sábado, 28 de novembro de 2015

NÃO TÔ NEM AÍ



  

*Aristoteles Atheniense

 

Desde que ressurgiu na cena política com o visível propósito de assegurar a sua presença na eleição de 2018, Lula mostrou-se ainda mais arrojado em seus pronunciamentos. Não lhe interessa ordenar o que pensa, nem medir as palavras desencontradas que emite. Importa-lhe, sim, estimular os seus seguidores, incitando-os em manifestações que lhe possam render aplausos dos asseclas.

Diante da plateia do 3º Congresso Nacional da Juventude do PT, realizado em Brasília, enfatizou que “entre o desejo ideológico partidário e o mundo real da política há uma distância enorme”. Com isto, pretendeu justificar o fato de até hoje se encontrar atrelado ao PMDB, inobstante as reiteradas divergências havidas entre o Planalto e as presidências do Senado e da Câmara dos Deputados.

Em sua arenga, ressaltou a necessidade de ajudar a companheira Dilma “a sair da encalacrada situação” a que foi levada pela oposição e “setores da imprensa e da sociedade”, que estão empenhados em denegrir a imagem do PT. O seu arroubo foi condensado nessa extravagante proposta: “Seria maravilhoso, mas, em não sendo maravilhoso, a gente tem de fazer aliança. Ah, como seria bom se a Dilma, sozinha, pudesse votar tudo e tivesse 257 votos no Congresso!”

Ao considerar as investigações da Lava Jato, formulou esta indagação: “Será que o Vaccari, inteligente do jeito que é, não poderia ir uma vez só no cofre do dinheiro bom, pegar um pouquinho e deixar o PSDB correr no da propina?”

Desde a fundação do PT, em fevereiro de 1980, na malograda greve de abril no ABC, Lula tornou-se o arauto de novas propostas para o Brasil. Estas importariam na redução das desigualdades, na elevação do salário real, na renovação da legislação trabalhista, no saneamento da estrutura sindical. Na formulação deste ideário, contou com ajuda do advogado trabalhista Almir Pazzianotto Pinto, que veio a ser, mais tarde, ministro do TST.

Em discurso pronunciado no Planalto, em 2004, na apresentação do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo, Lula emitiu essa singularidade: “Eu tinha um advogado chamado Almir Pazzianotto Pinto, que depois foi ministro do Trabalho, e eu vivia discutindo com ele o seguinte: ‘olhe, eu não quero advogado para dizer o que eu tenho que fazer. Eu quero advogado para me livrar depois que eu fizer’”.

Com essa excentricidade deixou evidente não ter nenhum compromisso com a ética, com a lei, optando pela assistência jurídica de um advogado que pudesse salvá-lo dos imbróglios em que se metesse. Explica-se, assim, o conceito que fez do mensalão, da Lava Jato, da operação Zelotes e de outras sindicâncias que ainda possam surgir. A seu ver, o importante é contar com a omissão do Executivo e a complacência do Congresso Nacional.

No próximo ano, teremos eleições em 5.570 municípios, quando o lulopetismo lançará mão de todos os recursos, fazendo valer o refrão de que os fins justificam os meios. Certamente, Lula exercerá um papel de destaque nesse processo, como já vem fazendo, ao sustentar que a punição aos corruptos, quando ocorrer, deverá ser feita com muita cautela, evitando que as empresas penalizadas sejam levadas a quebradeira.

Será um disfarce, a mais, a que recorrerá visando não ser incluído no rol daqueles que dilapidaram a Petrobras, mediante artifícios vergonhosos que, tanto ele como a sua sucessora, não tinham conhecimento.

Na percepção que tem do Brasil, o que importa é salvar os seus aliados e não restaurar a seriedade pública comprometida pela ação nefasta dos que assumiram o poder, adotando-o como a imagem capaz de assegurar ao país a estabilidade de que hoje carecemos.

*Advogado e conselheiro nato da OAB, diretor do IAB e do IAMG, presidente da AMLJ

UM RIO QUE PASSOU NA MINHA VIDA



  

José Eutáquio de Oliveira




O rio que passou na minha vida não foi o ribeirão Arrudas, e sim ribeirão do Carmo. Que nasce na serra do Espinhaço em Ouro Preto, vira ribeirão do Carmo em Mariana e, antes de bater no mar, encontra-se com o rio Piranga para formar o rio Doce. Conheci o rio que passou na minha vida ainda muito criança em Furquim, distrito de Mariana, lugar que assistiu ao nascimento da família de meu pai, Francisco Martins de Souza, fruto da união do marceneiro João de Souza Cunha com a senhorinha Maria Martins de Souza.

