terça-feira, 31 de janeiro de 2017

CANADÁ NÃO CONCORDA COM AS DECISÕES DE TRUMP SOBRE REFUGIADOS



Canadá oferece residência temporária a refugiados barrados por Trump

Da Radio France Internacionale 






O premiê canadense Justin Trudeau foi um dos líderes internacionais que se manifestou contra a decisão de Trump

 
O Canadá vai oferecer residência temporária às pessoas que ficarem bloqueadas no país devido à recente proibição migratória do presidente americano, Donald Trump, que bloqueou a entrada nos Estados Unidos de viajantes procedentes de sete países de maioria muçulmana, afirmou neste domingo (29) o ministro da Imigração canadense, Ahmed Hussen. As informações são da Radio France Internacionale.
"Quero assegurar às pessoas que estejam bloqueadas no Canadá que vou usar a minha autoridade para conceder-lhes uma autorização de residência temporária, se necessário, como já fizemos no passado", disse o chanceler, durante encontro com a imprensa.
Ele não precisou, durante a coletiva, quantas pessoas ficaram bloqueadas no Canadá depois de Trump suspender, na sexta-feira (27), a entrada nos EUA, durante 120 dias, de refugiados, e o ingresso, por 90 dias, de cidadãos do Irã, Iraque, Síria, Iêmen, Sudão, Somália e Líbia.
Hussen, que é de origem somaliana, informou ainda que os cidadãos dos sete países que sofrem a interdição migratória americana e que possuam um cartão de residente permanente canadense válido, ainda podem entrar nos Estados Unidos. O decreto de Trump se aplica aos cidadãos dos sete países listados que estivessem em trânsito no Canadá. Mais de 35 mil cidadãos canadenses binacionais também possuem a nacionalidade de um desses sete países, afirmou Hussen.
"Para aqueles que estão fugindo da perseguição, do terror e da guerra, saibam que o Canadá os acolherá, independentemente de sua fé", tuitou no sábado (28) o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau. O Canadá afirmou ter recebido garantias de Washington de que os canadenses com dupla nacionalidade não seriam afetados pelo decreto norte-americano.
Trump rebate
O presidente Trump reiterou no domingo (29), após protestos que proliferaram nos EUA e a repercussão de condenações internacionais à medida, que o decreto que proíbe temporariamente a entrada em solo americano de cidadãos dos sete países relacionados não é um veto a muçulmanos.
"Não é uma proibição aos muçulmanos, como a mídia está reportando, de maneira falsa. Não se trata de religião, se trata de terrorismo e de manter nosso país a salvo", afirmou o mandatário, acrescentando que mais de 40 países muçulmanos não foram afetados pela ordem executiva.
"Os Estados Unidos são um país orgulhoso de imigrantes e continuaremos a demonstrar compaixão com aqueles que fogem da opressão, mas faremos isto enquanto protegemos nossos próprios cidadãos e fronteiras. Os Estados Unidos da América sempre foram a terra dos livres e o lar dos bravos", declarou Trump, citando um trecho no hino nacional americano, em comunicado oficial.
Ele afirmou que os sete países atingidos pela medida constavam de uma lista de países utilizada durante o governo de Barack Obama: as pessoas que tivessem visitado estes países nos últimos cinco anos não possuíam o direito de ir aos Estados Unidos sem visto.

