terça-feira, 29 de maio de 2018

CAMINHONEIROS EM GREVE PEDEM INTERVENÇÃO MILITAR NO GOVERNO


Mesmo com acordo, caminhoneiros permanecem em estradas por intervenção militar

Evaldo Magalhães









Ao longo dos bloqueios, são comuns caminhões pintados com pedidos de intervenção militar


Mesmo com o anúncio do governo federal de que todas as reivindicações dos caminhoneiros haviam sido atendidas, o movimento grevista da categoria seguiu forte, ontem, em todo o país e em Minas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, no Estado, de 64 trechos de manifestações registrados em rodovias no sábado à noite, apenas cinco haviam sido totalmente dispersados, ontem à tarde, depois do acordo firmado entre ministros e representantes dos motoristas.
Em grupos do aplicativo Whatsapp mantidos pelos caminhoneiros – apontados como plataforma principal de organização da greve –, era crescente o número de menções e defesas a uma intervenção militar no Brasil para que pusessem fim ao movimento.
O presidente do Sindicato da União dos Caminhoneiros do Brasil, entidade sediada em Minas Gerais, José Natan, informou que, embora não tenha participado da mobilização para a greve, tinha conhecimento de que “questões políticas” estariam impedindo o término da paralisação.
Segundo Natan, que foi líder de movimento semelhante em 1999 e encontrava-se, ontem, em Brasília, acompanhando de perto as negociações entre a classe e o governo, “de cinco a seis mil caminhoneiros” envolvidos na greve deste ano “são candidatos a algum cargo no Legislativo, nas eleições de outubro”.
“O governo atendeu muita coisa que estava sendo pedida, mas o mais importante, que é o alívio para o bolso dos caminhoneiros, com a real elevação do valor do frete, ele não deu resposta satisfatória”, disse Natan. “Além disso, estamos em um processo político perigoso no país, com Lula preso e muitos companheiros falando na volta dos militares, o que complica ainda mais a situação”, acrescentou.
Um caminhoneiro, que preferiu não se identificar e está retido na BR-381, disse que são fortes os discursos dos colegas pela intervenção militar. Ele conta que tentou sair do bloqueio, com o anúncio do acordo com o governo federal. “Mas eles falaram que iam jogar pedras no caminhão”, relata.

Boatos
Durante o dia, ontem, circularam nas redes sociais mensagens dando conta de que a intervenção militar pedida por parte dos caminhoneiros – e também por meio de pequenas manifestações em algumas cidades, inclusive Belo Horizonte – já estaria em curso.
Tropas do Exército estariam se movimentando na Zona da Mata mineira, dando início à suposta estratégia de tomada do poder pelos militares. Procurado pela reportagem, o porta-voz do Comando Militar do Leste, responsável pela corporação na Região Sudeste do país, coronel Carlos Cinelli, desmentiu a informação e disse tratar-se “apenas de um boato”.
“Posso garantir que não há nada relacionado a uma intervenção militar, como a que estamos fazendo no Rio de Janeiro, em razão dos problemas de segurança pública. No caso da greve dos caminhoneiros, as Forças Armadas estão movimentando contingentes e veículos no sentido de cumprir o decreto presidencial de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e assegurar o fluxo de cargas, principalmente de combustíveis, em todos os estados onde há desabastecimento”, completou.
De acordo com o coronel, o decreto de GLO autoriza três tipos de ações dos militares, durante a greve. “Nossa função é desobstruir vias, conduzir e escoltar caminhões até seus destinos com cargas consideradas prioritárias, mesmo que os motoristas dos veículos não queiram fazer isso. Mas não é nada de anormal, somente uma situação visando ao restabelecimento da ordem nesses casos”, ressaltou. O oficial admitiu, porém, que a chegada de tropas a áreas de concentração de caminhoneiros grevistas tem sido “ovacionada por alguns manifestantes e populares”.

 ALÉM DISSO
Não bastasse o impacto direto na vida das pessoas, com a falta de combustíveis e de outros produtos e serviços, o clima de incerteza gerado pela paralisação dos caminhoneiros pode ter sérias consequências políticas e econômicas. É o que pensam especialistas. No campo político, além do crescimento de manifestações em defesa de intervenção militar, há a previsão de repercussões na campanha eleitoral deste ano.
Para o cientista político Malco Camargo, saem perdendo, por enquanto, o MDB, do presidente Temer, e o PSDB, na medida em que o presidente da Petrobras, o tucano Pedro Parente, foi o idealizador e executor da nova política de preços da estatal, apontada como centelha da greve dos motoristas.
“Quem ganha, no momento, são os candidatos antissistema, principalmente Jair Bolsonaro”, diz. No aspecto econômico, a tendência é a de que a greve provoque múltiplos estragos. “Esse caos não apenas atrasa a trajetória de crescimento, como é um sinalizador muito ruim para quem precisa atrair investimentos, como é o caso do Brasil”, afirma o coordenador do curso de economia do IBMEC/MG, Márcio Salvato.

