domingo, 17 de janeiro de 2016

ARGENTINA ASCENDENTE E O BRASIL DECADENTE



  

Stefan Salej



Nos Alpes suíços, numa aldeia chamada Davos, reúnem-se todos os anos a elite empresarial mundial e políticos para se atualizarem sobre o mundo e seus destinos. O Fórum Econômico Mundial é uma realidade que este ano reúne 40 chefes de Estado e de Governo e mais 2.500 participantes. Além de europeus, asiáticos, como o dono do site Ali Baba, os americanos, sob a liderança do vice-presidente Biden, seu ministro de finanças e outros ministros do governo norte-americano, terão a oportunidade de conversar com vários latino-americanos, como a estrela ascendente Macri, o novo presidente da nossa vizinha Argentina. Estará também o presidente da Colômbia, e mais alguns outros menos importantes.


Nesta segunda categoria está a delegação brasileira, cuja maior estrela será o ministro da Fazenda Nelson Barbosa. Claro que haverá painel sobre o Brasil e muita, mas muita conversa, nos bastidores, sobre a economia brasileira. Inúmeros executivos de empresas que têm investimentos pesados e de muitos anos no Brasil querem saber se esta crise vai demorar, se a queda do nosso PIB prevista para este ano vai ter efeitos nefastos, e ainda por quantos anos, e, não por último, se este governo agüenta até o próximo Fórum, em janeiro do ano que vem. Perguntas e mais perguntas, e respostas que devem convencer, para que o fluxo de investimentos volte ao Brasil.
A crítica de que a presidente Dilma não foi e as estatísticas sobre quem foi ou não, são pura bobagem. A presença da Dilma na boca do lobo não vai ajudar a crise brasileira e nem convencer os empresários de que soluções estão próximas. Aliás, neste capítulo, nem Nelson Barbosa vai convencer muito. Quem convence são os fatos e atos, mudanças nas atitudes do governo e seus políticos na gestão das finanças públicas. O resto é a ilusão e enganação. E mais, ficar vangloriando na imprensa brasileira o presidente argentino e dizendo que Dilma deveria estar lá, é desconhecer como funciona esse fórum. Nos não estamos num concurso de beleza e se a gestão Macri for bem sucedida, só podemos lucrar.


Os temas de Davos, sofisticados, escondem a grande preocupação com a freada do desenvolvimento chinês, a queda de preços das commodities e do petróleo, o conflito no Oriente Médio e o crescimento do terrorismo islâmico e a emigração para a Europa. A máquina de fazer boa imagem do criador do Fórum, o Sr. Schwab, faz Photoshop do momento e da cruel realidade. Portanto, há sempre que ler o que acontece lá nas entrelinhas. Além do mais, uma boa parte dos empresários brasileiros, tão elogiados pelo mesmo senhor, hoje estão envolvidos no processo “Lava Jato” ou então, como Eike Batista, sumidos.


Mas, onde está o Fórum Social Mundial, alternativo a Davos? Era uma contraposição interessante e fazia o mundo um pouco mais interessante, e quem sabe, mais justo.

PANELAÇO




  

Márcio Doti

                                                                                


A julgar pelos fatos do últimos dias, enquanto o interesse nacional tira férias ou fica esquecido numa gaveta qualquer, desenvolve-se um grande esforço para usar as ferramentas disponíveis nas salas do governo para fazer com que tudo seja mantido exatamente como estamos: metidos numa imensa crise política, assombrados com tantas falcatruas, descobertas por operações policiais e, ainda, incrédulos diante de tanto dinheiro, tantos milhões que escoaram pelo ralo da impunidade, da corrupção e do desgoverno. Sendo assim, se não for a poder de muito barulho, muitas panelas e muita demonstração de insatisfação com tudo o que aí está, corremos o risco de assistir a mais cenas de escárnio, mais momentos de indisfarçável caradurismo e desrespeito pela opinião pública.


Ato recente, a presidente Dilma assinou a Medida Provisória 703/2015 que permite a empresas investigadas por corrupção que mantenham negócios com o poder público, ao contrário do que estabelece a Lei Anticorrupção. A justificativa é a de defender os empregos sem se lembrar de que por outro lado está outro irrecusável dever dos mandatários, qual seja o de preservar o patrimônio público. De igual modo, a presidente Dilma sancionou lei que libera para advogados qualquer documento de processos de investigações em curso em qualquer instituição, diferentemente do que era permitido até aqui, facultando-se apenas os documentos em delegacias policiais.


