Na pista da criminalidade
Manoel Hygino
Não mais causam
espanto ou susto, porque as notícias estão inseridas no regular noticiário de
todos os veículos de comunicação. São referentes à onda de violência que
invadiu o Brasil e se propagou pelos estados, pelas favelas – transformadas em
comunidades, pelos conjuntos habitacionais, até mansões e palacetes. Mata-se
muito, contrariando a nossa pretensa tradição de gente pacífica e cordial.
Transformamo-nos ou a eficiência da imprensa é maior do que antes e dissemina
mais amplamente informações sobre as maldades cotidianas?
Há dezenas e dezenas
de especialistas em criminalidade se manifestando sobre causas do fenômeno,
suas consequências sociais e penais, o clima de temor que as pessoas têm na
intimidade do lar ou na simples locomoção pelas ruas, no cumprimento das
jornadas de trabalho, em qualquer atividade e horário. O brasileiro mata e o
brasileiro tem medo. Sua vida pode estar por um fio.
Pelo rádio do táxi,
é ainda manhã, tomo conhecimento dos últimos episódios, os da madrugada, quando
mais vidas foram ceifadas, mais sangue se derramou por motivos fúteis ou
torpes, pelo extremo etílico dos autores (como costumam dizer os soldados da
PM), pela fúria dos namorados ou maridos, diante muitas vezes de fuxicos ou
pela canalhice dos que querem cobrar à bala os débitos contraídos por vítimas
dos usuários de drogas.
Os dados são
horripilantes. Pelo menos 38.436 pessoas foram assassinadas nos nove primeiros
meses deste ano no Brasil – o tempo normal para gestação de uma vida humana. A
cifra, porém, é ainda maior. Maranhão e Paraná não divulgaram os dados
referentes ao nono mês. No entanto, o cômputo contabiliza todos os homicídios
dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidos de morte, que compõem os
chamados crimes violentos letais e intencionais.
Embora muito se
comente sobre a violência no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e do Norte, nas
regiões fronteiriças de Roraima, Paraguai e Bolívia, a verdade é que nenhum
rincão deste país (grande e bobo, como diz o escritor Eduardo Almeida Reis)
escapa do quadro de letalidade. Márcia Alves, diretora de Prevenção Social ao
Crime e à Violência da Secretaria Municipal de Segurança Pública da Prefeitura
da capital, considera que o homicídio é “apenas a consequência final” de um
contexto de desvantagens sociais. O problema é muito maior.
Enquanto isso, a
despeito de esforços do poder público, continuamos matando e morrendo, mais do
que no tempo das diligências no velho Oeste americano. O município quer
expandir a rede de cuidados e proteção para adolescentes vítimas de agressão. É
medida muito correta em consonância com nossa realidade. Mas alguma área deve
também expandir a ação contra os jovens autores de agressão e de violência, de
modo geral.