Postos são reabastecidos, mas venda ao consumidor é limitada
Mesmo com o reabastecimento parcial de 32 postos de combustível na capital mineira, após a Polícia Militar (PM) escoltar os caminhões-tanque pela cidade na tarde de ontem, a determinação do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em limitar a compra de combustíveis a R$ 100 por pessoa gerou muita confusão nos postos — e não chegou a ser cumprida à risca por quem encarou longas filas para abastecer.
Ontem, além de cercear o gasto do consumidor com combustível, o Comitê de Crise Estadual determinou a proibição da venda de gasolina em galões, após reunião entre a PM, o Minaspetro, representantes de companhias distribuidoras e da Associação Nacional do Petróleo (ANP), além de membros do Procon Estadual e do Ministério Público.

Abastecimento
Apesar disso, no Posto Itapoã, no cruzamento das avenidas Francisco Sá e Amazonas, no bairro Gutierrez, muitos motoristas conseguiram encher até dez galões, totalizando 50 litros de gasolina vendida a R$ 4,799 o litro.
“Eu ia fazer o que? Cada dia que a gente acorda, não sabe se vai ter gasolina. Eu sou motoboy, precisava de mais gasolina porque estou há dois dias sem trabalhar. Enchi logo cinco galões”, disse Wellington Cruz, de 29 anos.
Mesmo com a proibição, o gerente do Posto Itapoã, Saulo Alves, chegou a permitir a venda de gasolina em galões, mas apenas para as pessoas que estivessem de carro. “Não vamos deixar pessoas sem carro abastecerem. Se chegar só com o galão na mão, não abastece, porque senão a gasolina acaba rápido demais. Infelizmente, alguns não vão conseguir abastecer e sairão frustrados”, disse.
Uma frustração que a auxiliar administrativo Cátia Xavier, de 34 anos, foi obrigada a aguentar, após passar três horas na fila e descobrir que não poderia encher dois galões de gasolina por estar a pé.
“Vim do bairro Vista Alegre, deixei meu carro em casa porque não tenho uma gota de gasolina. Semana passada fiquei seis horas para encher o tanque e, quase na minha vez, acabou a gasolina. Como vou tirar o carro da garagem se não tem gasolina?”, questionou Cátia.

Volume
Cada um dos 32 postos da cidade recebeu cerca de 30 mil litros de gasolina – o suficiente para abastecer aproximadamente 600 carros em um tempo médio de até quatro horas, por causa das longas filas.
Segundo o major Flávio Santiago, chefe de comunicação da PM, os postos de combustível foram estrategicamente escolhidos para atender às nove regionais da capital.
O MinasPetro não confirmou se haverá novo reabastecimento de combustíveis hoje, com escolta da PM.  (Repórter Lucas Simões)


