quarta-feira, 7 de outubro de 2015

TEMERIDADE



  

Eduardo Costa




Aqueles que têm um pouco de informação ficam assustados com algumas coisas que ouvem no dia a dia. Uma delas é a velha frase de que “quem se preocupa com alta do dólar é rico, porque pobre não viaja para o exterior, não sofre qualquer alteração na vida”. Como se muitos dos produtos e serviços essenciais na vida dos mais humildes, como o pãozinho e a passagem de ônibus, não tivessem influência direta da oscilação do câmbio e, ao contrário, se rico, de fato, deixasse de ir jogar tênis em Miami porque o dólar passou dos R$ 4.
Outra coisa que ouço com frequência incômoda é o grito dos que não estão “nem aí” para a política, orgulhosos de que não lixam para voto, não se lembram em quem votaram e etc e tal. Como pode essa gente não perceber que todas as nossas mazelas estão intrinsecamente ligadas ao voto, ao ato de escolher os que vão nos governar?
Estamos vivendo um tempo em que os nossos representantes, nos três níveis de governo, cuidam dos próprios projetos políticos, abafam crises como se fossem focos de incêndio e torcem para que o tempo passe logo, venham novas eleições e outros que resolvam os problemas mais sérios.
É só dar uma reparada: a dengue tem números de epidemia, a renda cai, emprego foge e nossas casas legislativas jogam conversa fora...
Quando não estão votando aumento de impostos. Ontem, mais uma tentativa de apreciar vetos importantes no Congresso Nacional foi por água abaixo numa manobra da oposição.
A mesma que é liderada por Eduardo Cunha, o homem da conta de 5 milhões de dólares na Suíça, escorado no baixo clero da Câmara e em expoentes de tristes histórias como o Paulinho da Força Sindical, o investigado Agripino Maia e tantos outros. Do lado do governo, Dilma faz um esforço danado para fingir que tem o comando, que é ouvida e que vai dar tudo certo.
A gente não tem rumo, não tem plano, não tem por que acreditar... E não é só no plano federal. Ontem, anunciaram em Belo Horizonte que o vagão do “outubro rosa” que passaria a circular com mensagens educativas no combate ao câncer de mama, com cerimônia e tudo mais, estava “em manutenção preventiva”. O nosso trem metropolitano é um retrato acabado de um tempo sem governo: há décadas, todo mundo fala no nosso “metrô’, promete recursos, faz cerimônia, troca governo, mas, na hora da verdade, nem consegue fingir que funciona.
Se o vagão está assim, e a PM? E a Polícia Civil? E os Bombeiros? Assunto prá depois.

EMPRESAS DO GOVERNO NUNCA DÃO LUCRO



  

