MENSAGENS DO PAPA FRANCISCO
A visita do Papa Francisco ao Brasil nos dias 22 a 28/07/2013
foi muito benéfica ao país, pelo seu espírito conciliador, muita simpatia e uma
mente iluminada que transmitiu durante todos esses dias que esteve na nossa
terra, exemplos de convivência e esperança no futuro. Leiam na íntegra todos os
discursos proferidos pelo santo papa.
22 de julho, Palácio Guanabara (RJ)
"Senhora Presidenta, Ilustres Autoridades, Irmãos e amigos!
Quis Deus na sua amorosa providência que a primeira viagem internacional do
meu Pontificado me consentisse voltar à amada América Latina, precisamente ao
Brasil, nação que se gloria de seus sólidos laços com a Sé Apostólica e dos
profundos sentimentos de fé e amizade que sempre a uniram de modo singular ao
Sucessor de Pedro. Dou graças a Deus pela sua benignidade. Aprendi que para ter
acesso ao Povo Brasileiro, é preciso ingressar pelo portal do seu imenso
coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a
esta porta.
Peço licença para entrar e transcorrer esta semana com vocês. Não tenho ouro
nem prata, mas trago o que de mais precioso me foi dado: Jesus Cristo! Venho em
seu Nome, para alimentar a chama de amor fraterno que arde em cada coração; e
desejo que chegue a todos e a cada um a minha saudação: “A paz de Cristo esteja
com vocês!”
Saúdo com deferência a senhora presidenta e os ilustres membros do seu
governo. Obrigado pelo seu generoso acolhimento e por suas palavras que
externaram a alegria dos brasileiros pela minha presença em sua Pátria.
Cumprimento também o senhor governador deste Estado, que amavelmente nos recebe
na sede do governo, e o senhor prefeito do Rio de Janeiro, bem como os Membros
do Corpo Diplomático acreditado junto ao governo brasileiro, as demais
autoridades presentes e todos quantos se prodigalizaram para tornar realidade
esta minha visita.
Quero dirigir uma palavra de afeto aos meus irmãos no Episcopado, sobre quem
pousa a tarefa de guiar o Rebanho de Deus neste imenso País, e às suas amadas
igrejas particulares. Esta minha visita outra coisa não quer senão continuar a
missão pastoral própria do Bispo de Roma de confirmar os seus irmãos na Fé em
Cristo, de animá-los a testemunhar as razões da Esperança que d’Ele vem e de
incentivá-los a oferecer a todos as inesgotáveis riquezas do seu Amor.
O motivo principal da minha presença no Brasil, como é sabido, transcende as
suas fronteiras. Vim para a Jornada Mundial da Juventude. Vim para encontrar os
jovens que vieram de todo o mundo, atraídos pelos braços abertos do Cristo
Redentor. Eles querem agasalhar-se no seu abraço para, junto de seu Coração,
ouvir de novo o seu potente e claro chamado: "Ide e fazei discípulos entre
todas as nações".
Estes jovens provêm dos diversos continentes, falam línguas diferentes, são
portadores de variadas culturas e, todavia, em Cristo encontram as respostas
para suas mais altas e comuns aspirações e podem saciar a fome de verdade
límpida e de amor autêntico que os irmanem para além de toda diversidade.
Cristo abre espaço para eles, pois sabe que energia alguma pode ser mais
potente que aquela que se desprende do coração dos jovens quando conquistados
pela experiência da sua amizade. Cristo “bota fé” nos jovens e confia-lhes o
futuro de sua própria causa: “Ide, fazei discípulos”. Ide para além das
fronteiras do que é humanamente possível e criem um mundo de irmãos. Também os
jovens “botam fé” em Cristo. Eles não têm medo de arriscar a única vida que
possuem porque sabem que não serão desiludidos.
Ao iniciar esta minha visita ao Brasil, tenho consciência de que, ao
dirigir-me aos jovens, falarei às suas famílias, às suas comunidades eclesiais
e nacionais de origem, às sociedades nas quais estão inseridos, aos homens e às
mulheres dos quais, em grande medida, depende o futuro destas novas gerações.
Os pais usam dizer por aqui: “os filhos são a menina dos nossos olhos”. Que
bela expressão da sabedoria brasileira que aplica aos jovens a imagem da pupila
dos olhos, janela pela qual entra a luz regalando-nos o milagre da visão! O que
vai ser de nós, se não tomarmos conta dos nossos olhos? Como haveremos de
seguir em frente? O meu auspício é que, nesta semana, cada um de nós se deixe
interpelar por esta desafiadora pergunta.
A juventude é a janela pela qual o futuro entra no mundo e, por isso, nos
impõe grandes desafios. A nossa geração se demonstrará à altura da promessa
contida em cada jovem quando souber abrir-lhe espaço; tutelar as condições
materiais e imateriais para o seu pleno desenvolvimento; oferecer a ele
fundamentos sólidos, sobre os quais construir a vida; garantir-lhe segurança e
educação para que se torne aquilo que ele pode ser; transmitir-lhe valores
duradouros pelos quais a vida mereça ser vivida, assegurar-lhe um horizonte
transcendente que responda à sede de felicidade autêntica, suscitando nele a
criatividade do bem; entregar-lhe a herança de um mundo que corresponda à
medida da vida humana; despertar nele as melhores potencialidades para que seja
sujeito do próprio amanhã e corresponsável do destino de todos.
Concluindo, peço a todos a delicadeza da atenção e, se possível, a
necessária empatia para estabelecer um diálogo de amigos. Nesta hora, os braços
do Papa se alargam para abraçar a inteira nação brasileira, na sua complexa
riqueza humana, cultural e religiosa. Desde a Amazônia até os pampas, dos
sertões até o Pantanal, dos vilarejos até as metrópoles, ninguém se sinta
excluído do afeto do Papa. Depois de amanhã, se Deus quiser, tenho em mente
recordar-lhes todos a Nossa Senhora Aparecida, invocando sua proteção materna
sobre seus lares e famílias. Desde já a todos abençoo.
Obrigado pelo acolhimento!"
24 de julho, Santuário Nacional de Aparecida (SP)
Venerados irmãos no episcopado e sacerdócio, queridos irmãos e irmãs!
Quanta alegria me dá vir à casa da Mãe de cada brasileiro, o Santuário de
Nossa Senhora Aparecida. No dia seguinte à minha eleição como Bispo de Roma fui
visitar a Basílica de Santa Maria Maior, para confiar a Nossa Senhora o meu
ministério.
Hoje, eu quis vir aqui para suplicar à Maria, nossa Mãe, o bom êxito da
Jornada Mundial da Juventude e colocar aos seus pés a vida do povo
latino-americano. Queria dizer-lhes, primeiramente, uma coisa. Neste Santuário,
seis anos atrás, quando aqui se realizou a 5ª Conferência Geral do Episcopado
da América Latina e do Caribe, pude dar-me conta pessoalmente de um fato
belíssimo: ver como os bispos – que trabalharam sobre o tema do encontro com
Cristo, discipulado e missão – eram animados, acompanhados e, em certo sentido,
inspirados pelos milhares de peregrinos que vinham diariamente confiar a sua
vida a Nossa Senhora: aquela Conferência foi um grande momento de vida de
Igreja. E, de fato, pode-se dizer que o Documento de Aparecida nasceu
justamente deste encontro entre os trabalhos dos Pastores e a fé simples dos
romeiros, sob a proteção maternal de Maria.
A Igreja, quando busca Cristo, bate sempre à casa da Mãe e pede: Mostrai-nos
Jesus. É de Maria que se aprende o verdadeiro discipulado. E, por isso, a
Igreja sai em missão sempre na esteira de Maria. Assim, de cara à Jornada
Mundial da Juventude que me trouxe até o Brasil, também eu venho hoje bater à porta
da casa de Maria, que amou e educou Jesus, para que ajude a todos nós, os
Pastores do Povo de Deus, aos pais e aos educadores, a transmitir aos nossos
jovens os valores que farão deles construtores de um país e de um mundo mais
justo, solidário e fraterno.
Para tal, gostaria de chamar atenção para três simples posturas: conservar a
esperança; deixar-se surpreender por Deus; viver na alegria. Conservar a
esperança: A segunda leitura da missa apresenta uma cena dramática: uma mulher,
figura de Maria e da Igreja, sendo perseguida por um dragão – o diabo – que
quer lhe devorar o filho. A cena, porém, não é de morte, mas de vida, porque
Deus intervém e coloca o filho a salvo. Quantas dificuldades na vida de cada
um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam parecer,
Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia
aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por
viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força: Tenham sempre no
coração esta certeza!
Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados!
Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos
corações! O “dragão”, o mal, faz-se presente na nossa história, mas ele não é o
mais forte. Deus é o mais forte, e Deus é a nossa esperança! É verdade que
hoje, mais ou menos todas as pessoas, e também os nossos jovens, experimentam o
fascínio de tantos ídolos que se colocam no lugar de Deus e parecem dar a
esperança: o dinheiro, o poder, o sucesso, o prazer. Frequentemente, uma
sensação de solidão e de vazio entra no coração de muitos e conduz à busca de
compensações, destes ídolos passageiros. Queridos irmãos e irmãs, sejamos
luzeiros de esperança!
Tenhamos uma visão positiva sobre a realidade. Encorajemos a generosidade
que caracteriza os jovens, acompanhando-lhes no processo de se tornarem
protagonistas da construção de um mundo melhor: eles são um motor potente para
a Igreja e para a sociedade. Eles não precisam só de coisas, precisam sobretudo
que lhes sejam propostos aqueles valores imateriais que são o coração
espiritual de um povo, a memória de um povo. Neste santuário, que faz parte da
memória do Brasil, podemos quase que apalpá-los: espiritualidade, generosidade,
solidariedade, perseverança, fraternidade, alegria; trata-se de valores que
encontram a sua raiz mais profunda na fé cristã.
A segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus. Quem é homem e mulher de
esperança – a grande esperança que a fé nos dá – sabe que, mesmo em meio às
dificuldades, Deus atua e nos surpreende. A história deste Santuário serve de
exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas
águas do Rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa
Senhora da Conceição. Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca
infrutífera, tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir
filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no
Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos
deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos
em Deus!
Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança, se esgota. Se nos
aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo
que é dificuldade, aquilo que é pecado, se transforma em vinho novo de amizade
com Ele.
A terceira postura: Viver na alegria. Queridos amigos, se caminhamos na
esperança, deixando-nos surpreender pelo vinho novo que Jesus nos oferece, há
alegria no nosso coração e não podemos deixar de ser testemunhas dessa alegria.
O cristão é alegre, nunca está triste. Deus nos acompanha. Temos uma mãe que
sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na
primeira leitura. Jesus nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos
ama. O pecado e a morte foram derrotados. O cristão não pode ser pessimista!
Não pode ter uma cara de quem parece num constante estado de luto. Se
estivermos verdadeiramente enamorados de Cristo e sentirmos o quanto Ele nos
ama, o nosso coração se “incendiará” de tal alegria que contagiará quem estiver
ao nosso lado. Como dizia Bento XVI, aqui, neste santuário: “o discípulo sabe
que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”.
Queridos amigos, viemos bater à porta da casa de Maria. Ela abriu-nos,
fez-nos entrar e nos aponta o seu Filho. Agora Ele nos pede: “Fazei o que Ele
vos disser”. Sim, Mãe nossa, nos comprometemos a fazer o que Jesus nos disser!
E o faremos com esperança, confiantes nas surpresas de Deus e cheios de
alegria. Assim seja."
24 de julho, Hospital de São Francisco (RJ)
Boa Noite! Quis Deus que meus passos, depois do Santuário de Nossa Senhora
Aparecida, se dirigissem para um particular santuário do sofrimento humano, que
é o Hospital São Francisco de Assis. É bem conhecida a conversão do Santo
Patrono de vocês: o jovem Francisco abandona riquezas e comodidades do mundo
para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter,
os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira
alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais; mas talvez seja menos
conhecido o momento em que tudo isto se tornou concreto na sua vida: foi quando
abraçou um leproso.
Aquele irmão sofredor foi mediador de luz (…) para São Francisco de Assis
(Carta enc. Lumen fidei, 57), porque, em cada irmão e irmã em dificuldade, nós
abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a
dependência química, quero abraçar a cada um e cada uma de vocês - vocês que
são a carne de Cristo – e pedir a Deus que encha de sentido e de esperança
segura o caminho de vocês e também o meu.