Enquanto uns tiram férias e outros amargam a impossibilidade de fazê-lo por falta de dinheiro ou de emprego, os computadores palacianos de Brasília trabalham arduamente para levantar favores prestados a parlamentares, através da colocação em empregos públicos e, ao mesmo tempo, o trabalho de lembrar a esses representantes do povo que o governo está exigindo lealdade, algo com que pretende contar se o impeachment da presidente Dilma for votado.


A Polícia Federal pediu ao STF (Superior Tribunal de Justiça) autorização para interrogar o governador de Minas, Fernando Pimentel, sobre levantamentos feitos pelas operações Acrônimo e Zelotes, mas isso deverá ser decidido pelo ministro Herman Benjamin, relator da Operação “Lava Jato” naquela corte, quando terminar o recesso, em início de fevereiro. Todavia, já se sabe que o pedido encontra resistência no Ministério Público Federal.

Embora sejam muitas as questões a esclarecer com o governador dos mineiros, Fernando Pimentel, sob suspeita de lavagem de dinheiro, venda de medidas provisórias, facilitação de incentivos fiscais para montadoras de veículos ao tempo em que era ministro de Desenvolvimento do governo Dilma Rousseff e, também, interferência em licitações no Ministério da Saúde, caixa dois de sua campanha eleitoral, irregularidades em financiamentos do BNDES, banco vinculado ao Ministério que dirigiu.


Há inúmeras situações em se trabalha, as forças se movem para neutralizar tudo o que até agora foi levantado pelas autoridades solitárias, mas valentes do Ministério Público Federal e da Justiça Federal baseada no Paraná. Se a sociedade brasileira não assumir o seu papel de cobrança e de defesa de seu próprio interesse, não espere por resultados que contemplem a sede por justiça e por melhoria nas condições de vida porque nada disso cairá dos céus.

 

ESTAMOS MAIS PARA A VENEZUELA DO QUE PARA A ARGENTINA



  

Ricardo Galuppo


O ambiente político brasileiro tem evoluído a passos tão cambaleantes que, por mais novidades que surjam, os problemas parecem não sair do lugar. Para qualquer lado que se olhe, a sensação é a de que nada se move: o governo se recusa a assumir sua responsabilidade sobre a crise e exige mais e mais impostos da sociedade. O Congresso só se mexe em troca de cargos ou verbas. A situação da economia piora a todo instante. E assim, a vida segue... O fato, porém, é que mais dia, menos dia, o país terá que escolher um caminho. E pelas opções que se apresentam, terá que tomar uma estrada semelhantes à da Argentina ou se afundar no lodaçal que parece ser o destino da Venezuela. Essa é a encruzilhada nacional.

O Brasil, assim como os dois vizinhos, vive o esgotamento da experiência populista que se abateu sobre boa parte da América do Sul neste início de século. Tal política (sem considerar as ações praticas por baixo dos panos) consistiu na distribuição a torto e a direito de “benefícios sociais” sem a preocupação de construir um alicerce econômico capaz de sustentar tais compromissos de forma duradoura. Deu errado, como era de se esperar. E por toda parte o modelo desmoronou.

Consequências diferentes
No ano passado, tanto a Argentina quanto a Venezuela aproveitaram a chance oferecida pelo calendário eleitoral e disseram não ao populismo. A Argentina elegeu Maurício Macri para a presidência da República. E a Venezuela, mesmo com toda a manipulação eleitoral de Nicolás Maduro, elegeu um Congresso com mais de dois terços de parlamentares contrários ao governo.


O problema é que o “não” que as duas sociedades disseram produziram consequências diferentes num país e no outro. A Argentina se reconciliou com o bom senso. Tomou algumas medidas sensatas que, pouco a pouco, podem tirá-la da arapuca populista armada por Cristina Kirchner. Mais do que isso, caminha para assumir aos olhos do mundo o protagonismo sul-americano do qual o Brasil abriu mão ao se alinhar com o que existe de mais atrasado no continente.


