Orion Teixeira
Haverá hoje mais um show de manobras e
chicanas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), com apoio
declarado de sua trupe e velado do PT e PMDB, para impedir que o processo de
cassação seja aberto contra ele no Conselho de Ética da própria Câmara. Como
fez na semana passada, Cunha recorreu ao vale-tudo de uma república de bananas
para, simplesmente, impedir a realização da primeira sessão do colegiado.
Deverá repetir à exaustão essa estratégia de modo a encerrar o ano do jeito que
está, ou seja, sem que o julgamento ande um metro sequer.
Tão grave quanto o malfeito do qual é
acusado, manter contas milionárias secretas na Suíça e seu envolvimento no
petrolão, é o enxovalhamento a que expõe a Câmara. Nada disso, no entanto,
acontece em vão e sem cumplicidade. Nem o Poder Executivo nem o Judiciário
querem saber; que a Câmara resolva o problema chamado Eduardo Cunha. A oposição
descobriu, tardiamente, o atoleiro em que estava se metendo, depois que
percebeu que, de Cunha, não poderia tirar proveito para derrubar a presidente
Dilma Rousseff (PT).
O governo e o PT identificaram nele
interesses mútuos. Eles não mexem com Cunha e ele congela os pedidos de
impeachment da presidente. Havia 10. No mesmo dia em que conseguiu o apoio
envergonhado do PT para a suspensão da reunião do Conselho, engavetou três
pedidos; ainda restam sete para usá-los em caso de emergência.
Na sessão de hoje, a tropa de choque
de Cunha fará de tudo para impedir sua realização, adiando-a para dezembro,
quando restariam apenas mais duas semanas de trabalho antes do recesso. O
governo se recupera do longo inverno de fragilidade e não quer saber de
confusão. Priorizou projetos que estabilizem suas contas e neles vai se
concentrar, reconhecendo que a tarefa já lhe será difícil diante da
instabilidade de sua própria base política na Câmara.
De sua parte, o Judiciário, por meio
do Supremo Tribunal Federal, não conseguirá avaliar ainda neste ano se aceita
ou não a denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra
Cunha. O tempo da Justiça é diferente do acalorado enfrentamento político, mas
há um silêncio generalizado nas cúpulas diversas. O certo é que, por ali, não
haverá tempo para um decisão desse porte.
Tudo somado, se a Câmara dos Deputados não resolver, como não fará, Cunha ficará impune em nome uma estabilidade política de um ano que nada mais tem a oferece.
Tudo somado, se a Câmara dos Deputados não resolver, como não fará, Cunha ficará impune em nome uma estabilidade política de um ano que nada mais tem a oferece.
Nova CPMF fica para 2016
Como se trata de enfrentamento de
maioria absoluta, o governo decidiu não se expor a uma derrota, que
significaria a ingovernabilidade econômica, e jogar também para o ano que vem o
debate pela nova CMPF. Além da resistência do empresariado, o governo ainda não
construiu maioria por sua aprovação no Congresso Nacional. Se colocar em pauta,
correria risco de derrota.
Na semana passada, durante encontro
com governadores do Nordeste, Dilma chegou a dizer que o novo imposto é o único
plano do governo para sair da crise. Disse mais que esperava vê-lo aprovado até
julho do ano que vem. Na manhã de ontem, após a reunião da coordenação
política, o ministro Edinho Silva (Comunicação) admitiu que o governo já não
acredita mais nessa possibilidade de recriação da CPMF neste ano.