Abraçar. Abraçar. Precisamos todos de aprender a abraçar quem passa
necessidade, como São Francisco. Há tantas situações no Brasil e no mundo que
reclamam atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química.
Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo. São
tantos os mercadores de morte que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo
o custo! A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a
dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem.
Não é deixando livre o uso das drogas, como se discute em várias partes da
América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência
química. É necessário enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das
drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que
constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança
no futuro.
25 de julho, Comunidade de Varginha (RJ)
Queridos irmãos e irmãs, que bom poder estar com vocês aqui! Desde o início,
quando planejava a minha visita ao Brasil, o meu desejo era poder visitar todos
os bairros deste País. Queria bater em cada porta, dizer "bom dia",
pedir um copo de água fresca, beber um "cafezinho", falar como amigos
de casa, ouvir o coração de cada um, dos pais, dos filhos, dos avós... Mas o
Brasil é tão grande! Não é possível bater em todas as portas! Então escolhi vir
aqui, visitar a Comunidade de vocês que hoje representa todos os bairros do
Brasil.
Como é bom ser bem acolhido, com amor, generosidade, alegria! Basta ver como
vocês decoraram as ruas da Comunidade; isso é também um sinal do carinho que
nasce do coração de vocês, do coração dos brasileiros, que está em festa! Muito
obrigado a cada um de vocês pela linda acolhida! Agradeço a Dom Orani Tempesta
e ao casal Rangler e Joana pelas suas belas palavras. Desde o primeiro instante
em que toquei as terras brasileiras e também aqui junto de vocês, me sinto
acolhido. E é importante saber acolher; é algo mais bonito que qualquer enfeite
ou decoração. Isso é assim porque quando somos generosos acolhendo uma pessoa e
partilhamos algo com ela – um pouco de comida, um lugar na nossa casa, o nosso
tempo - não ficamos mais pobres, mas enriquecemos. Sei bem que quando alguém
que precisa comer bate na sua porta, vocês sempre dão um jeito de compartilhar
a comida: como diz o ditado, sempre se pode "colocar mais água no
feijão"! E vocês fazem isto com amor, mostrando que a verdadeira riqueza
não está nas coisas, mas no coração! E povo brasileiro, sobretudo as pessoas
mais simples, pode dar para o mundo uma grande lição de solidariedade, que é
uma palavra frequentemente esquecida ou silenciada, porque é incômoda.
Queria lançar um apelo a todos os que possuem mais recursos, às autoridades
públicas e a todas as pessoas de boa vontade comprometidas com a justiça
social: Não se cansem de trabalhar por um mundo mais justo e mais solidário!
Ninguém pode permanecer insensível às desigualdades que ainda existem no mundo!
Cada um, na medida das próprias possibilidades e responsabilidades, saiba dar a
sua contribuição para acabar com tantas injustiças sociais! Não é a cultura do
egoísmo, do individualismo, que frequentemente regula a nossa sociedade, aquela
que constrói e conduz a um mundo mais habitável, mas sim a cultura da
solidariedade; ver no outro não um concorrente ou um número, mas um irmão.
Quero encorajar os esforços que a sociedade brasileira tem feito para integrar
todas as partes do seu corpo, incluindo as mais sofridas e necessitadas,
através do combate à fome e à miséria. Nenhum esforço de
"pacificação" será duradouro, não haverá harmonia e felicidade para
uma sociedade que ignora, que deixa à margem, que abandona na periferia parte
de si mesma. "Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do
descartável. Não deixemos entrar no nosso coração a cultura do descartável,
porque nós somos irmãos, ninguém é descartável".
Uma sociedade assim simplesmente empobrece a si mesma; antes, perde algo de
essencial para si mesma. Lembremo-nos sempre: somente quando se é capaz de
compartilhar é que se enriquece de verdade; tudo aquilo que se compartilha se
multiplica! A medida da grandeza de uma sociedade é dada pelo modo como esta
trata os mais necessitados, quem não tem outra coisa senão a sua pobreza!
Queria dizer-lhes também que a Igreja, advogada da justiça e defensorados
pobres diante das intoleráveis desigualdades sociais e econômicas, que clamam
ao céu (Documento de Aparecida, 395), deseja oferecer a sua colaboração em
todas as iniciativas que signifiquem um autêntico desenvolvimento do homem todo
e de todo o homem.
Queridos amigos, certamente é necessário dar o pão a quem tem fome; é um ato
de justiça. Mas existe também uma fome mais profunda, a fome de uma felicidade
que só Deus pode saciar. Não existe verdadeira promoção do bem-comum, nem
verdadeiro desenvolvimento do homem, quando se ignoram os pilares fundamentais
que sustentam uma nação, os seus bens imateriais: a vida, que é dom de Deus, um
valor que deve ser sempre tutelado e promovido; a família, fundamento da
convivência e remédio contra a desagregação social; a educação integral, que
não se reduz a uma simples transmissão de informações com o fim de gerar lucro;
a saúde, que deve buscar o bem-estar integral da pessoa, incluindo a dimensão
espiritual, que é essencial para o equilíbrio humano e uma convivência
saudável; a segurança, na convicção de que a violência só pode ser vencida a
partir da mudança do coração humano.
Queria dizer uma última coisa. Aqui, como em todo o Brasil, há muitos
jovens.
Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às
injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção,
com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio
benefício. Também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca desanimem,
não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode
mudar, o homem pode mudar. Procurem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a
não se acostumarem ao mal, mas a vencê-lo. A Igreja está ao lado de vocês,
trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio «para que todos
tenham vida, e vida em abundância (Jo 10,10).
Hoje a todos vocês, especialmente aos moradores dessa Comunidade de
Varginha, quero dizer: Vocês não estão sozinhos, a Igreja está com vocês, o
Papa está com vocês. Levo a cada um no meu coração e faço minhas as intenções
que vocês carregam no seu íntimo: os agradecimentos pelas alegrias, os pedidos
de ajuda nas dificuldades, o desejo de consolação nos momentos de tristeza e
sofrimento. Tudo isso confio à intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Mãe de
todos os pobres do Brasil, e com grande carinho lhes concedo a minha Bênção.
25 de julho, Copacabana - Saudação da Festa de Acolhida (RJ)
”Querido jovens, boa tarde!
Vejo em vocês a beleza do rosto jovem de Cristo e meu coração se enche de
alegria! Lembro-me da primeira Jornada Mundial da Juventude a nível
internacional. Foi celebrada em 1987 na Argentina, na minha cidade de Buenos
Aires. Guardo vivas na memória estas palavras do Bem-Aventurado João Paulo II
aos jovens: “Tenho muita esperança em vocês! Espero, sobretudo, que renovem a
fidelidade de vocês a Jesus Cristo e à sua cruz redentora”.
Antes de continuar, queria lembrar o trágico acidente na Guiana Francesa, no
qual a jovem Sophie Morinière perdeu a vida, e que deixou outros jovens
feridos. Convido-lhes a fazer um minuto de silêncio e dirigir ao Senhor nossa
oração por Sophie, pelos feridos e pelos familiares.
Este ano, a Jornada volta, pela segunda vez à América Latina. E vocês,
jovens, responderam numerosos ao convite do Papa Bento XVI, que lhes convocou
para celebrá-la. Agradecemos-lhe de todo coração! O meu olhar se estende por
esta grande multidão: vocês são muitíssimos!
Vocês vêm de todos os continentes! Normalmente vocês estão distantes não
somente do ponto de vista geográfico, mas também do ponto de vista existencial,
cultural, social, humano. Mas hoje vocês estão aqui, ou melhor, hoje estamos
aqui, juntos, unidos para partilhar a fé e a alegria do encontro com Cristo, de
ser seus discípulos.
Nesta semana, o Rio se torna o centro da Igreja, o seu coração vivo e jovem,
pois vocês responderam com generosidade e coragem ao convite que Jesus lhes fez
de permanecerem com Ele, de serem seus amigos. O “trem” desta Jornada Mundial
da Juventude veio de longe e atravessou toda a Nação brasileira seguindo as
etapas do projeto “Bote Fé”. Hoje chegou ao Rio de Janeiro. 2 Do Corcovado, o
Cristo Redentor nos abraça e abençoa. Olhando para este mar, para a praia e
todos vocês, me vem ao pensamento o momento em que Jesus chamou os primeiros
discípulos a segui-lo nas margens do lago de Tiberíades.
Hoje Jesus ainda pergunta: Você quer ser meu discípulo? Você quer ser meu
amigo? Você quer ser testemunha do meu Evangelho? No coração do Ano da Fé,
estas perguntas nos convidam a renovar nosso compromisso de cristãos. Suas
famílias e comunidades locais transmitiram a vocês o grande dom da fé; Cristo
cresceu em vocês. Hoje, vim para lhes confirmar nesta fé, a fé no Cristo Vivo
que mora dentro de vocês; mas vim também para ser confirmado pelo entusiasmo da
fé de vocês! Saúdo a todos com muito carinho.
A vocês, aqui congregados dos cinco continentes e, por meio de vocês, a
todos os jovens do mundo, particularmente aqueles que não puderam vir ao Rio de
Janeiro, mas estão em ligação conosco através do rádio, televisão, internet,
digo: Bem-vindos a esta grande festa da fé!
Em várias partes do mundo, neste mesmo instante, muitos jovens estão
reunidos para viver juntos este momento: sintamo-nos unidos uns com os outros,
na alegria, na amizade, na fé. E tenham certeza: o meu coração de Pastor abraça
a todos com afeto universal. O Cristo Redentor, do alto da montanha do
Corcovado, lhes acolhe na Cidade Maravilhosa.
Quero saudar o presidente do Pontifício Conselho para os Leigos, estimado
cardeal Estanislau Rylko, e todos aqueles que com ele trabalham. Agradeço a Dom
Orani João Tempesta, arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela
cordialidade com que me recebeu e pelo grande trabalho realizado para preparar
esta Jornada Mundial da Juventude, junto com as diversas dioceses desse imenso
Brasil. Agradeço a todas as autoridades nacionais, estaduais e locais, além de
outros envolvidos, para concretizar esse momento único de celebração da
unidade, da fé e da fraternidade. Obrigado aos irmãos no Episcopado, aos
sacerdotes, seminaristas, pessoas consagradas e fiéis que acompanham os jovens
de diferentes partes do nosso planeta, na sua peregrinação rumo a Jesus.
A todos e a cada um meu abraço afetuoso no Senhor.
Irmãos e amigos, bem-vindos à vigésima oitava Jornada Mundial da Juventude,
nesta cidade maravilhosa do Rio de Janeiro”
25 de julho, Copacabana - Homília (RJ)
“Jovens amigos, ‘É bom estarmos aqui’, exclamou Pedro, depois de ter visto o
Senhor Jesus transfigurado, revestido de glória. Queremos também nós repetir
estas palavras? Penso que sim, porque para todos nós, hoje, é bom estar aqui
juntos, unidos em torno de Jesus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio
a nós, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos também as palavras de Deus
Pai: ‘Este é o meu Filho, Escutai-o’. Então, se por um lado é Jesus quem nos
acolhe, por outro também nós devemos acolhê-lo, ficar à escuta da sua palavra,
pois é justamente acolhendo a Jesus Cristo, palavra encarnada, que o Espírito
Santo nos transforma, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas
da esperança para caminharmos com alegria. Mas o que podemos fazer? ‘Bote fé!’
A Cruz da Jornada Mundial da Juventude peregrinou através do Brasil inteiro com
este apelo. ‘Bote fé!’ O que significa? Quando se prepara um bom prato e vê que
falta o sal, você então ‘bota’ o sal; falta o azeite, então ‘bota’ o azeite...
‘Botar’, ou seja, colocar, derramar. É assim também na nossa vida, queridos
jovens: se queremos que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês
mesmos desejam e merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: bote fé e a
vida terá um sabor novo, terá uma bússola que indica a direção; bote esperança
e todos os seus serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas
luminoso; bote amor e a sua existência será como uma casa construída sobre a
rocha, o seu caminho será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham
com você. ‘Bote fé, bote esperança, bote amor!’
