sexta-feira, 16 de abril de 2021

POLÍTICA BRASILEIRA

 

Com um governo negacionista como o de Bolsonaro despontamos para o atraso

Fernando Gabeira, O Estado de S.Paulo

Não é fácil entender a política brasileira, mas quem se detiver, esta semana, nos dois mais intrincados nós a serem desatados em Brasília talvez chegue a algumas conclusões interessantes. Os dois nós são a CPI da pandemia e a inadequação do Orçamento da União.

No primeiro, o governo é acusado de omissão no processo de combate ao vírus que já nos custou mais de 360 mil vidas e poderá custar 600 mil até julho, segundo prognósticos da Universidade de Washington. Acusações e mesmo investigações sobre a atuação de Bolsonaro na pandemia não são novas. Há processos no Tribunal Internacional de Haia e inquéritos como o das mortes em Manaus, em que Eduardo Pazuello é o principal investigado.

Bolsonaro é acusado de negacionismo e, realmente, tem negado a importância da pandemia desde o início. Era previsível que surgisse uma CPI sobre o tema no Congresso, uma vez que os parlamentares estavam de quarentena, mas não mortos.

Eleito com apoio de Bolsonaro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, bloqueou a instalação da CPI. Quando, numa entrevista, perguntei a razão do bloqueio, ele respondeu com os argumentos usais de que é preciso união, foco no combate à doença. Na verdade, usou o argumento da própria pandemia para negar direitos legais, algo que muitos governos autoritários tentam fazer no mundo.

A reação de Bolsonaro à CPI foi uma nova forma de demonstrar seu negacionismo. Ele sabe que CPI, além do número legal de assinaturas, precisa de fato determinado. Na conversa gravada com o senador Kajuru, ele pede que a investigação seja estendida aos prefeitos e governadores. É preciso investigar tudo, diz ele. E nós sabemos que essa é a senha para não investigar nada.

A proposta é quase tão absurda quanto chamar a covid-19 de gripezinha ou insinuar que a vacina transforma gente em jacaré. O Senado teria de usar seus recursos limitados para investigar todo o Brasil, sabendo que 11 Estados já fazem essa investigação e em dois, Rio de Janeiro e Santa Catarina, os governadores investigados já foram afastados do cargo.

Isso tudo sem contar o fato de que a Polícia Federal trabalha no tema em nove Estados e já recuperou em torno de R$ 7 milhões desviados, até com incursões em gabinetes de governador, como no caso de Helder Barbalho, no Pará.

Bolsonaro convidou o Senado à dispersão de esforços para se proteger. E não satisfeito em lançar mão de Estados e municípios como escudo, quer que se abram processos contra ministros do Supremo.

São duas lições importantes sobre a política no Brasil. Acusados tentam sempre ampliar as investigações para desaparecerem nela, e quase sempre alegam que todos estão errados. No caso, a ideia é pôr a limitada estrutura do Senado a investigar todo o Brasil e, simultaneamente, tentar cassar membros do Poder Judiciário.

Em outras palavras, a melhor maneira de investigar a omissão criminosa de Bolsonaro é uma ofuscante e laboriosa atividade cujo resultado pode ser nulo. É uma nova pirueta do negacionismo. Não houve pandemia, muito menos responsáveis pela mortandade. A CPI seria apenas, como em Macbeth, uma história, contada por idiotas, cheia de som e fúria, significando nada.

O nó do Orçamento também é interessante, por mostrar que se tornou um instrumento tão precário que não serve nem para um desgoverno como esse que existe hoje no Brasil. Negociações medíocres entre governo e Congresso acabaram fazendo a balança pender para alguns ministérios e, sobretudo, para o lado dos parlamentares.

Não se sabe onde vai parar parte do dinheiro da Previdência, do seguro-desemprego, do financiamento da agricultura familiar. O próprio Paulo Guedes afirma que com esse Orçamento é impossível prosseguir e teme até o impeachment de Bolsonaro. Como sempre, a conta está um pouco mais alta: R$ 33 bilhões.

O que é esclarecedor sobre o Brasil são as soluções discutidas nos bastidores. Aí, sim, o observador conhecerá um pouco da nossa cultura, seguindo o debate. Uma das propostas para livrar Bolsonaro de processo é uma viagem ao exterior. O Orçamento seria assinado por Arthur Lira, que já está queimado mesmo e serviria de escudo para o presidente.

Também muito didática é a troca de ideias entre Guedes e os parlamentares. O ministro propõe que sejam cortados os R$ 33 bilhões e se façam ajustes lá na frente. Os parlamentares propõem que sejam mantidos e se façam ajustes lá na frente. Uma ausência tão completa de planejamento é também uma espécie de negação do governo. O Orçamento é apenas para tocar os assuntos correntes.

O problema é que essa ausência de governo real assusta até o mercado. Hoje apenas por ser uma dispendiosa ausência. Logo o próprio mercado sentirá falta de um governo com projetos de renovação pós-pandemia.

Nos Estados Unidos discute-se uma nova relação entre governo e forças produtivas, trabalha-se com a consciência de um desastre climático, aprofunda-se a experiência digital. O Brasil costuma levar alguns anos para se sintonizar com o mundo. Quase sempre foi assim, mas com um governo negacionista certamente despontamos para o atraso.

