José Antônio Bicalho
Já tinha dito na coluna de
segunda-feira (pode ser lida no portal do Hoje em Dia) que a elevação dos juros
nos Estados Unidos seria pior para o Brasil do que o rebaixamento da nota de
classificação do país pela agência Standard & Poor’s. Pois, nesta
quinta-feira, o Federal Reserve (o Banco Central americano) anunciou a decisão
de manter as taxas de juros próximas de zero (entre zero e 0,25%) por mais
algum tempo. Um alívio para Dilma, Levy e todos nós. Mas é alívio passageiro.
Com a economia americana dando sinais
firmes de recuperação, mais cedo ou mais tarde a inflação tenderá a subir (a
meta americana é de 2%), abrindo espaço para o início da alta dos juros. Quando
isso acontecer, teremos uma natural migração do capital internacional investido
no Brasil para os títulos do tesouro americano (principalmente por parte dos fundos
de pensão e outros investidores igualmente conservadores), o que pressionará o
câmbio e provavelmente obrigará o Banco Central a manter ou até aumentar a
Selic (a taxa de juro básico), hoje em inacreditáveis 14,25%.
Ainda estão previstas mais duas reuniões
do Comitê Federal de Política Monetária (Fomc) do Fed para este ano, uma em
outubro e outra em dezembro. Serão aguardadas com grande expectativa no Brasil,
já que os sinais até agora foram dúbios sobre quando os juros começaram a
subir. A ata da reunião desta quinta-feira, que sairá na próxima semana, poderá
trazer informações mais claras.
Para nós, uma alta dos juros
americanos, mesmo que tímida, poderia ser desastrosa. Diante da desaceleração
da atividade econômica, do aumento do desemprego, da inflação ainda alta e do
câmbio descontrolado, uma fuga de capitais neste momento configuraria o pior
dos mundos.
Exemplo
Os juros nos Estados Unidos estão
próximos de zero desde 2008, quando estourou a crise do subprime, a mais
profunda experimentada pelo país e pelo mundo desde a grande depressão de 1929.
E a maneira como o governo americano e o Fed geriram a crise, minimizando seus
efeitos e buscando uma saída para o crescimento, deveria ser um exemplo a ser
seguido pelo Brasil. Mas a atual equipe econômica prefere se espelhar na
política contracionista de uma Europa que não sai da crise.
Já são longos sete anos de juro
próximo de zero nos EUA, o que é um incentivo ao consumo e ao investimento na
produção. Já no Brasil, o juro básico de 14,25%, o maior do mundo, inibe o
crédito e os investimentos. Nos EUA, o governo irrigou a economia com recompra
de títulos públicos e crédito subsidiado para setores estruturantes,
principalmente a construção civil, que esteve no centro da crise. Por aqui, o
pacotaço de segunda-feira propôs enxugar novos R$ 65 bilhões da economia.
Não parece óbvio que o caminho
trilhado pelos EUA é o mais acertado?



