sexta-feira, 18 de setembro de 2015

O QUE É BOM PARA OS EUA NÃO É BOM PARA O BRASIL



  

José Antônio Bicalho


Já tinha dito na coluna de segunda-feira (pode ser lida no portal do Hoje em Dia) que a elevação dos juros nos Estados Unidos seria pior para o Brasil do que o rebaixamento da nota de classificação do país pela agência Standard & Poor’s. Pois, nesta quinta-feira, o Federal Reserve (o Banco Central americano) anunciou a decisão de manter as taxas de juros próximas de zero (entre zero e 0,25%) por mais algum tempo. Um alívio para Dilma, Levy e todos nós. Mas é alívio passageiro.

Com a economia americana dando sinais firmes de recuperação, mais cedo ou mais tarde a inflação tenderá a subir (a meta americana é de 2%), abrindo espaço para o início da alta dos juros. Quando isso acontecer, teremos uma natural migração do capital internacional investido no Brasil para os títulos do tesouro americano (principalmente por parte dos fundos de pensão e outros investidores igualmente conservadores), o que pressionará o câmbio e provavelmente obrigará o Banco Central a manter ou até aumentar a Selic (a taxa de juro básico), hoje em inacreditáveis 14,25%.

Ainda estão previstas mais duas reuniões do Comitê Federal de Política Monetária (Fomc) do Fed para este ano, uma em outubro e outra em dezembro. Serão aguardadas com grande expectativa no Brasil, já que os sinais até agora foram dúbios sobre quando os juros começaram a subir. A ata da reunião desta quinta-feira, que sairá na próxima semana, poderá trazer informações mais claras.

Para nós, uma alta dos juros americanos, mesmo que tímida, poderia ser desastrosa. Diante da desaceleração da atividade econômica, do aumento do desemprego, da inflação ainda alta e do câmbio descontrolado, uma fuga de capitais neste momento configuraria o pior dos mundos.

Exemplo

Os juros nos Estados Unidos estão próximos de zero desde 2008, quando estourou a crise do subprime, a mais profunda experimentada pelo país e pelo mundo desde a grande depressão de 1929. E a maneira como o governo americano e o Fed geriram a crise, minimizando seus efeitos e buscando uma saída para o crescimento, deveria ser um exemplo a ser seguido pelo Brasil. Mas a atual equipe econômica prefere se espelhar na política contracionista de uma Europa que não sai da crise.

Já são longos sete anos de juro próximo de zero nos EUA, o que é um incentivo ao consumo e ao investimento na produção. Já no Brasil, o juro básico de 14,25%, o maior do mundo, inibe o crédito e os investimentos. Nos EUA, o governo irrigou a economia com recompra de títulos públicos e crédito subsidiado para setores estruturantes, principalmente a construção civil, que esteve no centro da crise. Por aqui, o pacotaço de segunda-feira propôs enxugar novos R$ 65 bilhões da economia.

Não parece óbvio que o caminho trilhado pelos EUA é o mais acertado?

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