Mas quem pode nos dar tudo isso? NoEvangelho, escutamos a resposta: Cristo.
‘Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!’ Jesus é Aquele que nos traz a Deus e
que nos leva a Deus; com Ele toda a nossa vida se transforma, se renova e nós
podemos olhar a realidade com novos olhos, a partir da perspectiva de Jesus e
com seus olhos. Por isso, hoje, lhes digo com força: ‘Bote Cristo’ na sua vida
e você encontrará um amigo em quem sempre confiar; ‘bote Cristo’, e você verá
crescer as asas da esperança para percorrer com alegria o caminho do futuro;
‘bote Cristo’ e a sua vida ficará cheia do seu amor, será uma vida fecunda.
Hoje, queria que nos perguntássemos com sinceridade: em quem depositamos a
nossa confiança? Em nós mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo-nos tentados a
colocar a nós mesmos no centro, a crer que somos somente nós que construímos a
nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com o possuir, com o dinheiro,
com o poder. Mas não é assim! É verdade, o ter, o dinheiro,o poder podem gerar
um momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas no fim das contas, são
eles que nos possuem, e novas a querer ter sempre mais a nunca estar saciados.
‘Bote Cristo’ na sua vida, deposite n’Ele a sua confiança e você nunca se
decepcionará!
Vejam, queridos amigos, a fé realiza a nossa vida uma revolução que podíamos
chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus; a fé nos
imerge no seu amor que nos dá segurança, força, esperança. Aparentemente não
muda nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda. No nosso coração,
habita a paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade e a alegria, que
são os frutos do Espírito Santo e a nossa existência se transforma, o nosso
modo de pensar e agir se transforma, o nosso modo se renova, torna-se o modo de
pensar e de agir Jesus, de Deus. No Ano da Fé, esta Jornada Mundial da
Juventude é justamente um dom que nos é oferecido para ficarmos ainda mais
perto de Deus, para ser seus discípulos e seus missionários, para deixar que
Ele renove a nossa vida.
Querido jovem: ‘bote Cristo’ na sua vida.
Nestes dias, Ele lhe espera na palavra: escute-O com atenção e o seu coração
será inflamado pela sua presença; ‘Bote Cristo: Ele lhe acolhe no Sacramento do
perdão, para curar, com a sua misericórdia, as feridas do pecado. Não tenham
medo de pedir perdão a Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que
nos ama. Deus é pura misericórdia! Bote Cristo: Ele lhe espera no encontro com
a sua Carne na Eucaristia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de
amor, e na humanidade de tantos jovens que vão lhe enriquecer com a sua
amizade, lhe encorajar com o seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da
caridade, da bondade, do serviço. Você também, querido jovem, pode ser uma
testemunha jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para
levar a este mundo um pouco de luz. ‘É bom estarmos aqui’, botando Cristo na
nossa vida, botando a fé, a esperança, o amor que Ele nos dá.
Queridos amigos, nessa celebração acolhemos a imagem de Nossa Senhora
Aparecida. Com Maria, queremos ser discípulos e missionários. Como ela,
queremos dizer ‘sim’ a Deus. Peçamos ao seu coração de mãe que interceda por
nós, para que os nossos corações estejam disponíveis para amar a Jesus e
fazê-lo amar. Ele está esperando por nós e conta conosco! Amém.”
26 de julho, Palácio São Joaquim - Ângelus (RJ)
Caríssimos irmãos e amigos, bom dia!
Dou graças à divina Providência por ter guiado meus passos até aqui, na
cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Agradeço de coração sincero a Dom
Orani e também a vocês pelo acolhimento caloroso, com que manifestam seu
carinho pelo Sucessor de Pedro.
Desejaria que a minha passagem por esta cidade do Rio renovasse em todos o
amor a Cristo e à Igreja, a alegria de estar unidos a Ele e de pertencer a
Igreja e o compromisso de viver e testemunhar a fé.
Uma belíssima expressão da fé do povo é a 'Hora da Ave Maria'. É uma oração
simples que se reza nos três momentos característicos da jornada que marcam o
ritmo da nossa atividade quotidiana: de manhã, ao meio-dia e ao anoitecer. É,
porém, uma oração importante; convido a todos a rezá-la com a Ave Maria.
Lembra-nos de um acontecimento luminoso que transformou a história: a
Encarnação, o Filho de Deus se fez homem em Jesus de Nazaré.
Hoje a Igreja celebra os pais da Virgem Maria, os avós de Jesus: São Joaquim
e Sant'Ana. Na casa deles, veio ao mundo Maria, trazendo consigo aquele
mistério extraordinário da Imaculada Conceição; na casa deles, cresceu,
acompanhada pelo seu amor e pela sua fé; na casa deles, aprendeu a escutar o
Senhor e seguir a sua vontade. São Joaquim e Sant'Ana fazem parte de uma longa
corrente que transmitiu a fé e o amor a Deus, no calor da família, até Maria,
que acolheu em seu seio o Filho de Deus e o ofereceu ao mundo, ofereceu-o a
nós. Vemos aqui o valor precioso da família como lugar privilegiado para
transmitir a fé!
Olhando para o ambiente familiar, queria destacar uma coisa: hoje, na festa
de São Joaquim e Sant'Ana, no Brasil como em outros países, se celebra a festa
dos avós. Como os avós são importantes na vida da família, para comunicar o
patrimônio de humanidade e de fé que é essencial para qualquer sociedade! E
como é importante o encontro e o diálogo entre as gerações, principalmente
dentro da família.
O Documento de Aparecida nos recorda: "Crianças e anciãos constroem o
futuro dos povos; as crianças porque levarão por adiante a história, os anciãos
porque transmitem a experiência e a sabedoria de suas vidas" (Documento de
Aparecida, 447).
Esta relação, este diálogo entre as gerações é um tesouro que deve ser
conservado e alimentado! Nesta Jornada Mundial da Juventude, os jovens querem
saudar os avós. Eles saúdam os seus avós com muito carinho. Aos avós. Saudamos
os avós. Eles, os jovens, saúdam os seus avós com muito carinho e lhes
agradecem pelo testemunho de sabedoria que nos oferecem continuamente.
E agora, nesta praça, nas ruas adjacentes, nas casas que acompanham conosco
este momento de oração, sintamo-nos como uma única grande família e nos
dirijamos a Maria para que guarde as nossas famílias, faça delas lares de fé e
de amor, onde se sinta a presença do seu Filho Jesus.
26 de julho, Copacabana - Homília na Via-Sacra (RJ)
“Jovens amigos, ‘É bom estarmos aqui’, exclamou Pedro, depois de ter visto o
Senhor Jesus transfigurado, revestido de glória. Queremos também nós repetir
estas palavras? Penso que sim, porque para todos nós, hoje, é bom estar aqui
juntos, unidos em torno de Jesus! Ele que nos acolhe e se faz presente em meio
a nós, aqui no Rio. Mas, no Evangelho, escutamos também as palavras de Deus
Pai: ‘Este é o meu Filho, Escutai-o’. Então, se por um lado é Jesus quem nos
acolhe, por outro também nós devemos acolhê-lo, ficar à escuta da sua palavra,
pois é justamente acolhendo a Jesus Cristo, palavra encarnada, que o Espírito
Santo nos transforma, ilumina o caminho do futuro e faz crescer em nós as asas
da esperança para caminharmos com alegria.
Mas o que podemos fazer? ‘Bote fé!’ A Cruz da Jornada Mundial da Juventude
peregrinou através do Brasil inteiro com este apelo. ‘Bote fé!’ O que
significa? Quando se prepara um bom prato e vê que falta o sal, você então
‘bota’ o sal; falta o azeito, então ‘bota’ o azeite... ‘Botar’, ou seja,
colocar, derramar. É assim também na nossa vida, queridos jovens: se queremos
que ela tenha realmente sentido e plenitude, como vocês mesmos desejam e
merecem, digo a cada um e a cada uma de vocês: bote fé e a vida terá um sabor
novo, terá uma bússola que indica a direção; bote esperança e todos os seus
serão iluminados e o seu horizonte já não será escuro, mas luminoso; bote amor
e a sua existência será como uma casa construída sobre a rocha, o seu caminho
será alegre, porque encontrará muitos amigos que caminham com você. ‘Bote fé,
bote esperança, bote amor!’ Mas quem pode nos dar tudo isso? No Evangelho,
escutamos a resposta: Cristo. ‘Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-O!’ Jesus
é Aquele que nos traz a Deus e que nos leva a Deus; com Ele toda a nossa vida
se transforma, se renova e nós podemos olhar a realidade com novos olhos, a
partir da perspectiva de Jesus e com seus olhos. Por isso, hoje, lhes digo com
força: ‘Bote Cristo’ na sua vida e você encontrará um amigo em quem sempre
confiar; ‘bote Cristo’, e você verá crescer as asas da esperança para percorrer
com alegria o caminho do futuro; ‘bote Cristo’ e a sua vida ficará cheia do seu
amor, será uma vida fecunda.
Hoje, queria que nos perguntássemos com sinceridade: em quem depositamos a
nossa confiança? Em nós mesmos, nas coisas, ou em Jesus? Sentimo-nos tentados a
colocar a nós mesmos no centro, a crer que somos somente nós que construímos a
nossa vida, ou que ela se encha de felicidade com o possuir, com o dinheiro,
com o poder. Mas não é assim! É verdade, o ter, o dinheiro, o poder podem gerar
um momento de embriaguez, a ilusão de ser feliz, mas no fim das contas, são
eles que nos possuem, e novas a querer ter sempre mais a nunca estar saciados.
‘Bote Cristo’ na sua vida, deposite n’Ele a sua confiança e você nunca se
decepcionará! Vejam, queridos amigos, a fé realiza a nossa vida uma revolução
que podíamos chamar copernicana, porque nos tira do centro e o restitui a Deus;
a fé nos imerge no seu amor que nos dá segurança, força, esperança.
Aparentemente não muda nada, mas, no mais íntimo de nós mesmos, tudo muda. No
nosso coração, habita a paz, a mansidão, a ternura, a coragem, a serenidade e a
alegria, que são os frutos do Espírito Santo e a nossa existência se
transforma, o nosso modo de pensar e agir se transforma, o nosso modo se
renova, torna-se o modo de pensar e de agir Jesus, de Deus.
No Ano da Fé, esta Jornada Mundial da Juventude é justamente um dom que nos
é oferecido para ficarmos ainda mais perto de Deus, para ser seus discípulos e
seus missionários, para deixar que Ele renove a nossa vida.
Querido jovem: ‘bote Cristo’ na sua vida.
Nestes dias, Ele lhe espera na palavra: escute-O com atenção e o seu coração
será inflamado pela sua presença; ‘Bote Cristo: Ele lhe acolhe no Sacramento do
perdão, para curar, com a sua misericórdia, as feridas do pecado. 3 Não tenham
medo de pedir perdão a Deus. Ele nunca se cansa de nos perdoar, como um pai que
nos ama. Deus é pura misericórdia! Bote Cristo: Ele lhe espera no encontro com
a sua Carne na Eucaristia, Sacramento da sua presença, do seu sacrifício de
amor, e na humanidade de tantos jovens que vão lhe enriquecer com a sua
amizade, lhe encorajar com o seu testemunho de fé, lhe ensinar a linguagem da
caridade, da bondade, do serviço. Você também, querido jovem, pode ser uma
testemunha jubilosa do seu amor, uma testemunha corajosa do seu Evangelho para
levar a este mundo um pouco de luz. ‘É bom estarmos aqui’, botando Cristo na
nossa vida, botando a fé, a esperança, o amor que Ele nos dá. Queridos amigos,
nessa celebração acolhemos a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Com Maria,
queremos ser discípulos e missionários.
Como ela, queremos dizer ‘sim’ a Deus. Peçamos ao seu coração de mãe que
interceda por nós, para que os nossos corações estejam disponíveis para amar a
Jesus e fazê-lo amar. Ele está esperando por nós e conta conosco! Amém.”