ECONOMIA BRASILEIRA EM FRANGALHOS COM A GREVE DOS CAMINHONEIROS


Economia mineira perde R$ 7,95 bilhões com greve

Luciana Sampaio Moreira








Uma perda R$ 7,95 bilhões para a indústria e economia mineira e de R$ 491 milhões na arrecadação do Estado. A siderurgia mineira está abafando os altos fornos e, no setor de laticínios, 80% da produção de leite diária é descartada. Os bancos já estão “travando” o crédito e o nível de inadimplência está nas alturas. Esse é o balanço da greve dos caminhoneiros para o setor produtivo, segundo o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe. A perda leva em conta insumos desperdiçados e a produção paralisadas em várias plantas.
Ontem, após reunião com representantes de 139 sindicatos patronais, a entidade divulgou a carta “Vai faltar pão! Estamos na iminência do caos”, na qual exige a desobstrução das estradas e a normalização do transporte de carga, para o restabelecimento das linhas de produção do setor e o abastecimento da sociedade.
“Entendemos as razões que geraram a mobilização dos caminhoneiros, mas é preciso haver juízo no processo. É preciso saber a hora de sair antes que eles passem de heróis a vilões”, advertiu o dirigente, cinco dias após assumir a presidência da Federação.
Flávio Roscoe disse, ainda, que a interrupção da cadeia produtiva de diversos setores é fato e que há perdas que serão irreversíveis. “Não se restabelece o fluxo da produção de um dia para o outro. Uma ave que morre é o resultado de 40 dias perdidos de produção. Um suíno corresponde a quatro ou cinco meses”, exemplificou. Ele previu, ainda, um cenário de ruptura institucional.
“O governo federal tem que tomar uma posição de força e o Estado tem que ajudar. O que está em jogo não é a arrecadação tributária, mas o tamanho do Estado que, com toda essa carga, já não se sustenta. O que devemos discutir é a redução do tamanho do Estado, o fim dos privilégios e a reforma da Previdência do setor público”, afirmou.
Segundo Roscoe, caso os desafios macroeconômicos do Brasil não sejam enfrentados de fato, corre-se o risco de greves em cascata que apenas transferirão os impostos para outra categoria. “Quem não puder fazer chantagem, vai pagar a conta”, enfatizou o dirigente.
Ele também disse que a política de preços de combustíveis baseada no dólar não é adequada para o país e que os empresários não podem ser considerados culpados pelo governo.
CDL-BH
Em nota, a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) reafirmou que o movimento promovido pelos caminhoneiros é resultado da gestão pública inoperante e que a alta constante dos combustíveis e dos impostos penaliza a sociedade.
A Associação de Shoppings em Minas informou que o comércio nos malls do Estado tiveram uma “queda de 70% desde o agravamento da greve, gerando perdas irreparáveis aos lojistas e trabalhadores do segmento”.

O GOVERNO PARECE MAL INFORMADO SOBRE O CAOS REINANTE NO PAÍS


Sintomas dramáticos

Manoel Hygino 










Quando se atravessa situação como a do Brasil de nossos dias, penso no clima que antecedeu à Revolução Francesa e no da Revolução Russa, cujo centenário se registrou no ano passado. Seria prudente que mais pessoas lessem a respeito desses dois momentos históricos, para (quem sabe?) oferecer alguma contribuição à amenização e, depois, à solução do problema que ora nos atormenta.
No caso específico da segunda, seria oportuno lembrar como era Petrogrado, depois Leningrado e antes São Petesburgo, cidade então com mais de dois milhões de habitantes e capital da Rússia. No inverno de 1916, o soberano ainda estava em seu palácio e uma aristocracia cosmopolita dançava pelos salões. Em verdade, porém em dezembro daquele ano, houvera uma crise no governo, mas ninguém compreendia plenamente como a situação se agravava rapidamente. Para o historiador Alan Moohead, já era explosiva.
Lá como cá agora, o povo estava insatisfeito e se sentiam sintomas sérios de uma extrapolação. Na capital dos russos, assistiam-se a distúrbios e não se sabia a maneira de preveni-los. Um dos personagens destacados do período era o padre Gapon, que as multidões aplaudiam e merecia respeito de setores oficiais. Em 1 de janeiro de 1917, ele mandou um bilhete ao Czar dizendo:
“Não acrediteis nos ministros. Eles vos estão enganando com respeito ao verdadeiro estado das coisas”. Enquanto isso, as várias correntes políticas defendiam ideias e atiçavam mais lenha à fogueira.
Aconteceu o que se sabe e que repercute até hoje na grande nação (e no mundo), embora decorridas décadas da vitória da revolução bolchevista. O americano John Reed, autor de “Os dez dias que abalaram o mundo”, descreve bem a situação da segunda metade do século XX. Nem tão longe estamos.
Ao encerrar-se a terceira semana do quinto mês de 2018, neste Brasil descoberto por Cabral e alvo de tamanhas falcatruas de maus brasileiros e não brasileiros no decorrer de tantos decênios, identifica-se o clamor de importantes segmentos da sociedade. Contra políticos, determinada imprensa e jornalistas, homens de empresas, líderes partidários e todos mais quanto possam existir, inclusive os incentivadores de confusão e de distúrbios, nas cidades e no campo.
A greve dos caminhoneiros é a continuação de uma série de fatos sintomáticos de ameaças ao bem-estar da comunidade e do próprio estado democrático de direito, sobre o qual tanto se fala e pouco de protege. A paralisação do transporte nas rodovias do país põe em risco o abastecimento geral da população, do alimento aos medicamentos e gases medicinais, a locomoção das crianças às escolas, dos trabalhadores que têm de ir e vir à jornada, além das mães de família que precisam comprar os produtos, vegetais já murchos ou apodrecidos, para encher a barriga da prole.
E, se falta pão, corre-se perigo. A Revolução Russa durou três anos e só terminou com derramamento de muito sangue.
Perigos à vista.

