VEJAM UM EXEMPLO DE FALTA
DE VISÃO E PLANEJAMENTO DO GOVERNO FEDERAL
O Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) vive hoje uma
complicada situação: em instalações provisórias, funciona sem presidente e sem
pessoal suficiente para a análise dos pedidos de registro de patentes.
Solicitações se acumulam, arrastando o tempo para uma resposta do órgão, fato
que tem desestimulado investimentos no país, segundo especialistas.
O órgão tem levado mais de uma década para aprovar um pedido de patente,
enquanto no exterior o tempo médio é de três anos. O longo prazo assusta
estrangeiros. Empresas americanas dos setores de telefonia e computação
(hardware de alta tecnologia), segundo advogados, perderam o interesse pelo
país devido ao tempo que levariam para ter o retorno dos investimentos. É só depois da concessão da patente que uma
empresa pode receber os royalties pela comercialização de um produto.
O tempo médio de espera quase dobrou em dez anos, segundo estudo
encomendado pela Associação Brasileira da Propriedade Intelectual (ABPI). Em
2003, a demora era de pouco mais de seis anos. Em 2008, subiu para oito anos e,
em 2013, alcançou 11 anos. E dependendo da área pode ser ainda maior. Pedidos
do setor de telecomunicações, por exemplo, levaram mais de 14 anos para serem
respondidos.
Advogado especialista na área, Luiz Edgard Montaury Pimenta, do
escritório Montaury Pimenta, Machado & Vieira de Mello, cita o exemplo de
uma empresa americana, fabricante de chip para celulares, que optou por não
ingressar no Brasil depois que soube da demora no INPI. "As empresas
acabam redirecionando os investimentos para países que têm prazos
melhores", afirma o advogado.
Segundo o estudo da ABPI, o
crescente estoque de pedidos para análise – conhecido como backlog – é a
principal causa de tamanha demora. A demanda aumentou, mas o número de
analistas de patentes do INPI diminuiu ao longo dos anos. Em 2012, eram 225
profissionais para avaliar cerca de 165 mil pedidos. No ano seguinte, a
quantidade de profissionais caiu para 192 e o total de pedidos subiu para mais
de 180 mil.
O número de pedidos
analisados por cada profissional do INPI é nove vezes maior do que a quantidade
examinada por analistas que atuam no exterior.
Só no fim do ano passado, o
INPI, de acordo com nota enviada por sua assessoria de imprensa, ganhou um
pequeno reforço. Hoje, são 211 profissionais – ainda assim, muito distante da
necessidade. O INPI destaca que para estabilizar o backlog seriam necessários
700 examinadores de patentes. "Há falta de verba. O INPI não recebe o
suficiente para contratar novos examinadores", diz a presidente da ABPI, a
advogada Elizabeth Kasznar Fekete. "Há cem pessoas aprovadas em concurso
[realizado em 2014], que ainda não foram convocadas."
O INPI, que é ligado ao
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, também funciona
fora de sua sede, que apresentou problemas estruturais. E está sem presidente.
O cargo está vazio há três meses e não há previsão para o anúncio de um novo
nome.
O diplomata Otávio Brandelli
deixou o cargo no começo de abril. Desde então é o funcionário de carreira
Ademir Tardelli quem tem assumido interinamente o posto. Fala-se nos bastidores
que quase dez indicações foram feitas ao governo, mas até agora nenhuma delas
teria sido aceita.
"É um sintoma da ausência de importância que o governo federal tem dado
às questões de propriedade intelectual. Hoje eu diria que o INPI é quase que
inoperante", afirma o advogado André Zonaro Giacchetta, do Pinheiro Neto.
O advogado diz que a
situação tem desestimulado também as empresas nacionais. Segundo ele, muitas
estão preferindo primeiro ingressar com pedido de patente fora do Brasil. Ele
cita como exemplo empresas brasileiras dos setores aeronáutico e de bebidas,
que decidiram depositar pedidos nos Estados Unidos, Europa e China. "Não
tenho nada para dizer ao investidor que anime. A impossibilidade de pagamento
antes da concessão tem sido fator determinante para se decidir ou não pelo
investimento no Brasil", afirma.
Desde o fim de maio, a ABPI
tem atuado em parceria com a Frente Parlamentar em Defesa da Propriedade
Intelectual e de Combate à Pirataria. Uma das ações do grupo é alertar o
governo federal sobre as perdas que se têm com a atual condição do INPI.
Recentemente, eles enviaram uma carta para a presidente Dilma Rousseff.
"Não estamos falando
aqui de salários gigantescos ou de um número de funcionários que poderia causar
desequilíbrio às contas públicas", diz o presidente da Frente, o deputado
federal Nelson Marchezan Júnior (PSDB-RS) sobre o pedido de contratação de mais
analisadores de patente. "O INPI sempre está na pauta como ponto negativo,
em todas as reuniões. É um entrave que consta em qualquer audiência que tenha
um debate técnico."
Por nota, o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior diz que autorizou, no fim de
abril, a nomeação de parte dos candidatos aprovados no último concurso público.
Afirma ainda que está tomando medidas para redefinir e aperfeiçoar processos e
procedimentos na concessão de patentes e destacou que está ampliando a
cooperação internacional. Como exemplo, cita a implementação de um programa
piloto de compartilhamento de exame de patentes entre Brasil e Estados Unidos.
Segundo o ministério, a medida facilitará o exame de pedidos depositados nos
dois países.




