segunda-feira, 23 de novembro de 2015

RECESSÃO PARA O POVO E PARA O GOVERNO LUXÚRIA



  

Paulo Haddad




As desigualdades sociais podem ser avaliadas sob diferentes aspectos. Entre esses aspectos, destaca-se o denominado tripé da desigualdade, constituído por três dimensões: a renda, o patrimônio e a oportunidade. As desigualdades sociais serão tanto menores quanto maior e mais bem distribuídas forem a renda pessoal e a familiar, quanto mais bem distribuído for o patrimônio ou a riqueza nacional e quanto mais amplo e crescente o campo de oportunidades que se abre para a sociedade.

Entre essas oportunidades destacam-se as de se obterem empregos de qualidade, especialmente para os grupos sociais mais jovens. Por qualidade do emprego se define os atributos de qualificação profissional, de sustentabilidade, de dinamismo, de promoção humana.

Um dos aspectos mais relevantes para demonstrar o fracasso da atual política econômica é a crescente taxa de desemprego aberto durante todo o ano de 2015. O desemprego aberto se distingue do subemprego, um trabalho que está abaixo das qualificações profissionais do empregado que aceita remunerações muito baixas e até mesmo a informalidade funcional pela absoluta falta de oferta de emprego apropriado, ou seja, a única oportunidade que se apresenta para aqueles sem oportunidades.

Quando se inicia processo recessivo com taxas negativas de crescimento do PIB que vão se sucedendo, num primeiro momento as taxas de desemprego não se destacam no cenário econômico. Os empresários ficam relutantes em dispensar seus empregados investidos em longos processos de treinamento e em experiências de aprender fazendo. Mantêm esses empregados nas folhas de pagamentos mesmo conscientes que terão menor produtividade coextensiva com a demanda recessiva.

Mas quando sua percepção se aguça e observam que a insuficiência de demanda se generaliza e se espraia por importantes cadeias produtivas (indústrias automobilística e metal-mecânica, por exemplo), chegando até mesmo nos segmentos de bens essenciais ou bens de salário (alimentos e vestuário, por exemplo), não lhes resta outra alternativa senão a de iniciar um incômodo processo de demissões. Dessa forma, a taxa de desemprego se acelera ultrapassando a própria taxa de declínio do PIB.

É de se prever, pois, que muitas regiões do país terminarão o ano com taxas de desemprego superiores a 10%. Essas taxas não serão ainda maiores para o conjunto da nação porque há regiões beneficiadas por uma estrutura produtiva com predominância de setores com dinamismo competitivo sistêmico (as regiões cuja base econômica é o agronegócio, por exemplo) ou por um processo de substituição de importações a partir da crise cambial (regiões de turismo interno ou produtoras de bens de consumo não duráveis, por exemplo) que estimulará também as exportações.

A perspectiva para o início de 2016 é de desalento. A economia brasileira está terminando 2015 perdendo fôlego sem que o ajuste fiscal consolide a sua utopia de austeridade com crescimento. Esse ajuste, tal como concebido dentro da doutrina da consolidação fiscal expansionista como planilha de cálculo e sem sofisticação analítica, conseguirá no máximo que os rejeitos anacrônicos da política econômica do primeiro mandato de Dilma Rousseff sejam barrados pela opção recessiva de seu novo mandato. Além do mais, as experiências recentes de ajuste baseadas nessa doutrina levaram a inconsistências lógicas e a fracassos empíricos retumbantes. Será que o povo brasileiro merece pagar para ver?

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