A BRUTALIDADE SEM LIMITES TIROU A VIDA DE UM INOCENTE

 

Tortura e morte de Henry por Jairo Jr. são extremo cruel que resulta da omissão geral

José Nêumanne, O Estado de S.Paulo

A simpatia e os bons modos sociais do vereador carioca Jairo Júnior antes da tortura e morte de Henry Borel, de 4 anos, filho de sua namorada, Monique Medeiros, assim como uma eventual “loucura de monstro”, em nada atenuam as suspeitas do delegado Henrique Damasceno, da 16.ª DP. Seu comportamento anterior à morte do menino ajusta-se ao do nazista julgado em Israel em 1961, como relata Hannah Arendt em Eichmann em Jerusalém: ele é “normal” e seu comportamento, socialmente “desejável”. Os ensaios da filósofa judia, publicados em 1963 pela revista norte-americana The New Yorker, aplicam-se a outro episódio protagonizado pelo ex-filiado ao Partido Solidariedade (terrível ironia!).

Tal fato foi narrado pelo repórter fotográfico Nilton Claudino em texto publicado pela revista PiauíMinha dor não sai no jornal, em 2011, sob esta linha fina: “Eu era fotógrafo de O Dia, em 2008, quando fui morar numa favela para fazer uma reportagem sobre as milícias. Fui descoberto, torturado e humilhado. Perdi minha mulher, meus filhos, os amigos, a casa, o Rio, o sol, a praia, o futebol, tudo”. Ele, a repórter e o motorista foram delatados por “colegas” da redação do jornal, quando moravam na favela do Batan, em Realengo, sob domínio da milícia à qual é acusado de pertencer o pai do investigado no caso Henry, coronel PM Jairo Souza Santos. Atualmente em prisão domiciliar por causa da covid e de generosa mercê da ministra do Supremo Tribunal Federal Cármen Lúcia.

O jornalista registrou que “maconheiros” são justiçados em julgamentos públicos diante da dita comunidade por milicianos. E também a captura da equipe do jornal pelos verdadeiros donos da ordem e da “lei” na periferia do Rio. “Durante a tortura, estávamos lado a lado, eu, a repórter e o motorista. Num quarto escuro, só iluminado por telas de celulares, que usavam para que pudéssemos assistir uns aos outros serem subjugados. O motorista pedia para que eu afastasse escorpiões que subiam por suas costas. Não podia ajudá-lo. Ouvíamos passos de muitos PMs. Tiraram nossos capuzes e substituíram por sacos plásticos, parecidos com os de supermercados. Com eles, produziam asfixiamentos temporários. Mas dava para ver as fardas quando olhava por baixo do plástico.”

O que chamavam de coronel, ou zero-um, tipo de denominação favorita do presidente Jair Bolsonaro para os próprios filhos, deu o veredicto de misericórdia que livrou o trio de “intrusos” da morte. Mas não do opróbrio. O fotógrafo viu-se forçado a separar-se da mulher e dos filhos e viver em esconderijo incerto e não sabido até hoje, 13 anos depois do fato e a dez da publicação de seu testemunho, que não emocionou nenhuma autoridade nem organismos de defesa de direitos humanos. Segundo Claudino, a repórter, não identificada, reconheceu a voz de um vereador que participava das sessões de tortura. Desde então, este foi beneficiado pela anistia dada aos donos das milícias e da política.

Onze anos depois do rapto e a oito da publicação da Piauí, o castelo da impunidade foi reforçado pela reeleição para uma vaga na Câmara Municipal do Rio. Jairo Jr. participou de uma live no Dia da Criança com o então prefeito Marcelo Crivela, e nela declarou: “A gente tem que dar o exemplo e aí isso daí vai levando para nossas gerações, para nossos filhos”, pontificou. Esse discurso desmorona no episódio em que é investigado por tortura e assassinato do indefeso enteado. É que agora encarou uma inesperada muralha de decência contra sua ocultação. O suspeito não desistiu de usar seu poder político. Mas os médicos que constataram o óbito no Hospital Barrador se recusaram a liberar o corpo sem a necessária necropsia do Instituto Médico Legal (IML). E a autoridade responsável por esse órgão público negou-se a liberar o cadáver sem o laudo exigido por lei. O vereador telefonou na madrugada do crime para o governador em exercício, Cláudio Castro, mas este não interferiu. O Partido Solidariedade expulsou-o sumariamente. A Câmara Municipal dá sinais de que poderá cassar-lhe o mandato. A ver.

Certo é que o aviso dado por Hannah Arendt continua valendo para o episódio em si e para todas as manifestações do presidente Jair Bolsonaro e de seu vice Hamilton Mourão a favor de torturas em geral e do torturador Brilhante Ustra em particular. A tortura de qualquer ser humano indefeso, em especial, mas não somente, se for uma criança, e leve ou não a vítima à morte, é crime e covardia indefensáveis para cidadãos “de bem”, ou não, e que professem quaisquer credos religioso ou ideológico. Elogiá-los é a eles se acumpliciarem.

O livro de Hannah Arendt deve nos guiar no bom combate a que se referiu o apóstolo Paulo. Ele ensina que a banalidade do mal é o fenômeno da recusa do caráter humano do homem, alicerçado na negativa da reflexão e na tendência a não assumir a iniciativa própria de seus atos. O ser humano está limitado pela alienação e banalização do mal. No caso não há omissos inocentes. Apenas cúmplices. E ninguém deverá ser poupado, tendo participado por ação, inércia ou omissão.