ALCATRAZ E ALCAÇUZ DUAS PRISÕES FAMOSAS NOS EUA E NO BRASIL



Dois presídios, muitas histórias

Manoel Hygino 






No princípio, é o verbo, isto é, a palavra. Assim procuro conduzir-me. Quando ocorreu o levante em Alcaçuz, investiguei. Trata-se de uma planta medicinal da família das leguminosas. O vocábulo vem do árabe – ark as sus. Outro vocábulo é alkatraz, também do árabe, alkadruz, o vaso de barro com que se tira água de algum depósito, poço ou cisterna.
De qualquer modo, Alcaçuz e Alcatraz são duas prisões, existentes na América, uma nos Estados Unidos, na região de São Francisco, e a outra no Rio Grande do Norte, em que se registram violências neste agitado janeiro. Tio Sam se sente realizado com Alcatraz, situada na estratégica e minguada ilha do Pacífico, sede de uma das prisões mais seguras do planeta e que inspirou seriados para a tevê, e teve a honra de abrigar nada menos que Al Capone.
Quem se der ao cuidado de pesquisar a história, descobrirá muita coisa interessante naquele monte de terra que brota das águas, a ilha de Alcatraz, permitindo visualizar a bela cidade da costa Oeste. Arsenal dos confederados na sangrenta Guerra de Secessão e prisão militar, Alcatraz é uma fonte imensa de lendas, inclusive da existência de um espaço subterrâneo onde os presos sofriam terríveis torturas. Depois, submetiam-se a um programa de regeneração com uso de trabalho. Mas havia uma séria rotina de restrições, não se lhes permitindo cantar, ouvir rádio e só tomando banho duas vezes por semana.
Desativada em 1963 como presídio, transformou-se em Distrito do Registro Nacional de Lugares Históricos e Marco Histórico Nacional em 1965, um enigmático ponto turístico que conta sobre crimes e repressões de um período da história norte-americana.
No Brasil, mais exatamente em Alcaçuz, em Nísia Floresta, na capital do RN, os atos de violência contra o sistema e entre organizações criminosas se estenderam por onze dias. Vários túneis foram localizados e apreendidos muitos instrumentos usados nos conflitos.
Perspectivas de destinação da área para atividades turísticas, se a prisão for desativada, inexistem. Nas ruas da capital potiguar, a frota de coletivos, reduzida numericamente por incendiários, refletia horas de angústia e perturbava a população trabalhadora.
Alcatraz (Antenor Nascentes identifica o vocábulo no Brasil como identificador de joão grande (Rio de Janeiro), guapirá, ou tesoura, ave da família Fregatidae (fragata aquila), transformou-se em fábula, com ajuda de Hollywood. Durante 29 anos de existência, a prisão federal jamais registrou oficialmente fugas bem sucedidas. Nas tentativas, os presos foram mortos ou se afogaram nas águas da baía de São Francisco.
Nem tudo foi assim. Três fugitivos, Frank Morris e os irmãos John e Clarence Anglin desapareceram de suas celas, em 1962, não se descobrindo o paradeiro. Listados como desaparecidos e possivelmente afogados, inspiraram o filme com Clint Eastwood, Escape from Alcatraz.
Terminando: documentário de canal de televisão, em 2015, revelou novas evidências indicando que os irmãos Anglin sobreviveram e mantiveram contato com a família. E teriam fugido, sabe para onde? Para o Brasil.

A VIDA CONTINUA DEPOIS DAS CRISES



Tempos Incertos

Paulo Haddad 






Iniciamos o ano de 2017 com a economia brasileira em estado simplesmente deplorável. Há inúmeros indicadores macroeconômicos que ilustram essa condição desalentadora da economia.
A taxa de desemprego ampliada, que inclui o desemprego aberto, o subemprego e aqueles que desistiram de procurar emprego, já atinge cerca de 22 milhões de brasileiros. A dívida pública caminha para cerca de R$ 3,5 trilhões, um valor absolutamente impagável no atual contexto e resultante direto e indiretamente dos déficits nominais acumulados no passado e ainda sem solução no presente. O setor público, nos três níveis de governo, se encontra em grande parte insolvente financeiramente e prestando serviços essenciais à população de forma errática, intermitente e de má qualidade.
A experiência histórica mostra que esses problemas são menos difíceis de resolver quando a economia está crescendo, quando há um conjunto de reformas de base em processo de negociação e quando o governo tem legitimidade política junto à opinião pública, desde que conquistada através da eficácia administrativa e através do combate sistemático aos desperdícios e às práticas de corrupção. Trata-se de um campo de observação recorrente e preferencial da opinião pública que ainda está em processo de avaliação ética e política da nova administração federal.
A dívida pública caminha para cerca de R$ 3,5 trilhões, um valor absolutamente impagável no atual contexto
A retomada do processo de crescimento da nossa economia passa, no curto prazo, por três caminhos batidos. Em primeiro lugar, há um amplo espaço para a redução da taxa básica de juros a qual, ao facilitar a expansão da moeda e do crédito, permitirá superar a atual fase da política monetária que convive com uma espécie de agiotagem oficializada. A queda da taxa básica nominal de juros de forma mais acelerada não é nenhuma aventura heterodoxa pois, mesmo que essa taxa caia para um dígito, ainda assim a taxa real de juros ficará em torno de 4%, um valor ainda absurdamente elevado para os padrões internacionais.
O segundo caminho pode vir a ser uma consequência intencional da queda na taxa básica de juros. Trata-se de induzir o sistema financeiro a reestruturar as atuais dívidas das empresas e das famílias para níveis civilizados através de linhas de financiamento que não sejam próximas das práticas de agiotagem. Com suas dívidas reestruturadas, famílias e empresas podem voltar a pensar em reaquecer suas despesas de consumo e de investimentos, ampliando a demanda agregada não inflacionária numa economia dominada pelo excedente de capacidade ociosa de homens e máquinas.
O terceiro caminho é o de mais difícil implementação devido à inércia e à morosidade dos gestores da administração pública federal. Refere-se aos processos de privatizações, de concessões e de parcerias público-privadas, as quais, ao transformarem alguns segmentos da infraestrutura econômica e social do país em áreas de negócios privados, podem estimular intensamente os investimentos ou a formação bruta de capital fixo.
A sinergia dessas três trajetórias que estão ao alcance decisório das autoridades políticas e econômicas do governo federal é capaz de gerar frutos do crescimento econômico ainda no segundo semestre de 2017, desde que implementadas com intensidade estratégica e persistência doutrinária, ainda nesses primeiros meses do ano. A oxigenação da economia abre espaço para que as reformas microeconômicas e macroeconômicas possam ser discutidas num contexto social e político com menos estresse emocional e mais racionalidade técnica.
A maior dificuldade de se promoverem as discussões sobre as reformas tributárias, previdenciária, trabalhista, etc., num contexto de recessão econômica está na percepção da maioria da população que acredita que somente ela terá perdas ao final de mais um capítulo, que somente ela pode ser socialmente marginalizada e que as políticas econômicas somente trazem perdas e danos para sua qualidade de vida.

