Por: Malco Camargos*
O melhor lugar do mundo nem de longe é
aquele ocupado por um chefe do Executivo. Ao ver a situação da presidente Dilma
no momento me ocorre a anedota “A espada de Dâmocles”, escrita ainda antes de
Cristo.
Reza a lenda que Dâmocles, um
cortesão, conseguiu que o imperador Dionisio o deixasse governar por um dia
para que ele pudesse experimentar o que era a vida de um homem com poder e
autoridade. Em um primeiro momento, Dâmocles se encantou com toda a sorte de
luxo que ia experimentando – jantares, súditos, etc...
Mas antes de o prazo se esgotar,
percebeu que sobre sua cabeça pendia uma espada presa apenas por um fio de rabo
de cavalo. Vendo a ameaça iminente, antes do prazo se esgotar, Dâmocles
devolveu o cargo a Dionísio dizendo que não queria ser tão afortunado.
A anedota representa bem a situação em
que o PMDB coloca a presidente Dilma neste momento. O partido está ao lado da
presidente mas, a qualquer momento, ameaça retirá-la do poder com o
impeachment.
Esta ameaça constante coloca o
partido, ora aliado ora adversário da presidente, em uma situação extremamente
confortável. A cada dia que se passa o PMDB vê seu poder e o acesso a recursos
públicos, seja através de cargos ou de orçamento, ampliar. Nunca antes na
história dos governos petistas o PMDB teve tanto poder.
Atualmente, o PMDB controla sete
ministérios e, entre eles, um dos mais relevantes, o Ministério da Saúde.
A constante ameaça de instauração do
impeachment somada a conversas constantes com a oposição e a pressão em
votações fundamentais para o ajuste das contas públicas faz com que o PMDB se
torne um aliado vital para a sobrevivência de um governo que, atualmente,
amarga recordes de impopularidade.
Enquanto o governo cede cada vez mais
às vontades e caprichos do PMDB, a presidente, sob constante ameaça de perder o
cargo, não consegue pautar uma agenda positiva e, como na anedota de Dâmocles,
não sabe se sobreviverá ao dia de amanhã.
Ganhando tempo, cedendo espaço, o
governo consegue uma sobrevida, mas não pode se beneficiar das delícias
proporcionadas pelo poder. A presidente e seu partido vão ficando cada vez mais
enfraquecidos, desgastados com a necessidade de ajustes nas contas públicas,
cortes de gastos e criação de impostos, enquanto aqueles que estão fora do
trono se deliciam com as estruturas de poder.
No momento atual, seja quem for que
nos governe, terá que seguir a receita de cortes de gastos e geração de novas
receitas. Não há mistério, a saída da crise passa pela retomada do controle das
contas públicas e isto não se faz sem uma boa dose de medidas impopulares.
Por isso, o papel do PMDB é o mais
confortável possível. Pode ter acesso ao poder, pode controlar parte
significativa do orçamento e das nomeações, sem ter a ameaça ou o desgaste de
quem ocupa a principal cadeira eletiva da nação.
O PMDB deixa todo o ônus de ser
governante para o PT e faz a festa na luxúria de quem tem acesso a recursos de
poder.
*Doutor em Ciência Política, professor
da PUC Minas e diretor do Instituto Ver
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