quinta-feira, 3 de setembro de 2015

SIM SIM - NÃO NÃO



  

Simone Demolinari




São muitas as pessoas com dificuldade em dizer o que pensam, expor seu ponto de vista ou dizer um “não”. Exemplos não faltam: um amigo que convida para um aniversário ao qual você não está com a mínima vontade de ir; um convite para ser padrinho/madrinha de casamento ou do filho; um parente que pede para se hospedar 15 dias em sua casa; um almoço de domingo na casa da sogra, entre outras coisas. Quando isso ocorre, boa parte das pessoas contém o impulso de dizer um sonoro “não” e dizem “sim”. Aquele “sim” que vem com um sorriso amarelo e uma alegria triste.

Mas, afinal de contas, de onde vem toda essa dificuldade em falar a verdade?

Vem de várias causas e uma delas é a culpa, principalmente naquelas situações em que há condições de atender o pedido, mas não há interesse. Ajudar um parente na mudança ou emprestar dinheiro são alguns exemplos. Você dispõe do que o outro precisa, porém não gostaria de fazê-lo. E então, equivocadamente, nasce um sentimento de culpa. Sentimento que deriva da crença de que apenas o fator “vontade” não é o suficiente. Uma espécie de lógica invertida na qual o desejo de um prevalece e o do outro, não.

O que geralmente ocorre é que aquele que foi solicitado acaba cedendo à solicitação, tanto para evitar a culpa, quanto para o enlevo do bem estar adquirido.

Outra dificuldade em dizer “não” deriva do fato de as pessoas sentirem medo de serem rejeitadas. Acreditam que, ao negarem a solicitação de determinadas pessoas, mesmo as estranhas, serão colocadas em segundo plano e, com isso, perderão prestígio e significância. Há quem chegue à situação extrema de comprar coisas das quais não gostou só pela dificuldade em dizer “não” ao vendedor. Quem age e pensa dessa forma se pauta pelo que os outros irão pensar. Para não serem mal interpretados, sucumbem à vontade do outro mesmo em detrimento da sua.

Há também aqueles que alimentam a crença de que, para serem considerados, precisam agradar o outro. Nunca se posicionam de forma contrária. Geralmente agem sob o pretexto de que “não custa nada” atender a essa ou àquela solicitação. Acabam se tornando exímios doadores, não pela generosidade, mas sim para garantir a continuidade de uma relação. Priorizam a vontade alheia para serem aceitos pelo outro.

Mais um aspecto da dificuldade em dizer “não” tem origem na vaidade. Pessoas que querem se tornar insubstituíveis optam por realizar todas as vontades do outro sem medir esforços. Se sacrificam, se endividam, pedem favores a terceiros, não há limites para se tornarem essenciais na vida do outro. São motivados pela ufania de se sentirem indispensáveis.

Seja por culpa, medo, necessidade de ser aceito ou vaidade, quem diz “sim” quando, na verdade, gostaria de dizer “não”, carrega consigo o peso de se colocar em segundo plano. Mantém uma contabilidade inconsciente na qual o outro é sempre devedor do sacrifício que ele fez. Um resultado que dificilmente fechará com lucros.

Aprender a falar “não” é fundamental para a saúde emocional. Um aprendizado difícil? Sim. Porém totalmente possível, libertador e aliviante.

IMPOSTO ÚNICO - SOU A FAVOR



Por: Antônio Álvares da Silva*


O governo chegou a cogitar da volta da CPMF, como meio de colocar em ordem as contas públicas e ainda usufruir uma reserva para que a presidente pudesse fazer frente ao custeio do serviço público, sempre carente de meios financeiros (veja-se, a propósito, a excelente matéria do jornalista Thiago Ricci, na edição do Hoje em Dia de 28/8/15).

Considerando a alíquota de 0,38%, a CPMF importaria hoje uma arrecadação de R$ 43 bilhões nos sete primeiros meses deste ano. Cobriria o déficit de R$ 9 bilhões e traria um alívio de R$ 34 bilhões.