26 de julho, Copacabana - Discurso na Via-Sacra (RJ)
“Queridos jovens, Viemos hoje acompanhar Jesus no seu caminho de dor e de
amor, o caminho da Cruz, que é um dos momentos fortes da Jornada Mundial da
Juventude. No final do Ano Santo da Redenção, o bem-aventurado João Paulo II
quis confiá-la a vocês, jovens, dizendo-lhes: "Levai-a pelo mundo, como
sinal do amor de Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo
morto e ressuscitado há salvação e redenção". A partir de então a cruz
percorreu todos os continentes e atravessou os mais variados mundos da
existência humana, ficando quase que impregnada com as situações de vida
de tantos jovens que a viram e carregaram. Ninguém pode tocar a cruz de Jesus
sem deixar algo de si mesmo nela e sem trazer algo da cruz de Jesus para sua
própria vida.
Nesta tarde, acompanhando o Senhor, queria que ressoassem três perguntas nos
seus corações: O que vocês terão deixado na cruz, queridos jovens brasileiros,
nestes dois anos em que ela atravessou seu imenso País? E o que terá deixado a
cruz de Jesus em cada um de vocês? E, finalmente, o que esta cruz ensina para a
nossa vida? Uma antiga tradição da Igreja de Roma conta que o apóstolo Pedro,
saindo da cidade para fugir da perseguição do imperador Nero, viu que Jesus
caminhava na direção oposta e, admirado, lhe perguntou: "Para onde vais,
Senhor?". E a resposta de Jesus foi: "Vou a Roma para ser crucificado
outra vez". Naquele momento, Pedro entendeu que devia seguir o Senhor com
coragem até o fim, mas entendeu sobretudo que nunca estava sozinho no caminho;
com ele, sempre estava aquele Jesus que o amara até o ponto de morrer na cruz.
Pois bem, Jesus com a sua cruz atravessa os nossos caminhos para carregar os
nossos medos, os nossos problemas, os nossos sofrimentos, mesmo os mais
profundos. Com a cruz, Jesus se une ao silêncio das vítimas da violência, que
já não podem clamar, sobretudo os inocentes e indefesos; nela Jesus se une às
famílias que passam por dificuldades, que choram a perda de seus filhos, ou que
sofrem vendo-os presas de paraísos artificiais como a droga; nela Jesus se une
a todas as pessoas que passam fome, num mundo que todos os dias joga fora
toneladas de comida; nela Jesus se une a quem é perseguido pela religião, pelas
ideias, ou simplesmente pela cor da pele; nela Jesus se une a tantos jovens que
perderam a confiança nas instituições políticas, por verem egoísmo e corrupção,
ou que perderam a fé na Igreja, e até mesmo em Deus, pela incoerência de
cristãos e de ministros do Evangelho.
Na cruz de cristo está o sofrimento, o pecado do homem, o nosso
também, e Ele acolhe tudo com seus braços abertos, carrega nas suas costas as
nossas cruzes e nos diz: Coragem! Você não está sozinho a levá-la! Eu a levo
com você. Eu venci a morte e vim para lhe dar esperança, dar-lhe vida.
E assim podemos responder à segunda pergunta: o que foi que a cruz
deixou naqueles que a viram, naqueles que a tocaram? O que deixa em cada um de
nós? Deixa um bem que ninguém mais pode nos dar: a certeza do amor inabalável
de Deus por nós. Um amor tão grande que entra no nosso pecado e o perdoa, entra
no nosso sofrimento e nos dá a força para poder levá-lo, entra também na morte
para derrotá-la e nos salvar. Na cruz de Cristo, está todo o amor de Deus, a
sua imensa misericórdia. E este é um amor em que podemos confiar, em que
podemos crer. Queridos jovens, confiemos em Jesus, abandonemo-nos totalmente a
Ele! Só em cristo morto e ressuscitado encontramos salvação e redenção. Com
Ele, o mal, o sofrimento e a morte não têm a última palavra, porque Ele nos dá
a esperança e a vida: transformou a cruz, de instrumento de ódio, de derrota,
de morte, em sinal de amor, de vitória e de vida.
O primeiro nome dado ao Brasil foi justamente o de "Terra de Santa
Cruz". A cruz de Cristo foi plantada não só na praia, há mais de cinco
séculos, mas também na história, no coração e na vida do povo brasileiro e não
só: o cristo sofredor, sentimo-lo próximo, como um de nós que compartilha o
nosso caminho até o final. Não há cruz, pequena ou grande, da nossa vida que o
Senhor não venha compartilhar conosco.
Mas a Cruz de Cristo também nos convida a deixar-nos contagiar por este
amor; ensina-nos, pois, a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor,
sobretudo quem sofre, quem tem necessidade de ajuda, quem espera uma palavra,
um gesto; ensina-nos a sair de nós mesmos para ir ao encontro destas pessoas e
lhes estender a mão. Tantos rostos acompanharam Jesus no seu caminho até a
Cruz: Pilatos, o Cirineu, Maria, as mulheres... Também nós diante dos demais
podemos ser como Pilatos que não teve a coragem de ir contra a corrente para
salvar a vida de Jesus, lavando-se as mãos.
Queridos amigos, a cruz de Cristo nos ensina a ser como o Cirineu, que ajuda
Jesus levar aquele madeiro pesado, como Maria e as outras mulheres, que não
tiveram medo de acompanhar Jesus até o final, com amor, com ternura. E você
como é? Como Pilatos, como o Cirineu, como Maria?
Queridos jovens, levamos as nossas alegrias, os nossos sofrimentos, os
nossos fracassos para a cruz de Cristo; encontraremos um coração aberto que nos
compreende, perdoa, ama e pede para levar este mesmo amor para a nossa vida,
para amar cada irmão e irmã com este mesmo amor. Assim seja!"
27 de julho, Theatro Municipal (RJ)
“Agradeço a Deus pela possibilidade de me encontrar com tão respeitável
representação dos responsáveis políticos e diplomáticos, culturais e religiosos,
acadêmicos e empresariais deste Brasil imenso. Saúdo cordialmente a todos e
lhes expresso o meu reconhecimento. Queria lhes falar usando a bela língua
portuguesa de vocês mas, para poder me expressar melhor manifestando o que
trago no coração, prefiro falar em castelhano. Peço-vos a cortesia de me
perdoar! Agradeço as amáveis palavras de boas vindas e de apresentação de Dom
Orani e do jovem Walmyr Júnior.
Nas senhoras e nos senhores, vejo a memória e a esperança: a memória do
caminho e da consciência da sua Pátria e a esperança que esta, sempre aberta à
luz que irradia do Evangelho de Jesus Cristo, possa continuar a desenvolver-se
no pleno respeito dos princípios éticos fundados na dignidade transcendente da
pessoa.
Todos aqueles que possuem um papel de responsabilidade, em uma Nação, são
chamados a enfrentar o futuro "com os olhos calmos de quem sabe ver a
verdade", como dizia o pensador brasileiro Alceu Amoroso Lima [“Nosso
tempo”, in: A vida sobrenatural e o mundo moderno (Rio de Janeiro 1956), 106].
Queria considerar três aspectos deste olhar calmo, sereno e sábio: primeiro, a
originalidade de uma tradição cultural; segundo, a responsabilidade solidária
para construir o futuro; e terceiro, o diálogo construtivo para encarar o
presente.
É importante, antes de tudo, valorizar a originalidade dinâmica que
caracteriza a cultura brasileira, com a sua extraordinária capacidade para
integrar elementos diversos. O sentir comum de um povo, as bases do seu
pensamento e da sua criatividade, os princípios fundamentais da sua vida,os
critérios de juízo sobre as prioridades, sobre as normas de ação, assentam numa
visão integral da pessoa humana. Esta visão do homem e da vida, tal como a fez
própria o povo brasileiro, muito recebeu da seiva do Evangelho através da
Igreja Católica: primeiramente a fé em Jesus Cristo, no amor de Deus e a
fraternidade com o próximo. Mas a riqueza desta seiva deve ser plenamente
valorizada! Ela pode fecundar um processo cultural fiel à identidade brasileira
e construtor de um futuro melhor para todos.
Assim se expressou o amado Papa Bento XVI, no discurso de abertura da V
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, em Aparecida. Fazer que a
humanização integral e a cultura do encontro e do relacionamento cresçam é o
modo cristão de promover o bem comum, a felicidade de viver. E aqui convergem a
fé e a razão, a dimensão religiosa com os diversos aspectos da cultura humana:
arte, ciência, trabalho, literatura... O cristianismo une transcendência e
encarnação; sempre revitaliza o pensamento e a vida, frente a desilusão e o
desencanto que invadem os corações e saltam para a rua.
O segundo elemento que queria tocar é a responsabilidade social. Esta exige
um certo tipo de paradigma cultural e, consequentemente, de política. Somos responsáveis
pela formação de novas gerações, capacitadas na economia e na política, e
firmes nos valores éticos.
O futuro exige de nós uma visão humanista da economia e uma política que
realize cada vez mais e melhor a participação das pessoas, evitando elitismos e
erradicando a pobreza. Que ninguém fique privado do necessário, e que a todos
sejam asseguradas dignidade, fraternidade e solidariedade: esta é a via a
seguir. Já no tempo do profeta Amós era muito forte a advertência de Deus: Eles
vendem o justo por dinheiro, o indigente, por um par de sandálias; esmagam a
cabeça dos fracos no pó da terra e tornam a vida dos oprimidos impossível (Am
2, 6-7). Os gritos por justiça continuam ainda hoje.
Quem detém uma função de guia deve ter objetivos muito concretos, e buscar
os meios específicos para consegui-los. Pode haver, porém, o perigo da
desilusão, da amargura, da indiferença, quando as aspirações não se cumprem. A
virtude dinâmica da esperança incentiva a ir sempre mais longe, a empregar
todas as energias e capacidades a favor das pessoas para quem se trabalha,
aceitando os resultados e criando condições para descobrir novos caminhos,
dando-se mesmo sem ver resultados, mas mantendo viva a esperança. A liderança
sabe escolher a mais justa entre as opções, após tê-las considerado, partindo
da própria responsabilidade e do interesse pelo bem comum; esta é a forma para
chegar ao centro dos males de uma sociedade e vencê-los com a ousadia de ações
corajosas e livres. No exercício da nossa responsabilidade, sempre limitada, é
importante abarcar o todo da realidade, observando, medindo, avaliando, para
tomar decisões na hora presente, mas estendendo o olhar para o futuro,
refletindo sobre as consequências de tais decisões. Quem atua responsavelmente,
submete a própria ação aos direitos dos outros e ao juízo de Deus. Este sentido
ético aparece, nos nossos dias, como um desafio histórico sem precedentes. Além
da racionalidade científica e técnica, na atual situação, impõe-se o vínculo
moral com uma responsabilidade social e profundamente solidária.
Para completar o “olhar” que me propus, além do humanismo integral, que
respeite a cultura original, e da responsabilidade solidária, termino indicando
o que tenho como fundamental para enfrentar o presente: o diálogo construtivo.
Entre a indiferença egoísta e o protesto violento, há uma opção sempre
possível: o diálogo. O diálogo entre as gerações, o diálogo com o povo, a
capacidade de dar e receber, permanecendo abertos à verdade. Um país cresce,
quando dialogam de modo construtivo as suas diversas riquezas culturais:
cultura popular, cultura universitária, cultura juvenil, cultura artística e
tecnológica, cultura econômica e cultura familiar e cultura da mídia. É
impossível imaginar um futuro para a sociedade, sem uma vigorosa contribuição
das energias morais numa democracia que evite o risco de ficar fechada na pura
lógica da representação dos interesses constituídos.
Será fundamental a contribuição das grandes tradições religiosas, que
desempenham um papel fecundo de fermento da vida social e de animação da
democracia. Favorável à pacífica convivência entre religiões diversas é a
laicidade do Estado que, sem assumir como própria qualquer posição
confessional, respeita e valoriza a presença do fator religioso na sociedade, favorecendo
as suas expressões concretas.
Quando os líderes dos diferentes setores me pedem um conselho, a minha
resposta é sempre a mesma: diálogo, diálogo, diálogo. A única maneira para uma
pessoa, uma família, uma sociedade crescer, a única maneira para fazer avançar
a vida dos povos é a cultura do encontro; uma cultura segundo a qual todos têm
algo de bom para dar, e todos podem receber em troca algo de bom. O outro tem
sempre algo para nos dar, desde que saibamos nos aproximar dele com uma atitude
aberta e disponível, sem preconceitos. Só assim pode crescer o bom entendimento
entre as culturas e as religiões, a estima de umas pelas outras livre de
suposições gratuitas e no respeito pelos direitos de cada uma. Hoje, ou se
aposta na cultura do encontro, ou todos perdem; percorrer a estrada justa torna
o caminho fecundo e seguro.