BRASÍLIA É UMA IMENSO SALÃO PARA A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Armas, cloroquina, máscara, vacina. Não se ganha autoridade afrontando o cidadão

Paulo Delgado, O Estado de S.Paulo

Tragédia desnecessária é lástima. Em algum lugar da Comédia Humana, de Balzac, há referência a um imenso salão onde as pessoas buscam solução para seus problemas, mas que de tão monumental faz parecer mesquinho tudo o que o cerca. São aqueles lugares e situações em que a espera vira agonia. No Brasil é o salão onde a Justiça se faz degrau da política e se dispõe a alimentar com colher outro Poder. E a omissão do Parlamento não deixa a política andar pelas próprias pernas.

Muitos congressistas sofrem da “doença do mandato”, que os faz perambular pelas duas Casas preservando o mandato sem exercê-lo. São vítimas de presidentes que mobilizam emoção sem entender do assunto.

O presidente, estrela ociosa cuja riqueza veio da política, é presa fácil do poder sem lastro que o estimula a passar o rodo. Telefona nu do palácio. Avança para destruir o patrimônio institucional, construído pela elite e pelo povo brasileiro nos últimos 132 anos. Vaga fora do alcance da luz confiante no círculo de aduladores-vingadores.

Maus sentimentos fazem maus governos. É preciso alguém elevado, capaz de se cercar de ideias coletivas, para ajudar o País a escapar do descarrilamento. O político, como parte essencial da elite do poder, deve abandonar o tabu da falta de propósitos comuns e fazer das ramificações na sociedade a fonte do poder.

Há uma crise do progresso agravada pela falta de reação ao fracasso do Executivo. Um entorpecimento social e econômico, também estimulado pela alienação das pesquisas que avalia friamente os brasileiros, como se não quisesse deixá-los em paz para refletirem sobre seu silêncio. A vida como eleição faz perder o êxtase, recalca a consciência do presente e mete o cidadão numa prisão que o priva da liberdade de decidir.

O eleitor é o herói-vítima de quem fala por ele e a quem se impõe uma ação que talvez não queira. Sondagens são rédeas, reduzem a democracia ao mínimo eleitoral e empurram o País para o abismo da urna outra vez como panaceia e loteria.

A política nada conseguirá se continuar esse carrossel de cavalões correndo, viciados em rondó de ideologias e o povo, cavalinhos sofrendo – teu populismo, esmeralda ou rubi, acabou enlouquecendo. O sol tão claro lá fora. E a alma, por te seguir, desaparecendo (apud Manuel Bandeira). Bijuterias políticas. Chega da equitação de poderosos não cooperativos, montados na construção mental dispersa da desorganização do sistema público. É hora de domar o cavaleiro, e não mais amestrar o cidadão.

A sociedade continua tratada como superfície plana, tela de uma exposição do expressionismo abstrato, onde artistas deslumbrados com o preço irreal do que pintam vivem seu próprio mundo mais importante do que sua obra. É necessário dobrar o sino da complacência com gigolôs de pobres, tribunais, quartéis e igrejas. Quem for demagogo, justiceiro, vivandeira, santo do pau oco, que o seja para si, mas não enquanto político.

O presidente, pelo que demonstra em suas atitudes, jamais alcançaria posto acima do nível tático, como atingiu. O acesso a posto superior da hierarquia militar, relacionado ao nível estratégico, exige capacidade de pensamento complexo, que envolve abstração, análise de múltiplos fatores e outras competências cognitivas elevadas. Que formam o conceito de mérito, essencial nas instituições em que a ascensão a comandos se faz pela avaliação de conhecimento e preparo.

Quando diz que “todos têm que morrer um dia”, revela desprezo pelo efeito da pandemia, que é levar muita gente à morte antes do que ocorreria “um dia” por outras causas. Não se deve brincar com a transgressão. Por coerência, aplicada ao mandato presidencial a mesma ideia, “todo eleito tem que sair um dia”, não é anormal antecipar “esse dia”. Afinal, sem possuir fundamento positivo suficiente para enfrentar a complexidade atual é bom evitar que a catástrofe vire revolta.

Sintomas de pensamento desestruturado, que enfiou o País numa gaiola, incapaz de abstrair e compreender o geral e o específico, valendo-se de cabeças de aluguel, estão presentes em todas as suas atitudes. Armas, cloroquina, máscara, vacina. Não se ganha autoridade afrontando o pacato cidadão: é crueldade negar o testemunho da dor e da razão lógica. No presidencialismo falhas do defeito gritam.

Sua visão estreita dos problemas complexos o faz tratar o essencial como minoritário e o ultraminoritário como essencial. Não quer CPI porque não quer ser investigado em sua culpa ou dolo. É preciso parar a imprudência. Melhor a autópsia do governo que a de meio milhão de brasileiros.

Questões que longinquamente ressoam um Brasil dominado e revivido por correntes de opinião disfuncionais. Mais bondade, menos orgulho. O bem é mais antigo do que o mal, e o governante é responsável pelo que o outro realiza em seu nome ou por sua influência. Se continuarmos a antecipar o mundo das eleições, a tragédia em curso continuará um ponto periférico e o presidente conseguirá completar sua sina como o intimidador invencível que sempre foi.

SOCIÓLOGO. E-MAIL: CONTATO@PAULODELGADO.COM.BR

 

CONGRESSO PRIORIZOU O INTERESSE PARTICULAR DOS CONGRESSISTAS NO ORÇAMENTO

 

Esse avanço é um procedimento aético, pois não tem como objetivo o bem comum

Roberto Macedo, O Estado de S.Paulo

Quando redigia este artigo, prosseguia o impasse em torno do Orçamento federal de 2021, maquiado pelo Congresso. Abordei o tema no meu artigo anterior neste espaço (Sob comando do Centrão, Congresso corrompeu Orçamento de 2021, 1.º/4). Recorde-se que a Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano só veio no dia 25 deste mês, um atraso que já indicava problemas na sua elaboração.

