terça-feira, 24 de novembro de 2015

TODOS ELES TÊM O RABO PRESO



  

Orion Teixeira


Haverá hoje mais um show de manobras e chicanas do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), com apoio declarado de sua trupe e velado do PT e PMDB, para impedir que o processo de cassação seja aberto contra ele no Conselho de Ética da própria Câmara. Como fez na semana passada, Cunha recorreu ao vale-tudo de uma república de bananas para, simplesmente, impedir a realização da primeira sessão do colegiado. Deverá repetir à exaustão essa estratégia de modo a encerrar o ano do jeito que está, ou seja, sem que o julgamento ande um metro sequer.
Tão grave quanto o malfeito do qual é acusado, manter contas milionárias secretas na Suíça e seu envolvimento no petrolão, é o enxovalhamento a que expõe a Câmara. Nada disso, no entanto, acontece em vão e sem cumplicidade. Nem o Poder Executivo nem o Judiciário querem saber; que a Câmara resolva o problema chamado Eduardo Cunha. A oposição descobriu, tardiamente, o atoleiro em que estava se metendo, depois que percebeu que, de Cunha, não poderia tirar proveito para derrubar a presidente Dilma Rousseff (PT).
O governo e o PT identificaram nele interesses mútuos. Eles não mexem com Cunha e ele congela os pedidos de impeachment da presidente. Havia 10. No mesmo dia em que conseguiu o apoio envergonhado do PT para a suspensão da reunião do Conselho, engavetou três pedidos; ainda restam sete para usá-los em caso de emergência.
Na sessão de hoje, a tropa de choque de Cunha fará de tudo para impedir sua realização, adiando-a para dezembro, quando restariam apenas mais duas semanas de trabalho antes do recesso. O governo se recupera do longo inverno de fragilidade e não quer saber de confusão. Priorizou projetos que estabilizem suas contas e neles vai se concentrar, reconhecendo que a tarefa já lhe será difícil diante da instabilidade de sua própria base política na Câmara.
De sua parte, o Judiciário, por meio do Supremo Tribunal Federal, não conseguirá avaliar ainda neste ano se aceita ou não a denúncia apresentada pela Procuradoria Geral da República contra Cunha. O tempo da Justiça é diferente do acalorado enfrentamento político, mas há um silêncio generalizado nas cúpulas diversas. O certo é que, por ali, não haverá tempo para um decisão desse porte.
Tudo somado, se a Câmara dos Deputados não resolver, como não fará, Cunha ficará impune em nome uma estabilidade política de um ano que nada mais tem a oferece.
Nova CPMF fica para 2016
Como se trata de enfrentamento de maioria absoluta, o governo decidiu não se expor a uma derrota, que significaria a ingovernabilidade econômica, e jogar também para o ano que vem o debate pela nova CMPF. Além da resistência do empresariado, o governo ainda não construiu maioria por sua aprovação no Congresso Nacional. Se colocar em pauta, correria risco de derrota.
Na semana passada, durante encontro com governadores do Nordeste, Dilma chegou a dizer que o novo imposto é o único plano do governo para sair da crise. Disse mais que esperava vê-lo aprovado até julho do ano que vem. Na manhã de ontem, após a reunião da coordenação política, o ministro Edinho Silva (Comunicação) admitiu que o governo já não acredita mais nessa possibilidade de recriação da CPMF neste ano.

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A LIBERDADE DE PENSAMENTO NOSSA ESTÁ SENDO SUPRIMIDA



  

Bady Curi Neto - Advogado, fundador do Escritório BadyCuri Advocacia Empresarial, ex-juiz do TRE-MG



Estamos nos tornando uma sociedade em que as pessoas têm deixado de se manifestar ou ter opiniões próprias a favor do politicamente correto. O medo de ser estigmatizado como racista, homofóbico e mesmo “bulinista” tem nos levado a reprimir, mesmo que inconscientemente, nossas verdadeiras opiniões, nos tornando alvo de nós mesmos, de censura à nossa liberdade de expressão.

Nasci em uma época em que era saudável brincar na rua e jogar pelada em lotes vagos com as mais diferentes classes sociais, sem nenhum preconceito. Não se via a cor (a descendência afro ou não) de seu amigo, éramos todos iguais, éramos crianças. O colega de óculos era chamado de quatro olhos, o escurinho bom de bola tinha orgulho de ser chamado de Pelé, o mais alto, de Girafa, e eu, devido aos quilos a mais, de gordo, e isto não se consubstanciava em “bullying”, era apenas um simples apelido.

