sábado, 19 de setembro de 2015

CLEPTOCRACIA E CAIXA 2





Orion Teixeira




O Supremo Tribunal Federal (STF) colocou, nesta semana, uma pá de cal sobre o assunto financiamento privado de campanha eleitoral, que, historicamente, opôs esquerda e direita no debate ideológico e político e acabou por uni-los na prática e no pragmatismo eleitoral. Não será mais possível fazer, legal e publicamente, doação de empresas para candidatos e partidos políticos.

O assunto pode ser dado como encerrado ainda que falte uma posição oficial da presidente Dilma Rousseff (PT) ao projeto de lei aprovado pela Câmara dos Deputados na semana passada, permitindo o dinheiro privado, e uma eventual votação do Senado à emenda constitucional legalizando a prática.

Por razões partidárias, e até de bom senso, Dilma deverá vetar a proposta para não contrariar a sentença do STF, mesmo que sua decisão confronte a do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), inimigo político que tem como estratégia a retaliação. Cunha foi um dos poucos políticos, com meios de poder, que pôs a cara a tapa em defesa do mecanismo privado. Como ele, apenas três ministros do Supremo, sem razões políticas aparentes, apoiaram a medida contra a maioria dos outros oito, que consideraram a prática interferência nociva à legitimidade democrática do voto.

O mesmo Senado, que rejeitou o financiamento privado há 15 dias, deverá manter a posição caso a emenda constitucional seja colocada em pauta, especialmente depois da proibição judicial. Como previmos aqui, no dia 4 último, a soma de omissão com desentendimento entre Câmara dos Deputados e Senado, enfim, da classe política, provocou mais uma vez a judicialização da política e da eleição. Ou seja, na falta deles, o STF decidiu que a prática é inconstitucional e assunto encerrado.

Na verdade, acabou de começar. O STF não poderá deixar dúvidas pelo caminho. Quando tomou a decisão, não havia uma lei disponível sobre o assunto. Faltam, então, regras, que devem ser baixadas pelo STF, ou pelo Tribunal Superior Eleitoral, por meio de resolução, para definir como será o financiamento das campanhas, o que pode e não pode. Com certeza, o Congresso Nacional não encontrará tempo nem vontade política para fazê-lo, já que a legislação eleitoral deverá se adequar à decisão do STF sobre doação empresarial. O prazo do Congresso é o dia 5 de outubro próximo, um ano antes da eleição; o do Judiciário é mais flexível, a partir do semestre que vem.


De olho no caixa dois
A rigor, sem preconceitos, é preciso considerar que a doação empresarial tem sido a manifestação pública, mesmo que tolerada legalmente, da influência direta e abuso do poder econômico na política e, por consequência, na administração pública. Uma vez ilegal, se não houver regras rigorosas e claríssimas, acompanhadas de fiscalização igualmente escrupulosa, o dinheiro privado vai buscar meios de agir de maneira sorrateira. Em resumo, é preciso fechar as comportas ao caixa dois.


Dinheiro vai sumir
Por outro lado, a proibição do STF mais a grave crise econômica e os riscos de envolvimento com a corrupção, tudo somado, irão provocar o sumiço do dinheiro para a maioria dos candidatos, que, em tese, teria poucas chances de ser eleita.

Ministro Gilmar Mendes diz que PT criou "modelo de governança corrupta"
Estadão Conteúdo



Agência Brasil




                                                   Ministro do STF, Gilmar Mendes

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), afirmou que o PT deveria fazer "um combate à corrupção" e "varrer a roubalheira" que o partido instalou no país. Mendes acusou os petistas de terem instalado uma "cleptocracia" (Estado governado por ladrões) no Brasil.

As declarações do ministro foram dadas após ele participar de uma mesa de debate do Grupo de Estudos Tributários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo Mendes, "na verdade, o que se instalou no país nesses últimos anos e está sendo revelado na Operação "Lava Jato" é um modelo de governança corrupta, algo que merece o nome claro de cleptocracia".

Ao ser indagado se tem medo de ser processado pelo PT por causa de seu voto durante julgamento do STF, que por oito votos a três barrou as doações de empresas nas eleições, o ministro disse: "seria bom que eles processassem todas essas estruturas que eles montaram."

Mendes votou pela manutenção do atual modelo de financiamento político, que permite a doação de empresas partidos e candidatos  Mendes atribui ao PT o atual cenário de crises. "Estamos neste caos por conta desse método de governança corrupta. Temos hoje como método de governança um modelo cleptocrata", disse.

