Sintomas dramáticos
Manoel Hygino
Quando se atravessa
situação como a do Brasil de nossos dias, penso no clima que antecedeu à
Revolução Francesa e no da Revolução Russa, cujo centenário se registrou no ano
passado. Seria prudente que mais pessoas lessem a respeito desses dois momentos
históricos, para (quem sabe?) oferecer alguma contribuição à amenização e,
depois, à solução do problema que ora nos atormenta.
No caso específico
da segunda, seria oportuno lembrar como era Petrogrado, depois Leningrado e
antes São Petesburgo, cidade então com mais de dois milhões de habitantes e
capital da Rússia. No inverno de 1916, o soberano ainda estava em seu palácio e
uma aristocracia cosmopolita dançava pelos salões. Em verdade, porém em
dezembro daquele ano, houvera uma crise no governo, mas ninguém compreendia
plenamente como a situação se agravava rapidamente. Para o historiador Alan
Moohead, já era explosiva.
Lá como cá agora, o
povo estava insatisfeito e se sentiam sintomas sérios de uma extrapolação. Na
capital dos russos, assistiam-se a distúrbios e não se sabia a maneira de
preveni-los. Um dos personagens destacados do período era o padre Gapon, que as
multidões aplaudiam e merecia respeito de setores oficiais. Em 1 de janeiro de
1917, ele mandou um bilhete ao Czar dizendo:
“Não acrediteis nos
ministros. Eles vos estão enganando com respeito ao verdadeiro estado das
coisas”. Enquanto isso, as várias correntes políticas defendiam ideias e
atiçavam mais lenha à fogueira.
Aconteceu o que se
sabe e que repercute até hoje na grande nação (e no mundo), embora decorridas
décadas da vitória da revolução bolchevista. O americano John Reed, autor de
“Os dez dias que abalaram o mundo”, descreve bem a situação da segunda metade
do século XX. Nem tão longe estamos.
Ao encerrar-se a
terceira semana do quinto mês de 2018, neste Brasil descoberto por Cabral e
alvo de tamanhas falcatruas de maus brasileiros e não brasileiros no decorrer
de tantos decênios, identifica-se o clamor de importantes segmentos da
sociedade. Contra políticos, determinada imprensa e jornalistas, homens de
empresas, líderes partidários e todos mais quanto possam existir, inclusive os
incentivadores de confusão e de distúrbios, nas cidades e no campo.
A greve dos
caminhoneiros é a continuação de uma série de fatos sintomáticos de ameaças ao
bem-estar da comunidade e do próprio estado democrático de direito, sobre o
qual tanto se fala e pouco de protege. A paralisação do transporte nas rodovias
do país põe em risco o abastecimento geral da população, do alimento aos
medicamentos e gases medicinais, a locomoção das crianças às escolas, dos
trabalhadores que têm de ir e vir à jornada, além das mães de família que
precisam comprar os produtos, vegetais já murchos ou apodrecidos, para encher a
barriga da prole.
E, se falta pão,
corre-se perigo. A Revolução Russa durou três anos e só terminou com
derramamento de muito sangue.
Perigos à vista.
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