Todos os novembros, dezembros, janeiros e fevereiros de minha infância passávamos – a família Martins de Souza – no Furquim, na casa do tio Moisés (sacristão que tomava conta da igreja e da imagem do Senhor Bom Jesus), irmão do meu avô. Eu, ainda muito criança, comecei a passar as férias escolares em Furquim (início da década de 1950). Naquele tempo ainda não havia a estrada de rodagem que liga BH a Vitória. Viajávamos na Maria Fumaça da Central do Brasil, que ligava BH a Ponte Nova, de onde saía o tronco que ligava Minas ao Rio de Janeiro e o outro que ligava o estado ao Espírito Santo.

Era um sofrimento que demorava mais de dez horas e, em minha cabeça de criança, Furquim parecia estar em outra galáxia. Que se transformava no paraíso, onde se podia jogar bola e soltar papagaio à vontade na Praça da Estação ou no campo do Nacional, às margens do ribeirão do Carmo. O rio que passou na minha vida já era barrento quando o conheci. Cor parecida com a da lama assassina da Samarco. “Essa sujeira vem de Outro Preto, causada pelas fábricas de tinta da família Gianneti, pela Alcan (que depois virou Noveli e já não existe mais em Minas) e as mineradoras”, bradava meu pai, xingando Getúlio Vargas de negligente com os “tubarões da indústria”. Por conta do barro e dos agentes químicos que poluíam o Carmo, meu pai e meus tios nos proibiam de nadar e pescar no rio.

Mas como tudo que é proibido é mais gostoso, depois dos rachas no campo do Nacional, nadávamos e pescávamos no rio de barro e remansos perigosos. Moleques ambiciosos, aventurávamos minerar nas margens de areias negras e amarronzadas do Carmo, em busca de ouro e topázio nunca encontrados. Essas lembranças vieram-me à mente quando tomei conhecimento da tragédia de Bento Rodrigues e do comportamento das autoridades diante do fato. Pior foi constatar que essa atitude é antiga (desde meus tempos de criança) e persistente.

Ambientalistas disseram em 2014 que o Doce é o décimo rio mais poluído do Brasil e o consideraram à beira da morte. Foi o que também constatou o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA– que mediu o nível limite de coliformes termotolerantes e apurou que ele está 5.172% acima do permitido pela legislação. Uma situação gravíssima segundo Rafael Resck, mestre em recursos hídricos, suspeitando que a contaminação química já tivesse atingido os peixes do Doce. Ninguém fez nada na época. Nem o governo federal, nem o de Minas, tampouco o Congresso Nacional e as prefeituras municipais.

Dizia Otto Lara Resende que mineiro só é solidário no câncer. O desastre de Mariana ensina que devemos nos unir para evitar que os responsáveis pelos crimes ambientais continuem a nos enganar e matar. Quem sabe assim os rios voltariam a passar vivos e saudáveis pelas nossas vidas. E nossos corações novamente deixariam se levar por eles.

TERROR IMINENTE



  

Manoel Hygino



O Estado Islâmico é prático na execução de seus crimes, para pesar da humanidade. Enquanto o mundo ocidental procurava descobrir como fora derrubado um avião russo na Península do Sinai, com 224 pessoas a bordo, os terroristas de EI explicaram. Fê-lo divulgando a foto de um artefato caseiro que teria sido usado para inicialmente planejar a explosão de algum aparelho de país ocidental naquela região. Mudou-se de plano após a Rússia lançar ataques à Síria. A ideia da bomba surgiu com a descoberta de falhas na segurança do aeroporto de Sharm el-Sheikh, apreciado complexo turístico do Norte da África.

Não parece ter sido difícil. Os autores da ideia sugeriram utilizar-se uma fita amarela do refrigerante Schweppes Gold, um detonador e um interruptor sobre um fundo azul. E atiraram esse objeto contra o Airbus, que logo desabou sobre o solo da conturbada região. Todos os que se encontraram na aeronave morreram e os terroristas se exultaram. Mais simples do que invadir a redação do Charlie Hebdo, em Paris, e com uma grande vantagem: assassinaram muito mais gente, mais do que os agentes do mal o fizeram em outras áreas da África, como no Mali, em um hotel de luxo.