O ministro afirma ainda que as investigações da Operação "Lava Jato" demonstraram que os petistas também utilizaram desvios de dinheiro para benefício próprio. Segundo ele, há sinais de enriquecimentos ilícitos. Como exemplo, ele citou a compra de obras de arte por envolvidos no esquema de corrupção da Petrobras. "Veja, não roubam para o partido, não roubam só para o partido, é o que está se revelando, roubam para comprar quadros", disse.

Seletividade

O advogado Marco Aurélio Carvalho, coordenador do setorial jurídico do PT, respondeu a Mendes em nome do partido: "O ministro deveria explicar por que a indignação dele é seletiva, já que até hoje ele não se manifestou sobre os escândalos envolvendo outros partidos", afirmou. " Se ele quiser fazer disputa política, será bem vindo, desde que se filie a um partido e respeite a liturgia do cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal".

O PT avalia entrar com uma ação judicial contra Mendes devido a declarações feitas por ele contra o partido durante o julgamento do plenário do STF sobre financiamento de campanha, na última quarta-feira. Em sustentação de quase cinco horas, o ministro argumentou haver uma tentativa, por parte da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), em parceria com o PT, de promover uma reforma política pela via judicial, com o objetivo de garantir a manutenção do partido no poder por meio da "asfixia" da oposição.

Em nota, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirmou que "a série de impropérios assacada por Mendes durante as longas horas que durou seu voto ofende até os demais ministros da Suprema Corte". "Infelizmente, esses destemperos anti-PT têm se tornado usuais nas falas do ministro, tanto na sessões do STF quanto nas entrevistas aos mais diversos meios de comunicação. O desvario do ministro estendeu-se até o ponto de vislumbrar uma conspiração da OAB em conluio com o PT para proscrever o financiamento empresarial", afirmou Falcão em comunicado divulgado pelo PT.


sexta-feira, 18 de setembro de 2015

PROIBIÇÃO DE DOAÇÃO DE CAMPANHA POLÍTICA POR EMPRESAS



Membro da Lava Jato comemora proibição de doação por empresa

O coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol disse, nesta sexta-feira, ver com bons olhos a decisão do Supremo Tribunal Federal de vetar a doação de empresas a campanhas eleitorais. Para ele, a restrição às doações empresariais “é uma condição necessária, mas não suficiente para se reformular o sistema político brasileiro”. É preciso, também, diminuir o custo das eleições, diz.



                       Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Operação Lava Jato.
Foto: Divulgação
 
“Não tenho dúvida de que o sistema precisa mudar. O sistema não é sadio. Poucos são responsáveis pela maior parte do financiamento das campanhas políticas, fazendo com que os eleitos tenham uma função principal durante seu mandato: deixar felizes seus financiadores. Assim, eles passam a atuar em interesse desses poucos financiadores, deixando em segundo plano o interesse público”, declarou o procurador.
Para ele, a evidência de que o financiamento de grandes empresas não é exercício de cidadania é o fato de que as mesmas empresas financiam todos os concorrentes. “Não há opção política, mas uma estratégia de negócios da empresa, que quer ser beneficiada independente de quem esteja no poder”, declarou.
O procurador lembrou que o financiamento de campanhas está diretamente ligado a praticamente todas as denúncias já feitas pelo Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato. “Já denunciamos corrupção na Petrobras, na Eletronuclear, na Caixa Econômica Federal e estamos investigando o Ministério do Planejamento. Em todos os casos, há duas situações comuns: as indicações políticas para os cargos a e relação com as despesas de campanha”, disse.
Lembrando de casos como o que levou o ex-governador do Mato Grosso Silval Barbosa à prisão e as investigações de corrupção na Receita Estadual do Paraná, ambos também com ligação a doações de campanha, o procurador disse que, se o sistema penal brasileiro for reformulado conforme pede o projeto de iniciativa popular de 10 Medidas contra a Corrupção, encabeçado pelo MPF, “teremos Lava Jatos em todos os estados da federação”.
“O que as pesquisas sobre corrupção no Brasil nos mostram é que a corrupção é endêmica, sistemática. Não existe só em um governo ou um partido. O que vemos agora demonstrado na área federal, provavelmente existe em vários estados e na maior parte dos municípios”, diz. “A Lava Jato conseguiu evoluir em largos passos em razão das colaborações premiadas. Elas não são jamais ponto de chegadas, mas são um ótimo ponto de partida para as investigações. Mas a pessoa só faz acordo de colaboração premiada, quando não tem a opção da impunidade. O problema é que vivemos em um sistema de Justiça penal disfuncional em que a alternativa do réu é a impunidade. A partir do momento que tivermos um sistema funcional, vários réus vão procurar a colaboração. Hoje, nós vivemos na Disneylândia para os criminosos do colarinho branco”, concluiu.

