José Antônio Bicalho
Ao comentar a coluna de sexta-feira,
sobre a possibilidade de fuga de capitais do país em caso de elevação dos juros
nos Estados Unidos, o colega de redação Bruno Moreno levantou uma série de
dúvidas pertinentes: Quem são esses investidores, afinal de contas? Qual a
participação deles na economia nacional? Dependemos deles tanto assim? Trata-se
de capital especulativo? Em que contribuem para a economia do país?
Nem todas as perguntas encontram respostas precisas, mas a tentativa de respondê-las já pode ser bastante esclarecedora. Vamos a elas, então. Mas antes uma pequena explicação sobre a ameaça da alta dos juros nos EUA.
O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, mantém os juros entre zero e 0,25% ao ano desde 2008, início da ‘crise dos subprimes’, gerada pelo estouro da bolha do crédito imobiliário de alto risco. O objetivo da política de juros é combater a crise incentivando o consumo das famílias e o investimento das empresas por meio de crédito barato e farto. Vem dando certo e a economia já cresce acima dos 2% ao ano.
Diante dos sinais de recuperação estruturada da economia, o Fed passou a sinalizar que está próximo o momento em que voltará a elevar os juros. Não aconteceu na reunião da semana passada do Comitê Federal de Política Monetária (Fomc), do Fed, mas pode acontecer nas reuniões agendadas para outubro e dezembro. Para o Brasil, um aumento dos juros nos EUA gera o risco de fuga do capital estrangeiro investido na bolsa e nos títulos do governo. Vamos, então, tentar chegar à real dimensão desse risco.
Na Bovespa, neste mês até o dia 16, os investidores estrangeiros compraram R$ 41,607 bilhões em ações e venderam R$ 42,049 bilhões. Isso é pouco menos do que movimentaram todas as demais categorias de investidores somadas (pessoa física, empresas, instituições financeiras e outros) no mesmo período (R$ 45,323 bilhões em compras e R$ 45,412 bilhões em vendas).
O investimento estrangeiro é, portanto, muito significativo e tem capacidade de abalar a bolsa brasileira se desaparecer. Mas o perfil médio do investidor estrangeiro na bolsa é o do especulador clássico, ou seja, aquele que busca ganhar muito dinheiro em pouco tempo.
Não sairia do Brasil por conta de um aumento mínimo do juro nos Estados Unidos. Somente fariam isso frente a uma deterioração acentuada das perspectivas do mercado brasileiro de capitais e da falta de oportunidades de investimento entre as empresas nacionais.
O problema maior está no financiamento da dívida pública. No último Relatório Mensal da Dívida Pública Federal, do Tesouro Nacional, referente a julho, a participação de estrangeiros entre detentores de títulos públicos era de 19,6%, com R$ 484,07 bilhões. O perfil desses investidores é menos claro que o dos que estão na Bovespa, mas é nitidamente mais conservador.
Entre eles estão fundos de previdência privada de todo o mundo e fundos de investimentos geridos por grandes bancos, que mantém estatutos e modelos rígidos de controle. Caso os EUA, que são o país mais seguro do mundo, volte a pagar juros que satisfaçam as metas de ganho desses investidores, que são pouco pretensiosas, esse dinheiro sairia do Brasil.
O problema se dará paulatinamente, já que o governo brasileiro não precisa se preocupar com os papéis que já foram vendidos até as respectivas datas de vencimento. Ao vencerem é que as dificuldades aparecerão. O governo rola sua dívida emitindo e vendendo mais papéis e perder os quase 20% dos compradores de seus títulos não seria nada bom.
Para garantir a atratividade dos papéis, seria obrigado a pagar prêmios (ou seja, aumentar os juros) e reduzir os prazos de vencimento. Uma situação que iria contrariamente aos esforços do ajuste fiscal, já que com os juros atuais, de 14,25%, o governo já está gastando quase 8% do PIB só com pagamento de juros.





