segunda-feira, 16 de novembro de 2015

NÃO HÁ DINHEIRO QUE PAGUE O PREJUIZO ECOLÓGICO



  

Paulo Haddad


Ainda não há um diagnóstico sobre as causas do desastre ecológico em Mariana. Sabe-se, contudo, que não se trata de uma fatalidade natural. Podemos avançar uma hipótese que ainda carece de comprovação posterior.

Com a queda nos preços do minério de ferro no mercado internacional, a estratégia das grandes mineradoras foi a de acelerar a sua produção. O que perdiam nos preços ganhavam na quantidade produzida para diminuir as perdas em suas receitas operacionais.

Entretanto, recordes de produção significam recordes na geração de rejeitos de minérios. O que implica no reforço nas estruturas das barragens de rejeitos visando a ampliar sua capacidade de suporte e a segurança da população à jusante das mega barragens. Será esta uma explicação plausível para o rompimento das barragens da Samarco ocorrido no último dia 5 de novembro?

A atual diretoria da Samarco é composta por profissionais competentes e responsáveis, mas sem autonomia para a tomada de decisões estratégicas. É das duas empresas controladoras da Samarco, a Vale e a BHP Billiton, a responsabilidade pelos investimentos e desinvestimentos a serem realizados, tanto no capital físico quanto no capital humano.

Ocorre que a Vale tem optado por uma estratégia financeira de recomposição de lucros o que tem levado à venda de ativos, demissão de funcionários, distrato de contratos de prestadores de serviços de engenharia e de consultoria e também redução drástica de investimentos de manutenção, de reposição e de expansão. Teria havido, então, atrasos nos investimentos na segurança das barragens pressionadas da Samarco os quais foram recomendados às autoridades ambientais pelo Ministério Público desde 2013?

Olhando para frente, cabe a pergunta: o que fazer para mitigar os danos econômicos, sociais e ambientais provocados pelo rompimento das barragens? A sugestão baseada na experiência histórica de desastres ecológicos equivalentes é que se elaborem dois planos para coordenar as ações de mitigação. Um Plano de Ação Imediato (PAI) para equacionar, ainda que precariamente, os problemas urgentes e emergentes das populações locais. Esse Plano poderia ser financiado por um Fundo de Assistência destinado a amenizar o sofrimento e a perda da qualidade de vida dessas populações.

E um Plano-Diretor de Recuperação e Revitalização das Áreas Degradadas pelo Rompimento das Barragens da Samarco. Esse Plano estrutura, através de rigoroso cronograma físico-financeiro, os investimentos de reposição dos ativos das famílias prejudicadas, da infraestrutura econômica e social, dos sistemas produtivos danificados das perdas e custos ambientais. O Plano é de médio e de longo prazo, deve ser integrado e multifacetado, para evitar que as ações sejam casuísticas, dispersas ou ocasionais. O seu custo total, seja de 1 bilhão ou de 10 bilhões de reais, deve ser totalmente pago pela Vale e pela BHP Billiton, responsáveis em última instância pelo desastre ecológico. Destaca-se a indispensável presença do Ministério Público na supervisão geral dos dois Planos. É bom lembrar também que o Governo de Minas é parte do problema pelos indicativos de omissões e de fragilidades na concessão das licenças ambientais e na fiscalização do processo de implementação das ações recomendadas.

Não se trata, contudo, de se formular e executar planos convencionais, pois estamos lidando com a dor e a angústia de famílias, de seres humanos e de seus sonhos. Como dizia Guimarães Rosa: “Uma coisa é pôr ideias arranjadas; outra é lidar com país de pessoas, de carne e sangue, de mil-e-tantas misérias... De sorte que carece de se escolher”.


A FORÇA DO PENSAMENTO



  

Leida Reis



Um físico quântico da USP, que entrou na faculdade aos 16 anos e concluiu o doutorado aos 25, quer provar o poder da mente sobre a matéria. Gabriel Guerrer usa uma ferramenta bastante comum entre os artistas, o crowdfunding, para custear a sua pesquisa. Precisa arrecadar R$ 48 mil porque nenhuma instituição ou empresa coloca dinheiro numa pesquisa aparentemente tão estapafúrdia. Na verdade, ele pretende comprovar a premissa levantada pelo americano Dean Radin, que chegou a fazer uma experiência, colocando meditadores, músicos e praticantes de artes marciais para tentarem desviar um feixe de laser. Na Califórnia, Radin chegou a captar pequenos desvios da luz supostamente provocados pelo pensamento. Mas faltou a demonstração, e Guerrer, guerreiro como demonstra ser, quer trazer para a USP esse mérito.