O mais sério foi o “cancelamento” parcial de despesas obrigatórias (abono salarial, seguro-desemprego, previdência do INSS e outras menores), num total de R$ 26,5 bilhões, para abrir espaço (R$ 26 bilhões) para despesas discricionárias de emendas de interesse do relator do projeto e de parlamentares.

O noticiário anterior e subsequente à LOA e, em geral, sobre questões orçamentárias federais chama a atenção para o avanço político do Congresso no sentido de ampliar sua influência no destino dos gastos. Em entrevista ao jornal O Globo publicada em 21 de março, antes, portanto, da aprovação da LOA, o presidente da Câmara, Arthur Lira, já indicava como pretende lidar com o Orçamento federal. Disse ele: “… vamos buscar o comando do Orçamento. … O Orçamento vem pronto, todo prefixado, com 96% de despesas carimbadas. Defendo a desvinculação total do Orçamento. … Se o Congresso vai votar, se não vai votar… Aí a gente tem que ter o respeito de ouvir todos. A população tem de escolher o deputado: ‘Ah, eu quero que tenha no Orçamento 40% para educação. Então a população vai votar em deputados que defendam a Educação”. Ora, não é assim. O distanciamento entre congressistas e seus eleitores é imenso, em geral estes não são ouvidos. E mesmo se fossem, isso não levaria necessariamente o Orçamento pelos melhores caminhos.

Indagado sobre como buscar o comando do Orçamento, Lira respondeu: “Por que o Executivo é quem tem de tocar o Orçamento… Aí é o erro do Brasil. Onde as maiores democracias são fortes? Onde o Orçamento é do Legislativo. Quem vai executar é o Executivo. Mas quem diz onde vai executar, quanto vai executar e em que área é o Legislativo”.

É outro equívoco. Ele deveria acompanhar o caso dos EUA neste momento em que o presidente Joe Biden tratará com seu Congresso seu imenso programa de fortalecimento da economia e da sociedade americana. Esse programa partiu dele e é o Executivo que tem todo um enorme aparato de ministérios que cuidam de questões específicas e elaboram propostas de aprimoramento. O Congresso não tem esse aparato. Pode aprovar ou não, e até propor algumas mudanças, mas seu papel fundamental é o de legislar.

O que o nosso Congresso quer mesmo é executar ações de interesse de congressistas, voltadas principalmente para suas bases eleitorais nos municípios, o que se expressa claramente por meio das abomináveis emendas parlamentares. Tanto assim é que o grande impasse na discussão da LOA de 2021 diz respeito a essas emendas parlamentares. Em geral, destinam recursos em âmbito municipal a obras e serviços que, principalmente nos municípios pequenos, muito representam eleitoralmente. Essas emendas são aprovadas sem escrutínio pelos demais congressistas e pelas assessorias técnicas do Congresso. É um procedimento aético, pois não visa o bem comum. Como os municípios em geral carecem de mais recursos, estes deveriam ser buscados de forma a alcançar todos eles.

Cecília Machado, professora da Escola Brasileira de Economia e Finanças da Fundação Getúlio Vargas, em artigo na Folha, dia 13/4, fez uma avaliação de como essas emendas funcionam mal: “Na prática, a execução descentralizada e atomizada das emendas … pode encontrar … desafios na sua implementação… Primeiro, a discricionariedade individual dos parlamentares na escolha de projetos vem ao custo de uma avaliação mais ampla de alternativas para a aplicação dos recursos, e … é falha na identificação de ações prioritárias. … muitos municípios, especialmente os menores, não têm levantamento prévio de suas necessidades … com critérios técnicos. … Inexistem critérios de necessidade ou custo-efetividade dos projetos, que passam a seguir lógica populista ou eleitoral, … ainda que os maiores gargalos possam estar em outras regiões ou municípios”. A autora segue apontando outros sérios defeitos das emendas parlamentares.

O que fica claro é que a maioria dos congressistas quer mesmo é cevar suas clientelas políticas, de olho na reeleição. Tenho argumentado que se trata de um financiamento público e indireto de campanhas eleitorais em benefício de candidatos já com mandato, que não alcança quem não o tem. Apesar de as emendas estarem na Constituição por emenda constitucional, pode-se argumentar que seriam inconstitucionais por violarem um princípio originário e cláusula pétrea da Carta Magna, o de que todos são iguais perante a lei.

Seria importante que o assunto fosse levado ao Supremo Tribunal Federal. Dada a disposição do deputado Arthur Lira, do lado do Congresso o problema das emendas só tende a se agravar.

ECONOMISTA (UFMG, USP E HARVARD), PROFESSOR SÊNIOR DA USP. É CONSULTOR ECONÔMICO E DE ENSINO SUPERIOR

quinta-feira, 15 de abril de 2021

ORÇAMENTO PÕE BOLSONARO ENTRE A CRUZ E A ESPADA

 

Presidente tenta encontrar meio-termo após ouvir de Arthur Lira que o Parlamento não aceita vetos à proposta orçamentária; e do ministro da Economia que, se o texto for sancionado como está, abandonará o cargo

Andreza Matais e Murilo Rodrigues Alves, O Estado de S.Paulo

15 de abril de 2021 | 05h00Conteúdo CompletoFECHAR

BRASÍLIA – A novela da sanção do Orçamento está longe de um capítulo final. Em reunião na terça-feira à tarde no Palácio do Planalto, o presidente da CâmaraArthur Lira (Progressistas-AL), alertou o presidente Jair Bolsonaro que o governo perderá a base de apoio caso vete o projeto e não conseguirá mais aprovar nenhuma matéria no Congresso, incluindo as reformas administrativa e tributária.