A Venezuela, por sua vez, ignora o desejo da sociedade e, em lugar de deixar para trás o populismo, se assume cada vez mais como uma ditadura que insiste em repartir o que não tem. A falta de vergonha é tanta que, na sexta-feira passada, Maduro se valeu da crise econômica que ele mesmo criou para tirar os poderes do congresso eleito pelo povo. E o Brasil? Que caminho seguirá?


Cangote baixo
Se dependesse do desejo do governo, o caminho já estaria traçado. A subserviência do Brasil em relação a Caracas é de dar vergonha. Na quinta-feira passada, o ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira esteve em Buenos Aires para uma reunião com a chanceler argentina Susana Malcorra. Ao final do encontro, foi perguntado por jornalistas sobre as afrontas de Maduro ao resultado das urnas na Venezuela. As respostas evasivas de Vieira foram vistas como um sinal de que o Brasil diz amém às medidas ditatoriais de Caracas.


A consequência dessa diplomacia do cangote baixo é o desrespeito ao Brasil no cenário internacional. Se dependesse apenas do governo que Vieira representa, ninguém duvida que o país seguiria o rumo da Venezuela. Mas a sociedade, pelo que tudo indica, parece preferir um caminho como o da Argentina. Vamos ver no que vai dar.

sábado, 16 de janeiro de 2016

REFLEXÕES UTERINAS




Sandro Sabino*





O planejamento familiar exige uma série de decisões conjuntas do casal para que atenda aos anseios de ambos. Questões como quando ter um filho, quantos filhos ter, aliando as condições financeiras aos sonhos dos dois, são essenciais. Para aqueles que estão em tratamento de infertilidade, esse alinhamento de desejos precisa ser ainda mais aprofundado, uma vez que existem diversas situações que podem ocorrer envolvendo questões legais.

O que fazer com os embriões congelados em caso de divórcio, doenças graves ou falecimento dos genitores?

As decisões devem ser tomadas antecipadamente, e o que vai nortear o futuro do material genético coletado é uma declaração de livre e espontânea vontade sobre o destino dos embriões congelados, que deve conter a assinatura do homem e da mulher. Esse documento é uma exigência da Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e também do Conselho Federal de Medicina (CFM).

Quando o caso possui outras particularidades, é importante que os interessados especifiquem o máximo possível as informações nessa documentação.

Uma mulher de 58 anos, por exemplo, estava recorrendo à Justiça para ter o direito de dar à luz um neto através dos óvulos congelados da filha, que morreu em decorrência de um câncer de intestino. Segundo a família, a jovem tinha o desejo de ter os óvulos fertilizados por um doador de esperma e implantados no útero da mãe.

Para isso, eles precisariam de uma autorização para retirá-los do Reino Unido, onde foi feito o congelamento, e levá-los para uma clínica de Nova York, que concordou em fazer a fertilização. Entretanto, o órgão regulador não concedeu autorização por entender que não havia evidências de que a filha desejava que a mãe fizesse a gestação.

Caso existam embriões excedentes do tratamento de infertilidade, o casal deve refletir e entrar em acordo em relação ao destino desse material. A resolução do CFM prevê o descarte dos embriões criopreservados por mais de cinco anos, desde que seja essa a vontade de ambas as partes.

As opções normalmente são: preservação do material para uso próprio do casal, doação para pesquisas de células tronco ou transferência para outros pacientes com quadro de infertilidade conjugal. Outras questões relevantes que o termo deve abranger é o que fazer em caso de divórcio, morte de um dos membros do casal, ou morte de ambos.

Essa reflexão deve ser feita após uma conversa detalhada com os médicos para esclarecer as fases do processo, avaliando as consequências de cada uma das decisões que o casal está tomando.

Os tópicos do termo de consentimento precisam ser um acordo entre as duas partes. Ele só será válido se tiver a assinatura de ambos em cada um dos tópicos. Quando existe desacordo entre o casal, o tratamento fica inviável.

Por isso a reflexão em conjunto é essencial para os passos seguintes do tratamento. Essas questões são muito delicadas, entretanto, precisam ser analisadas cuidadosamente para que o sonho do casal não se transforme em um pesadelo futuramente.

*Ginecologista e diretor da Vilara – Clínica de Reprodução Assistida

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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