sexta-feira, 11 de setembro de 2015

TUDO OU NADA



  

Orion Teixeira



Em vez de perder o precioso tempo em assumir ou não se cometeu erros, o governo Dilma Rousseff deveria aproveitá-lo a seu favor para reconhecer a realidade sem a tentativa de maquiá-la muito menos negá-la. Ao cair nessa conversa, deixa de fazer aquilo que disse que pretendia, com a intenção de somente medir as repercussões. Faça o que fizer, agora, terá que fazê-lo sozinho, sejam quais forem os riscos, porque não há capital político que lhe assegure credibilidade. Há muito, as pesquisas apontam que somente 7% aprovam a administração, o que, para bom entendedor, significa perda de confiança.

A crença só voltará com os resultados das medidas e não com as intenções ou anúncios sobre elas. É preciso agir rápido, porque, se a ficha não cair, a casa está ameaçada. Tanto é que, um dia depois do rebaixamento da confiança externa (perda do selo de bom pagador), os arautos do impeachment ganharam fôlego para lançar o movimento que havia perdido força no mês passado. Até ontem à tarde, já tinha adesão de mais de 20 mil nas redes sociais e assinaturas de mais de 50 deputados federais.

Isso é política, grande ou pequena, mas daqui pra frente tudo será imagem. Qual é a imagem do governo que ficará de pé? Há quase um mês, disseram disse que iriam cortar na carne, cerca de 10 dos 39 ministérios. O que é pior, se o fizerem, não será por convicção, mas por pressão de que teriam que fazer alguma coisa. Dilma diz não concordar com a medida, que traria pouca economia ao gasto público. Não se trata mais de quanto, mas como está sendo feito. Um ministério, como o da Pesca, por exemplo, sempre questionado, além do custeio de funcionamento, com status de ministro, gabinete, funcionários, carros, diárias e outros benefícios, ainda está sendo investigado pela própria Controladoria-Geral da União por desvio de recursos.

Outra parte do tempo, o governo consumiu avaliando e admitindo a recriação ou aumento de impostos. Desgastou-se mais com os recuos. Desesperou-se e mandou um orçamento assumindo não ter como fechar as contas, com um déficit de R$ 30,5 bilhões. Foi a gota d’água para que uma das três mais influentes agências de risco classificar o Brasil de “mau pagador”. Não foi por falta de aviso; o próprio ministro da Fazenda, Joaquim Levy, voz vencida no governo, fazia o alerta.

Com isso, não há mais tempo para reuniões de emergência, encontros de pacificação com a base aliada, pacto de poderes, busca de consenso. As decisões deverão ser tomadas pelo governo, com acerto ou desacerto, cortando os gastos que podem e devem ser feitos, extinguindo ministérios, demitindo cargos de confiança e, na outra ponta, anunciando o inevitável aumento dos impostos. O risco não é mais só de rebaixamento. É maior, é de impeachment, de quebradeira geral, caos social. Agora, é tudo ou nada.

Conta não fecha

Fazendo uma conta rápida, o governo mineiro disse que herdou da gestão passada um déficit de R$ 7 bilhões e que deverá encerrar o ano com o rombo de R$ 10 bilhões. Entre um e outro, irá receber uma receita extra de R$ 6 bilhões dos depósitos judiciais. Tudo somado e descontado, tudo indica que surgiu, nessa travessia, outro déficit de R$ 9 bilhões.

COMO PRATICAR O ILUSIONISMO



  

Márcio Doti




O ministro Joaquim Levy deve ter feito um cursinho intensivo de como praticar o ilusionismo. É essa a sensação que ele está deixando ao discorrer sobre a disposição governamental de aumentar impostos e criar outros para combater o rombo no orçamento do próximo ano. Faltou só um telefone para quem quisesse ligar e contribuir com algum valor. A tentativa foi a de fazer parecer que o governo fez direitinho a parte dele, cortou despesas no início do ano e agora espera que os brasileiros compreendam e vejam que isso tudo está sendo feito em proveito de todos. Simples assim.

