domingo, 31 de maio de 2020

GOVERNO E PARLAMENTARES QUEREM CRIAR UM PROGRAMA DE RENDA MÍNIMA DEVIDO COVID-19


Equipe econômica avalia programa de renda mínima
Adriana Fernandes e Camila Turtelli
2 horas atrás 





© Marcello Casal Jr/Agência Brasil - 15/5/2020 Programa social. Equipe do ministro Paulo Guedes tenta influir em debates no Congresso

BRASÍLIA - O aumento da pobreza no País com a covid-19 e a necessidade de garantir uma porta de saída para quem recebe o auxílio emergencial de R$ 600 durante a pandemia colocaram a pauta social no centro da agenda político-econômica do País. Com uma pauta focada até agora no ajuste das contas públicas, privatizações e reforma do Estado, a equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, faz movimentos para não chegar atrasada na discussão que avança no Congresso para a criação de um programa de renda mínima.
No cenário pós-pandemia, a proposta de reforma tributária deve ganhar espaço para abrigar mudanças que permitam bancar o financiamento do novo programa. A expectativa é que os textos já em discussão no Congresso sofram modificações.
Especialistas e parlamentares avaliam que a concessão de uma renda mínima para a população mais pobre pode ser viável, mas terá de passar necessariamente pela reforma tributária e pelo debate da revisão das regras fiscais, inclusive do teto de gastos (regra que impede o crescimento das despesas acima da inflação).
A ideia em discussão no Congresso é ampliar a proteção dada hoje pelo Bolsa Família de 20% para 50% da população, elevando o gasto com o programa de 0,4% para 1% a 1,5% do PIB – desafio ainda maior dado o cenário de crise econômica.
O problema, segundo especialistas, é como passar do auxílio de R$ 600 para um modelo de renda mínima. Uma das ideias é implementar um programa na esteira do auxílio, com um período de transição e redução do valor pago a um montante considerado sustentável pelos cofres públicos – hoje, o benefício médio do Bolsa Família é de R$ 200 mensais.
Para fazer essa transição, o governo tenta emplacar a proposta de remanejamento dos chamados gastos tributários para abrir espaço no teto, com a extinção de programas como abono salarial e seguro-defeso (pago a pescadores artesanais), considerados ineficientes pelo governo.
Enquanto isso, a Câmara se mobiliza para criar uma frente parlamentar em defesa da renda básica. À frente da iniciativa, o deputado João Campos (PSB-PE) estuda uma proposta legislativa para a criação do programa. “Conversei com lideranças, inclusive do Centrão, e acredito que será algo muito próximo de ser executado”, afirmou. “A crise escancarou a necessidade de distribuição de renda no Brasil.”
‘Zona de conforto’
Especialista na área tributária, o economista Rodrigo Orair, do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), adverte que a concessão do benefício de renda mínima é incompatível com as regras atuais. “O benefício não cabe no teto”, diz ele. Por isso, de acordo Orair, essas despesas devem ficar de fora da regra constitucional, como já acontece, em menor escala, nos gastos militares e de meio ambiente.
Para o economista Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), a pandemia empurrou a discussão da reforma da assistência social no Brasil, “Estamos basicamente há 15 anos numa zona de conforto que o Bolsa Família criou e que foi uma grande inovação, mas que não sofre nenhuma alteração desde 2013.”
Ele defende a unificação dos programas sociais e avalia que o custo adicional para a concessão de uma renda mínima é de R$ 265 bilhões, cujo financiamento exigiria mudanças tributárias.
Já o presidente da Rede Brasileira de Renda Básica , Leandro Ferreira, diz que é preciso racionalizar os benefícios sociais com a sua unificação. Ele defende mudanças tributárias e a revisão do abono salarial, mas alerta que a mudança não pode deixar em situação pior os seus beneficiários.

MILITARES BRASILEIROS COM MEDO DE DESGASTE NO GOVERNO


Com 2,9 mil cargos, Forças Armadas temem desgaste
Tânia Monteiro e Adriana Fernandes 


 

© Dida Sampaio / Estadão Generais. Luiz Eduardo Ramos (Governo) e Augusto Heleno (GSI) são representantes no primeiro escalão do governo