Já o ministro da EconomiaPaulo Guedes, voltou a defender o veto com o argumento de que Bolsonaro pode cometer crime de responsabilidade, que poderia acabar desembocando num processo de impeachment. Guedes, mais uma vez, chegou a colocar o cargo à disposição, mas não foi levado a sério.

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Para um dos presentes à reunião no Planalto, o problema é que Bolsonaro vê ameaça de impeachment por toda parte. Além do presidente, Lira e Guedes, estavam lá os ministros Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil), Flávia Arruda – que, como titular da Secretaria de Governo, é responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso – e Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União). O grupo de Lira aposta que, se houver rompimento, Flávia Arruda deixaria o cargo para o qual foi recém-nomeada. Uma saída dela do governo, porém, não foi discutida na reunião. O Estadão apurou que Flávia não admite essa hipótese.

Arthur Lira e Paulo Guedes
Arthur Lira, presidente da Câmara, e Paulo Guedes não se entendem sobre sanção da peça orçamentária. Foto: Adriano Machado/Reuters

A poucos dias do prazo final para Bolsonaro tomar uma decisão, o encontro foi tenso e acentuou ainda mais a divergência entre a área econômica e a política. O discurso do ministro da Economia de que age para proteger o presidente, como se o Congresso quisesse prejudicá-lo, tem ajudado a colocar ainda mais lenha na fogueira.

A aprovação do Orçamento é fundamental para o País fazer frente às despesas, ainda mais com o recrudescimento da pandemia. O Estadão apurou que, durante o encontro, Lira voltou a dizer que Bolsonaro não cometerá nenhum crime de responsabilidade ou pedalada fiscal, caso sancione o Orçamento, porque o texto foi aprovado pelo Congresso, e não executado pelo governo.

Na avaliação do presidente da Câmara, o governo pode corrigir os “excessos” e garantir o pagamento das despesas obrigatórias, como a da Previdência, ao longo do ano. Tem instrumentos para isso, como bloqueios do Orçamento ou remanejamentos.

Excessos

Lira apresentou como solução para o impasse a sanção total do Orçamento, seguida do envio de um projeto de lei para corrigir os excessos de emendas parlamentares encaixadas pelo relator, senador Marcio Bittar (MDB-AC), sob o patrocínio do ex-presidente do Senado Davi Alcolumbre (DEM-AP). O projeto também serviria para refazer as projeções de gastos obrigatórios que foram subestimados, incluindo, por exemplo, o impacto do reajuste do salário mínimo nos benefícios sociais.

O problema é que o entorno do presidente teme que o Congresso não aprove o projeto, deixando Bolsonaro em risco. Mesmo Lira dando a palavra de que o projeto será votado, há desconfianças. Para auxiliares do presidente, seguir essa receita seria deixar Bolsonaro nas mãos de um Legislativo que já deu várias demonstrações de traição ao longo de sua história.

Interlocutores de Bolsonaro disseram ao Estadão que Lira tenta convencer o Planalto de que sua palavra vale. Aliados do Centrão argumentam que, se o presidente vetar o texto, passará a ter problemas que não enfrenta hoje, como a falta de uma base no Congresso no momento em que sua popularidade está em queda e há uma centena de pedidos de impeachment na gaveta. Além disso, há uma CPI da Covid chegando. “Você não tem um problema hoje, mas passará a ter”, disse Lira a Bolsonaro, ao seu estilo, sem meias-palavras.

O presidente foi informado na reunião de que as projeções das despesas do governo com aposentadorias e pensões da Previdência estão superestimadas. Consultores legislativos apontam que os gastos devem fechar este ano em R$ 706 bilhões, número menor do que os R$ 720 bilhões previstos pela Economia. O Orçamento, porém, foi aprovado com R$ 698,5 bilhões para os benefícios.

O risco do impeachment é justamente sancionar um Orçamento com despesas obrigatórias, como o pagamento de aposentadorias e pensões, subestimadas para aumentar a fatia de emendas parlamentares.

Mas os que defendem a sanção integral do Orçamento têm reforçado para o presidente os argumentos de que não há perigo à vista. Já estão desse lado a CGU e a Subchefia para Assuntos Jurídicos (SAJ), órgão de assessoramento da Presidência. Bolsonaro, no entanto, ainda está reticente em se fiar no Congresso.

PEC fura-teto

Na tentativa de garantir mais segurança jurídica para o estouro do teto de gastos – regra que impede as despesas de crescerem em ritmo superior à inflação –, o Congresso tem a disposição de aprovar a PEC fura-teto. A proposta foi planejada pela equipe econômica para retirar ao menos R$ 35 bilhões da norma constitucional.

Para o comando do Congresso, a PEC é “meritória”, mas precisa ser apresentada pelo governo e deve ser usada como solução para a sanção do Orçamento sem vetos, juntamente com o envio do projeto de lei. “O problema foi na unha, e Guedes quer cortar a mão”, criticou um interlocutor de Bolsonaro que acompanha as discussões sobre a atuação do ministro.

