Eduardo Costa
Muitas vezes já ouvimos e reproduzimos
a frase de Ruy Barbosa que trata de sua desilusão diante da capacidade humana
de trair, roubar, fingir e enganar. Por falta de ânimo para escrever sobre
otimismo e para não repetir tudo o que temos dito ao longo dos últimos meses,
sobretudo nas últimas semanas e, mais especialmente, nos últimos dias, decidi
reproduzir aqui, hoje, a íntegra do texto que contém a frase famosa. Ruy
Barbosa estava frustrado com o novo regime de governo, em seguida à deposição
do imperador Dom Pedro II. É impressionante a atualidade do texto, o que nos dá
dois consolos: podemos acreditar que a crise passa e, por extensão, dar mais um
pouco de crédito aos que atribuem nossas vicissitudes do momento um rearranjo
do planeta, com a raspagem do tacho, a faxina geral a fim de preparar o cenário
de dias melhores. A íntegra do clássico texto de Ruy Barbosa:
“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto... Essa foi a obra da República nos últimos anos.
No outro regime (monarquia) o homem que tinha certa nódoa em sua vida era um homem perdido para todo o sempre – as carreiras políticas lhes estavam fechadas. Havia uma sentinela vigilante, de cuja severidade todos se temiam a que, acesa no alto, guardava a redondeza, como um farol que não se apaga, em proveito da honra, da justiça e da moralidade gerais.
Na República os tarados são os tarudos. Na República todos os grupos se alhearam do movimento dos partidos, da ação dos Governos, da prática das instituições. Contentamo-nos, hoje, com as fórmulas e aparência, porque estas mesmo vão se dissipando pouco a pouco, delas quase nada nos restando. Apenas temos os nomes, apenas temos a reminiscência, apenas temos a fantasmagoria de uma coisa que existiu, de uma coisa que se deseja ver reerguida, mas que, na realidade, se foi inteiramente.
E nessa destruição geral de nossas instituições, a maior de todas as ruínas, Senhores, é a ruína da justiça, colaborada pela ação dos homens públicos, pelo interesse dos nossos partidos, pela influência constante dos nossos Governos. E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem...”
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