Aristoteles Atheniense*
Em discurso pronunciado na abertura da
Assembleia-Geral da ONU, a presidente Dilma Rousseff continuou na mesma
atoarda, alegando que “o governo e a sociedade brasileira não toleram e não
tolerarão a corrupção”.
Daí o seu empenho junto aos
“encarregados de fiscalizar, investigar e punir desvios e crimes”, para que os
infratores sejam penalizados.
A sua fala importou no surrado refrão
já comentado pelo ex-deputado Fernando Gabeira, que compartilhou com Dilma do
propósito de imprimir novos rumos ao país. O antigo companheiro questionou o
autoelogio da presidente, quando afirmou: “nunca um governo investigou tanta
corrupção”.
Essa bazófia foi agravada com o
depoimento de Dilma de que ignorava o assalto à Petrobras, embora houvesse
ocupado a presidência do seu Conselho de Administração.
Curiosamente, ao invés de recriminar
os “companheiros” que dilapidaram a estatal, Dilma lamentou a participação no
imbróglio de alguns filiados do PT na milionária falcatrua, omitindo o
tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, que atualmente “estagia” num presídio
do Paraná.
Como as suas contradições reiteradas
importam num deboche à indignação popular, Gabeira formulou a seguinte
indagação: “Não sei o que é pior: fingir que não viu ou levar tanto tempo para
descobrir”.
É sintomático o vigor com que Lula
voltou ao palco defendendo o frustrado retorno da CPMF, afirmando que tem
“costas largas”, reclamando “um pouco de sossego” para sua afilhada Dilma,
fazendo-se passar como vítima de um processo adverso, marcado pelo “ódio e
raiva”, que possa redundar na sua “criminalização”.
Neste mesmo refrão, a rejeição que
“lhe é feita” seria fruto da insatisfação das “elites”, que não se conformam
com os avanços sociais que introduziu no país. A sua imagem foi precisamente
definida por Eduardo Costa neste jornal (31/8). “Lula é o símbolo da arrogância
– comum à maioria dos poderosos. Acha que o Brasil foi descoberto em 2003”.
A única forma de conscientizar o povo
da gravidade dos desatinos investigados, que afrontam a capacidade punitiva do
Estado, é trazendo-os a público, ou seja: sem disfarce nem recuos, para que os
infratores sejam execrados publicamente, de modo que não possam se esconder no
manto pútrido da imunidade parlamentar. Em face desse quadro inquietante, em
que os larápios são tratados pela presidente como meros “malfeitores”, vale
parafrasear o cônsul romano Marco Túlio Cícero, nos discursos que fez contra
Catilina, que se acostumara a mentir: “Até quando Dilma Rousseff abusará de
nossa paciência?”
*Advogado e conselheiro nato da OAB,
diretor do IAB e do IAMG e presidente da AMLJ
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