Excelências, Senhoras e Senhores!
Agradeço-lhes pela atenção. Acolham estas palavras como expressão da minha
solicitude de Pastor da Igreja e do amor que nutro pelo povo brasileiro. A
fraternidade entre os homens e a colaboração para construir uma sociedade mais
justa não constituem uma utopia, mas são o resultado de um esforço harmônico de
todos em favor do bem comum. Encorajo os senhores no seu empenho em favor do
bem comum, que exige da parte de todos sabedoria, prudência e
generosidade.
Confio-lhes ao Pai do Céu, pedindo-lhe, por intercessão de Nossa Senhora
Aparecida, que cumule de seus dons a cada um dos presentes, suas respectivas
famílias e comunidades humanas de trabalho e, de coração, a todos concedo a
minha Bênção.
27 de julho, Catedral Metropolitana - Missa (RJ)
“Amados Irmãos em Cristo, Vendo esta catedral lotada com Bispos, sacerdotes,
seminaristas, religiosos e religiosas vindos do mundo inteiro, penso nas
palavras do Salmo da Missa de hoje: "Que as nações vos glorifiquem, ó
Senhor". Sim, estamos aqui reunidos para glorificar o Senhor; e o fazemos
reafirmando a nossa vontade de sermos seus instrumentos, para que não somente
algumas nações, mas todas glorifiquem o Senhor. Com a mesma paresia, coragem,
ousadia, de Paulo e Barnabé, anunciemos o Evangelho aos nossos jovens para que
encontrem Cristo, luz para o caminho, e se tornem construtores de um mundo mais
fraterno. Neste sentido, queria refletir com vocês sobre três aspectos da nossa
vocação: chamados por Deus; chamados para anunciar o Evangelho; chamados a
promover a cultura do encontro.
Chamados por Deus. É importante reavivar em nós esta realidade que,
frequentemente, damos por descontada em meio a tantas atividades do dia a dia:
"Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi", diz-nos
Jesus.Significa retornar à fonte da nossa chamada. No início de nosso caminho
vocacional, há uma eleição divina. Fomos chamados por Deus, e chamados para
permanecer com Jesus, unidos a Ele de um modo tão profundo que nos permite
dizer com São Paulo: "Eu vivo, mas não eu, é Cristo que vive em mim".
Este viver em Cristo configura realmente tudo aquilo que somos e fazemos.
E esta "vida em Cristo" é justamente o que garante a nossa
eficácia apostólica, a fecundidade do nosso serviço: “Eu vos designei para
irdes e para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça". Não é a
criatividade pastoral, não são as reuniões ou planejamentos que garantem os
frutos, mas ser fiel a Jesus, que nos diz com insistência: "Permanecei em
mim, e eu permanecerei em vós". E nós sabemos bem o que isso significa:
Contemplá-lo, adorá-lo e abraçá-lo, particularmente através da nossa fidelidade
à vida de oração, do nosso encontro diário com Ele presente na Eucaristia e nas
pessoas mais necessitadas. O "permanecer" com Cristo não é se isolar,
mas é um permanecer para ir ao encontro dos demais. Vem-me à cabeça umas
palavras da bem-aventurada Madre Teresa de Calcutá: "Devemos estar muito
orgulhosas da nossa vocação, que nos dá a oportunidade de servir Cristo nos
pobres. É nas favelas, nos cantegriles, nas villas miseria, que nós devemos ir
procurar e servir a Cristo. Devemos ir até eles como o sacerdote se aproxima do
altar, cheio de alegria. Jesus, Bom Pastor, é o nosso verdadeiro tesouro;
procuremos fixar sempre mais n'Ele o nosso coração.
Chamados para anunciar o Evangelho. Queridos bispos e sacerdotes, muitos de
vocês, senão todos, vieram acompanhar seus jovens à Jornada Mundial. Eles
também ouviram as palavras do mandato de Jesus: "Ide e fazei discípulos
entre todas as nações' (cf. Mt 28,19). É nosso compromisso ajudá-los a fazer
arder, no seu coração, o desejo de serem discípulos missionários de Jesus.
Certamente muitos, diante desse convite, poderiam sentir-se um pouco
atemorizados, imaginando que ser missionário significa deixar necessariamente o
país, a família e os amigos.
Recordo o meu sonho da juventude: partir missionário para o longínquo Japão.
Mas Deus me mostrou que o meu território de missão estava muito mais perto: na
minha pátria.
Ajudemos os jovens a perceberem que ser discípulo missionário é uma
consequência de ser batizado, é parte essencial do ser cristão, e que o
primeiro lugar onde evangelizar é a própria casa, o ambiente de estudo ou de
trabalho, a família e os amigos. Não poupemos forças na formação da juventude!
São Paulo usa uma bela expressão, que se tornou realidade na sua vida,
dirigindo-se aos seus cristãos: "Meus filhos, por vós sinto de novo as
dores do parto até Cristo ser formado em vós".
Também nós façamos que isso se torne realidade no nosso ministério! Ajudemos
os nossos jovens a descobrir a coragem e a alegria da fé, a alegria de ser
pessoalmente amados por Deus, que deu o seu filho Jesus para nossa salvação.
Eduquemo-los para a missão, para sair, para partir.
Jesus fez assim com os seus discípulos: não os manteve colados a si, como
uma galinha com os seus pintinhos; Ele os enviou! Não podemos ficar encerrados
na paróquia, nas nossas comunidades, quando há tanta gente esperando o
Evangelho! Não se trata simplesmente de abrir a porta para acolher, mas de sair
pela porta fora para procurar e encontrar. Decididamente pensemos a pastoral a
partir da periferia, daqueles que estão mais afastados, daqueles que
habitualmente não frequentam a paróquia. Também eles são convidados para a Mesa
do Senhor.
Chamados a promover a cultura do encontro. Em muitos ambientes,
infelizmente, ganhou espaço a cultura da exclusão, a "cultura do
descartável". Não há lugar para o idoso, nem para o filho indesejado; não
há tempo para se deter com o pobre caído à margem da estrada. Às vezes parece
que, para alguns, as relações humanas sejam regidas por dois "dogmas"
modernos: eficiência e pragmatismo.
Queridos Bispos, sacerdotes, religiosos e também vocês, seminaristas, que se
preparam para o ministério, tenham a coragem de ir contra a corrente. Não
renunciemos a este dom de Deus: a única família dos seus filhos. O encontro e o
acolhimento de todos, a solidariedade e a fraternidade são os elementos que
tornam a nossa civilização verdadeiramente humana. Temos de ser servidores da
comunhão e da cultura do encontro. Permitam-me dizer: deveríamos ser quase
obsessivos neste aspecto! Não queremos ser presunçosos, impondo as "nossas
verdades". O que nos guia é a certeza humilde e feliz de quem foi
encontrado, alcançado e transformado pela verdade que é Cristo, e não pode
deixar de anunciá-la.
Queridos irmãos e irmãs, fomos chamados por Deus, chamados para anunciar o
Evangelho e promover corajosamente a cultura do encontro. A Virgem Maria seja o
nosso modelo. Na sua vida, Ela deu "exemplo daquele afeto maternal de que
devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja,
tem de regenerar os homens". Seja ela a estrela que guia com segurança
nossos passos ao encontro do Senhor.
Amém.
27 de julho, Vigília em Copacabana - Oração (RJ)
“Queridos jovens,
Acabamos recordar a história de São Francisco de Assis. Diante do Crucifixo,
ele escuta a voz de Jesus que lhe diz: 'Francisco, vai e repara a minha casa'.
E o jovem Francisco responde, com prontidão e generosidade, a esta chamada do
Senhor: 'Repara a minha casa. Mas qual casa?' Aos poucos, ele percebe que não
se tratava fazer de pedreiro para reparar um edifício feito de pedras, mas de
dar a sua contribuição para a vida da Igreja; tratava-se de colocar-se ao
serviço da Igreja, amando-a e trabalhando para que transparecesse nela sempre
mais a Face de Cristo.
Também hoje o Senhor continua precisando de vocês, jovens, para a sua
Igreja. Queridos jovens, o senhor precisa de vocês. Também hoje ele chama a
cada um de vocês para segui-lo na sua Igreja, para serem missionários. Queridos
jovens, o Senhor hoje nos chama. Não a todos e sim a cada um de vocês,
individualmente. Escutem essa palavra nos seus corações, que fala a vocês.
Acredito que podemos aprender algo com o que aconteceu nos últimos dias.
Tivemos que cancelar o evento em Guaratiba. Será que o Senhor não quer nos
dizer que o verdadeiro campo da fé, não é um lugar geográfico, mas sim nós
mesmos? Sim. É verdade, cada um de nós e de vocês. Eu e vocês todos aqui, somos
discípulos missionários. O que quer dizer isso? Que nós somos o campo da fé de
Deus.
Partindo do campo da fé, pensei em três imagens que podem nos ajudar a
entender melhor o que significa ser um discípulo missionário: a primeira, o
campo como lugar onde se semeia; a segunda, o campo como lugar de treinamento;
e a terceira, o campo como canteiro de obras. Primeiro: o campo como lugar onde
se semeia. Todos conhecemos a parábola de Jesus sobre um semeador que saiu pelo
campo. Algumas sementes caem à beira do caminho, em meio às pedras, no meio de
espinhos e não conseguem se desenvolver; mas outras caem em terra boa e dão
muito fruto). O próprio Jesus explicou o sentido da parábola: a semente é a
Palavra de Deus que é semeada nos nossos corações. Hoje, de modo especial,
Jesus está semeando, tornando-nos o campo da fé.
Deus faz tudo, mas vocês têm que permitir que Ele trabalhe nesse
crescimento. Jesus nos diz que as sementes, que caíram à beira do caminho, em
meio às pedras e em meio aos espinhos não deram fruto. Qual terreno somos ou
queremos ser? Escutamos o Senhor, mas na vida não muda nada, pois nos deixamos
tumultuar por tantos apelos superficiais? E eu lhes pergunto: ‘sou um jovem
atordoado ou um jovem com pedras no terreno? Terei eu o costume de jogar dos
dois lados, ficar de bem com Deus e com o Diabo? Receber as sementes de Deus e
manter os espinhos? Acolher Jesus com entusiasmo, mas ser inconstantes e diante
das dificuldades não ter a coragem de ir contra a corrente; ou somos como o
terreno com os espinhos? Mas, hoje, tenho a certeza que a semente está caindo
numa terra boa, ouvimos esses testemunhos. A pessoa diz que não é terra boa:
'sou cheio de espinhos, Santo Padre'.
Mas mantenham sempre um pedacinho de terra boa. Eu sei que vocês querem ser
terra boa. O cristão quer ser isso, um cristão de verdade, não cristãos de
fachada, mas sim autênticos. Sei que querem ser cristãos autênticos. Tenho a
certeza que vocês não querem viver na ilusão de uma liberdade que se deixe
arrastar pelas modas e as conveniências do momento. Sei que vocês apostam em
algo grande, em escolhas definitivas que deem pleno sentido para a vida. É
assim ou estou errado? Se é assim, façamos o seguinte.
Todos em silêncio, olhando para dentro e cada um fale com Jesus que quer
receber a semente. Olhe: 'Jesus, tenho pedras, tenho espinhos, mas tenho esse
canto de boa terra'. Semeie. E em silêncio, permitem que Jesus plantem sua
semente em boa terra. Cada um sabe o nome da semente que foi plantada agora. E
Deus vai cuidar dela.
Segundo: o campo como lugar de treinamento. Jesus nos pede que o sigamos por
toda a vida, pede que sejamos seus discípulos, que 'joguemos no seu time'. Acho
que a maioria de vocês ama os esportes. E aqui no Brasil, como em outros
países, o futebol é uma paixão nacional.
Sim ou não? Pois bem, o que faz um jogador quando é convocado para jogar em
um time? Deve treinar, e muito! Também é assim na nossa vida de discípulos do
Senhor. São Paulo nos diz: 'Todo atleta se privam de tudo. Eles assim procedem,
para conseguirem uma coroa corruptível. Quanto a nós, buscamos uma coroa
incorruptível!'. Jesus nos oferece algo muito superior que a Copa do Mundo!
