Márcio Doti
Somente um país que perdeu seu eixo
moral pode aceitar passivamente que sejam desmanteladas as estruturas diretivas
do Ministério da Justiça e da Polícia Federal, no momento em que investigações
chegam ao ex-presidente Lula, depois de levantar escândalos dos mais graves da
história do Brasil.
O ex-presidente nem entrou no Fórum
para depor sobre fortes indícios de ter sido presenteado por grandes
empreiteiras nacionais ao tempo em que exercia a Presidência da República. No
centro das suspeitas, um tríplex no Guarujá e um sítio, em Atibaia, onde Lula
levou suas mudanças dos palácios de Brasília e mantinha grande frequência.
A Polícia Federal certamente que está
incomodando porque, além desses fatos, há outros envolvendo intermediação de
Lula junto a países considerados amigos para que neles pudessem operar grandes
empreiteiras nacionais, todas elas grandes financiadoras de campanhas
eleitorais no Brasil.
Mais recentemente, a Polícia Federal
prendeu o marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma, João Santana, e sua mulher
Mônica, apanhados com contas em offshores e repasses de empreiteiras de U$7,5
milhões que as autoridades suspeitam serem, em parte, relacionadas com as
campanhas eleitorais dos dois petistas.
O desmantelamento da cadeia de comando
da Justiça no âmbito do poder Executivo interromperá ou prejudicará gravemente
os trabalhos de investigação que envolvem, ainda, financiamentos feitos pelo
BNDES com juros subsidiados beneficiando as mesmas empreiteiras e, ainda,
prestem atenção no detalhe, o Grupo JBS, controlador do Frigorífico Friboi, de
uma hora para outra transformado em grande anunciante na mídia nacional, depois
que teve seus financiamentos no BNDES tornados públicos por decisão do Supremo
Tribunal Federal.
A corte foi provocada pelo Tribunal de
Contas da União, contra um decreto presidencial que tornava esses
financiamentos como secretos, sob o argumento de que devassavam empresas no
momento em que tomavam empréstimos. O argumento é tão pobre quanto a proibição
era indecente, uma vez que não se pode admitir transações oficiais de
empréstimos que não socorrem empresas em dificuldades, mas, ao contrário,
estimulam a expansão de atividades. Diga-se de passagem, o Grupo JBS,
controlador da Friboi, foi um dos maiores financiadores das campanhas políticas
de 2014, superado apenas pela Odebrecht e pela Construtora OAS.
Deveria causar constrangimento a luta
para barrar inquirições da polícia, do Ministério Público e da Justiça. Ao bom
senso ocorre que qualquer acusado de algo que não praticou deve interessar o
espaço para que se explique e elimine qualquer dúvida que possa restar.
Além de servir a si, a luta contra a
ação da Polícia Federal e do Ministério Público em suas ações conjuntas também
serve ao governador de Minas, Fernando Pimentel, várias vezes queixoso contra
investidas da Operação Zelotes, que apura envolvimento do governador mineiro
com venda de favores à montadora CAOA, ao tempo em que era ministro do
Desenvolvimento, e da operação Acrônimo, que apura lavagem de dinheiro e caixa
dois por parte de Fernando Pimentel.