terça-feira, 16 de junho de 2015

BRASILEIROS NOS ESTADOS UNIDOS



  

Manoel Hygino




Muda-se o fluxo de brasileiros, mais uma vez. Eles procuravam países em que pudessem ganhar mais e gozar felicidade e a probabilidade de progresso pessoal, familiar e social. É da raça humana. Desejavam o “american way of life”.
Os Estados Unidos foram a meta durante décadas, até séculos, poucos. Lá se ganhava mais, podia-se estudar em grandes universidades, mesmo que os passos iniciais fossem lavando louças em bares e restaurantes, dirigindo táxi e as moças trabalhando como arrumadeiras ou nurses.
Mineiros do Nordeste lá, ganharam dinheiro e compraram imóveis aqui. Um dia, talvez, voltassem; raízes não se esquecem. Muitos retornavam, outros por lá ficaram. Recentemente, com a economia americana fragilizada pela crise, os brasileiros fizeram o retorno, até porque o Brasil estava bem das pernas. Agora, as coisas voltam a mudar, e os conterrâneos novamente tomam o rumo dos States.
O fenômeno migratório vem de épocas remotas e é perfeitamente aceitável e compreensível. O homem precisa e luta por melhores condições de vida, agora e sempre. Se a situação anda mal, juntam-se os trapos, os sonhos e a família, quando esta existe, e busca-se novo destino. Se a tentativa não dá certo, faz-se a viagem de volta, como no caso das amizades, registrado no trova perene de Soares da Cunha. Para o poeta, amigos são aves de arribação; se faz bom tempo, eles vêm; se faz mau tempo, eles vão.
No nosso caso, há os que partem para os EUA com sonhos e regressam realizados ou frustrados. Não é a situação dos que fogem das zonas conflagradas do Oriente Médio ou do Norte da África, esta uma região que registra doloroso e interminável processo de seviciamento e morte de multidões, causados pela intolerância religiosa e tribal, assim como pelo terrorismo. Escapam, procurando escapar à tragédia.
Expulsos de sua terra, partem sem saber exatamente para onde, a penas que é além do Mediterrâneo. A Europa se acha sob o dever de abrigar os infelizes, sem saber onde estabelecê-los e em que fazê-los produzir. Mas a Europa, também ameaçada, não tem como absorver os migrantes, familiares com crianças que se acomodam sob vias de metrô de superfície, como na zona norte de Paris. Há poucos dias, a polícia francesa desalojou um acampamento improvisado perto da capital com 350 africanos procedentes do Sudão, da Eritreia, Somália e Egito. Mandá-los para onde?
No caso nosso, há de se testemunhar a crescente latinização ou, mais especificamente, hispanização dos Estados Unidos. Como observou Sônia Torres, em livro de 2001, no final do século 20 houve a vitória de um candidato à Casa Branca, em grande medida, pelo voto hispânico. 3,5 milhões de latinos preferiram a chapa Bill Cliton / Al Gore, em 1996.
Nos centros urbanos de predominância hispânica, como Miami, as contas de luz e telefone são escritas em inglês e espanhol, assim como o saldo bancário. Funcionalmente, o espanhol é a segunda língua dos EUA, e nas rádios e tevês se faz programação exclusivamente em espanhol. Fica mais fácil aos brasileiros sentir-se próximos de casa.
 

TELHADOS VERDES



  