Os terroristas do Estado Islâmico, o bem comportado exército das grandes potências mundiais e a ganância das mineradoras (tão necessárias ao sistema produtivo, é bom que se ressalte) não precisam usar o poder da mente. É pesado o poderio e a destruição de que são capazes. Enquanto choramos e oramos pelas vítimas de Paris, nos são mostrados os motivos dos radicais infiltrados na França. Paro para escolher um filme e assisto a uma comédia “Que mal eu fiz a Deus?”, em que Claude e a mulher Marie Verneuil sofrem e demonstram todo preconceito imaginável diante das filhas que se casam, uma com um argelino muçulmano, outra com um judeu, a terceira com um chinês e a mais nova, na qual depositavam as últimas esperanças, com um negro. Ao menos ele é católico! Depressão e ódio são satirizados para mostrar, primeiro que o mundo não pode mais ser segmentado em raças e religiões, segundo, que a Europa não é mais a mesma, mas acha que é. Quer dizer, os líderes e a sociedade conservadora acreditam na perpetuação de um padrão branco, católico, culto, cheio de charme e arrogância. Não, não vou lembrar um certo líder que levou às últimas consequências essa convicção.

A segunda coisa em que pensei quando vi os ataques em Paris foi: o que será agora dos refugiados? A primeira, claro, foi na crueldade e covardia do Estado Islâmico, que mata inocentes em nome de Alá. Aí vieram comentários sobre nos esquecermos das vítimas do rompimento da barragem. Não, não esqueceremos, e o mais importante agora é que a empresa responsável cumpra sua obrigação de ressarcir todos os prejuízos. Mas isso não nos exime da solidariedade com as famílias que perderam tantas vidas na capital francesa e vivem sob ameaça intermitente. A Europa não tem tanto poder, coisa que os Estados Unidos descobriam no dia 11 de setembro de 2001.

Se também não podemos apenas rir da situação, como nos propõe “Que mal eu fiz a Deus?”, invistamos nas pesquisas de Gabriel Guerrer, porque se a maioria de nós é a favor da paz, poderemos garanti-la com a força do pensamento. Quem sabe?

sábado, 14 de novembro de 2015

VIVEMOS NA LAMA



 

Eduardo Costa


Você já ouviu falar que a pessoa é mais feliz quando sabe menos? Claro que esta é uma pergunta aparentemente incabível, mas, garanto, quanto mais leio, ouço e vejo os fatos, com olhar de quem precisa compreendê-los para errar menos na transmissão, mais sofro. Principalmente com os questionamentos. Minha cabeça fica cheia de perguntas... Vai ver que é a síndrome do repórter surrado por conhecer de perto os submundos do poder.

Permitam-me dividir algumas perguntas: por que, depois da tragédia, a gente tem de repetir essa ladainha de pedir doações e encher ginásios de roupas velhas ainda que a empresa responsável pelo desastre tenha lucrado quase 3 bilhões no ano anterior? Por que a barragem de Mariana produziu tanta tristeza se cinco outras já explodiram nos últimos anos e a gente devia ter aprendido? Como aceitar que o Ibama vai aplicar uma multa milionária se outras não foram pagas? A propósito, se o Ibama não conseguiu dar solução à encrenca das capivaras na Pampulha, devemos acreditar agora que será incisivo contra as mineradoras?
Se a Assembleia Legislativa não teve coragem de criar uma CPI, como imaginar que a comissão extraordinária vai resultar em ação concreta? Se nossos deputados federais não têm independência para aprovar o novo marco mineral, o que farão, no âmbito nacional, para nos indicar outros caminhos? Já que a presidente Dilma disse, agora, que a Samarco vinha descumprindo leis, por que ela, Dilma, não veio antes, tomar atitude? Se a Secretaria de Meio Ambiente do Estado diz que é o DNPM que deve fiscalizar as barragens, por que não cobrou antes? A propósito, alguém pode dizer algo positivo sobre esse tal Departamento Nacional de Produção Mineral?
Por que um deputado estadual não consegue entrar para a Comissão de Meio Ambiente da casa se não for simpático à causa das mineradoras? Por que Virgílio Guimarães, símbolo do velho PT – aquele que patrulhava e prometia mundo novo – fez do filho um deputado federal, o colocou no comando da comissão que enrola o Código Mineral e ele, Virgílio, continua nos bastidores, ao melhor estilo “coronel”, como era conhecido nos tempos de vereador? Alias, como pode o PT patrocinar um projeto que quer acabar com o pouco de controle que a sociedade ainda tem sobre o licenciamento das atividades minerais no Estado?
Por que as autoridades têm dado entrevista sempre dentro da sede da Samarco em Mariana? Por que a gente chama o maior desastre ambiental com barragens que o mundo já viu de acidente se o que aconteceu em Bento Rodrigues foi resultado de décadas de omissões, conchavos, equívocos e falta de respeito à vida humana? Aliás, por que o prefeito de Mariana insiste em falar nos riscos se perder os impostos da Samarco quando centenas de seus vizinhos e eleitores perderam amigos, parentes, animais, documentos, enfim, perderam o chão, a história, o sentido da vida, o rumo, o prumo?
Será que quando um avião mergulha em cinco metros de terra com dois poderosos executivos de um grande banco não ensina que dinheiro e poder são moedas fugazes, enquanto a geleia de pimenta biquinha de Bento Rodrigues é vida em abundância? Afinal, quando é que a gente vai sair dessa lama?

