Manoel Hygino
No exercício de cargos na
administração pública de Belo Horizonte ou do estado, tive contatos com
inúmeros cidadãos que faziam política (muito mais pura, antes). Não é meu tema
preferido, mas acompanho os fatos com o interesse que todo brasileiro deve ter
com o que nos pertence: república.
Dizem que mineiro é eminentemente
político e realmente, nesta arte, muito especial. Foi pensando nisso que me
lembrei de João Valle Maurício, que atuou nesse campo em nossa cidade natal e
no norte de Minas, enquanto se dedicava também à medicina – profissão escolhida
para exercer, acima de tudo.
Meteu-se na política municipal e
estadual, foi secretário de Saúde de Minas Gerais, período durante o qual
manteve seu jeito alegre e comunicativo de atuar. Mauricinho, seu apelidado,
gostava de ser o que era e de fazer o que fazia, ao lado da esposa, Milene,
escritora como ele, filha de ex-prefeito. Um por genial.
Quando publicou um de seus numerosos
livros, João Valle Maurício, da Academia Mineira de Letras, incluiu nele
crônicas sobre política e políticos. Assim, começou um dos capítulos: “Mineiro
gosta muito de política. Gosta também de emprego público, de requeijão, de
molho pardo, tutu com torresmo, de pitar bem devagar, de tomar cafezinho
adoçado com rapadura, ainda fumaçando, bem de madrugadinha, na beira do fogão”.
E tem outras preferências: gosta de
contar histórias da família, de fazer visita a gente doente, de devoção, de
usar patuá, de queixar doença, de fazer de conta que não quer, mesmo quando
quer demais. “de tudo isso e m ais um tanto de coisa, mineiro gosta, porém, eu
acho, que gosta mais é de politicar.
Esse querer bem já vem de muito
longe”.
Assim sendo, a mineiridade tem fama de
mineirice, isto é, matreirice e esperteza. Mineiro de tradição não aprecia
espiar e brincar, vislumbrando as altaneiras montanhas e os vales verdejantes.
Assim goza o bom bucolismo, espalhado e teimoso, nas queridas cidades pequenas,
perdidas nas gerais.
No dedilhar de canoras violas, nas
suaves cantigas de Reis, nas chorosas serenatas de puro amor, nossa gente se
apaixonou, perdidamente, pela boa política. A relação dos aqui nascidos e que a
praticaram é uma galeria com estupendos valores. Gente da melhor qualidade e
capacidade, todos bem acordados para as fabulações políticas, coisa eu é bem
difícil. O avô do escritor-secretário de estado ensinava: “Política é que nem
carta de baralho, tem que ser pensada e misturada, mesmo assim, às vezes,
engana a gente”.
Outras recomendações: “Pé ligeiro e
boca fechada. O fuxico, o mexerico e o cochicho ao pé do ouvido são armas
poderosas. Acho que mestre Maquiavel teria muito a aprender com o nosso
sertanejo de chapéu de couro, com suas artimanhas eleitorais”, mas sem traições
e roubalheiras.
Em resumo: “Politicar é um jogo. É uma
doença que pega e não larga. As cidades, quase sempre mesmo as muito
pequeninas, eram divididas entre dois partidos. Os grupos entravam e
permaneciam em estado de beligerância sem tréguas. Eram adversários
irreconciliáveis, a grande maioria nem mesmo sabia o motivo de tão radical
posicionamento”.