João Carlos Martins
No dia 19 de fevereiro passado, morreu
em Milão, aos 84 anos, Umberto Eco. Todos sabemos de sua erudição e sobre sua
extensa obra; vários romances e ensaios nas áreas de semiótica, filosofia,
linguística e arte. A que o tornou popularmente conhecido foi seu primeiro
romance, “O Nome da Rosa”.
Umberto Eco, “O Nome da Rosa”, a flor
do nome, o fruto da obra! Umberto Eco, nome de monge. Como ele mesmo disse:
“Quando acendíamos fogueiras no campo, minha mulher me acusava de não saber
observar as fagulhas que subiam entre as árvores e esvoaçavam ao longo dos fios
elétricos. Depois, quando leu o capítulo,(do romance), sobre o incêndio, ela
disse: “– Mas então você observava as fagulhas!” Respondi: “Não, mas sabia como
um monge medieval as teria visto”.
Estudava o quanto amava a Idade Média.
Assim, só mesmo me tornando um monge, com espiritualidade e fé, suficientes
para poder entrevistá-lo, outro monge, mesmo depois de morto, rompendo, através
das possibilidades do texto, as barreiras do tempo. Quando me cochichou ao pé
do ouvido; “Só nós, monges daquela época, sabemos a verdade, mas ao dizê-la,
podemos ser queimados vivos”, ele abriu caminho para essa singela homenagem,
possibilitada por outro livro seu, não tão famoso e conhecido como o primeiro,
mas que nos conta as origens e o processo de criação do romance que se tornou
filme. Trata-se do “Pós-Escrito a O Nome da Rosa”:
– Como o senhor escolheu o título do
romance? – “Meu romance tinha outro título: “A Abadia do Crime”. Abandonei-o
porque fixaria a atenção do leitor sobre a intriga policial... A ideia de “O
Nome da Rosa” veio-me quase por acaso e agradou-me porque a rosa é uma figura
simbólica, tão densa de significados que quase não tem mais nenhum... Um título
deve confundir a as ideias, nunca discipliná-las...”
– Por que escreveu um romance?
“Escrevi um romance porque me deu vontade. Creio que seja uma razão suficiente
para alguém pôr-se a narrar...Comecei a escrever movido por uma ideia seminal;
eu tinha vontade de envenenar um monge. Creio que um romance possa nascer de
uma ideia desse tipo, o resto é recheio que se acrescenta ao longo do caminho”.
– E por que sobre a Idade Média?“ – Na
verdade não decidi apenas contar sobre a Idade Média. Decidi contar na Idade
Média e pela boca de um narrador da época. A Idade Média era o meu imaginário
cotidiano”.
– Então falamos de um romance
histórico, não é? – Você quer dizer o “que significa escrever um romance
histórico? O romance histórico é uma das maneiras de contar o passado... O
romance é a história de um alhures... No romance histórico não é preciso que
entrem em cena personagens reconhecíveis em termos de enciclopédia comum... O
que os personagens fazem serve para fazer compreender melhor a história, aquilo
que aconteceu. Acontecimentos e personagens são inventados, entretanto dizem
sobre a Itália da época coisas que os livros de história nunca disseram com
tanta clareza”.
– E em relação ao texto em si, o que
pode nos dizer? “– Um texto quer ser uma experiência de transformação para o
próprio leitor... Que o leitor aprenda algo sobre o mundo ou algo sobre a
linguagem, eis uma diferença que marca diferentes poéticas da narratividade...
O texto quer produzir um leitor novo”.
E quanto ao autor?“– O autor deveria
morrer depois de escrever. Para não perturbar o caminho do texto”.
– Muito obrigado Umberto Eco,
continuaremos caminhando com seus textos!
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