A CPMF é um desdobramento do chamado Imposto Único (IU), inteligente ideia do economista Marcos Cintra para a realidade brasileira. O IU consiste numa alíquota incidente sobre transações bancárias. Com uma alíquota de 2,81% seriam arrecadados cerca de 23% do PIB e importaria praticamente a extinção de todos os tributos de natureza arrecadatória da União, estados e municípios.

Isto sem falar na simplificação da burocracia tributária, gigantesca máquina que recebeu a alcunha popular de “leão”, tais como notas fiscais, guias de arrecadação, declarações de renda, etc.

A outra grande vantagem é que se trata de tributo praticamente insonegável, pois a atividade econômica deixa necessariamente rastros nos movimentos bancários das empresas e pessoas físicas.

Por se tratar de pequena parcela descontada nas transações, ela se dilui ao longo do ano, evitando assim a pressão e o esforço de todo mundo na hora dos acertos tributários no começo de cada ano: Imposto de Renda, IPTU, IPVA, etc, que tanto oneram o orçamento doméstico de todo mundo.

A CPMF seria a experiência inicial de uma revolução tributária que consistiria na introdução do IU, o qual eliminaria praticamente todos os demais impostos e tributos.

Tão logo se cogitou da ideia, os presidentes da Câmara e do Senado rejeitaram a iniciativa, alegando ser contra a introdução de novos tributos neste momento de crise. Michel Temer, colaborador da presidente, disse que não faria nenhum esforço para a aprovação do projeto.

Trata-se de pura demagogia. O país está em crise e dela não sairá sem aumento da arrecadação. Como zerar contas públicas sem dinheiro em caixa? Deus pode até ser brasileiro, mas deste milagre nem ele é capaz.

Se introduzisse a CPMF, zeraríamos o déficit público e começaríamos nova vida. O governo, é claro, teria também que fazer a sua parte, gastando menos e administrando melhor.

O fato é que, se não for pela CPMF, o governo terá que arranjar dinheiro de alguma fonte. E esta só pode ser tributária. Os políticos não podem ver o país sob o prisma de seus interesses. O Brasil é maior do que estas mesquinharias.

Estamos à beira de um precipício e a culpa é de todos nós. Não será com renúncia e abstinência tributária que vamos resolver os graves problemas de hoje. Se o barco afundar, todos beberão água salgada. É melhor prevenir o desastre do que morrermos afogados.

Professor titular da Faculdade de Direito da UFMG*

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

PURA VERDADE



  

Eduardo Costa




Com certeza, os prezados leitores já leram tudo o que os analistas da política e da economia acharam do orçamento do governo federal para 2016, com a inusitada projeção de um déficit superior a R$ 30 bilhões. Peço vênia para apresentar algumas reflexões de palpiteiro, com a autoridade de quem paga muitos impostos, em dia, e está com o embornal cheio de ouvir discursos, mais que isso, difundi-los nas últimas décadas. A minha corneta acusa que este orçamento, entregue pelos ministros Joaquim e Nelson ao Congresso, é o mais honesto dos quais já tive notícias.

Primeiro, preciso esclarecer que não conheço orçamento honesto. A prática profissional me autoriza a dizê-lo porque em todas as ocasiões que cobri solenidades de entrega das propostas de receita e despesas, havia sempre alguém da oposição para acusar o calhamaço de papel de fictício ou, no mínimo, dossiê de boas intenções. Ora, se agora, os ministros avisam que, se tudo der certo, Deus ajudar, o que se espera receber vier e o gasto não for maior que o previsto, ainda assim teremos um rombo de R$ 30 bilhões é sinal de que, no mínimo, há transparência. Dirá alguém que transparência é obrigação. Concordo. Dirão outros que é a declaração de incompetência do governo Dilma. Concordo plenamente!