Márcio Doti




A Petrobras contratou escritórios internacionais de advocacia para cuidar dos casos surgidos a partir da Operação “Lava Jato” e os tenebrosos prejuízos causados aos cofres da empresa e aos bolsos de todos nós. Sem licitação nenhuma porque, segundo a empresa, as contratações se enquadram nos casos de especialização. As operações vão custar R$200 milhões. A Petrobras está também fazendo mágica formidável ao alugar prédio de 22 andares em Salvador, da Petros, que é o fundo de aposentadoria de seus empregados e, apesar disso, vai continuar pagando aluguéis em diversos prédios que mantém com seus escritórios e que se esperava serem dispensados agora, com o novo espaço alugado da Petros. O fundo de pensão, por sua vez, está construindo esse prédio com OAS e Odebrecht. Mas, voltando aos contratos de investigação, eles vão cuidar do levantamento dos prejuízos, dos impactos no mercado norte-americano e das formas de minimizar os danos.
Ou seja, além dos bilhões de prejuízos causados, seja com aquela desastrada compra e igual venda da refinaria de Pasadena e dos milhões que ficaram ao longo do caminho ou foram parar lá na Suíça, conforme levantamentos da Operação “Lava Jato”, ainda temos que pagar essas duas centenas de milhões de reais, sabe-se lá para que! Isto mesmo: sabe-se lá para que, pois a empresa está se negando a informar detalhes dos contratos e das operações alegando que pode haver prejuízo para as investigações. Não sei se seria o caso de apelar para o Supremo como fez o Tribunal de Contas da União naquela situação em que o BNDES não queria revelar detalhes dos financiamentos alegando a necessidade de preservar as empresas financiadas. Depois que o Supremo mandou abrir os processos ficou fácil descobrir o que de fato se queria preservar: aqueles fantásticos financiamentos a empreiteiras para tocar obras em países amigos, muito amigos.
Agora é a Petrobras que pretende preservar as investigações e para isto se nega a dar detalhes de transações desse vulto. Mas só num país chamado Brasil é que uma empresa pública se acha no direito de contratar escritórios por R$ 200 milhões sem fazer licitação e sem prestar contas bem no claro para seus acionistas que somos todos nós. Nem empresas particulares de grande porte conseguem dispender tanto dinheiro sem explicar ao menos ao seu Conselho de Administração.
E, provavelmente, vai ficar por isto mesmo, nem vamos entender direito essa estória complicada e estranha do aluguel de prédio de 22 andares da Petros para beneficiar o fundo dos funcionários e nem vamos saber com todas as letras a que estão vindo esses escritórios de advocacia, por que custam esse preço e com que direito se pode gastar tanto sem prestar satisfação a ninguém. É por esses caminhos e atos que se imagina termos chegado a prejuízos tão elevados. Muita liberdade, a gente sabe, termina virando libertinagem.

QUEREM DAR FÉRIAS FORÇADAS PARA O JUIZ DA LAVAJATO



  

Manoel Hygino


O Judiciário está na berlinda e poderá chegar ao banco dos réus, se não forem julgados e condenados cidadãos que não souberem honrar os cargos que ocuparam na a administração.
Os deslizes, delitos e crimes são patentes cometidos, os interrogatórios os tornam amplamente visíveis, mas bons advogados de defesa, regiamente pagos, é claro, sabem como atuar. E se evidencia a inclinação para a inocência de homens que têm culpa inquestionável.
Se continuar assim, o Brasil seguirá como campeão da impunidade, como o mundo tem observado. Não é o título que o povo brasileiro queria ter para a nação que completará duzentos anos de independência daqui a sete.
A acumulação de graves problemas nas mãos do judiciário lhe dá grandeza, mas também o situa em nível de observação por quantos querem que prevaleça a impunidade, sobretudo nos casos de empresas públicas dilapidadas. O cidadão ainda procura crer ou nele crê. É uma esperança, uma demonstração de confiança.
Ficou perfeitamente claro que o Poder Judiciário, mesmo contendo em seu bojo alguns homens de duvidosa conduta, pode salvar a idoneidade nacional. Os brasileiros mais cuidadosos reconhecem que verdadeiras máfias estavam e ainda agem para completar-se prejudicando a nação. São numerosos crimes que ainda dependem de apuração final e julgamento.
Mas se esperava ou se espera que os homens de bem que ainda existem no país consigam que os culpados sejam julgados e condenados. Não é o caso apenas do Pizzolato, da representação do Planalto em São Paulo e tantos outros que o espaço é pequeno para abrigar.
O mensalão é o princípio de uma história longa e deprimente, ou revoltante. Depois, vieram outros, cujo desenlace ainda não houve. O caso da Petrobrás é o mais escandaloso e nem seus empregados, quase todos filiados à CUT e ao governo, estão satisfeitos. Muito menos os da primeira hora de fundação da empresa, quando não existiam os ratos de várias procedências que a dominaram para tirar proveito, muitíssimo proveito. O que aconteceu causa vergonha...
Um jovem juiz federal entrou em cena e vem merecendo do povo respeito. Para o cidadão, lugar de ladrão é na cadeia e, assim, os responsáveis por crimes devem pagar pelo que perpetraram. Rigorosamente, dentro da lei. Nada mais do que isso.
No entanto, o fatiamento dos processos da Petrobrás como pretendido por alguns causa pasmo. Curioso como, de uma hora para outra, certos cidadãos chegaram à conclusão de que o trabalho e muito extenso e pesado para apenas o magistrado de Curitiba e sua coesa equipe.
Segundo os velhacos, é hora de minorar-lhe o esforço, embora ele não se queixasse ainda, em qualquer momento. O Brasil não quer excessos de pena e exacerbado rigorismo. Tampouco é favorável ao simples esquecimento dos delitos e a prescrição, a impunidade enfim, que só serve ao interesse dos fora da lei e corruptos – onde estiverem e que crimes tenham cometido.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