Aos domingos víamos os Trapalhões com suas piadas inocentes entre Didi e Mussum, ouvíamos Luiz Caldas com a música “Nega do Cabelo Duro”, assistíamos Jô Soares com seu personagem Capitão Gay, líamos Monteiro Lobato nas escolas.

Será que éramos “bulinistas”, racistas, homofóbicos? Será que ao invés de crianças inocentes, com as peripécias da idade, éramos verdadeiros delinquentes juvenis? Acredito que não, éramos crianças sem o preconceito dos adultos com suas contextualizações massificadas do certo e do errado.

Hoje tudo mudou, a ministra da Igualdade Racial quis banir das escolas obras de Monteiro Lobato por entendê-las racistas. As brincadeiras de Renato Aragão com Mussum seriam censuradas, o Capitão Gay seria defenestrado.

O lado outro da moeda é que estamos nos tornando fruto de uma consciência coletiva cada vez mais obrigatória às nossas próprias opiniões, em nome do politicamente correto.

A massificação de pensamentos que nos é imposta tem como consequência apequenar nosso senso crítico, o raciocínio, as ideias, o poder de divergir que, na essência, é o que difere o ser humano dos demais animais ditos irracionais.

Utiliza-se, a todo instante, o sufixo “fobia”, deixando toda a fala contrária àquela corrente como inadequada, grosseira e preconceituosa. Está cada vez mais presente a música de Zé Ramalho: “Ê vida de gado, povo marcado, povo feliz...”, como se o berrante do vaqueiro soasse a voz do politicamente correto e a multidão tivesse que acompanhá-lo.

É de se notar a banalização do raciocínio. Se alguém, por convicção jurídica ou religiosa, é contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é imediatamente taxado como homofóbico. Se for contra a distribuição do kit gay nas escolas, é preconceituoso. Se por ideologia política é favorável ao Partido dos Trabalhadores, é porque é ladrão. Se gosta de músicas como a “Nega do Cabelo Duro”, deve ser racista.
Qualquer debate, por mais respeitoso que seja, que vá a confronto com tantas “fobias” criadas, se torna odioso. O campo das ideias, da dialética, do livre pensar, dá lugar à corrente do politicamente correto em detrimento da liberdade de expressão individual.

Não precisamos de tantas “fobias” para acabar com o preconceito, mas de urbanidade, civilidade e respeito ao próximo e à diversidade de opiniões.

NESSA HORA SOMEM OS POLÍTICOS O GOVERNO E AS EMPRESAS




  

Eduardo Costa




Sempre achei que reportar é contar história. Assim, não basta seguir os passos teóricos ensinados na faculdade, respondendo as perguntas “que, quem, onde, como e por que” para o bom começo (lead), no caso do jornal impresso, ou a boa notícia, para meios de mensagem rápida como o rádio. O que enriquece a matéria é a construção de um enredo dos fatos entre detalhes do ambiente, da vida dos envolvidos, dos valores que cercam os personagens etc. Depois que fui trabalhar na TV, me dei conta de como é bom valorizar o detalhe, tanto que é comum, depois da apresentação de uma reportagem, dar mais ênfase a um cão vira-latas ou a um quadro na parede do que propriamente a reportagem.


Nesse festival de informações que assola a tragédia de Mariana, três coisas me impressionam. A primeira realça nossa cultura de colônia e ressalta a síndrome de Estocolmo (quando a vítima nutre certo respeito e até admiração pelo opressor): todo mundo que já falou até agora em Mariana diz que a maior preocupação é não perder a Samarco. Mais de três séculos depois de nascer, sob a exploração da coroa portuguesa, a cidade precisa continuar refém de estrangeiros (uma das sócias da Samarco é anglo-australiana) em troca de empregos e receita. Vítima da tragédia brasileira de maus políticos (sete prefeitos em cinco anos), a primeira capital de Minas não foi capaz de construir uma alternativa e agora, no meio do caos, continua de joelhos diante da mineração.


O segundo grande incômodo nestes dias que sucederam à derrama de “Fundão” é essa cena de repórteres de TV dentro do ginásio, diante daquele mundo de roupas, sapatos e outros objetos, muitos imprestáveis, e essa onda de se pedir contribuições. A solidariedade é sempre bem-vinda, mas, em episódios como este, nos quais está clara a responsabilidade, não há por que pedir doações... É entregar a fatura e cobrar.


Por fim, mais uma chateação no meu coração é quando os repórteres dizem que os 600 moradores de Bento Rodrigues perderam tudo: móveis, dinheiro, documentos... É muito pior: perderam os animais de estimação, a rede, o tapete preferido, o terreiro de décadas, o chiqueiro do avô e o curral do papai; perderam a identidade mais importante – a cultural, aquela que nos dá sentido de povo, que está presente nas nossas discussões sobre lugar, gênero, raça, história, nacionalidade, idioma, orientação sexual, crença religiosa e etnia. Não há espaço para discorrer em detalhes sobre a identidade cultural, mas, quem clicar no “Google” e buscar Milton Santos ou Stuart Hall vai entender melhor. E chorar.