Mas, o melhor do orçamento é que ele chama para a rinha o Congresso Nacional. Diz algo como “venha, vamos discutir, conter gastos, fazer a coisa mais decente, encontrar saídas...”. Se tiver coragem de aceitar o convite, Renan Calheiros vai cortar na carne e diminuir as exorbitâncias da casa que preside; seu colega, Eduardo Cunha, não terá coragem de repetir viagens como a que está fazendo, aos Estados Unidos, para um desses seminários de faz-de-conta no qual gasta R$ 199 mil, incluindo hotel e passagens na classe executiva para ele e mais seis nobres deputados. Se fizerem sua parte, ele e Renan poderão exigir de Dilma corte de ministérios, cargos, garçons, jantares. Por exemplo, da próxima vez que for a San Francisco, nos Estados Unidos, não gastar quase 400 mil com aluguel de veículos. E ainda atrasar o pagamento! Quem sabe se a presidente para com esse absurdo de torrar 200, 300 mil numa viagem com aviões, helicópteros e um monte de gente para vir a Contagem entregar uma máquina agrícola que custa menos da metade? Quem sabe se o Judiciário não toma juízo, se concede aumentos mais compatíveis com nosso Brasil e diminui os “auxílios”?

Resumindo a prosa: se todo mundo põe reparo quando o cidadão mora em área invadida e tem carro na porta, por que o governo não aceita que quebrou e começa a luta para evitar o SPC?

Dirão outros que é a declaração de incompetência do governo Dilma. Concordo plenamente!

TRANSFERENCIA DE RESPONSABILIDADE



  

Márcio Doti


A presidente Dilma tenta transferir para o Congresso mais uma responsabilidade que é sua. Esta é uma das interpretações para o envio do orçamento com déficit de 30 bilhões de reais. O projeto orçamentário eleva impostos de celulares e bebidas, corta gastos em programas sociais como PAC, Ciência Sem Fronteiras e Minha Casa Minha Vida. É óbvio que esse déficit prejudica o grau de investimento do Brasil. A oposição quer recorrer ao STF, o Supremo Tribunal Federal, contra a previsão deficitária sob o argumento de que ela fere a Lei de Responsabilidade Fiscal. O presidente do Senado, Renan Calheiros, continua representando o seu papel de apoiador nas horas vagas e clama pela união do país em torno da dificuldade, mas junto a empresários diz que o país não aguenta mais imposto. O que está mais claro de tudo isso é que estamos de volta aos velhos tempos em que Sarney era presidente, depois Collor e os planos desfilavam um a um, cada qual tirando um pedaço de nossas vidas. Plano isso, plano aquilo, até que veio o Real e garantiu a estabilidade, fez o país recuperar as suas reservas, tudo o que se perdeu com os gastos desenfreados dos últimos anos da República. Agora, a encruzilhada da presidente Dilma era muito clara. Seguir o caminho da recuperação da economia, sujeitando-se a um desgaste imenso e também a um grande risco de fracassar tendo em vista os componentes em torno desse desafio. Teria que apertar os cintos, fazendo um orçamento rigoroso de receitas e gastos. A política desabaria sobre a sua cabeça. Lhe falta legitimidade, perdida pelas mentiras do ano passado e os desacertos de sempre e mais escândalos e mais tudo de que sabemos. Então, o caminho que lhe restou foi esse. O Congresso que confirme a sua proposta e está aberto o caminho para a gastança do ano eleitoral. Mas há um detalhe: como segurar os empregos, a inflação, os preços, a economia em frangalhos? Como segurar tudo isso para patrocinar mais um ano de mentiras?

Pagamos com juros

A Petrobras reajustou o preço do gás em 15% e com isto o consumidor final deve pagar R$3 a mais. O preço é livre, mas essa é a expectativa. O gás não era reajustado desde 2002. Pois, muito bem, foram 13 anos sem reajuste, mas pagamos muitos bilhões por isto…

BNDES nas campanhas

Detalhe levantado na CPI do BNDES: já que o banco tem próximo de 30% das ações da JBS Friboi, por que não participou da decisão sobre as doações de campanha? Ao que o vice-presidente do banco respondeu que o Conselho Deliberativo não foi consultado sobre esse assunto. Mas como? Cerca de 30% de um dos maiores financiadores de campanha e o órgão máximo de administração de uma empresa, sobretudo estatal, nem opina sobre as operações? E o banco é dono de um terço desse dinheiro dos financiamentos de campanha. Soa muito mal!

Como segurar os empregos, a inflação, os preços, a economia em frangalhos?