BRASÍLIA - As Forças Armadas já preveem que terão uma “enorme” conta para pagar ao fim do mandato do presidente Jair Bolsonaro pela presença de militares na cúpula e na base do governo. Em conversas nos quartéis e gabinetes de Brasília, oficiais admitem que a nova incursão na política, após 35 anos do fim da ditadura militar, trará desgaste à imagem da instituição e temem perder a credibilidade duramente reconquistada por causa do envolvimento com o governo e a perspectiva de seu naufrágio.
O Exército é quem deve ficar com o maior ônus por ter um maior contingente no quadro da máquina pública bolsonarista. Levantamento do Ministério da Defesa, feito a pedido do Estadão, mostra que militares da ativa já ocupam quase 2,9 mil cargos no Executivo. São 1.595 integrantes do Exército, 680 da Marinha e 622 da Força Aérea Brasileira (FAB).
Destes, 42% estão empregados na estrutura da Presidência, especialmente no Gabinete de Segurança Militar, um órgão que foi reforçado no atual governo. Três oficiais ocupam o primeiro escalão: Walter Braga Netto (Casa Civil), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). O incômodo com uma possível cobrança ocorre diante da constatação de que o pessoal da ativa nas Forças Armadas está não apenas em cargos estratégicos, mas em postos comissionados. São vagas de Direção e Assessoramento Superior, os DAS, com vencimentos que vão de R$ 2.701 a R$16.944 por mês.
Na prática, seja qual for o governo, sempre haverá desgaste para quem participar dele. No caso da gestão Bolsonaro há um adicional. É um governo que vive em crise constante e são frequentes as cobranças para que os oficiais se manifestem sobre todos os atos polêmicos do presidente, como participar de manifestações antidemocráticas. O que tem exigido do ministro da Defesa, Fernando Azevedo, divulgar notas para reafirmar o compromisso constitucional das Forças com a democracia.
Na última semana, o ministro Luiz Eduardo Ramos, que é general da ativa, se viu obrigado a dar explicações a seus colegas de turma da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) após o Estadão revelar que ele tem oferecido cargos ao Centrão, bloco fisiológico de partidos, em troca de apoio ao governo no Congresso. “É pelo respeito que tenho ao meu Exército que estou divulgando essa mensagem”, disse, ressaltando não ser “político” e estar cumprindo uma “missão”. O ministro já havia causado desconforto ao usar farda numa solenidade, ao lado do presidente, em 30 de abril, no Comando Militar do Sul, em Porto Alegre.
Até mesmo a fama de bons gestores dos militares é colocada em xeque. Chocou ministros do Supremo o fato de nenhum dos generais presentes já na famosa reunião de Bolsonaro com sua equipe ter pedido moderação aos seus colegas que atacaram outros poderes com palavras de baixo calão. Um ministro ouvido pelo Estadão observou que os generais, no mínimo, não deveriam ter permitido a gravação do encontro.
A presença dos militares no Ministério da Saúde também causa preocupação. Eles tomaram conta da pasta no momento em que o novo coronavírus avança e dois médicos civis pediram demissão por discordarem da orientação do presidente na condução da crise, o que o atual cumpre à risca.
Especializado em logística, Pazuello já nomeou 20 militares e pretende chamar mais 37, no mínimo por três meses. A militarização também avançou para postos que requerem experiência específica. Na quarta-feira, por exemplo, o coronel do Exército Luiz Otávio Franco Duarte foi nomeado secretário de Atenção Especializada, responsável por habilitar leitos de UTI e distribuir recursos para Estados e prefeituras.
Marinha
Mesmo com menos pessoal no governo, a Marinha já espera uma cobrança por sua atuação na gestão Bolsonaro. A presença do almirante Flávio Rocha, recém-promovido a quatro estrelas, no Palácio do Planalto preocupa a instituição. Rochinha, como é chamado no meio, tem recebido diferentes missões do presidente, como contornar a crise na Secretaria da Cultura. O outro almirante é Bento Albuquerque, que comanda Minas e Energia.
De todas as forças, a Aeronáutica é, até agora, a mais preservada de eventuais desgastes. Apesar de ser tenente-coronel da reserva no comando do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes não foi escolhido por ser da FAB.
Na avaliação do cientista político e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Pereira, “é natural” que Bolsonaro “vá buscar apoio no setor onde dispõe de maior confiança”. Pereira alertou, porém, que as Forças Armadas correm risco muito grande ao embarcar, com essa proporção, em um governo. “As Forças Armadas demoraram muito tempo para limpar seu nome e cumprir seu papel constitucional. Agora, correm o risco de se comprometer mais uma vez”, afirmou o cientista político e colunista do Estadão. / COLABORARAM MATEUS VARGAS e FELIPE FRAZÃO

STM CONDECORA AUTORIDADES

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