Vinicius Porto


Os telhados verdes e os jardins verticais foram recentemente reconhecidos como medidas de compensação ambiental nos Termos de Compromisso Ambiental (TCA) na cidade de São Paulo. A novidade, introduzida por meio de decreto sancionado pelo prefeito Fernando Haddad, estabelece que empresas e pessoas físicas que fizerem o manejo de espécies arbóreas e realizarem intervenções urbanísticas específicas, tais como obras e edificações na cidade de São Paulo, poderão converter a devida compensação ambiental em instalação de jardins verticais e coberturas verdes.
A nova regulamentação vai ao encontro das políticas urbanísticas mais modernas do mundo, trazendo uma solução estratégica que compatibiliza o desenvolvimento urbano com reestabelecimento do equilíbrio ambiental, bem este considerado pela nossa Constituição Federal como de uso comum do povo e essencial à qualidade de vida. E deixa as cidades mais bonitas e agradáveis.
Como se vê, o tema é de grande relevância ambiental e social, visto que a compensação ambiental hoje constituiu importante ferramenta prevista no ordenamento jurídico brasileiro como forma de substituição dos bens ambientais afetados por outros, funcionalmente equivalentes, de modo que a nova regulamentação paulista possibilita compensar a natureza com a própria natureza.
Enquanto os telhados verdes e os jardins verticais ainda soam no Brasil como uma grande novidade, na Europa, desde a década de 60, já consiste em uma prática construtiva comum em razão das crescentes preocupações com a qualidade do ambiente urbano. Para se ter uma ideia, na década de 80, o governo alemão subsidiava de 35 a 40 marcos alemães por metro quadrado de cobertura verde a ser construída.
O histórico de incentivo financeiro do governo alemão e a atual inovação normativa paulista são fundados já que os benefícios das coberturas verdes não se limitam ao paisagismo e à decoração urbana, apesar de valorizar o lado visual das edificações. As ditas estruturas também melhoram o conforto térmico e acústico nos ambientes internos, contribuem para a maior durabilidade das fachadas prediais e melhoram a qualidade e a umidade do ar.
Com tantas vantagens, o maior empecilho ainda é o custo de implantação, pois os telhados verdes e os jardins verticais verdes necessitam de um sistema automático de irrigação, reaproveitamento da água e fertilização para a sua manutenção. Tudo isso significa que a inovação normativa ambiental é boa, mas provavelmente ainda não seja o suficiente para atrair os empreendedores e tornar financeiramente viável a sua implantação em grande escala. Neste ponto, talvez o histórico europeu de verdadeiros subsídios ao empreendedor possa nos servir de inspiração.
De toda forma, pode-se avaliar como medida que favorece uma maior quantidade de verde nas edificações das grandes cidades, carentes em regra de mais áreas verdes. Desta feita, não se pode desprezar esta oportunidade de tornar mais verdes as cidades.

segunda-feira, 15 de junho de 2015

HOMENAGEM A FERNANDO BRANT



  

Afonso Borges

No túnel do tempo, inveja do Tavinho. Viveu tanta coisa com o Fernando que vai levar uma outra vida só relembrando. A trilha musical da minha geração passa pelas letras de Fernando Brant. Um amigo que era um antídoto anti-vaidade. Tanta coisa passou por ali, por sua casa, por sua presença, nestes anos de Brasil sitiado e, mesmo depois, e ele, nada: simples. Simples como a “pipoquinha” que ele gostava de tomar sua Brahma. Aquele copo baixo, redondo, seu preferido. E vai passando as imagens no túnel do tempo.

Hermínio Bello de Carvalho: foi ele quem me pediu para trazer, pela primeira vez, ali pelos idos de 80. Antes, foi o segundo convidado, o primeiro foi o França. Depois, no La Taberna, era presença constante: na mesa de debates, ou na plateia. Depois, Cabaré Mineiro, tantas lembranças... Claudinho Duarte, Wagner Tiso, Ramón. Depois, os papos na Cervejaria Brasil, Cozinha de Minas. Nelly Rosa sempre presente, em tudo, com sua liderança amena e amorosa.
Gonzaguinha sentado no fundo da plateia, uma vez. Ele viu lá do palco, me cutucou. Eu falei: vamos chamar ele para a mesa? Não, deixa ele, quer só ouvir. Antes, muito antes, Festival de Inverno em Diamantina, ali por 82, 83. Seguimos muitas capistranas na madrugada. Capistrana é coisa para levar bebum pra casa. É só seguir a da direita que a gente chega na Pousada, dizia.

Neste zigue-zague da memória, consegui convencer a Editora Record a publicar “Clube dos Gambás”, uma reunião de crônicas com ilustrações de Veveco. E saímos por aí em lançamentos. As muitas vezes que liguei para o Fernando, pedindo para ele parar de fazer crônicas que me fazem chorar. Ele ria, ria... Mais zigue-zague, uma longa espera em Confins, pai zeloso, indo visitar a Bel no Rio de Janeiro. Não conseguia ficar muito tempo longe das filhas. Um pai repleto de saudades.

Um dia me deu um estalo: Minas não valoriza seus gênios, aquela conversa mole e equivocada. Chamei ele e Tavinho para fazer alguns eventos comigo. Levei os dois para São Paulo, no Sesc Vila Mariana. Este ficou eternizado, foi gravado, está disponível na página do YouTube. Virou memória.

Lembro também da mágoa com o pessoal do grupo da Paula Lavigne, em uma reunião que ele foi maltratado. Aí vem o Fernando combativo, dos direitos autorais, ao lado de Hildebrando, amigo de vida inteira. Mas um combativo sempre pronto a dar um sorriso, uma boa gargalhada. Esta é a memória que fica, e vai ficar para sempre, ao lado de suas letras, eternas. Fernando Brant soube fazer o sentimento de um País virar poesia, na forma de letras de músicas. Mas não precisava ir tão cedo. Minas, hoje, não são muitas, mais. Minas são todas Fernando Brant.

