terça-feira, 1 de março de 2016

UMBERTO ECO - NOME DE MONGE




João Carlos Martins




No dia 19 de fevereiro passado, morreu em Milão, aos 84 anos, Umberto Eco. Todos sabemos de sua erudição e sobre sua extensa obra; vários romances e ensaios nas áreas de semiótica, filosofia, linguística e arte. A que o tornou popularmente conhecido foi seu primeiro romance, “O Nome da Rosa”.
Umberto Eco, “O Nome da Rosa”, a flor do nome, o fruto da obra! Umberto Eco, nome de monge. Como ele mesmo disse: “Quando acendíamos fogueiras no campo, minha mulher me acusava de não saber observar as fagulhas que subiam entre as árvores e esvoaçavam ao longo dos fios elétricos. Depois, quando leu o capítulo,(do romance), sobre o incêndio, ela disse: “– Mas então você observava as fagulhas!” Respondi: “Não, mas sabia como um monge medieval as teria visto”.
Estudava o quanto amava a Idade Média. Assim, só mesmo me tornando um monge, com espiritualidade e fé, suficientes para poder entrevistá-lo, outro monge, mesmo depois de morto, rompendo, através das possibilidades do texto, as barreiras do tempo. Quando me cochichou ao pé do ouvido; “Só nós, monges daquela época, sabemos a verdade, mas ao dizê-la, podemos ser queimados vivos”, ele abriu caminho para essa singela homenagem, possibilitada por outro livro seu, não tão famoso e conhecido como o primeiro, mas que nos conta as origens e o processo de criação do romance que se tornou filme. Trata-se do “Pós-Escrito a O Nome da Rosa”:
– Como o senhor escolheu o título do romance? – “Meu romance tinha outro título: “A Abadia do Crime”. Abandonei-o porque fixaria a atenção do leitor sobre a intriga policial... A ideia de “O Nome da Rosa” veio-me quase por acaso e agradou-me porque a rosa é uma figura simbólica, tão densa de significados que quase não tem mais nenhum... Um título deve confundir a as ideias, nunca discipliná-las...”
– Por que escreveu um romance? “Escrevi um romance porque me deu vontade. Creio que seja uma razão suficiente para alguém pôr-se a narrar...Comecei a escrever movido por uma ideia seminal; eu tinha vontade de envenenar um monge. Creio que um romance possa nascer de uma ideia desse tipo, o resto é recheio que se acrescenta ao longo do caminho”.
– E por que sobre a Idade Média?“ – Na verdade não decidi apenas contar sobre a Idade Média. Decidi contar na Idade Média e pela boca de um narrador da época. A Idade Média era o meu imaginário cotidiano”.
– Então falamos de um romance histórico, não é? – Você quer dizer o “que significa escrever um romance histórico? O romance histórico é uma das maneiras de contar o passado... O romance é a história de um alhures... No romance histórico não é preciso que entrem em cena personagens reconhecíveis em termos de enciclopédia comum... O que os personagens fazem serve para fazer compreender melhor a história, aquilo que aconteceu. Acontecimentos e personagens são inventados, entretanto dizem sobre a Itália da época coisas que os livros de história nunca disseram com tanta clareza”.
– E em relação ao texto em si, o que pode nos dizer? “– Um texto quer ser uma experiência de transformação para o próprio leitor... Que o leitor aprenda algo sobre o mundo ou algo sobre a linguagem, eis uma diferença que marca diferentes poéticas da narratividade... O texto quer produzir um leitor novo”.
E quanto ao autor?“– O autor deveria morrer depois de escrever. Para não perturbar o caminho do texto”.
– Muito obrigado Umberto Eco, continuaremos caminhando com seus textos!

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