Mesmo com
acordo, caminhoneiros permanecem em estradas por intervenção militar
Evaldo Magalhães
Ao longo dos
bloqueios, são comuns caminhões pintados com pedidos de intervenção militar
Mesmo com o anúncio
do governo federal de que todas as reivindicações dos caminhoneiros haviam sido
atendidas, o movimento grevista da categoria seguiu forte, ontem, em todo o
país e em Minas. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, no Estado, de 64 trechos
de manifestações registrados em rodovias no sábado à noite, apenas cinco haviam
sido totalmente dispersados, ontem à tarde, depois do acordo firmado entre
ministros e representantes dos motoristas.
Em grupos do
aplicativo Whatsapp mantidos pelos caminhoneiros – apontados como plataforma
principal de organização da greve –, era crescente o número de menções e
defesas a uma intervenção militar no Brasil para que pusessem fim ao movimento.
O presidente do
Sindicato da União dos Caminhoneiros do Brasil, entidade sediada em Minas
Gerais, José Natan, informou que, embora não tenha participado da mobilização
para a greve, tinha conhecimento de que “questões políticas” estariam impedindo
o término da paralisação.
Segundo Natan, que
foi líder de movimento semelhante em 1999 e encontrava-se, ontem, em Brasília,
acompanhando de perto as negociações entre a classe e o governo, “de cinco a
seis mil caminhoneiros” envolvidos na greve deste ano “são candidatos a algum
cargo no Legislativo, nas eleições de outubro”.
“O governo atendeu muita coisa que estava sendo pedida, mas o mais importante, que é o alívio para o bolso dos caminhoneiros, com a real elevação do valor do frete, ele não deu resposta satisfatória”, disse Natan. “Além disso, estamos em um processo político perigoso no país, com Lula preso e muitos companheiros falando na volta dos militares, o que complica ainda mais a situação”, acrescentou.
“O governo atendeu muita coisa que estava sendo pedida, mas o mais importante, que é o alívio para o bolso dos caminhoneiros, com a real elevação do valor do frete, ele não deu resposta satisfatória”, disse Natan. “Além disso, estamos em um processo político perigoso no país, com Lula preso e muitos companheiros falando na volta dos militares, o que complica ainda mais a situação”, acrescentou.
Um caminhoneiro, que
preferiu não se identificar e está retido na BR-381, disse que são fortes os
discursos dos colegas pela intervenção militar. Ele conta que tentou sair do
bloqueio, com o anúncio do acordo com o governo federal. “Mas eles falaram que
iam jogar pedras no caminhão”, relata.
Boatos
Durante o dia, ontem, circularam nas redes sociais mensagens dando conta de que a intervenção militar pedida por parte dos caminhoneiros – e também por meio de pequenas manifestações em algumas cidades, inclusive Belo Horizonte – já estaria em curso.
Boatos
Durante o dia, ontem, circularam nas redes sociais mensagens dando conta de que a intervenção militar pedida por parte dos caminhoneiros – e também por meio de pequenas manifestações em algumas cidades, inclusive Belo Horizonte – já estaria em curso.
Tropas do Exército
estariam se movimentando na Zona da Mata mineira, dando início à suposta
estratégia de tomada do poder pelos militares. Procurado pela reportagem, o
porta-voz do Comando Militar do Leste, responsável pela corporação na Região
Sudeste do país, coronel Carlos Cinelli, desmentiu a informação e disse
tratar-se “apenas de um boato”.
“Posso garantir que
não há nada relacionado a uma intervenção militar, como a que estamos fazendo
no Rio de Janeiro, em razão dos problemas de segurança pública. No caso da
greve dos caminhoneiros, as Forças Armadas estão movimentando contingentes e
veículos no sentido de cumprir o decreto presidencial de Garantia da Lei e da
Ordem (GLO) e assegurar o fluxo de cargas, principalmente de combustíveis, em
todos os estados onde há desabastecimento”, completou.
De acordo com o coronel, o decreto de GLO autoriza três tipos de ações dos militares, durante a greve. “Nossa função é desobstruir vias, conduzir e escoltar caminhões até seus destinos com cargas consideradas prioritárias, mesmo que os motoristas dos veículos não queiram fazer isso. Mas não é nada de anormal, somente uma situação visando ao restabelecimento da ordem nesses casos”, ressaltou. O oficial admitiu, porém, que a chegada de tropas a áreas de concentração de caminhoneiros grevistas tem sido “ovacionada por alguns manifestantes e populares”.
ALÉM DISSO
De acordo com o coronel, o decreto de GLO autoriza três tipos de ações dos militares, durante a greve. “Nossa função é desobstruir vias, conduzir e escoltar caminhões até seus destinos com cargas consideradas prioritárias, mesmo que os motoristas dos veículos não queiram fazer isso. Mas não é nada de anormal, somente uma situação visando ao restabelecimento da ordem nesses casos”, ressaltou. O oficial admitiu, porém, que a chegada de tropas a áreas de concentração de caminhoneiros grevistas tem sido “ovacionada por alguns manifestantes e populares”.