E o Estado Islâmico, que pretendera simplesmente ser um califado, manteve-se na linha de frente da inquietude e da morte, como se demonstrou apto, novamente em Paris, em final de novembro. Eles têm pressa. Tanto que um agente do EI na Europa declarara, já em setembro, que a organização infiltraria no Velho Continente mais de 4 mil homens entre os refugiados que pedem asilo em determinadas nações. O declarante anônimo acrescentou que a operação seria um completo sucesso, no que tinha razão. “Apenas espere”, concluiu com um sorriso maligno. E a polícia francesa continuou intensas buscas, enquanto sua Força Aérea lança bombas no território ocupado pelos terroristas no Iraque e na Síria. Esta guerra, apenas iniciada, terá fim? Quando?

Enquanto isso, diplomatas em Brasília se preocupam. Três dias após os ataques em Paris, que desencadearam a reação do presidente François Hollande, a colega do Brasil disse, quando na Turquia: “Estamos muito longe dos locais onde esse processo está se dando”.

Em resumo, não havia risco. Não é tanto assim. Para esse tipo de gente, tempo e distância estão em suas mãos, por sua inquebrantável disposição de matar. Em qualquer lugar e em qualquer hora, podem surgir novamente os atletas da morte. Daí, a preocupação de países que participarão das Olimpíadas em 2016. Lembro que, há poucos anos, os americanos do Norte já se instalavam nas imediações da Ciudad del Este, a tríplice fronteira Brasil/Paraguai/Argentina, suspeitando da movimentação de pessoas oriundas do Oriente Médio. Os ianques têm sobejas razões para temor, desde o atentado contra as torres gêmeas.

A situação do mundo em face do terrorismo é muito mais grave do que se pensa. A facilidade de se conseguir armas no Rio de Janeiro, onde várias favelas são dominadas por traficantes de drogas fortemente armados, a falta de uma rede de inteligência capaz de interceptar planos de ataques e o despreparo dos estádios para eventualidade de uma bomba são os principais problemas enfrentados pelas autoridades, segundo especialistas ouvidos pela agência Reuters. “O Brasil mais que engatinha nessa área de prevenção ao terrorismo, na verdade se arrasta”, disse o professor e especialista em segurança da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fernando Brancoli.

SALVE-SE QUEM PUDER



  

Orion Teixeira




Ainda que o assunto tenha saído da pauta da própria oposição, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), avisou que irá se manifestar sobre os sete restantes pedidos de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), um dia antes da sessão do Conselho de Ética, que deverá votar o relatório que abre o processo de cassação de seu mandato. O parecer do relator Fausto Pinato a favor da abertura do processo já foi apresentado e será votado na terça-feira.

Cunha guia-se pelo pragmatismo do próprio instinto de sobrevivência. Sua cartada final é a ameaça do processo de impeachment. Hoje, ele tem garantidos nove dos 21 votos do Conselho, que subiria para uma maioria de 12 se os três deputados do PT votassem contra o julgamento.

Os petistas do Conselho são os deputados Léo de Brito (PT-AC), Valmir Prascidelli (PT-SP) e Zé Geraldo (PT-PA), que têm sinalizado que votarão contra Eduardo Cunha, mas as forças ocultas do Palácio do Planalto e da direção do próprio PT não querem briga com o presidente da Câmara. O estrago seria maior para a presidente Dilma, que encerraria 2015 com essa ameaça, quando tudo caminhava para uma agenda positiva e de recuperação do ano perdido.

Dos setes pedidos em análise, o mais consistente é o que foi apresentado pelo ex-petista Hélio Bicudo em parceria com o ex-ministro Reale Júnior, ligados aos tucanos que patrocinam a ação.

Batendo cabeça

Desde a última quarta-feira (25), após a prisão do senador Delcídio do Amaral (PT), líder do governo no Senado, o PT entrou em conflito ético, com desentendimento interno generalizado. No mesmo dia da prisão, a direção partidária divulgou nota lavando as mãos e negando solidariedade ao senador, postura contestada pela bancada petista no Senado.

Na votação pela qual foi contra o voto aberto e a prisão de Delcídio, a bancada fez questão de desvincular sua decisão da direção executiva. O ex-presidente Lula e sua corrente defendem a expulsão do senador; já o governo Dilma criticou a nota partidária intempestiva e, segundo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, Delcídio não poderia ser prejulgado em pleno período de investigações.