Em determinado momento da reunião, na terça-feira, foi oferecida a Guedes a chance de construir uma narrativa favorável a ele, que justificaria a sanção do Orçamento sem parecer um recuo. O ministro já afirmou que, da forma como foi aprovada, a peça é ‘inexequível’. O alerta levou Bolsonaro a dizer a empresários, na semana passada, que não vai “colocar o dele na reta”.

A sugestão dada a Bolsonaro para que ele e o vice-presidente, Hamilton Mourão, fizessem uma viagem ao exterior, abrindo espaço para Lira assumir a Presidência e, assim, sancionar o Orçamento, como revelou o Estadão, foi mencionada. Lira a tratou como ironia. E brincou que, se assumir a Presidência, vai fazer uma reforma ministerial.

Na reunião, o ministro da Economia bateu a todo momento na tecla dos riscos de perda de mandato ou, ainda, de Bolsonaro se tornar inelegível. O presidente chega a olhar para cima quando Guedes começa o discurso e parece entrar no “modo automático”, como definiu um dos presentes ao encontro. Mesmo assim, não planeja substituir o ministro da Economia, a não ser que ele queira, por se sentir em dívida. Foi o ministro quem garantiu a Bolsonaro, durante a campanha, o apoio do empresariado e do mercado financeiro.

As críticas à atuação de Guedes e de sua equipe, porém, já não são feitas apenas por militares. Seriam compartilhadas até mesmo pelo presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto. Cotado como opção número 1 para substituir Guedes, Campos Neto tem afirmado, em conversas privadas, que a equipe do ministro se revelou incompetente. Ele poupou, porém, o ministro, a quem tem gratidão. Procurados, Guedes, Lira, Flávia Arruda e Campos Neto não se manifestaram.

VÍCIO EM SEDUZIR DO HOMEM

 

Simone Demolinari 

“Sou casado, feliz e não tenho interesse em trair minha esposa. Alias, nunca traí. Mas fico me insinuando para as mulheres como se eu fosse solteiro. Tento conquistá-las. Sinto uma vontade incontrolável de conquistar outra mulher, mas quando ela topa eu não tenho coragem de realizar a traição. Já me dei mal várias vezes pois pessoas já mostraram prints meus para minha esposa. Sou mau caráter ? Sou um galinha? Por que eu me prejudico tanto?”

O vício em seduzir é popularmente conhecido como síndrome de Don Juan. Trata-se de uma necessidade permanente em seduzir outras pessoas. O objetivo é o desafio da conquista , como se fosse um jogo. 

O nome Don Juanismo tem a ver com o famoso personagem Don Juan, que, segundo a lenda, era um jovem conquistador, impiedoso e cruel que buscava apenas a conquista e o sexo, abandonando as mulheres logo após atingir seu objetivo. Portanto, é chamado de Don Juan aquele que faz de tudo para conquistar e, tão logo consegue, perde o interesse. 


Mas, apesar de o nome da síndrome ser baseado em um personagem homem, ela pode ocorrer em ambos os sexos. 

Há uma forte ligação entre a necessidade de seduzir com a baixa autoestima. Além disso, há um notório medo de ser traído

Podemos dividir os indivíduos que sofrem dessa síndrome em duas categorias: os que consumam a conquista e os que não consumam. A primeira categoria, após conquistar o objeto de desejo, inicia um breve romance, geralmente de grande intensidade, afinal de contas deposita-se muito investimento naquela conquista. Mas, com a mesma velocidade que começa, termina, pois o conquistador vai, aos poucos, perdendo o interesse. A pessoa conquistada, já apaixonada, fica sem entender o motivo do afastamento, do desinteresse e, por fim, do sumiço do então apaixonado. Muitos nem voltam para terminar, muito menos para contar o que aconteceu. Estão já preocupados com a nova conquista.

Já a segunda categoria é a dos que não consumam a conquista, seduzem, paqueram, investem, mas até garantir o interesse da outra parte. Uma vez certificado disso, perdem o interesse. É uma espécie de aferição do seu prestígio. 

Para ambos os casos, quanto mais “difícil” ou “proibido” for a conquista, mais instigante ela se tornará.

A pergunta que fica é: por que isso acontece?

Há uma forte ligação entre a necessidade de seduzir com a baixa autoestima. Além disso, há um notório medo de ser traído, por isso, num ato inconsciente, o sedutor se mantém aquecido na prática, pois no menor risco de traição, ele não deixa barato. 

O Dom Juanita é um sofredor ao mesmo tempo que também faz o outro sofrer. Sofre pelo vazio emocional que sente, pela baixa autoestima e o constante medo da traição (mesmo que tenha parceiros confiáveis. O problema está nele, e não do outro). E faz sofrer, pois não se preocupa com o sentimento alheio, tratando o outro como objeto para satisfazer as suas necessidades que, após satisfeitas, o descarta sem o menor pudor. Uma lástima!

POLÍTICA AMBIENTAL DO BRASIL DISCUTIDA NO MUNDO

 

A Cúpula dos Líderes sobre o Clima é uma oportunidade para o governo brasileiro

Notas & Informações, O Estado de S.Paulo

Ao tratar da importância do comprometimento do governo brasileiro com a proteção ambiental, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, reconheceu que “o tema ambiental é importante também para esta agenda (de entrada) da OCDE”. A declaração de Todd Chapman não foi um ultimato – revelou, acima de tudo, uma oportunidade para o Brasil. Há ainda espaço para o governo de Jair Bolsonaro reverter a imagem de inimigo do meio ambiente, comprometendo-se de forma efetiva com as metas do Acordo de Paris.