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A CRISE FAZ OS BANCOS ENGORDAREM DE DINHEIRO



  

José Antônio Bicalho


Tratarei novamente dos juros bancários, mas hoje faço diferente. Vamos abrir a composição das taxas de juros para tentar descobrir o motivo do escândalo que são as taxas cobradas no país.

Ontem a Anefac (a associação que representa os profissionais do mercado financeiro) divulgou nova pesquisa de juros bancários, relativa a outubro. Nenhuma novidade. Os juros subiram novamente, pelo 13º mês consecutivo, para os maiores níveis desde 2009.

Se você está pendurado no rotativo do cartão de crédito, agora está pagando 368,27% de juros ao ano (média dos bancos). Se entrou no cheque especial, os juros são de 226,39%.

Isso significa que se sua dívida for de R$ 10 mil no cartão, em um ano ela se transformará em R$ 46.827. E no cheque especial, em R$ 33.630.

Mas existe a possibilidade de você negociar no próprio banco um empréstimo pessoal para pagar o cheque especial ou o cartão de crédito. Neste caso, o juro médio cobrado é de 64,59%. Dessa forma, em um ano você terá que devolver ao banco R$ 16.459. Muito menos, mas ainda absurdamente caro.

Mas vamos à composição das taxas, que é o motivo da coluna. Os juros cobrados pelos bancos embutem o custo de captação (quanto o banco paga pelo dinheiro de seus clientes investidores), a chamada cunha fiscal (os impostos que recaem sobre a intermediação financeira), as despesas administrativas (os salários, o aluguel das agências, os equipamentos eletrônicos e todos os demais custos), o risco da inadimplência (os empréstimos não pagos são compensados nos juros dos adimplentes) e a margem líquida do banco (o lucro).

Pois bem, o custo de captação acompanha a Selic, ligeiramente abaixo (trata-se do juro básico da economia, definido pelo Banco Central). A Selic está hoje em 14,25% ao ano. Subiu muito desde meados de 2013, mas está no mesmo patamar desde julho.

Já o principal imposto da cunha fiscal, o IOF, que é recolhido pelos bancos, também subiu muito neste ano. Desde janeiro, saltou de 1,5% para 3% para operações para pessoas físicas. Temos, então, um custo de captação de algo pouco acima dos 17,25% ao ano.

Subtraindo esse custo da taxa média de juro cobrada pelos bancos em outubro, que foi de 132,91% (segundo a Anefac), temos então 115,66% de juros indo para o pagamento dos custos administrativos, a cobertura da inadimplência e a formação do lucro. Mas os bancos também cobram tarifas sobre os serviços prestados, e nos grandes bancos os custos administrativos são cobertos na quase totalidade por estas. Restam, então, o peso da inadimplência de cada instituição e o lucro. Não temos acesso às planilhas de cálculo do primeiro, mas sabemos dos lucros. Então vamos a eles.

O lucro do Itaú Unibanco foi de R$ 5,945 bilhões no terceiro trimestre do ano, aumento de 10% na comparação com o mesmo período de 2014. O do Bradesco foi de R$ 4,120 bilhões, aumento de 6,3% na mesma comparação. O do Banco do Brasil, que divulgou ontem seu balanço trimestral, foi de R$ 3,062 bilhões, crescimento de 10,1%. E o do Santander foi de R$ 1,708 bilhão, aumento de 5%. A Caixa ainda não divulgou o balanço. Vejam bem, é lucro realizado em apenas três meses e que não para de crescer.

Está claro que é para a variável “lucro” que está sendo carreada a montanha de dinheiro do pagamento de juros pelos brasileiros. Um lucro, na minha opinião, imoral.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...