Algo maior que a Copa do Mundo! Oferece-nos a possibilidade de uma vida fecunda
e feliz e nos oferece também um futuro com Ele que não terá fim: a vida eterna.
É o que Jesus oferece. Mas ele nos cobra um ingresso. Jesus pede que treinemos
para estar 'em forma', para enfrentar, sem medo, todas as situações da vida, dando
testemunhos de fé. Como? Através do diálogo com Ele: a oração, que é diálogo
diário com Deus que sempre nos escuta.
Agora vou perguntar. 'Eu rezo? Eu falo com Jesus ou tenho medo do silêncio?'
Deixe que o Espírito Santo fale aos seus corações. Pergunte a Jesus: 'O que
quer que eu faça? O que quer da minha vida?' Isso é treinar. Conversem com
Jesus. E se cometerem um erro, um deslize, não temam. 'Jesus, olha o que eu
fiz, o que faço agora?' Mas sempre fale com Jesus, nos bons e maus momentos,
não tema. Assim vai se treinando o diáologo com Jesus. E também através dos
sacramentos; através do amor fraterno, do saber escutar, do compreender, do
perdoar, do acolher, do ajudar os demais, qualquer pessoa sem excluir nem
marginalizar ninguém. Esses são os treinamentos: a oração, os sacramentos e o
serviço ao próximo. Vamos repetir: oração, sacramentos e ajuda aos demais.
Terceiro: o campo como canteiro de obras. Como vemos aqui, como tudo isso
foi construído. Os jovens caminharam e construíram juntos. Quando o nosso
coração é uma terra boa que acolhe a Palavra de Deus, quando se 'sua a camisa'
procurando viver como cristãos, nós experimentamos algo maravilhoso: nunca
estamos sozinhos, fazemos parte de uma família de irmãos que percorrem o mesmo
caminho; somos parte da Igreja, mais ainda, tornamo-nos construtores da Igreja
e protagonistas da história. Fizeram assim como São Francisco: construir e
reparar a Igreja.
Querem construir a Igreja? Estão animados?
E amanhã vão se esquecer que disseram 'sim'? Todos somos parte da Igreja.
Nos transformamos em construtores da Igreja e protagonistas da História. Sejam
protagonistas, não fiquem na fila da História. Joguem sempre na linha de
frente, no ataque! São Pedro nos diz que somos pedras vivas que formam um
edifício espiritual (cf. 1Pe 2,5). E, olhando para este palco, vemos que ele
tem a forma de uma igreja, construída com pedras, com tijolos. Na Igreja de
Jesus, nós somos as pedras vivas, e Jesus nos pede que construamos a sua
Igreja; cada um de nós somos uma pedrinha da construção. Se faltar essa
pedrinha, quando chover, vai alagar tudo. E devemos construir uma grande
Igreja. Não construir uma capelinha, onde cabe somente um grupinho de pessoas.
Jesus nos pede que a sua Igreja viva seja tão grande que possa acolher toda a
humanidade, que seja casa para todos! Ele diz a mim, a você, a cada um: 'Ide e
fazei discípulos entre todas as nações'! Nesta noite, respondamos-lhe: Sim,
também eu quero ser uma pedra viva; juntos queremos edificar a Igreja de Jesus!
Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo! Repitam isso. Agora é com
vocês. 'Eu quero ir e ser construtor da Igreja de Cristo'. Quero que pensem
nisso. No coração jovem de vocês, existe o desejo de construir um mundo
melhor.
Acompanhei atentamente as notícias a respeito de muitos jovens que, em
tantas partes do mundo, saíram pelas ruas para expressar o desejo de uma
civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas querem ser protagonistas
da mudança. Não deixam que outros sejam protagonistas, sejam vocês.
Vocês têm o futuro nas mãos. Por vocês, é que o futuro chegará. Peço que
vocês também sejam protagonistas, superando a apatia e oferecendo uma resposta
cristã às questões políticas que se colocam em diversas questões do mundo.
Envolvam-se num mundo melhor. Não sejam covardes, metam-se, saiam para a vida.
Jesus não ficou preso dentro de um casulo. Saiam às ruas como fez Jesus.
Mas, fica a pergunta: por onde começar? A quem vamos pedir que se comece
isso ou aquilo? Quando perguntaram a Madre Teresa de Calcutá o que devia mudar
na Igreja, por onde começaríamos a mudar, e ela respondeu: você e eu! Ela tinha
muita garra e sabia por onde começar. Repito as palavras de Madre Teresa:
começamos por mim e por você. Faça essa mesma pergunta: se tenho que começar
por mim mesmo, por onde devo começar? Abra seus corações para que Jesus lhes
fale.
Queridos amigos, não se esqueçam: vocês são o campo da fé! 3 Vocês são os
atletas de Cristo! Vocês são os construtores de uma Igreja mais bela e de um
mundo melhor. Elevemos o olhar para Nossa Senhora. Ela nos ajuda a seguir
Jesus, nos dá o exemplo com o seu 'sim' a Deus: 'Eis aqui a serva do Senhor,
faça-se em mim segundo a tua Palavra' (Lc1,38). Também nós o dizemos a Deus,
juntos com Maria: faça-se em mim segundo a Tua palavra. Assim seja!
28 de julho, Copacabana - Homília (RJ)
Venerados e amados Irmãos no episcopado e no sacerdócio, Queridos jovens!
Ide e fazei discípulos entre todas as ações. Com estas palavras, Jesus se
dirige a cada um de vocês, dizendo: Foi bom participar nesta Jornada Mundial da
Juventude, vivenciar a fé junto com jovens vindos dos quatro cantos da terra,
mas agora você deve ir e transmitir esta experiência aos demais. Jesus lhe
chama a ser um discípulo em missão! Hoje, à luz da Palavra de Deus que acabamos
de ouvir, o que nos diz o Senhor? Três palavras: Ide, sem medo, para
servir.
Ide. Durante estes dias, aqui no Rio, vocês puderam fazer a bela experiência
de encontrar Jesus e de encontrá-lo juntos, sentindo a alegria da fé. Mas a
experiência deste encontro não pode ficar trancafiada na vida de vocês ou no
pequeno grupo da paróquia, do movimento, da comunidade de vocês. Seria como
cortar o oxigênio a uma chama que arde. A fé é uma chama que se faz tanto mais
viva quanto mais é partilhada, transmitida, para que todos possam conhecer,
amar e professar que Jesus Cristo é o Senhor da vida e da história (cf. Rm
10,9).
Mas, atenção! Jesus não disse: se vocês quiserem, se tiverem tempo, mas: Ide
e fazei discípulos entre todas as nações. Partilhar a experiência da fé, testemunhar
a fé, anunciar o Evangelho é o mandato que o Senhor confia a toda a Igreja,
também a você. É uma ordem sim; mas não nasce da vontade de domínio ou de
poder, nasce da força do amor, do fato que Jesus foi quem veio primeiro para
junto de nós e nos deu não somente um pouco de Si, mas se deu por inteiro, deu
a sua vida para nos salvar e mostrar o amor e a misericórdia de Deus. Jesus não
nos trata como escravos, mas como homens livres, amigos, como irmãos; e não
somente nos envia, mas nos acompanha, está sempre junto de nós nesta missão de
amor.
Para onde Jesus nos manda? Não há fronteiras, não há limites: envia-nos para
todas as pessoas. O Evangelho é para todos, e não apenas para alguns. Não é
apenas para aqueles que parecem a nós mais próximos, mais abertos, mais
acolhedores. É para todas as pessoas. Não tenham medo de ir e levar Cristo para
todos os ambientes, até as periferias existenciais, incluindo quem parece mais
distante, mais indiferente. O Senhor procura a todos, quer que todos sintam o
calor da sua misericórdia e do seu amor. De forma especial, queria que este
mandato de Cristo -“Ide” - ressoasse em vocês, jovens da Igreja na América
Latina, comprometidos com a Missão Continental promovida pelos Bispos. O
Brasil, a América Latina, o mundo precisa de Cristo!
Paulo exclama: Ai de mim se eu não pregar o evangelho! (1Co 9,16). Este
Continente recebeu o anúncio do Evangelho, que marcou o seu caminho e produziu
muito fruto. Agora este anúncio é confiado também a vocês, para que ressoe com
uma força renovada. A Igreja precisa de vocês, do entusiasmo, da criatividade e
da alegria que lhes caracterizam! Um grande apóstolo do Brasil, o
Bem-aventurado José de Anchieta, partiu em missão quando tinha apenas dezenove
anos! Sabem qual é o melhor instrumento para evangelizar os jovens? Outro
jovem! Este é o caminho a ser percorrido!
Sem medo. Alguém poderia pensar: Eu não tenho nenhuma preparação especial,
como é que posso ir e anunciar o Evangelho? Querido amigo, esse seu temor não é
muito diferente do sentimento que teve Jeremias, um jovem como vocês, quando
foi chamado por Deus para ser profeta. Acabamos de escutar as suas palavras:
Ah! Senhor Deus, eu não sei falar, sou muito
novo. Deus responde a vocês com as mesmas palavras dirigidas a Jeremias: Não
tenhas medo... pois estou contigo para defender-te» (Jr 1,8). Deus está
conosco! Não tenham medo! Quando vamos anunciar Cristo, Ele mesmo vai à nossa
frente e nos guia. Ao enviar os seus discípulos em missão, Jesus prometeu: Eu
estou com vocês todos os dias (Mt 28,20). E isto é verdade também para
nós!
Jesus não nos deixa sozinhos, nunca lhes deixa sozinhos! Sempre acompanha a
vocês!
Além disso, Jesus não disse: Vai, mas Ide: somos enviados em grupo. Queridos
jovens, sintam a companhia de toda a Igreja e também a comunhão dos Santos
nesta missão. Quando enfrentamos juntos os desafios, então somos fortes,
descobrimos recursos que não sabíamos que tínhamos. Jesus não chamou os
Apóstolos para viver isolados, chamou-lhes para que formassem um grupo, uma
comunidade. Queria dar uma palavra também a vocês, queridos sacerdotes, que
concelebram comigo esta Eucaristia: vocês vieram acompanhando os seus jovens, e
é uma coisa bela partilhar esta experiência de fé! Mas esta é uma etapa do
caminho.
Continuem acompanhando os jovens com generosidade e alegria, ajudem-lhes a
se comprometer ativamente na Igreja; que eles nunca se sintam sozinhos!
A última palavra: para servir. No início do salmo proclamado, escutamos estas
palavras: Cantai ao Senhor Deus um canto novo» (Sl 95, 1). Qual é este canto
novo? Não são palavras, nem uma melodia, mas é o canto da nossa vida, é deixar
que a nossa vida se identifique com a vida de Jesus, é ter os seus sentimentos,
os seus pensamentos, as suas ações. E a vida de Jesus é uma vida para os
demais. É uma vida de serviço. São Paulo, na leitura que ouvimos há pouco,
dizia: Eu me tornei escravo de todos, a fim de ganhar o maior número possível»
(1 Cor 9, 19). Para anunciar Jesus, Paulo fez-se escravo de todos. Evangelizar
significa testemunhar pessoalmente o amor de Deus, significa superar os nossos
egoísmos, significa servir, inclinando-nos para lavar os pés dos nossos irmãos,
tal como fez Jesus. Ide, sem medo, para servir. Seguindo estas três palavras,
vocês experimentarão que quem evangeliza é evangelizado, quem transmite a
alegria da fé, recebe alegria. Queridos jovens, regressando às suas casas, não
tenham medo de ser generosos com Cristo, de testemunhar o seu Evangelho. Na
primeira leitura, quando Deus envia o profeta Jeremias, lhe dá o poder de
«extirpar e destruir, devastar e derrubar, construir e plantar (Jr 1,10).
E assim é também para vocês. Levar o Evangelho é levar a força de Deus, para
extirpar e destruir o mal e a violência; para devastar e derrubar as barreiras
do egoísmo, da intolerância e do ódio; para construir um mundo novo. Jesus
Cristo conta com vocês! A Igreja conta com vocês! O Papa conta com vocês! Que
Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, lhes acompanhe sempre com a sua ternura: Ide e
fazei discípulos entre todas as nações.
Amém.
28 de julho, Copacabana - Ângelus (RJ)
Amados irmãos e irmãs!