COLUNA ESPLANADA DO DIA 29/05/2018


Carona no caos

Coluna Esplanada – Leandro Mazzini  








No Brasil, quando a vida já está ruim, pode piorar. A Federação Única dos Petroleiros (FUP) anunciou paralisação de três dias – de quarta-feira a sexta – e, com isso, as refinarias da Petrobras – responsáveis por produzir 90% dos combustíveis – devem parar a produção. A conotação política é clara. Os sindicatos da FUP são filiados à CUT – e esta ligada ao PT. Ninguém quer reajuste salarial. Eles exigem a baixa do preço do gás e combustíveis, e a cabeça do presidente da Petrobras, Pedro Parente – a quem culpam, junto com o presidente Michel Temer, de desmontar a petroleira.

Apoio
A FUP é abertamente apoiadora do ex-presidente Lula, preso condenado por corrupção. O site da Federação traz matérias atuais sobre o acampamento pró-Lula em Curitiba.
Motivo
José Dirceu preferiu ficar preso na Papuda, no DF, para ficar perto da filha de 7 anos. Chorou muito, em visita de amigo, e autorizou a mãe a levar a menina para vê-lo.
Cabra do Rio 
Ciro Gomes avisou ao PDT que fará agenda no Rio de Janeiro uma vez por semana até a eleição. Amanhã faz ato na Cinelândia. O Rio é o segundo colégio eleitoral do país.
Radiografia...
Médicos e dentistas que atendem aos servidores dos Correios reclamam de atrasos esporádicos nos pagamentos das categorias. Enquanto estranham uma situação: a Direx, Diretoria Executiva, autorizou no fim do ano passado a compra de softwares da Benner Saúde por R$ 14,6 milhões, sem licitação. Tudo pago.
...das entranhas
A assessoria afirma que “realiza os pagamentos à rede credenciada conforme regras de mercado”, e que “sendo entidade sem fins lucrativos, a Postal Saúde efetua contratações e aquisições de bens e serviços por meio de licitação”, mas “para a aquisição de software, quando trata-se de atividade finalística, pode haver a dispensa de licitação”.
Alô, meu povo
Sob o comando de Helder Barbalho, agora candidato que lidera pesquisas para o Governo do Pará, o Ministério da Integração Nacional destinou R$ 688,39 milhões a ações e obras ao Estado do ministro, de maio de 2016 a março de 2018.
Desrespeito
Virou moda protesto contra políticos de qualquer partido quando flagrados em meio ao povo. Dia desses, o senador Alvaro Dias (Pode) tomava café num hotel quando um homem declaradamente ligado ao PT começou ‘comício’ no ambiente, apoiado por alguns poucos. Dias levantou-se, sem uma palavra, e saiu calmamente.
Tributo$
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Piauí lideram o ranking de Estados com maior incidência de tributos (Cide + Pis/Cofins + ICMS) sobre o preço da gasolina. O valor supera os R$ 2,00/litro só de impostos, de acordo com a tabela da carga tributária da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis.
Diesel
Já em relação ao diesel, conforme levantamento da entidade obtido pela Coluna, os Estados líderes de tributação são Acre, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Sergipe e Rondônia.
Privatização
A oposição e até aliados do Palácio querem alterar o texto do projeto que autoriza privatização da Eletrobras. Foram apresentadas 181 emendas ao PL 9463/18 que tramita em comissão especial da Câmara sob relatoria do democrata José Carlos Aleluia (BA).
Visão cubana
Em conversas com deputados, o embaixador de Cuba no Brasil, Rolando Gonzáles, tem dito que a política da estatal “reflete exclusivamente os interesses dos acionistas da empresa, que exigem dividendos sistemáticos”.
Maré na telinha
O trabalho da socióloga Yvonne Bezerra de Mello no projeto Uerê, com crianças e adolescentes da comunidade da Maré, será contado em documentário produzido por Luís Carlos Barreto e sua filha, Paula Barreto.

DÍVIDA EXTERNA BRASILEIRA É DE US$ 355,733 BILHÕES DE DÓLARES

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