Orion Teixeira
Em vez de perder o precioso tempo em
assumir ou não se cometeu erros, o governo Dilma Rousseff deveria aproveitá-lo
a seu favor para reconhecer a realidade sem a tentativa de maquiá-la muito
menos negá-la. Ao cair nessa conversa, deixa de fazer aquilo que disse que
pretendia, com a intenção de somente medir as repercussões. Faça o que fizer,
agora, terá que fazê-lo sozinho, sejam quais forem os riscos, porque não há
capital político que lhe assegure credibilidade. Há muito, as pesquisas apontam
que somente 7% aprovam a administração, o que, para bom entendedor, significa
perda de confiança.
A crença só voltará com os resultados
das medidas e não com as intenções ou anúncios sobre elas. É preciso agir
rápido, porque, se a ficha não cair, a casa está ameaçada. Tanto é que, um dia
depois do rebaixamento da confiança externa (perda do selo de bom pagador), os
arautos do impeachment ganharam fôlego para lançar o movimento que havia
perdido força no mês passado. Até ontem à tarde, já tinha adesão de mais de 20
mil nas redes sociais e assinaturas de mais de 50 deputados federais.
Isso é política, grande ou pequena,
mas daqui pra frente tudo será imagem. Qual é a imagem do governo que ficará de
pé? Há quase um mês, disseram disse que iriam cortar na carne, cerca de 10 dos
39 ministérios. O que é pior, se o fizerem, não será por convicção, mas por
pressão de que teriam que fazer alguma coisa. Dilma diz não concordar com a
medida, que traria pouca economia ao gasto público. Não se trata mais de
quanto, mas como está sendo feito. Um ministério, como o da Pesca, por exemplo,
sempre questionado, além do custeio de funcionamento, com status de ministro,
gabinete, funcionários, carros, diárias e outros benefícios, ainda está sendo
investigado pela própria Controladoria-Geral da União por desvio de recursos.
Outra parte do tempo, o governo
consumiu avaliando e admitindo a recriação ou aumento de impostos. Desgastou-se
mais com os recuos. Desesperou-se e mandou um orçamento assumindo não ter como
fechar as contas, com um déficit de R$ 30,5 bilhões. Foi a gota d’água para que
uma das três mais influentes agências de risco classificar o Brasil de “mau
pagador”. Não foi por falta de aviso; o próprio ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, voz vencida no governo, fazia o alerta.
Com isso, não há mais tempo para
reuniões de emergência, encontros de pacificação com a base aliada, pacto de
poderes, busca de consenso. As decisões deverão ser tomadas pelo governo, com
acerto ou desacerto, cortando os gastos que podem e devem ser feitos,
extinguindo ministérios, demitindo cargos de confiança e, na outra ponta,
anunciando o inevitável aumento dos impostos. O risco não é mais só de
rebaixamento. É maior, é de impeachment, de quebradeira geral, caos social.
Agora, é tudo ou nada.
Conta não fecha
Fazendo uma conta rápida, o governo
mineiro disse que herdou da gestão passada um déficit de R$ 7 bilhões e que
deverá encerrar o ano com o rombo de R$ 10 bilhões. Entre um e outro, irá
receber uma receita extra de R$ 6 bilhões dos depósitos judiciais. Tudo somado
e descontado, tudo indica que surgiu, nessa travessia, outro déficit de R$ 9
bilhões.