segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MUÇULMANOS



  

Jornal Hoje em Dia



Apesar de todos os fatos que depõem contra o islamismo, como os últimos bárbaros atentados terroristas em Paris, que causaram a morte de 130 pessoas, a religião registra crescimento exponencial em número de adeptos por todo o mundo. Um estudo recente do Centro Pew, instituto de pesquisas norte-americano, fez uma projeção para as próximas quatro décadas, na qual constatou que o islamismo se aproximará do cristianismo em 2050. Hoje, há 1,6 bilhão de muçulmanos e 2,7 bilhões de cristãos.
É por isso que o xeique Mokhtar Elkhal, líder do Centro Islâmico de Minas Gerais, entrevistado do Página Dois nesta edição, reclama do tratamento que é dado por parte da mídia aos muçulmanos como um todo, colocando-os como sinônimo de fanatismo e “religião do terror”. “Muçulmanos não exportaram quibe cru nem dança do ventre, exportaram ideias e ciência”, ironiza o dirigente.
E ele tem razão. Foi graças ao Islã, criado onde é hoje a Arábia Saudita pelo profeta Maomé, no século VI, que muitos conhecimentos da antiguidade clássica – Grécia e Roma – foram preservados ao longo dos séculos, quando a Europa toda estava envolta nas trevas da Idade Média, ditadas pelo cristianismo, quando qualquer ensinamento ou estudo científico era considerado blasfêmia, podendo ser punido com a morte.
Ele chama o Estado Islâmico, grupo autor do ataque a Paris, de “Estado Maluco”. E diz algo surpreendente. Além de os militantes serem jovens recém convertidos ao Islã, recebem salários com valores altos. Para o xeique, a culpa do surgimento do EI é dos Estados Unidos, que desbarataram as instituições iraquianas quando invadiram o país e marginalizaram os militares ligados ao ditador Saddam Hussein, deposto e morto. Eles então se alinharam a islamitas radicais.
Lembra o líder que a França é o país onde há mais muçulmanos em toda a Europa, cerca de 5 milhões de descendentes. Por ser uma potência colonial, o Exército francês na Segunda Guerra possuía muitos soldados de países muçulmanos sob seu domínio.
Quando terminou o conflito, muitos deles continuaram em solo francês. Elkhal frisa, por isso, que não há ódio dos islamitas à França, que tão bem os acolheu. Sua receita para isolar o radicalismo é uma nova postura dos governantes de países islâmicos, que estendam benefícios a toda a população, evitando a segregação e a pobreza, sobretudo dos jovens. Parece ser o bom caminho.

CRISE CAMBIAL E RECESSÃO ECONÔMICA, MEXEM COM OS NERVOS DOS BRASILEIROS



  

José Antônio Bicalho



A semana passada foi uma das mais movimentadas de um ano que não para de criar surpresas. A prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS) e do banqueiro André Esteves virou de ponta cabeça o que se esperava ser o início de um período de relativa tranquilidade para a presidente Dilma e a equipe econômica do governo. Tudo voltou a ficar difícil, principalmente no Congresso.

E a semana que começa promete ser tão movimentada quanto. Veremos como se comportará o Congresso nas complicadas discussões para a aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2016 sem a liderança governista de Delcídio. A LDO precisa ser aprovada até dia 15 de dezembro.

Trata-se de assunto fundamental para se recuperar a credibilidade e a possibilidade de estabilização da economia no médio prazo.

A questão é a seguinte: a discussão da LDO tem por premissas a aprovação da CPMF (e, em menor grau, da repatriação de capitais não declarados depositados no exterior) para a produção de um superávit mais vigoroso no próximo ano. Caso caia a boa vontade que os congressistas vinham demonstrando com o governo nas últimas semanas, a perspectiva de redução da meta de superávit fiscal para 2016 poderá trazer consequências funestas: novo rebaixamento do Brasil pelas agências de classificação de risco.

Trata-se de uma possibilidade extremamente perigosa, pois o Brasil está a apenas um degrau para perder o selo de investment grade. E porque é perigoso? Por que o grosso dos investimentos estrangeiros nos títulos da dívida soberana do Brasil (e em menor grau mas também na Bovespa) vem de fundos de pensão e outros institutos absolutamente conservadores. Seus regulamentos excluem terminantemente os investimentos em países sem grau de investimento.

Num momento em que a instabilidade cambial e a crise política mexe com os nervos dos brasileiros, o que se dirá dos gestores de fundos de pensão estrangeiros, que não entendem nada do que se passa no Brasil e precisam honrar os vencimentos de velhinhos aposentados.

PIB e Copom

Dois outros pontos que merecem ser acompanhados nessa semana: a divulgação do PIB do terceiro trimestre e a ata da última reunião do Copom. Já existem analistas falando de uma contração de 4% na comparação com o mesmo período do ano passado. Um aumento acentuado da queda do PIB deste ano derrubará as projeções também para 2016. Consequentemente, colocará mais dúvidas sobre a capacidade do governo de fazer superávit no próximo ano e, assim, voltamos ao problema das agências de risco citadas acima.
Em relação à divulgação da ata do Copom, esta será diferente (e por isso mais importante), já que não houve unanimidade na última reunião: dois membros votaram pelo aumento da Selic, contra seis que votaram pela manutenção da taxa básica de juros nos atuais 14,25%.