ESSA CONTA NÃO É NOSSA


O QUE É BOM PARA OS EUA NÃO É BOM PARA O BRASIL



  

José Antônio Bicalho


Já tinha dito na coluna de segunda-feira (pode ser lida no portal do Hoje em Dia) que a elevação dos juros nos Estados Unidos seria pior para o Brasil do que o rebaixamento da nota de classificação do país pela agência Standard & Poor’s. Pois, nesta quinta-feira, o Federal Reserve (o Banco Central americano) anunciou a decisão de manter as taxas de juros próximas de zero (entre zero e 0,25%) por mais algum tempo. Um alívio para Dilma, Levy e todos nós. Mas é alívio passageiro.

Com a economia americana dando sinais firmes de recuperação, mais cedo ou mais tarde a inflação tenderá a subir (a meta americana é de 2%), abrindo espaço para o início da alta dos juros. Quando isso acontecer, teremos uma natural migração do capital internacional investido no Brasil para os títulos do tesouro americano (principalmente por parte dos fundos de pensão e outros investidores igualmente conservadores), o que pressionará o câmbio e provavelmente obrigará o Banco Central a manter ou até aumentar a Selic (a taxa de juro básico), hoje em inacreditáveis 14,25%.

Ainda estão previstas mais duas reuniões do Comitê Federal de Política Monetária (Fomc) do Fed para este ano, uma em outubro e outra em dezembro. Serão aguardadas com grande expectativa no Brasil, já que os sinais até agora foram dúbios sobre quando os juros começaram a subir. A ata da reunião desta quinta-feira, que sairá na próxima semana, poderá trazer informações mais claras.

Para nós, uma alta dos juros americanos, mesmo que tímida, poderia ser desastrosa. Diante da desaceleração da atividade econômica, do aumento do desemprego, da inflação ainda alta e do câmbio descontrolado, uma fuga de capitais neste momento configuraria o pior dos mundos.

Exemplo

Os juros nos Estados Unidos estão próximos de zero desde 2008, quando estourou a crise do subprime, a mais profunda experimentada pelo país e pelo mundo desde a grande depressão de 1929. E a maneira como o governo americano e o Fed geriram a crise, minimizando seus efeitos e buscando uma saída para o crescimento, deveria ser um exemplo a ser seguido pelo Brasil. Mas a atual equipe econômica prefere se espelhar na política contracionista de uma Europa que não sai da crise.

Já são longos sete anos de juro próximo de zero nos EUA, o que é um incentivo ao consumo e ao investimento na produção. Já no Brasil, o juro básico de 14,25%, o maior do mundo, inibe o crédito e os investimentos. Nos EUA, o governo irrigou a economia com recompra de títulos públicos e crédito subsidiado para setores estruturantes, principalmente a construção civil, que esteve no centro da crise. Por aqui, o pacotaço de segunda-feira propôs enxugar novos R$ 65 bilhões da economia.

Não parece óbvio que o caminho trilhado pelos EUA é o mais acertado?

CLASSE MÉDIA PAGA O PATO





Eduardo Costa


Foi mais uma semana difícil nesta crise que não é só econômica e nem apenas combinada com a política. É também de confiança – ou de falta desta – é de prostração, vitaminada por frustração e, convenhamos, também de caráter. Quando a Dilma chamou os governadores para falar de impostos, imaginamos que pediriam a ela para ter juízo... Aprovaram a inacreditável ideia de nova CPMF desde que, claro, venha um pouco a mais para eles também...

Lembrei-me que minha colega Camila Dias enviou-me trecho do diálogo da peça teatral “Le Diable Rouge”, de Antoine Rault, escrito 400 anos atrás. Vejam como é atual:

Colbert: Para arranjar dinheiro, há um momento em que enganar o contribuinte já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é possível continuar a gastar quando já se está endividado até o pescoço…

Mazarino: Um simples mortal, claro, quando está coberto de dívidas e não consegue honrá-las, vai parar na prisão. Mas o Estado é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se… Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah, sim? Mas como faremos isso, se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criando outros.

Colbert:Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E sobre os ricos?

Mazarino: E os ricos também não. Eles parariam de gastar. E um rico que gasta faz viver centenas de pobres.

Colbert:Então, como faremos?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, um penico de doente! Há uma quantidade enorme de pessoas entre os ricos e os pobres: as que trabalham sonhando enriquecer e temendo empobrecer. É sobre essas que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Quanto mais lhes tirarmos, mais elas trabalharão para compensar o que lhes tiramos. Formam um reservatório inesgotável. É a classe média!

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...