Nos dias 22 e 23 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, será o anfitrião da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento virtual para o qual foram convidados 40 chefes de Estado; entre eles, o presidente Jair Bolsonaro. “A Cúpula enfatizará a urgência e os benefícios econômicos de uma ação climática mais forte”, disse a Casa Branca. A reunião é, portanto, oportunidade para o governo brasileiro adotar e proclamar uma nova e efetiva política ambiental.

A declaração do embaixador dos Estados Unidos no Brasil é também um aviso de que, até agora, os movimentos do governo Bolsonaro em relação à proteção ambiental foram insuficientes. Por exemplo, em carta enviada a Joe Biden em janeiro deste ano, Jair Bolsonaro disse que o Brasil estava disposto a cooperar nas discussões sobre o meio ambiente. Mais do que palavras, o governo americano quer compromissos concretos.

Os EUA negociam com o governo brasileiro um acordo relativo à preservação da Floresta Amazônica. Ao longo dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, constatou-se um perigoso aumento do desmatamento na região. Esse quadro oferece a oportunidade tanto a Joe Biden de apresentar uma vitória na área ambiental como a Jair Bolsonaro de reverter a lamentável imagem do País no cenário internacional.

Aliás, maior ambição na defesa do clima foi precisamente o pedido feito ao presidente da República por um grupo de 34 lideranças empresariais, por meio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

No documento Neutralidade Climática: uma grande oportunidade, os empresários pedem que o Brasil se comprometa com a neutralidade de emissões de carbono em 2050, e não em 2060, como foi anunciado pelo governo Bolsonaro em dezembro. Segundo o grupo, metas mais ambiciosas trarão benefícios econômicos (com geração de empregos e novos investimentos), comerciais (maior poder de negociação no mercado internacional), ambientais (com redução dos gases de efeito estufa) e reputacionais (reafirmando o protagonismo histórico brasileiro).

Nesse maior compromisso com o meio ambiente, o CEBDS pede que o governo brasileiro não condicione as metas ambientais ao recebimento de recursos externos. Em 2020, o Ministério do Meio Ambiente dissera que a meta de neutralidade da economia poderia ser antecipada, caso o Brasil recebesse, a partir de 2021, US$ 10 bilhões por ano.

Em menos de um ano, é a segunda vez que lideranças empresariais pedem que o governo Bolsonaro assuma um compromisso ambiental. Em julho de 2020, empresários pediram, em carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, uma política efetiva de proteção da Floresta Amazônica.

A necessidade de uma nova política ambiental pelo governo Bolsonaro foi também tema de um painel da Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros em Boston (EUA) em parceria com o Estado. Por exemplo, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, destacou que o governo federal tem condições de reorganizar as relações entre Ibama e Polícia Federal para combater de forma efetiva as ações de desmate ilegal na Amazônia.

No evento, os participantes reafirmaram que o Brasil tem condições de adotar uma política ambiental compatível com as metas assumidas no Acordo de Paris, para mitigar as mudanças climáticas. A nova política externa americana, com Joe Biden dando centralidade à questão ambiental, é oportunidade para uma nova atitude do governo brasileiro. Uma política ambiental responsável interessa, em primeiro lugar, aos brasileiros.

RENOVAÇÃO NA DIRETORIA DO BANCO DO BRASIL

 

Aline Bronzati 

Renovação prevista na alta cúpula do BB deve resgatar fase pré-liberal

Aline Bronzati – Broadcast

Foto: Fabio Motta/AE

O novo comando do Banco do Brasil, sob a orientação de Fausto Ribeiro, quer repaginar a alta cúpula da instituição, trocando a maioria das atuais sete vice-presidências. Nos bastidores, de acordo com fontes, é esperada a mudança mais brusca desde a chegada do governo Bolsonaro, o que colocaria o conglomerado na direção que trilhava antes das gestões de seus ex-presidentes liberais – o economista Rubem Novaes e André Brandão. Ribeiro tem considerado “pratas da casa” para as posições. A ideia é ter um time da sua confiança, alinhado com a orientação de continuar com a prioridade nos negócios, mas aproximar o conglomerado do Planalto.

Dentre os candidatos para a vice-presidência de negócios de atacado do BB, um dos citados é o do atual presidente do argentino Patagônia, João Carlos de Nobrega Pecego, substituindo Bernardo Rothe. Para a vice-presidência de controles internos e riscos, um dos nomes colocados na mesa foi o da diretora da área, Ana Paula Teixeira de Sousa. Se for escolhida, será a primeira mulher na história do banco a ocupar uma cadeira na alta cúpula. Atualmente, a área de riscos está com Carlos Renato Bonetti.

Nenhum dos cotados, porém, já teria sido cravado por Ribeiro. Também há dúvidas quanto ao futuro da vice-presidência de desenvolvimento de negócios e tecnologia, considerada o coração do banco. Há uma torcida para que o atual dono da cadeira, Gustavo de Souza Fosse, fique.

O único nome certo, ao menos até aqui, seria o do atual vice-presidente de negócios de varejo do BB, Carlos Motta dos Santos. Duas vice-presidências já mudaram. Carlos André, vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores, e Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente Corporativo, renunciaram. Foram substituídos, respectivamente, pelos diretores José Ricardo Fagonde Forni e Ênio Mathias Ferreira. Procurado, o BB não comentou.