Espera-se que o texto traga algum aceno sobre a estratégia e os passos futuros do Banco Central na condução da política monetária, que tem o juro básico como principal instrumento. A inflação ainda não controlada e pressionada pelo câmbio e pelos preços administrados ainda impõe o temor de novos aumentos do juro básico. E é o que pensa o Copom que todos querem saber.

RECESSÃO INDUZIDA



  

Paulo Haddad


Não resta a menor dúvida de que após a profunda desorganização das finanças do governo federal no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, o Brasil precisa passar por rigoroso processo de ajuste fiscal para resgatar o ambiente de crescimento da economia. Mas não existe um modelo que se adapte a todo e qualquer contexto econômico. Corte despesas, aumente impostos, elimine déficits fiscais e o crescimento virá por acréscimo! Não é tão simples assim. Modelos econômicos requerem discernimento histórico, pois diferentes modelos produzem diferentes resultados.

O enredo do atual modelo de ajuste fiscal pode ser desenhado de forma sintética didaticamente. Trata-se de um ajuste que segue a doutrina da consolidação fiscal expansionista formulada principalmente pela Escola de Economia da Universidade Bocconi de Milão, fundada por Luigi Einaudi. Em resumo: destaca que medidas tomadas por um programa de consolidação fiscal destinado a reduzir a participação (e a tributação) do governo e da sua dívida no PIB têm um efeito indireto sobre as expectativas de consumidores e de investidores que promoverão uma expansão econômica maior do que a contração causada pelos indispensáveis cortes orçamentários. Reduções nas despesas públicas promovem o crescimento econômico pela confiança que geram no consumo privado e nos investimentos empresariais. É a origem italiana do modelo da austeridade expansionista, impregnado por uma desconfiança sobre a intervenção do Estado na economia e dentro do moderno pensamento neoliberal.

No contexto da economia brasileira, há muitos dilemas que se sobrepõem ao sucesso desse roteiro. Em primeiro lugar, o nosso déficit fiscal acumulado na dívida pública é estrutural e sua mitigação significativa depende dos processos de reformas microeconômicas, previdenciárias, trabalhistas, fiscais. Processos difíceis de serem consensualizados e implementados dado o nível de subdesenvolvimento político do país, constrangido pelo fisiologismo, clientelismo e corrupção em segmentos importantes da base de sustentação legislativa do Poder Executivo.

Em segundo lugar, um programa de ajuste fiscal que não reduz a inflação e que aumenta o desemprego não é capaz por si só de transformar as expectativas e o nível de confiança de quem consome, de quem produz e de quem investe. O índice de sacrifício da população, que mede a perda cumulativa de emprego e de renda necessária para reduzir a inflação, atingirá o seu máximo no início de 2016. Essa recessão induzida será politicamente tolerável para uma população que chegou a experimentar as benesses de um ciclo de prosperidade recente?

Finalmente, os ganhos das políticas sociais compensatórias da última década tendem a ser levados para o ralo da história pela concepção simplista de um programa de ajuste marcado pela dimensão casuística das suas ações, as quais vão acontecendo sem a intensidade indispensável e com uma cadência política errática.

Enquanto isso, os 10% mais ricos da população vão multiplicando geometricamente a sua renda e a sua riqueza premiados pelas taxas de juros mais elevadas da economia mundial. E os grupos sociais menos favorecidos vão perdendo posição relativa: menor poder aquisitivo de sua renda, menores oportunidades de emprego e menor acesso aos serviços públicos.

Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia em 2001, lançou livro em que analisa a grande divisão em sociedades desiguais como a nossa. Mostra que o nível de desigualdade não é inevitável; que não é resultado de leis inexoráveis da economia; que é um assunto de política e de políticas públicas. Mais importante: que uma economia terá maior estabilidade e maior crescimento sustentado se a maioria dos cidadãos perceber suas rendas e seu bem-estar social progredirem.

RUI BARBOSA RETRATA A DESILUSÃO ATUAL DO POVO BRASILEIRO



  

Eduardo Costa



Muitas vezes já ouvimos e reproduzimos a frase de Ruy Barbosa que trata de sua desilusão diante da capacidade humana de trair, roubar, fingir e enganar. Por falta de ânimo para escrever sobre otimismo e para não repetir tudo o que temos dito ao longo dos últimos meses, sobretudo nas últimas semanas e, mais especialmente, nos últimos dias, decidi reproduzir aqui, hoje, a íntegra do texto que contém a frase famosa. Ruy Barbosa estava frustrado com o novo regime de governo, em seguida à deposição do imperador Dom Pedro II. É impressionante a atualidade do texto, o que nos dá dois consolos: podemos acreditar que a crise passa e, por extensão, dar mais um pouco de crédito aos que atribuem nossas vicissitudes do momento um rearranjo do planeta, com a raspagem do tacho, a faxina geral a fim de preparar o cenário de dias melhores. A íntegra do clássico texto de Ruy Barbosa:

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto... Essa foi a obra da República nos últimos anos.

No outro regime (monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre – as carreiras políticas lhes estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais.

Na República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando. Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.

E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, Senhores, é a ruína da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante dos nossos Governos. E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem...”


AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...