ALÉM DISSO
Não bastasse o
impacto direto na vida das pessoas, com a falta de combustíveis e de outros
produtos e serviços, o clima de incerteza gerado pela paralisação dos caminhoneiros
pode ter sérias consequências políticas e econômicas. É o que pensam
especialistas. No campo político, além do crescimento de manifestações em
defesa de intervenção militar, há a previsão de repercussões na campanha
eleitoral deste ano.
Para o cientista
político Malco Camargo, saem perdendo, por enquanto, o MDB, do presidente
Temer, e o PSDB, na medida em que o presidente da Petrobras, o tucano Pedro
Parente, foi o idealizador e executor da nova política de preços da estatal,
apontada como centelha da greve dos motoristas.
“Quem ganha, no
momento, são os candidatos antissistema, principalmente Jair Bolsonaro”, diz.
No aspecto econômico, a tendência é a de que a greve provoque múltiplos
estragos. “Esse caos não apenas atrasa a trajetória de crescimento, como é um
sinalizador muito ruim para quem precisa atrair investimentos, como é o caso do
Brasil”, afirma o coordenador do curso de economia do IBMEC/MG, Márcio Salvato.
Postos são
reabastecidos, mas venda ao consumidor é limitada
Mesmo com o reabastecimento
parcial de 32 postos de combustível na capital mineira, após a Polícia Militar
(PM) escoltar os caminhões-tanque pela cidade na tarde de ontem, a determinação
do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em limitar a compra de
combustíveis a R$ 100 por pessoa gerou muita confusão nos postos — e não chegou
a ser cumprida à risca por quem encarou longas filas para abastecer.
Ontem, além de
cercear o gasto do consumidor com combustível, o Comitê de Crise Estadual
determinou a proibição da venda de gasolina em galões, após reunião entre a PM,
o Minaspetro, representantes de companhias distribuidoras e da Associação
Nacional do Petróleo (ANP), além de membros do Procon Estadual e do Ministério
Público.
Abastecimento
Apesar disso, no Posto Itapoã, no cruzamento das avenidas Francisco Sá e Amazonas, no bairro Gutierrez, muitos motoristas conseguiram encher até dez galões, totalizando 50 litros de gasolina vendida a R$ 4,799 o litro.
Abastecimento
Apesar disso, no Posto Itapoã, no cruzamento das avenidas Francisco Sá e Amazonas, no bairro Gutierrez, muitos motoristas conseguiram encher até dez galões, totalizando 50 litros de gasolina vendida a R$ 4,799 o litro.
“Eu ia fazer o que?
Cada dia que a gente acorda, não sabe se vai ter gasolina. Eu sou motoboy,
precisava de mais gasolina porque estou há dois dias sem trabalhar. Enchi logo
cinco galões”, disse Wellington Cruz, de 29 anos.
Mesmo com a
proibição, o gerente do Posto Itapoã, Saulo Alves, chegou a permitir a venda de
gasolina em galões, mas apenas para as pessoas que estivessem de carro. “Não
vamos deixar pessoas sem carro abastecerem. Se chegar só com o galão na mão,
não abastece, porque senão a gasolina acaba rápido demais. Infelizmente, alguns
não vão conseguir abastecer e sairão frustrados”, disse.
Uma frustração que a
auxiliar administrativo Cátia Xavier, de 34 anos, foi obrigada a aguentar, após
passar três horas na fila e descobrir que não poderia encher dois galões de
gasolina por estar a pé.
“Vim do bairro Vista
Alegre, deixei meu carro em casa porque não tenho uma gota de gasolina. Semana
passada fiquei seis horas para encher o tanque e, quase na minha vez, acabou a
gasolina. Como vou tirar o carro da garagem se não tem gasolina?”, questionou
Cátia.
Volume
Cada um dos 32 postos da cidade recebeu cerca de 30 mil litros de gasolina – o suficiente para abastecer aproximadamente 600 carros em um tempo médio de até quatro horas, por causa das longas filas.
Volume
Cada um dos 32 postos da cidade recebeu cerca de 30 mil litros de gasolina – o suficiente para abastecer aproximadamente 600 carros em um tempo médio de até quatro horas, por causa das longas filas.
Segundo o major
Flávio Santiago, chefe de comunicação da PM, os postos de combustível foram
estrategicamente escolhidos para atender às nove regionais da capital.
O MinasPetro não confirmou se haverá novo reabastecimento de combustíveis hoje, com escolta da PM. (Repórter Lucas Simões)
O MinasPetro não confirmou se haverá novo reabastecimento de combustíveis hoje, com escolta da PM. (Repórter Lucas Simões)
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