De volta ao que era antes

Antes responsável por consórcios no banco, Fausto Ribeiro assumiu o comando do BB, no início do mês, com uma clara mudança de orientação, voltando o conglomerado ao que era antes das gestões liberais. A instituição seguirá com foco em negócios, priorizando a rentabilidade, como o executivo já sinalizou em seu primeiro manifesto a funcionários, revelado pelo Broadcast, mas passa a dar uma atenção diferenciada ao governo.

Os antecessores de Ribeiro pouco mexeram na estrutura da alta cúpula do BB. O economista Rubem Novaes, que chegou com a bandeira de “eliminar os petistas” do grupo, reconheceu a qualidade técnica dos executivos do banco e os projetos que já estavam sendo encaminhados antes, na gestão de Paulo Caffarelli, hoje na Cielo, e moveu poucas peças. Brandão fez mudanças ainda menores, repondo apenas cadeiras que estavam vagas.

Nesses mais de dois anos de governo, Bolsonaro nunca foi ao BB, de acordo com fontes do banco. Ribeiro chega para colocar o conglomerado mais próximo ao Planalto. Lembra, inclusive, o governo do ex-presidente Michel Temer, quando o BB reforçou o foco em rentabilidade e negócios, sob as mãos de Caffarelli, mas sem se afastar de seu controlador.

O questionamento que fica no mercado é sobre quanto o BB vai manter sua identidade sem mudar o tino dos negócios. Ribeiro foi claro na carta aos funcionários, enfatizando três eixos: geração de resultados, retorno de banco privado e rigidez no controle de gastos. Nas ações do BB na Bolsa, a ingerência política ainda dá o tom. No ano, os papéis ordinários acumulam queda de mais de 22%.

Foto: Fabio Motta/AE

O novo comando do Banco do Brasil, sob a orientação de Fausto Ribeiro, quer repaginar a alta cúpula da instituição, trocando a maioria das atuais sete vice-presidências. Nos bastidores, de acordo com fontes, é esperada a mudança mais brusca desde a chegada do governo Bolsonaro, o que colocaria o conglomerado na direção que trilhava antes das gestões de seus ex-presidentes liberais – o economista Rubem Novaes e André Brandão. Ribeiro tem considerado “pratas da casa” para as posições. A ideia é ter um time da sua confiança, alinhado com a orientação de continuar com a prioridade nos negócios, mas aproximar o conglomerado do Planalto.

Dentre os candidatos para a vice-presidência de negócios de atacado do BB, um dos citados é o do atual presidente do argentino Patagônia, João Carlos de Nobrega Pecego, substituindo Bernardo Rothe. Para a vice-presidência de controles internos e riscos, um dos nomes colocados na mesa foi o da diretora da área, Ana Paula Teixeira de Sousa. Se for escolhida, será a primeira mulher na história do banco a ocupar uma cadeira na alta cúpula. Atualmente, a área de riscos está com Carlos Renato Bonetti.

Nenhum dos cotados, porém, já teria sido cravado por Ribeiro. Também há dúvidas quanto ao futuro da vice-presidência de desenvolvimento de negócios e tecnologia, considerada o coração do banco. Há uma torcida para que o atual dono da cadeira, Gustavo de Souza Fosse, fique.

O único nome certo, ao menos até aqui, seria o do atual vice-presidente de negócios de varejo do BB, Carlos Motta dos Santos. Duas vice-presidências já mudaram. Carlos André, vice-presidente de Gestão Financeira e de Relações com Investidores, e Mauro Ribeiro Neto, vice-presidente Corporativo, renunciaram. Foram substituídos, respectivamente, pelos diretores José Ricardo Fagonde Forni e Ênio Mathias Ferreira. Procurado, o BB não comentou.

De volta ao que era antes

Antes responsável por consórcios no banco, Fausto Ribeiro assumiu o comando do BB, no início do mês, com uma clara mudança de orientação, voltando o conglomerado ao que era antes das gestões liberais. A instituição seguirá com foco em negócios, priorizando a rentabilidade, como o executivo já sinalizou em seu primeiro manifesto a funcionários, revelado pelo Broadcast, mas passa a dar uma atenção diferenciada ao governo.

Os antecessores de Ribeiro pouco mexeram na estrutura da alta cúpula do BB. O economista Rubem Novaes, que chegou com a bandeira de “eliminar os petistas” do grupo, reconheceu a qualidade técnica dos executivos do banco e os projetos que já estavam sendo encaminhados antes, na gestão de Paulo Caffarelli, hoje na Cielo, e moveu poucas peças. Brandão fez mudanças ainda menores, repondo apenas cadeiras que estavam vagas.

Nesses mais de dois anos de governo, Bolsonaro nunca foi ao BB, de acordo com fontes do banco. Ribeiro chega para colocar o conglomerado mais próximo ao Planalto. Lembra, inclusive, o governo do ex-presidente Michel Temer, quando o BB reforçou o foco em rentabilidade e negócios, sob as mãos de Caffarelli, mas sem se afastar de seu controlador.

O questionamento que fica no mercado é sobre quanto o BB vai manter sua identidade sem mudar o tino dos negócios. Ribeiro foi claro na carta aos funcionários, enfatizando três eixos: geração de resultados, retorno de banco privado e rigidez no controle de gastos. Nas ações do BB na Bolsa, a ingerência política ainda dá o tom. No ano, os papéis ordinários acumulam queda de mais de 22%.

MICHAEL STOTT EDITOR DO FINANCIAL TIMES ANALISA A SITUAÇÃO ECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA DO GOVERNO LULA

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