No término desta Celebração Eucarística, com a qual elevamos a Deus o nosso
canto de louvor e gratidão por todas as graças recebidas durante esta Jornada
Mundial da Juventude, quero ainda agradecer a Dom Orani Tempesta e ao Cardeal
Ryko as palavras que me dirigiram.
Agradeço também a vocês, queridos jovens, por todas as alegrias que me deram
nestes dias. Obrigado! Levo a vocês no meu coração! Dirijamos agora o nosso
olhar à Mãe do Céu, a Virgem Maria. Nestes dias, Jesus lhes repetiu com
insistência o convite para serem seus discípulos-missionários; vocês escutaram
a voz do Bom Pastor que lhes chamou pelo nome e vocês reconheceram a voz que
lhes chamava (cf. Jo 10,4). Não é verdade que, nesta voz que ressoou nos seus
corações, vocês sentiram a ternura do amor de Deus? Não é verdade que vocês
experimentaram a beleza de seguir a Cristo, juntos, na Igreja? Não é verdade
que vocês compreenderam melhor que o Evangelho é a resposta ao desejo de uma
vida ainda mais plena? (cf. Jo 10,10).
A Virgem Imaculada intercede por nós no Céu como uma boa mãe que guarda dos
seus filhos. Maria nos ensina, com a sua existência, o que significa ser
discípulo missionário. Cada vez que rezamos o Ângelus, recordamos o
acontecimento que mudou para sempre a história dos homens. Quando o anjo
Gabriel anunciou a Maria que se tornaria a Mãe de Jesus, Ela - mesmo sem
compreender todo o significado daquele chamado - confiou em Deus e respondeu:
“Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).
Mas, o que fez Maria logo em seguida? Após ter recebido a graça de ser a Mãe do
Verbo encarnado, não guardou para si esse dom; partiu, saiu da sua casa e foi,
apressadamente, visitar a sua parente Isabel que precisava de ajuda (cf. Lc 1,
38-39); cumpriu um gesto de amor, de caridade, de serviço concreto, levando
Jesus que trazia no ventre. E se apressou a fazer este gesto! Eis aqui,
queridos amigos o nosso modelo. Aquela que recebeu o dom mais precioso de Deus,
como primeiro gesto de resposta, põe-se a caminho para servir e levar Jesus.
Peçamos a Nossa Senhora que também nos ajude a transmitir a alegria de Cristo
aos nossos familiares, aos nossos companheiros, aos nossos amigos, a todas as
pessoas. 2 Nunca tenham medo de ser generosos com Cristo! Vale a pena! Sair e
ir com coragem e generosidade, para que cada homem e cada mulher possa
encontrar o Senhor.
Queridos jovens, temos encontro marcado na próxima Jornada Mundial da
Juventude, no ano de 2016 em Cracóvia, na Polônia. Pela intercessão materna de
Maria, peçamos a luz do Espírito Santo sobre o caminho que nos levará a esta
nova etapa da jubilosa celebração da fé e do amor de Cristo.
Rezemos agora juntos... [reza do Ângelus]
28 de julho, Encontro com o Conselho Episcopal Latino-Americano (RJ)
Introdução
Agradeço ao Senhor por esta oportunidade de poder falar com vocês, Irmãos
Bispos responsáveis do CELAM no quadriênio 2011-2015. Há 57 anos que o CELAM
serve as 22 Conferências Episcopais da América Latina e do Caribe, colaborando
solidária e subsidiariamente para promover, incentivar e dinamizar a
colegialidade episcopal e a comunhão entre as Igrejas da região e seus
pastores.
Como vocês, também eu sou testemunha do forte impulso do Espírito na V
Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe, em Aparecida no
mês de maio de 2007, que continua animando os trabalhos do CELAM para a anelada
renovação das Igrejas particulares. Em boa parte delas, essa renovação já está
em andamento. Gostaria de centrar esta conversação no patrimônio herdado
daquele encontro fraterno e que todos batizamos como Missão Continental.
Características peculiares de Aparecida
Existem quatro características típicas da referida V Conferência. Constituem
como que quatro colunas do desenvolvimento de Aparecida que lhe dão a sua
originalidade.
- Início sem documento
Medelín, Puebla e Santo Domingo começaram os seus trabalhos com um caminho
preparatório que culminou em uma espécie de Instrumentum laboris, com base no
qual se desenrolou a discussão, a reflexão e a aprovação do documento final. Em
vez disso, Aparecida promoveu a participação das Igrejas particulares como
caminho de preparação que culminou em um documento de síntese. Este documento,
embora tenha sido ponto de referência durante a V Conferência Geral, não foi
assumido como documento de partida. O trabalho inicial foi pôr em comum as
preocupações dos pastores perante a mudança de época e a necessidade de
recuperar a vida de discípulo e missionário com que Cristo fundou a Igreja.
- Ambiente de oração com o Povo de Deus
É importante lembrar o ambiente de oração gerado pela partilha diária da
Eucaristia e de outros momentos litúrgicos, tendo sido sempre acompanhados pelo
Povo de Deus. Além disso, realizando-se os trabalhos na cripta do Santuário, a
“música de fundo” que os acompanhava era constituída pelos cânticos e as
orações dos fiéis.
- Documento que se prolonga em compromisso, com a Missão Continental
Neste contexto de oração e vivência de fé, surgiu o desejo de um novo
Pentecostes para a Igreja e o compromisso da Missão Continental. Aparecida não
termina com um documento, mas prolonga-se na Missão Continental.
- A presença de Nossa Senhora, Mãe da América
É a primeira Conferência do Episcopado da América Latina e do Caribe que se
realiza em um Santuário mariano.
Dimensões da Missão Continental
A Missão Continental está projetada em duas dimensões: programática e
paradigmática. A missão programática, como o próprio nome indica, consiste na
realização de atos de índole missionária. A missão paradigmática, por sua vez,
implica colocar em chave missionária a atividade habitual das Igrejas
particulares. Em consequência disso, evidentemente, verifica-se toda uma
dinâmica de reforma das estruturas eclesiais. 3 A 'mudança de estruturas' (de
caducas a novas) não é fruto de um estudo de organização do organograma
funcional eclesiástico, de que resultaria uma reorganização estática, mas é
consequência da dinâmica da missão. O que derruba as estruturas caducas, o que
leva a mudar os corações dos cristãos é justamente a missionariedade. Daqui a
importância da missão paradigmática.
A Missão Continental, tanto programática como paradigmática, exige gerar a
consciência de uma Igreja que se organiza para servir a todos os batizados e
homens de boa vontade. O discípulo de Cristo não é uma pessoa isolada em uma
espiritualidade intimista, mas uma pessoa em comunidade para se dar aos outros.
Portanto, a Missão Continental implica pertença eclesial.
Uma posição como esta, que começa pelo discipulado missionário e implica
entender a identidade do cristão como pertença eclesial, pede que explicitemos
quais são os desafios vigentes da missionariedade discipular. Me limito a
assinalar dois: a renovação interna da Igreja e o diálogo com o mundo atual.
Renovação interna da Igreja
Aparecida propôs como necessária a Conversão Pastoral. Esta conversão
implica acreditar na Boa Nova, acreditar em Jesus Cristo portador do Reino de
Deus, em sua irrupção no mundo, em sua presença vitoriosa sobre o mal;
acreditar na assistência e guia do Espírito Santo; acreditar na Igreja, Corpo
de Cristo e prolongamento do dinamismo da Encarnação.
Neste sentido, é necessário que nos interroguemos, como pastores, sobre o
andamento das Igrejas a que presidimos.
Estas perguntas servem de guia para examinar o estado das dioceses quanto à
adoção do espírito de Aparecida, e são perguntas que é conveniente pôr-nos,
muitas vezes, como exame de consciência.
1) Procuramos que o nosso trabalho e o de nossos presbíteros seja mais
pastoral que administrativo? Quem é o principal beneficiário do trabalho
eclesial, a Igreja como organização ou o Povo de Deus na sua totalidade?
2) Superamos a tentação de tratar de forma reativa os problemas complexos
que surgem? Criamos um hábito proativo? Promovemos espaços e ocasiões para
manifestar a misericórdia de Deus? Estamos conscientes da responsabilidade de
repensar as atitudes pastorais e o funcionamento das estruturas eclesiais,
buscando o bem dos fiéis e da sociedade?
3) Na prática, fazemos os fiéis leigos participantes da missão? Oferecemos a
palavra de Deus e os sacramentos com consciência e convicção claras de que o
Espírito se manifesta neles?
4) Temos como critério habitual o discernimento pastoral, servindo-nos dos
Conselhos Diocesanos? Tanto estes como os Conselhos paroquiais de Pastoral e de
Assuntos Econômicos são espaços reais para a participação laical na consulta,
organização e planejamento pastoral? O bom funcionamento dos Conselhos é
determinante. Acho que estamos muito atrasados nisso.
5) Nós, Pastores Bispos e Presbíteros, temos consciência e convicção da
missão dos fiéis e lhes damos a liberdade para irem discernindo, de acordo com
o seu processo de discípulos, a missão que o Senhor lhes confia? Apoiamo-los e
acompanhamos, superando qualquer tentação de manipulação ou indevida submissão?
Estamos sempre abertos para nos deixarmos interpelar pela busca do bem da
Igreja e da sua Missão no mundo?
6) Os agentes de pastoral e os fiéis em geral sentem-se parte da Igreja,
identificam-se com ela e aproximam-na dos batizados indiferentes e afastados?
Como se pode ver, aqui estão em jogo atitudes. A Conversão Pastoral diz
respeito, principalmente, às atitudes e a uma reforma de vida. Uma mudança de
atitudes é necessariamente dinâmica: “entra em processo” e só é possível
moderá-lo acompanhando-o e discernindo-o. É importante ter sempre presente que
a bússola, para não se perder nesse caminho, é a identidade católica concebida
como pertença eclesial.
Diálogo com o mundo atual
Faz-nos bem lembrar estas palavras do Concílio Vaticano II: “As alegrias e
as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens do nosso tempo, sobretudo
dos pobres e atribulados, são também alegrias e esperanças, tristezas e
angústias dos discípulos de Cristo” (cf. GS, 1). Aqui reside o fundamento do
diálogo com o mundo atual.
A resposta às questões existenciais do homem de hoje, especialmente das novas
gerações, atendendo à sua linguagem, entranha uma mudança fecunda que devemos
realizar com a ajuda do Evangelho, do Magistério e da Doutrina Social da
Igreja. Os cenários e areópagos são os mais variados. Por exemplo, em uma mesma
cidade, existem vários imaginários coletivos que configuram “diferentes
cidades”. Se continuarmos apenas com os parâmetros da “cultura de sempre”,
fundamentalmente uma cultura de base rural, o resultado acabará anulando a
força do Espírito Santo. Deus está em toda a parte: há que saber descobri-lo
para poder anunciá-lo no idioma dessa cultura; e cada realidade, cada idioma
tem um ritmo diferente.
4 - Algumas tentações contra o discipulado missionário
A opção pela missionariedade do discípulo sofrerá tentações. É importante
saber por onde entra o espírito mau, para nos ajudar no discernimento. Não se
trata de sair à caça de demônios, mas simplesmente de lucidez e prudência
evangélicas. Limito-me a mencionar algumas atitudes que configuram uma Igreja
“tentada”. Trata-se de conhecer determinadas propostas atuais que podem
mimetizar-se em a dinâmica do discipulado missionário e deter, até fazê-lo
fracassar, o processo de Conversão Pastoral.
1) A ideologização da mensagem evangélica. É uma tentação que se verificou
na Igreja desde o início: procurar uma hermenêutica de interpretação evangélica
fora da própria mensagem do Evangelho e fora da Igreja.
Um exemplo: a dado momento, Aparecida sofreu essa tentação sob a forma de
assepsia. Foi usado, e está bem, o método de “ver, julgar, agir”. A tentação se
encontraria em optar por um "ver" totalmente asséptico, um “ver”
neutro, o que não é viável. O ver está sempre condicionado pelo olhar. Não há
uma hermenêutica asséptica. Então a pergunta era: Com que olhar vamos ver a
realidade? Aparecida respondeu: Com o olhar de discípulo. Assim se entendem os
números 20 a 32. Existem outras maneiras de ideologização da mensagem e,
atualmente, aparecem na América Latina e no Caribe propostas desta índole.
