A Cúpula dos Líderes sobre o Clima é uma oportunidade para o governo brasileiro
Notas & Informações, O Estado de S.Paulo
Ao tratar da importância do comprometimento do governo brasileiro com a proteção ambiental, o embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Todd Chapman, reconheceu que “o tema ambiental é importante também para esta agenda (de entrada) da OCDE”. A declaração de Todd Chapman não foi um ultimato – revelou, acima de tudo, uma oportunidade para o Brasil. Há ainda espaço para o governo de Jair Bolsonaro reverter a imagem de inimigo do meio ambiente, comprometendo-se de forma efetiva com as metas do Acordo de Paris.
Nos dias 22 e 23 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, será o anfitrião da Cúpula dos Líderes sobre o Clima, evento virtual para o qual foram convidados 40 chefes de Estado; entre eles, o presidente Jair Bolsonaro. “A Cúpula enfatizará a urgência e os benefícios econômicos de uma ação climática mais forte”, disse a Casa Branca. A reunião é, portanto, oportunidade para o governo brasileiro adotar e proclamar uma nova e efetiva política ambiental.
A declaração do embaixador dos Estados Unidos no Brasil é também um aviso de que, até agora, os movimentos do governo Bolsonaro em relação à proteção ambiental foram insuficientes. Por exemplo, em carta enviada a Joe Biden em janeiro deste ano, Jair Bolsonaro disse que o Brasil estava disposto a cooperar nas discussões sobre o meio ambiente. Mais do que palavras, o governo americano quer compromissos concretos.
Os EUA negociam com o governo brasileiro um acordo relativo à preservação da Floresta Amazônica. Ao longo dos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, constatou-se um perigoso aumento do desmatamento na região. Esse quadro oferece a oportunidade tanto a Joe Biden de apresentar uma vitória na área ambiental como a Jair Bolsonaro de reverter a lamentável imagem do País no cenário internacional.
Aliás, maior ambição na defesa do clima foi precisamente o pedido feito ao presidente da República por um grupo de 34 lideranças empresariais, por meio do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).
No documento Neutralidade Climática: uma grande oportunidade, os empresários pedem que o Brasil se comprometa com a neutralidade de emissões de carbono em 2050, e não em 2060, como foi anunciado pelo governo Bolsonaro em dezembro. Segundo o grupo, metas mais ambiciosas trarão benefícios econômicos (com geração de empregos e novos investimentos), comerciais (maior poder de negociação no mercado internacional), ambientais (com redução dos gases de efeito estufa) e reputacionais (reafirmando o protagonismo histórico brasileiro).
Nesse maior compromisso com o meio ambiente, o CEBDS pede que o governo brasileiro não condicione as metas ambientais ao recebimento de recursos externos. Em 2020, o Ministério do Meio Ambiente dissera que a meta de neutralidade da economia poderia ser antecipada, caso o Brasil recebesse, a partir de 2021, US$ 10 bilhões por ano.
Em menos de um ano, é a segunda vez que lideranças empresariais pedem que o governo Bolsonaro assuma um compromisso ambiental. Em julho de 2020, empresários pediram, em carta ao vice-presidente da República, Hamilton Mourão, uma política efetiva de proteção da Floresta Amazônica.
A necessidade de uma nova política ambiental pelo governo Bolsonaro foi também tema de um painel da Brazil Conference, evento organizado por estudantes brasileiros em Boston (EUA) em parceria com o Estado. Por exemplo, Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, destacou que o governo federal tem condições de reorganizar as relações entre Ibama e Polícia Federal para combater de forma efetiva as ações de desmate ilegal na Amazônia.
No evento, os participantes reafirmaram que o Brasil tem condições de adotar uma política ambiental compatível com as metas assumidas no Acordo de Paris, para mitigar as mudanças climáticas. A nova política externa americana, com Joe Biden dando centralidade à questão ambiental, é oportunidade para uma nova atitude do governo brasileiro. Uma política ambiental responsável interessa, em primeiro lugar, aos brasileiros.
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