O QUADRO POLÍTICO DAS ELEIÇÕES DE 2018 SERÁ DE NOVATOS



Homologação de delações Antecipa o ‘fim’ de 2017

Orion Teixeira 






A surpreendente decisão da presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia, de homologar as 77 delações dos dirigentes da Odebrecht pode antecipar o fim do ano que sequer começou. Para o mundo político e forense, encerra-se hoje o período de férias e de calmaria, mas, a partir de agora e dessa decisão, a instabilidade política ressurgirá agravada com aquela sensação de que não haverá o amanhã para boa parte dos mandatários e das lideranças políticas. Os caciques estão ameaçados.
Ainda que o crime delatado seja do tipo caixa dois ou propina, não haverá tempo para distinções ou concessões. A simples citação na delação, mais do que rastro, deixará uma mancha inteira a derrubar reputações. A presidente da Suprema Corte teve o cuidado de, ao validar as delações, de mantê-las em sigilo até que o relator seja escolhido e conhecido, mas dificilmente não haverá vazamentos que carregam consigo algum tipo de condenação prévia, justa ou injusta. Ao manter o ritmo, ou dar mais celeridade, Cármen Lúcia sinaliza que não haverá concessões nem saída.
Com a iminente derrocada do mundo político, crescerá a “boa vontade” de muitos em contar o que sabem, desestabilizando projetos, planos de voo e lideranças do PSDB, PMDB e do PT, entre outros. Até o meio do ano, as investigações contra os poderosos seguirão guiadas pelas delações; no segundo semestre, haverá nova bateria de confissões das empreiteiras Camargo Correa e Queiroz Galvão. Não haverá alternativas para os envolvidos, citados e denunciados. Com isso, 2017 ficará comprometido, antecipando a chegada de 2018, se houver mesmo eleições, apenas com aqueles que sobreviveram ou com nomes não “queimados” pela prática finalmente desmascarada. Será a eleição dos novatos.

No Reino da Dinamarca
Citado nas delações da Odebrecht, o presidente Michel Temer não ficaria impedido de indicar o sucessor de Teori Zavascki, que, pela razão anterior, o julgará?

Alinhamento já
Para minimizar a catástrofe, o governo Temer trabalha fortemente para eleger aliados nos comandos do Senado e da Câmara dos Deputados nesta semana. Sem controle sobre o que virá nas investigações, o alinhamento do Legislativo é fundamental para enfrentar a outra crise, a econômica. São os presidentes que definem a pauta legislativa, o que será votado e quando será. Sem pautas-bomba, o governo Temer poderá ter alguma sobrevida, até porque as delações homologadas poderão sacrificar a carreira de vários ministros e abalar a base aliada.

Lá e cá
A instabilidade que assola o país não é exclusividade só de Brasília. O mundo todo mundo vive esse drama, como confirmaram os franceses no último domingo (29). Os candidatos tradicionais estão perdendo todas as disputas. Depois da desistência da recandidatura por parte do presidente François Hollande (PS) para eleições de março, seu primeiro ministro, Manuel Valls, perdeu a indicação dos socialistas. Até mesmo internamente nos partidos, os ventos de mudanças, seja elas quais forem, vêm com muita intensidade.