É muito fácil resolver problemas de caixa quando se cobre o saldo negativo com um acréscimo ao que se ganha. É assim que se faz quando o gastador é o governo e quem paga o aumento de receita é o povo. Como quer a presidente Dilma. É só aumentar imposto, criar algum novo, enfim, engordar a receita. Muito diferente do que acontece com a economia das empresas, das famílias, onde o dinheiro que se ganha é que estabelece o quanto se pode gastar. Não há varinhas mágicas e ninguém de quem se possa exigir que ponha dinheiro na nossa mão ou na nossa conta bancária. É por isto que sabemos o que deve ser feito para eliminar o saldo negativo.

É preciso cortar despesas, cortar despesas, cortar despesas. Isso o governo finge que faz. E na base do faz de contas vai ficar tudo ainda pior. Receita o Brasil tem de sobra. Precisa é gastar infinitamente menos, aplicar nos lugares certos e na dose imposta pelo atual quadro econômico do país. A questão não é aumentar o bolo de arrecadação e continuar gastando mal como se gastou até aqui. Lula já está mandando recados lá de fora sobre priorizar os programas sociais. Está pensando em luta de poder, em manter poder, em conquistar eleitores que, entretanto, começam a perceber que o desemprego de hoje e o preço mais alto no sacolão e no supermercado são consequências dos favores feitos ontem em nome do social e de forma irresponsável.

A solução não pode ser outra vez a de sangrar os bolsos, inclusive dos que menos podem para continuar gastando mal. O desafio é fazer uma grande busca no orçamento e eliminar muito mais do que o governo está prometendo. O povo não tem dinheiro para pagar mais imposto. E nesta hora que antecede mais esse impulso governamental na direção do achaque aos bolsos nacionais é importante lembrar que isso atinge toda a população. Atinge aqueles que pagam imposto nos guichês do governo, diretamente, e inclui aqueles que compram produtos essenciais que sobem de preço porque ali são incluídos esses impostos e seus aumentos.

A solução não pode ser outra vez a de sangrar os bolsos, inclusive dos que menos podem para continuar gastando mal

BRASIL NA ECONOMIA É IGUAL AO NOSSO ENSINO - PÉSSIMOS



  

Editorial Jornal Hoje em Dia 



Em abril de 2008, quando a crise financeira internacional ainda não havia atingido o Brasil – e que o ex-presidente Lula chamaria depois de “marolinha”, em lugar de um tsunami –, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s subiu a taxa do Brasil para o simbólico nível de BBB–, que é o primeiro patamar dos países em que é seguro investir, é o selo do bom pagador.

O país amargara nos anos anteriores a condição de BB, que o colocava na categoria de grau especulativo, ou seja, corria-se o risco de levar calote quem transacionasse com o Brasil. Em 2008, as comemorações foram enormes, pois o governo petista, após seis anos de gestão, mostrava que colocara o país no rumo certo. Em 2011, o país galgou mais um grau, chegando a BBB, sem o sinal de (–) ou (+).

Já em 2014, recuou para o BBB–, com a agência S&P mostrando que a coisa estava desandando. E agora, o país retornou à parte de baixo da tabela, com o anunciado BB+. O curioso é que Lula, agora, afirmou que isso “não significa nada” e que as agências só querem é “mais arrocho, mais ajuste, mais desemprego”. Já em 2008, no cargo de presidente, dissera que era uma “vantagem extraordinária neste mundo globalizado”.

Ele não está mais no governo, mas, como aconteceu no dia 3 deste mês, é capaz de irromper no Palácio do Planalto, à noite, para dar orientações à presidente sem marcar audiência. Então, ele tem influência.

Ontem a presidente da República reuniu ministros para discutir o rebaixamento da nota. Mas nada foi definido. O ministro da Fazenda disse que medidas serão anunciadas no fim do mês. Ele tem insistido em querer aumentar impostos para o rombo no orçamento, uma hipótese que é rejeitada pela sociedade e pelo Congresso. Também passou a falar em “cortes” nos gastos. Mesmo depois de Dilma Rousseff ter dito que não havia mais como fazer reduções.

