
José Antônio Bicalho
Quando a economia vai bem, a principal
função do governo é ordenar o crescimento para que este não gere desequilíbrios
e a riqueza produzida seja bem distribuída. Quando a economia vai mal, a
principal função passa a ser a indução do crescimento. O governo possui os
instrumentos e é grande o suficiente para tal.
A atuação do governo foi fundamental,
por exemplo, para que os Estados Unidos saíssem da crise de 2008. E não falo do
socorro aos bancos, que apenas impediu que a crise se tornasse sistêmica. Foram
as injeções de liquidez que tiraram a economia e as empresas da apatia. A
combinação de juros baixos, recompra de títulos da dívida e incentivo ao
crédito para setores estruturantes quebrou a dinâmica recessiva e recolocou a
economia americana nos trilhos do crescimento.
A Europa, que fez o contrário, sofre
ainda hoje as consequências. Ali, insistiu-se por longos anos numa política
centrada unicamente na austeridade fiscal, até porque os governos dos países
que estavam no centro da crise (Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, os
chamados PIIGS) já haviam ultrapassado todos os limites do razoável em termos
de resultado fiscal. Estavam literalmente quebrados e sem capacidade de reação.
O resultado foi uma crise muito mais
demorada e profunda na Europa do que nos Estados Unidos. E se agora esboça um
início de recuperação, isso se deve a uma virada política do Banco Central
Europeu, mais agressivo na sua função de dar liquidez ao mercado.
Exemplo chinês
A China deu, ontem, mais um exemplo de
atuação pró-ativa do governo. O Banco do Povo anunciou corte nos depósitos
compulsórios para todos os bancos, de 0,5 ponto p[/TXT_COL]ercentual, com o
objetivo de motivá-los a conceder mais empréstimos e alavancar a economia. A
notícia foi bem recebida inclusive no Brasil, com o Ibovespa fechando em alta
de quase 2%, guindado por ações de empresas de commodities, como a Vale e a
Petrobras, que subiram mais de 5%.
A China, que foi a rede de amparo da
economia mundial durante a crise de 2007-2008, está hoje em franca
desaceleração. Cresceu 6,9% em 2015, o menor percentual dos últimos 25 anos. E
o que o governo faz? O óbvio: injeta liquidez na economia.
Mas, para o Brasil, de nada adiantam
todas as lições internacionais de crise e superação. Insistimos em fazer o
contrário do que receita a cartilha dos que deram certo. Por aqui, os juros
continuam nas alturas, os bancos são incentivados a manter dinheiro em caixa e
o governo, contrariando qualquer bom senso, atua para enxugar a economia,
insistindo em uma política suicida de busca de ajuste fiscal em meio a crise.
Eis que, ontem, o Ministério do
Planejamento divulga que os investimentos do Programa de Aceleração do
Crescimento, em 2015, foram 14% menores que os de 2014, que já haviam caído
quase 10% em relação a 2013.
O PAC é composto, sobretudo, por
projetos de infraestrutura (estradas, portos, ferrovias, energia, armazéns e
outros), indispensáveis para sustentar a ansiada retomada econômica, e pelo
Minha Casa, Minha Vida. Funciona como espécie de motor de arranque da economia
ao fazer funcionar a cadeia da construção. Mas, ao que parece, para o governo
isso não é o mais importante.
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