Morre em Belo Horizonte o compositor Fernando Brant, aos 68 anos
Um dos fundadores do Clube da Esquina e parceiro de Milton Nascimento em clássicos como 'Travessia', ele sofreu complicações decorrentes de um transplante de fígado


Fernando Brant, compositor e parceiro de Milton Nascimento, que morreu em Belo Horizonte - Ailton de Freitas / Agência O Globo (08.03.2006)

RIO – O músico, jornalista e escritor Fernando Brant morreu às 21h40m desta sexta-feira, aos 68 anos, em Belo Horizonte, vítima de complicações decorrentes de um transplante de fígado. O velório começa às 10h deste sábado, no Palácio das Artes. O enterro será no Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Brant tornou-se conhecido na MPB por conta de sua parceria com Milton Nascimento, com quem compôs mais de duas centenas de músicas, entre elas "Travessia".
A amizade foi um divisor de águas na vida dos dois. Um encontro mágico. Fernando Brant e Milton Nascimento se conheceram nos idos de 1960. Logo depois, Milton convenceu o parceiro a escrever a letra de sua primeira música: “Travessia” surgiu em 1967 e foi um estouro. No mesmo ano, ficou com o segundo lugar no II Festival Internacional da Canção, no Rio. A carreira do cantor mineiro decolou, e o parceiro de fé sempre esteve por perto.
Mas Fernando Brant era múltiplo. Seu envolvimento com música e literatura vinha desde o curso de direito. Em 1969, começou a trabalhar como jornalista na revista “O Cruzeiro”. Antes, ainda como universitário, foi escrivão no Juizado de Menores de Belo Horizonte.
Os anos 1960 foram pródigos e marcariam profundamente a história da música popular brasileira. Em Belo Horizonte, Brant e amigos lançaram um projeto que viria a ser a pedra fundamental do Clube da Esquina. Ao lado de Milton e Brant, estavam nomes como Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner Tiso e Flávio Venturini, entre outros. A produção profícua de mais de 200 músicas que saiu dali é um passeio por clássicos como “Sentinela”, “Saudade dos aviões da Panair (conversando no bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos bailes da vida”, só para citar alguns.

INFLUÊNCIA DO RÁDIO
O gênio que se tornaria o principal letrista de Milton Nascimento nasceu no interior de Minas Gerais, em Caldas, em 9 de outubro de 1946. Fernando Rocha Brant mudou-se, aos 5 anos, para Diamantina e, aos 10, para Belo Horizonte, onde passou o resto de sua infância e adolescência.
Numa entrevista ao site do projeto Museu Clube da Esquina, Brant falou da importância de suas raízes na sua trajetória musical. “O meu pai gostava de música. Ouvia muito rádio, que tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso, Agostinho dos Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A primeira vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que também trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa nova. Quer dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que desde pequeno, lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio Nacional era a TV Globo da época, então todo mundo ouvia”, contou ele em um dos trechos.
Em outro momento, o letrista discorreu sobre a dimensão humanística da música: “Eu acho difícil a música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era assim: ‘Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria’. Era um samba que tocava na Rádio Nacional.”
Há três anos, Brant foi diagnosticado com câncer no fígado e se submeteu a uma cirurgia para retirada do tumor. Mas novos tumores foram descobertos este ano. De acordo com a irmã dele, Ana Brant, o letrista passou por uma cirurgia que precisou ser refeita cerca de 48 horas depois. Na terça-feira passada, foi submetido, no Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ao primeiro transplante do órgão, mas houve rejeição. Uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e liberando toxinas no organismo. Os médicos buscaram novo doador e, na madrugada de sexta-feira, Brant foi mais uma vez operado para um segundo transplante. Ao longo do dia, seu estado se agravou.
Na noite desta sexta-feira, pelas redes sociais, alguns artistas e amigos já se manifestavam sobre a morte do músico. Vermelho, tecladista do grupo 14 Bis, postou uma homenagem a Brant, citando os famosos versos do músico em “Canção da América” em sua página no Facebook: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração. Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas canções, partiu em sua travessia para outra vida. Um menino, um moleque morando sempre em nosso coração...” Pelo Twitter, Lô Borges, seu parceiro do Clube da Esquina, lamentou a morte: “Meus sentimentos à família desse grande e querido parceiro e amigo, Fernando Brant”. Já o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu, em sua página no Facebook, que o compositor era um “grande poeta. Grande brasileiro”: “Com muita tristeza, faço silêncio neste momento, manifestando a minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família”.




AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

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