, locais propícios para a criação do mosquito transmissor da doença.