Manoel Hygino
Muda-se o fluxo de brasileiros, mais
uma vez. Eles procuravam países em que pudessem ganhar mais e gozar felicidade
e a probabilidade de progresso pessoal, familiar e social. É da raça humana.
Desejavam o “american way of life”.
Os Estados Unidos foram a meta durante
décadas, até séculos, poucos. Lá se ganhava mais, podia-se estudar em grandes
universidades, mesmo que os passos iniciais fossem lavando louças em bares e
restaurantes, dirigindo táxi e as moças trabalhando como arrumadeiras ou
nurses.
Mineiros do Nordeste lá, ganharam
dinheiro e compraram imóveis aqui. Um dia, talvez, voltassem; raízes não se
esquecem. Muitos retornavam, outros por lá ficaram. Recentemente, com a
economia americana fragilizada pela crise, os brasileiros fizeram o retorno,
até porque o Brasil estava bem das pernas. Agora, as coisas voltam a mudar, e
os conterrâneos novamente tomam o rumo dos States.
O fenômeno migratório vem de épocas
remotas e é perfeitamente aceitável e compreensível. O homem precisa e luta por
melhores condições de vida, agora e sempre. Se a situação anda mal, juntam-se
os trapos, os sonhos e a família, quando esta existe, e busca-se novo destino.
Se a tentativa não dá certo, faz-se a viagem de volta, como no caso das
amizades, registrado no trova perene de Soares da Cunha. Para o poeta, amigos
são aves de arribação; se faz bom tempo, eles vêm; se faz mau tempo, eles vão.
No nosso caso, há os que partem para
os EUA com sonhos e regressam realizados ou frustrados. Não é a situação dos
que fogem das zonas conflagradas do Oriente Médio ou do Norte da África, esta
uma região que registra doloroso e interminável processo de seviciamento e
morte de multidões, causados pela intolerância religiosa e tribal, assim como pelo
terrorismo. Escapam, procurando escapar à tragédia.
Expulsos de sua terra, partem sem
saber exatamente para onde, a penas que é além do Mediterrâneo. A Europa se
acha sob o dever de abrigar os infelizes, sem saber onde estabelecê-los e em
que fazê-los produzir. Mas a Europa, também ameaçada, não tem como absorver os
migrantes, familiares com crianças que se acomodam sob vias de metrô de
superfície, como na zona norte de Paris. Há poucos dias, a polícia francesa
desalojou um acampamento improvisado perto da capital com 350 africanos
procedentes do Sudão, da Eritreia, Somália e Egito. Mandá-los para onde?
No caso nosso, há de se testemunhar a
crescente latinização ou, mais especificamente, hispanização dos Estados
Unidos. Como observou Sônia Torres, em livro de 2001, no final do século 20
houve a vitória de um candidato à Casa Branca, em grande medida, pelo voto
hispânico. 3,5 milhões de latinos preferiram a chapa Bill Cliton / Al Gore, em
1996.
Nos centros urbanos de predominância
hispânica, como Miami, as contas de luz e telefone são escritas em inglês e
espanhol, assim como o saldo bancário. Funcionalmente, o espanhol é a segunda
língua dos EUA, e nas rádios e tevês se faz programação exclusivamente em
espanhol. Fica mais fácil aos brasileiros sentir-se próximos de casa.

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