Menciono apenas algumas:
a) O reducionismo socializante. É a ideologização mais fácil de descobrir.
Em alguns momentos, foi muito forte. Trata-se de uma pretensão interpretativa
com base em uma hermenêutica de acordo com as ciências sociais. Engloba os
campos mais variados, desde o liberalismo de mercado até a categorização
marxista.
b) A ideologização psicológica. Trata-se de uma hermenêutica elitista que,
em última análise, reduz o “encontro com Jesus Cristo” e seu sucessivo
desenvolvimento a uma dinâmica de autoconhecimento.
Costuma verificar-se principalmente em cursos de espiritualidade, retiros
espirituais, etc. Acaba por resultar numa posição imanente autorreferencial.
Não tem sabor de transcendência, nem portanto de missionariedade.
c) A proposta gnóstica. Muito ligada à tentação anterior. Costuma ocorrer em
grupos de elites com uma proposta de espiritualidade superior, bastante
desencarnada, que acaba por desembocar em posições pastorais de “quaestiones
disputatae”. Foi o primeiro desvio da comunidade primitiva e reaparece, ao
longo da história da Igreja, em edições corrigidas e renovadas. Vulgarmente são
denominados “católicos iluminados” (por serem atualmente herdeiros do
Iluminismo).
d) A proposta pelagiana. Aparece fundamentalmente sob a forma de
restauracionismo. Perante os males da Igreja, busca-se uma solução apenas na
disciplina, na restauração de condutas e formas superadas que, mesmo
culturalmente, não possuem capacidade significativa. Na América Latina, costuma
verificar-se em pequenos grupos, em algumas novas Congregações Religiosas, em
tendências para a “segurança” doutrinal ou disciplinar. Fundamentalmente é
estática, embora possa prometer uma dinâmica para dentro: regride. Procura
“recuperar” o passado perdido.
2) O funcionalismo. A sua ação na Igreja é paralisante. Mais do que com a
rota, se entusiasma com o “roteiro”. A concepção funcionalista não tolera o
mistério, aposta na eficácia. Reduz a realidade da Igreja à estrutura de uma
ONG. O que vale é o resultado palpável e as estatísticas. A partir disso,
chega-se a todas as modalidades empresariais de Igreja. Constitui uma espécie
de “teologia da prosperidade” no organograma da pastoral.
3) O clericalismo é também uma tentação muito atual na América Latina.
Curiosamente, na maioria dos casos, trata-se de uma cumplicidade viciosa: o
sacerdote clericaliza e o leigo lhe pede por favor que o clericalize, porque,
no fundo, lhe resulta mais cômodo. O fenômeno do clericalismo explica, em
grande parte, a falta de maturidade adulta e de liberdade cristã em boa parte
do laicato da América Latina: ou não cresce (a maioria), ou se abriga sob
coberturas de ideologizações como as indicadas, ou ainda em pertenças parciais
e limitadas. Em nossas terras, existe uma forma de liberdade laical através de
experiências de povo: o católico como povo. Aqui vê-se uma maior autonomia,
geralmente sadia, que se expressa fundamentalmente na piedade popular. O
capítulo de Aparecida sobre a piedade popular descreve, em profundidade, essa
dimensão. A proposta dos grupos bíblicos, das comunidades eclesiais de base e
dos Conselhos pastorais está na linha de superação do clericalismo e de um
crescimento da responsabilidade laical.
Poderíamos continuar descrevendo outras tentações contra o discipulado
missionário, mas acho que estas são as mais importantes e com maior força neste
momento da América Latina e do Caribe.
5 - Algumas orientações eclesiológicas
a) O discipulado-missionário que Aparecida propôs às Igrejas da América
Latina e do Caribe é o caminho que Deus quer para “hoje”. Toda a projeção
utópica (para o futuro) ou restauracionista (para o passado) não é do espírito
bom. Deus é real e se manifesta no “hoje”. A sua presença, no passado, se nos
oferece como “memória” da saga de salvação realizada quer em seu povo quer em
cada um de nós; no futuro, se nos oferece como “promessa” e esperança. No
passado, Deus esteve lá e deixou sua marca: a memória nos ajuda encontrá-lo; no
futuro, é apenas promessa... e não está nos mil e um “futuríveis”. O “hoje” é o
que mais se parece com a eternidade; mais ainda: o “hoje” é uma centelha de
eternidade. No “hoje”, se joga a vida eterna.
O discipulado missionário é vocação: chamada e convite. Acontece em um
“hoje”, mas “em tensão”. Não existe o discipulado missionário estático. O
discípulo missionário não pode possuir-se a si mesmo; a sua imanência está em
tensão para a transcendência do discipulado e para a transcendência da missão.
Não admite a autorreferencialidade: ou refere-se a Jesus Cristo ou refere-se às
pessoas a quem deve levar o anúncio dele. Sujeito que se transcende. Sujeito
projetado para o encontro: o encontro com o Mestre (que nos unge discípulos) e
o encontro com os homens que esperam o anúncio.
Por isso, gosto de dizer que a posição do discípulo missionário não é uma
posição de centro, mas de periferias: vive em tensão para as periferias...
incluindo as da eternidade no encontro com Jesus Cristo. No anúncio evangélico,
falar de 'periferias existenciais' descentraliza e, habitualmente, temos medo
de sair do centro. O discípulo-missionário é um descentrado: o centro é Jesus
Cristo, que convoca e envia. O discípulo é enviado para as periferias
existenciais.
b) 2 A Igreja é instituição, mas, quando se erige em 'centro', se
funcionaliza e, pouco a pouco, se transforma em uma ONG. Então, a Igreja
pretende ter luz própria e deixa de ser aquele 'mysterium lunae' de que nos
falavam os Santos Padres.
Torna-se cada vez mais autorreferencial, e se enfraquece a sua necessidade
de ser missionária. De “Instituição” se transforma em “Obra”. Deixa de ser
Esposa, para acabar sendo Administradora; de Servidora se transforma em
“Controladora”. Aparecida quer uma Igreja Esposa, Mãe, Servidora, facilitadora
da fé e não controladora da fé.
c) Em Aparecida, verificam-se de forma relevante duas categorias pastorais,
que surgem da própria originalidade do Evangelho e nos podem também servir de
orientação para avaliar o modo como vivemos eclesialmente o discipulado
missionário: a proximidade e o encontro. Nenhuma das duas é nova, antes
configuram a maneira como Deus se revelou na história. É o “Deus próximo” do
seu povo, proximidade que chega ao máximo quando Ele encarna. É o Deus que sai
ao encontro do seu povo. Na América Latina e no Caribe, existem pastorais
“distantes”, pastorais disciplinares que privilegiam os princípios, as
condutas, os procedimentos organizacionais... obviamente sem proximidade, sem
ternura, nem carinho.
Ignora-se a "revolução da ternura", que provocou a encarnação do
Verbo. Há pastorais posicionadas com tal dose de distância que são incapazes de
conseguir o encontro: encontro com Jesus Cristo, encontro com os irmãos. Este
tipo de pastoral pode, no máximo, prometer uma dimensão de proselitismo, mas
nunca chegam a conseguir inserção nem pertença eclesial. A proximidade cria
comunhão e pertença, dá lugar ao encontro. A proximidade toma forma de diálogo
e cria uma cultura do encontro. Uma pedra de toque para aferir a proximidade e
a capacidade de encontro de uma pastoral é a homilia. A pastoral é, em última
instância, o exercício de maternidade da Igreja. Como são as nossas homilias?
Estão próximas do exemplo de Nosso Senhor, que “falava como quem tem
autoridade”, ou são meramente prescritivas, distantes, abstratas?
d) Quem guia a pastoral, a Missão Continental (seja programática seja
paradigmática), é o bispo. Ele deve guiar, que não é o mesmo que comandar. Além
de assinalar as grandes figuras do episcopado latino-americano que todos nós
conhecemos, gostaria de acrescentar aqui algumas linhas sobre o perfil do
Bispo, que já disse aos Núncios na reunião que tivemos em Roma. Os bispos devem
ser pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão:
pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior
como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade
de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”. Homens que não sejam
ambiciosos e que sejam esposos de uma Igreja sem viver na expectativa de outra.
Homens capazes de vigiar sobre o rebanho que lhes foi confiado e cuidando de
tudo aquilo que o mantém unido: vigiar sobre o seu povo, atento a eventuais
perigos que o ameacem, mas sobretudo para cuidar da esperança: que haja sol e
luz nos corações. Homens capazes de sustentar com amor e paciência os passos de
Deus em seu povo. E o lugar onde o bispo pode estar com o seu povo é triplo: ou
à frente para indicar o caminho, ou no meio para mantê-lo unido e neutralizar
as debandadas, ou então atrás para evitar que alguém se desgarre mas também, e
fundamentalmente, porque o próprio rebanho tem o seu olfato para encontrar
novos caminhos.
Não quero juntar mais detalhes sobre a pessoa do bispo, mas simplesmente
acrescentar, incluindo-me a mim mesmo nesta afirmação, que estamos um pouco
atrasados no que a Conversão Pastoral indica. Convém que nos ajudemos um pouco
mais a dar os passos que o Senhor quer que cumpramos neste “hoje” da América
Latina e do Caribe. E seria bom começar por aqui.
Agradeço-lhes a paciência de me ouvirem. Desculpem a desordem do discurso e
lhes peço, por favor, para tomarmos a sério a nossa vocação de servidores do
povo santo e fiel de Deus, porque é nisso que se exerce e mostra a autoridade:
na capacidade de serviço. Muito obrigado!
28 de julho, Encontro com os voluntários da JMJ (RJ)
Queridos voluntários, boa tarde!
Não podia regressar a Roma sem antes agradecer, de modo pessoal e afetuosos,
a cada um de vocês pelo trabalho e dedicação com que acompanharam, ajudaram,
serviram aos milhões de peregrinos; pelos inúmeros pequenos detalhes que
fizeram desta Jornada Mundial da Juventude uma experiência inesquecível de fé.
Com os sorrisos de cada um de vocês. Com a gentileza, com a disponibilidade ao
serviço, vocês provaram que 'há maior alegria em dar do que em receber'.
O serviço que vocês realizaram nestes dias me lembrou da missão de São João
Batista, que preparou o caminho para Jesus. Cada um, a seu modo, foi
instrumento para que milhares de jovens tivessem o 'caminho preparado' para
encontrar Jesus. E esse é o serviço mais bonito que podemos realizar como
discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam conhecer,
encontrar e amar o Senhor. A vocês, que neste período responderam com tanta
prontidão e generosidade ao chamado para ser voluntários na Jornada Mundial,
queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e com os demais. Não se perde
nada, ao contrário, é a grande a riqueza da vida que se recebe.
Deus chama para escolhas definitivas. Ele tem um projeto para cada um:
descobri-lo, responder à própria vocação significa caminhar na direção jubilosa
de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um
caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma
família através do sacramento do matrimônio. Há quem diga que hoje o casamento
está 'fora de moda'; na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o
importante é 'curtir' o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a
vida, fazer escolhas definitivas 'para sempre', uma vez que não se sabe o que
reserva o amanhã. Em vista disso, eu peço a vocês que sejam revolucionários,
que vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem; que se rebelem
contra essa cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes
de assumir responsabilidades, que não são capazes de amar a verdade. Eu tenho
confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de 'ir contra a
corrente'.
Tenham a coragem de ser felizes!
O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total,
para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os
demais na vida religiosa; nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do
mundo, nos vários setores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente
os mais necessitados. Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – eu tinha 17
anos - quando depois de passar pela igreja de San José de Flores para me
confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo
que Deus lhes pede! Vale a pena dizer 'sim' a Deus. N’Ele está a alegria!
Queridos jovens, talvez alguns de vocês ainda não veja claramente o que
fazer da sua vida. Peça isso ao Senhor; Ele lhe fará entender o caminho. Como
fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o
chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote
Eli, no final respondeu àquela voz: 'Senhor, fala eu escuto'. Peçam vocês
também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?
Caros amigos, novamente lhes agradeço por tudo o fizeram nestes dias. Não se
esqueçam de nada do que vocês viveram aqui! Podem contar sempre com minhas
orações, e sei que posso contar com as orações de vocês.