O PMDB É CONFIÁVEL OU APROVEITA DA SITUAÇÃO?



  

Por: Malco Camargos*


O melhor lugar do mundo nem de longe é aquele ocupado por um chefe do Executivo. Ao ver a situação da presidente Dilma no momento me ocorre a anedota “A espada de Dâmocles”, escrita ainda antes de Cristo.
Reza a lenda que Dâmocles, um cortesão, conseguiu que o imperador Dionisio o deixasse governar por um dia para que ele pudesse experimentar o que era a vida de um homem com poder e autoridade. Em um primeiro momento, Dâmocles se encantou com toda a sorte de luxo que ia experimentando – jantares, súditos, etc...
Mas antes de o prazo se esgotar, percebeu que sobre sua cabeça pendia uma espada presa apenas por um fio de rabo de cavalo. Vendo a ameaça iminente, antes do prazo se esgotar, Dâmocles devolveu o cargo a Dionísio dizendo que não queria ser tão afortunado.
A anedota representa bem a situação em que o PMDB coloca a presidente Dilma neste momento. O partido está ao lado da presidente mas, a qualquer momento, ameaça retirá-la do poder com o impeachment.
Esta ameaça constante coloca o partido, ora aliado ora adversário da presidente, em uma situação extremamente confortável. A cada dia que se passa o PMDB vê seu poder e o acesso a recursos públicos, seja através de cargos ou de orçamento, ampliar. Nunca antes na história dos governos petistas o PMDB teve tanto poder.
Atualmente, o PMDB controla sete ministérios e, entre eles, um dos mais relevantes, o Ministério da Saúde.
A constante ameaça de instauração do impeachment somada a conversas constantes com a oposição e a pressão em votações fundamentais para o ajuste das contas públicas faz com que o PMDB se torne um aliado vital para a sobrevivência de um governo que, atualmente, amarga recordes de impopularidade.
Enquanto o governo cede cada vez mais às vontades e caprichos do PMDB, a presidente, sob constante ameaça de perder o cargo, não consegue pautar uma agenda positiva e, como na anedota de Dâmocles, não sabe se sobreviverá ao dia de amanhã.
Ganhando tempo, cedendo espaço, o governo consegue uma sobrevida, mas não pode se beneficiar das delícias proporcionadas pelo poder. A presidente e seu partido vão ficando cada vez mais enfraquecidos, desgastados com a necessidade de ajustes nas contas públicas, cortes de gastos e criação de impostos, enquanto aqueles que estão fora do trono se deliciam com as estruturas de poder.
No momento atual, seja quem for que nos governe, terá que seguir a receita de cortes de gastos e geração de novas receitas. Não há mistério, a saída da crise passa pela retomada do controle das contas públicas e isto não se faz sem uma boa dose de medidas impopulares.
Por isso, o papel do PMDB é o mais confortável possível. Pode ter acesso ao poder, pode controlar parte significativa do orçamento e das nomeações, sem ter a ameaça ou o desgaste de quem ocupa a principal cadeira eletiva da nação.
O PMDB deixa todo o ônus de ser governante para o PT e faz a festa na luxúria de quem tem acesso a recursos de poder.
*Doutor em Ciência Política, professor da PUC Minas e diretor do Instituto Ver
 

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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