COMENTÁRIO:
Pior de tudo é como a Samarco expos o controle que ela tem sobre a região e a população e como ela impõe sua vontade. Como ela pressiona a notícia e como ela a controla. Eu vi isso em Conceição do Mato Dentro, com a Anglo American, e o CQC mostrou bem isso na última segunda. Como sumiram nossos dois Senadores, e como eles também eram sumidos nos anos que eram governadores e como eles estão nas mãos disso tudo, a gente imagina que os governadores são os cabeças da máfia, mas a cada dia eu entendo que eles são a parcela de intelectualização parca e pobre que serve às empresas que exploram MG, desde a colonização. Anastasia tenta dar uma de intelectual, mas a cada dia expõe sua ignorância e sua vaidade à flor da Pele, Aécio Neves é o boneco, puxa corda e ele repete e Pimentel que deveria dar a mudança é a versão Petista do Aécio.

RECESSÃO PARA O POVO E PARA O GOVERNO LUXÚRIA



  

Paulo Haddad




As desigualdades sociais podem ser avaliadas sob diferentes aspectos. Entre esses aspectos, destaca-se o denominado tripé da desigualdade, constituído por três dimensões: a renda, o patrimônio e a oportunidade. As desigualdades sociais serão tanto menores quanto maior e mais bem distribuídas forem a renda pessoal e a familiar, quanto mais bem distribuído for o patrimônio ou a riqueza nacional e quanto mais amplo e crescente o campo de oportunidades que se abre para a sociedade.

Entre essas oportunidades destacam-se as de se obterem empregos de qualidade, especialmente para os grupos sociais mais jovens. Por qualidade do emprego se define os atributos de qualificação profissional, de sustentabilidade, de dinamismo, de promoção humana.

Um dos aspectos mais relevantes para demonstrar o fracasso da atual política econômica é a crescente taxa de desemprego aberto durante todo o ano de 2015. O desemprego aberto se distingue do subemprego, um trabalho que está abaixo das qualificações profissionais do empregado que aceita remunerações muito baixas e até mesmo a informalidade funcional pela absoluta falta de oferta de emprego apropriado, ou seja, a única oportunidade que se apresenta para aqueles sem oportunidades.

Quando se inicia processo recessivo com taxas negativas de crescimento do PIB que vão se sucedendo, num primeiro momento as taxas de desemprego não se destacam no cenário econômico. Os empresários ficam relutantes em dispensar seus empregados investidos em longos processos de treinamento e em experiências de aprender fazendo. Mantêm esses empregados nas folhas de pagamentos mesmo conscientes que terão menor produtividade coextensiva com a demanda recessiva.

Mas quando sua percepção se aguça e observam que a insuficiência de demanda se generaliza e se espraia por importantes cadeias produtivas (indústrias automobilística e metal-mecânica, por exemplo), chegando até mesmo nos segmentos de bens essenciais ou bens de salário (alimentos e vestuário, por exemplo), não lhes resta outra alternativa senão a de iniciar um incômodo processo de demissões. Dessa forma, a taxa de desemprego se acelera ultrapassando a própria taxa de declínio do PIB.

É de se prever, pois, que muitas regiões do país terminarão o ano com taxas de desemprego superiores a 10%. Essas taxas não serão ainda maiores para o conjunto da nação porque há regiões beneficiadas por uma estrutura produtiva com predominância de setores com dinamismo competitivo sistêmico (as regiões cuja base econômica é o agronegócio, por exemplo) ou por um processo de substituição de importações a partir da crise cambial (regiões de turismo interno ou produtoras de bens de consumo não duráveis, por exemplo) que estimulará também as exportações.

A perspectiva para o início de 2016 é de desalento. A economia brasileira está terminando 2015 perdendo fôlego sem que o ajuste fiscal consolide a sua utopia de austeridade com crescimento. Esse ajuste, tal como concebido dentro da doutrina da consolidação fiscal expansionista como planilha de cálculo e sem sofisticação analítica, conseguirá no máximo que os rejeitos anacrônicos da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff sejam barrados pela opção recessiva de seu novo mandato. Além do mais, as experiências recentes de ajuste baseadas nessa doutrina levaram a inconsistências lógicas e a fracassos empíricos retumbantes. Será que o povo brasileiro merece pagar para ver?

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...