Escravidão moderna atinge
45,8 milhões de pessoas no mundo
Andreia Verdélio
Da Agência Brasil
Da Agência Brasil
Segundo o documento, 58% dessas pessoas vivem em
apenas cinco países: Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão
Cerca de 45,8 milhões de pessoas em todo o mundo estão sujeitas a alguma
forma de escravidão moderna. A estimativa é do relatório Índice de Escravidão
Global 2016, da Fundação Walk Free, divulgado nesta terça-feira (30).
Segundo o documento, 58% dessas pessoas vivem em apenas cinco países:
Índia, China, Paquistão, Bangladesh e Uzbequistão. Já os países com a maior
proporção de população em condições de escravidão são a Coreia do Norte, o
Uzbequistão, o Camboja e a Índia. De acordo com a Walk Free, o Brasil
tem 161,1 mil pessoas submetidas à escravidão moderna - em 2014, eram 155,3
mil.
A escravidão moderna ocorre quando uma pessoa controla a outra, de tal
forma que retire dela sua liberdade individual, com a intenção de explorá-la.
Entre as formas de escravidão estão o tráfico de pessoas, o trabalho infantil,
a exploração sexual, o recrutamento de pessoas para conflitos armados e o
trabalho forçado em condições degradantes, com extensas jornadas, sob coerção,
violência, ameaça ou dívida fraudulenta.
Embora seja difícil verificar as informações sobre a Coreia do Norte, as
evidências são de que os cidadãos são submetidos a sanções de trabalho forçado
pelo próprio Estado. No Uzbequistão, apesar de algumas medidas de combate à
escravidão na indústria do algodão, o governo ainda força o trabalho na
colheita do algodão.
No Camboja, há prevalência de exploração sexual e mendicância forçada e
os dados do relatório destacam a existência de escravidão moderna na indústria,
agricultura, construção e no trabalho doméstico. Já na Índia, onde 18,3 milhões
de pessoas estão em condição de escravidão, apesar dos esforços do governo em
lidar com a vulnerabilidade social, as pesquisas apontam que o trabalho
doméstico, na construção, agricultura, pesca, trabalhos manuais e indústria do
sexo ainda são preocupantes.
No último relatório, de 2014, cerca de 35,8 milhões de pessoas viviam
nessa situação.
Escravidão no Brasil e nas Américas
Segundo a Walk Free, o Brasil tem 161,1 mil pessoas submetidas
à escravidão moderna - em 2014, eram 155,3 mil. Apesar do aumento, a fundação
considera uma prevalência baixa de trabalho escravo no Brasil, com uma
incidência em 0,078% da população.
O relatório aponta que a exploração no Brasil geralmente é mais
concentrada nas áreas rurais, especialmente em regiões de cerrado e na
Amazônia. Em 2015, 936 trabalhadores foram resgatados da condição de escravidão
no país, em sua maioria homens entre 15 e 39 anos, com baixo nível de
escolaridade e que migraram dentro do país buscando melhores condições de vida.
Nas Américas, pouco mais de 2 milhões de pessoas são vítimas de trabalho
escravo, mais identificados na Guatemala, no México, no Chile, na República
Dominicana e na Bolívia. Os resultados da Walk Free sugerem que
os setores de trabalho manuais, como a construção, os trabalhos em fábricas e
domésticos são os que concentram mais escravos modernos nas Américas.
O país com maior número de pessoas submetidas à escravidão é o México,
com 376,8 mil. Os governos com melhores respostas no combate a esse crime são
os Estados Unidos, a Argentina, o Canadá e o Brasil.
O relatório completo da Walk Free está disponível na internet.
Escravidão moderna
Segundo a Walk Free, a escravidão moderna é um crime oculto que afeta
todos os países e tem impacto na vida das pessoas que consomem produtos feitos
a partir do trabalho escravo. Por isso, é preciso o envolvimento dos governos,
da sociedade civil, do setor privado e da comunidade para proteção da população
vulnerável.
Segundo a fundação, quase todos os países se comprometeram a erradicar a
escravidão moderna por meio de suas legislações e políticas. Os governos que
mais respondem no combate ao trabalho forçado são aqueles com Produto Interno
Bruto (PIB) mais elevado como a Holanda, os Estados Unidos, o Reino Unido, a
Suécia e a Austrália. As Filipinas, a Geórgia, o Brasil, a Jamaica e a Albânia
estão fazendo grandes esforços, apesar de ter relativamente menos recursos do
que países mais ricos, segundo a Walk Free.
No prefácio do relatório ao qual a reportagem da Agência Brasil teve
acesso, o fundador e presidente da Walk Free, Andrew Forresto, diz que o Brasil
foi um dos países pioneiros na divulgação de uma lista de empresas nacionais
multadas na Justiça pela utilização de trabalho forçado. Uma liminar impedia a
publicação da chamada Lista Suja do Trabalho Escravo desde dezembro de 2014. Na
semana passada, entretanto, o Supremo liberou a divulgação dos nomes das
empresas autuadas.
Os governos que menos fazem para conter a escravidão moderna, segundo o
relatório, são a Coreia do Norte, o Irã, a Eritreia, a Guiné Equatorial e Hong
Kong.
Na avaliação da entidade, levando-se em conta o Produto Interno Bruto
(PIB) e a riqueza relativa do país, Hong Kong, Catar, Singapura, Arábia Saudita
e Bahrein poderiam fazer mais para resolver problemas de escravidão moderna
dentro de suas fronteiras.
Segundo a Walk Free, muitos países, incluindo as nações mais ricas,
continuam resgatando vítimas, enquanto muitos não conseguem garantir proteções
significativas para os trabalhadores mais vulneráveis.
A pobreza e a falta de oportunidades são fatores determinantes para o
aumento da vulnerabilidade à escravidão moderna. Os estudos também apontam para
desigualdades sociais e estruturais mais profundas para que a exploração
persista - a xenofobia, o patriarcado, as classes e castas, e as normas de
gênero discriminatórias.