Hoje, mais de 90% de todas as despesas federais são obrigatórias, ou seja, não podem ser cortadas. Mas isso revela incompetência administrativa, porque o equacionamento dos gastos deve ser feito de forma eficiente para gerar uma margem de recursos destinados a investimentos produtivos, por exemplo. Mas o que temos hoje é um governo que custa caro para a sociedade e age de forma atarantada.

O curioso é que Lula afirmou que isso “não significa nada” e que as agências só querem é “mais arrocho, mais ajuste, mais desemprego”. Já em 2008, dissera que era uma “vantagem extraordinária neste mundo globalizado”

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

REBAIXAMENTO DO BRASIL - MAU PAGADOR



A cereja podre no bolo de Dilma

Vinicius Torres Freire 





O descrédito já nos custava caro fazia tempo, cortesia de Dilma Rousseff. Na prática, já havíamos sido rebaixados quando os donos do dinheiro grosso sentiram o cheiro de queimado da besteirada econômica e passaram a cobrar mais para emprestar ao país.
Vai custar algo mais. A gota d'água suja foi o "Orçamento transparente" de 2016, na verdade roto e furado de deficit, causa imediata do rebaixamento da nota de crédito do Brasil mesmo segundo a "ala ortodoxa" dos economistas do governo.
Vai haver mais estragos. De óbvio e imediato: real ainda mais desvalorizado, juros algo mais altos, recessão mais longa ou profunda. Dúvida maior é o que será da política.
Vai começar o período da Regência? Dilma Rousseff vai entregar a rapadura, se não de direito, pelo menos de fato? A quem? A Joaquim Levy, segundo a versão do burburinho palaciano da noite de ontem? Será uma regência trina provisória (Levy, Temer, Congresso)? O PMDB vai antecipar a fritura final da presidente?
Como um governo ainda mais desmoralizado será capaz de coordenar um acordo entre lideranças políticas e sociais para dar um jeito mínimo nas contas públicas? Até agora, não era capaz de coordenar nem mesmo sua desordem intestina, a barafunda palaciana que cria mixórdia política e desbarata qualquer programa econômico coerente e durável.
O descrédito começou bem antes que nos dessem nota vermelha, a medalhinha de potencial caloteiro, como o fez a S&P ontem (aliás, o que será da endividada Petrobras?). Mesmo assim, foi inesperado levar agora o rótulo de "investimento especulativo", grau "caloteiro mirim", "especulativo, mas nem tanto". Imaginava-se, governo e "mercado", que seria possível enrolar até janeiro, por aí.
Por que a S&P rebaixou o país? Porque o crescente tumulto político reduziu "a capacidade e a vontade do governo de elaborar um Orçamento coerente" com as promessas do início de Dilma 2. Porque o governo baixou de novo a meta de superavit "seis semanas depois de ter cortado a meta anterior", seguindo o método confuso de desempenho reverso, o método Dilma Rousseff (não tem meta e, quando piora, dobra a meta degradada). Porque se previa um triênio de deficit primário.
A dívida crescerá, na avaliação da S&P, pois o deficit nominal será de 8% tanto em 2015 quanto em 2016, com a economia encolhendo 2,5% e 0,5%, respectivamente. Na média do quadriênio 2014-2017, o deficit seria de 7% em média. Um desastre.
Pode piorar já no ano que vem. A nota de crédito pode cair mais devido à possibilidade relevante ("33%") de que o deficit cresça mais, dada a inércia causada pelo tumulto político, ou ao risco de desordem econômica ainda maior do que a esperada agora, diz a S&P.
Sim, essas agências já foram negligentes, ineptas e mesmo cúmplices de desastres, como na crise de 2008. Sim, seguem o bonde de euforias dos mercados financeiros, dão alertas tardios, quando não apenas comparecem para matar os feridos depois da batalha. Mas, apesar de vexames e erros, tais empresas contam porque suas notas orientam, mesmo legalmente, muita decisão de investimento.
Desta vez, porém, para nosso vexame e miséria, até as agências de classificação de risco estão certas.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...