Afonso Borges
No túnel do tempo, inveja do Tavinho.
Viveu tanta coisa com o Fernando que vai levar uma outra vida só relembrando. A
trilha musical da minha geração passa pelas letras de Fernando Brant. Um amigo
que era um antídoto anti-vaidade. Tanta coisa passou por ali, por sua casa, por
sua presença, nestes anos de Brasil sitiado e, mesmo depois, e ele, nada:
simples. Simples como a “pipoquinha” que ele gostava de tomar sua Brahma.
Aquele copo baixo, redondo, seu preferido. E vai passando as imagens no túnel
do tempo.
Hermínio Bello de Carvalho: foi ele quem me pediu para trazer, pela primeira vez, ali pelos idos de 80. Antes, foi o segundo convidado, o primeiro foi o França. Depois, no La Taberna, era presença constante: na mesa de debates, ou na plateia. Depois, Cabaré Mineiro, tantas lembranças... Claudinho Duarte, Wagner Tiso, Ramón. Depois, os papos na Cervejaria Brasil, Cozinha de Minas. Nelly Rosa sempre presente, em tudo, com sua liderança amena e amorosa.
Gonzaguinha sentado no fundo da plateia, uma vez. Ele viu lá do palco, me cutucou. Eu falei: vamos chamar ele para a mesa? Não, deixa ele, quer só ouvir. Antes, muito antes, Festival de Inverno em Diamantina, ali por 82, 83. Seguimos muitas capistranas na madrugada. Capistrana é coisa para levar bebum pra casa. É só seguir a da direita que a gente chega na Pousada, dizia.
Neste zigue-zague da memória, consegui convencer a Editora Record a publicar “Clube dos Gambás”, uma reunião de crônicas com ilustrações de Veveco. E saímos por aí em lançamentos. As muitas vezes que liguei para o Fernando, pedindo para ele parar de fazer crônicas que me fazem chorar. Ele ria, ria... Mais zigue-zague, uma longa espera em Confins, pai zeloso, indo visitar a Bel no Rio de Janeiro. Não conseguia ficar muito tempo longe das filhas. Um pai repleto de saudades.
Um dia me deu um estalo: Minas não valoriza seus gênios, aquela conversa mole e equivocada. Chamei ele e Tavinho para fazer alguns eventos comigo. Levei os dois para São Paulo, no Sesc Vila Mariana. Este ficou eternizado, foi gravado, está disponível na página do YouTube. Virou memória.
Lembro também da mágoa com o pessoal do grupo da Paula Lavigne, em uma reunião que ele foi maltratado. Aí vem o Fernando combativo, dos direitos autorais, ao lado de Hildebrando, amigo de vida inteira. Mas um combativo sempre pronto a dar um sorriso, uma boa gargalhada. Esta é a memória que fica, e vai ficar para sempre, ao lado de suas letras, eternas. Fernando Brant soube fazer o sentimento de um País virar poesia, na forma de letras de músicas. Mas não precisava ir tão cedo. Minas, hoje, não são muitas, mais. Minas são todas Fernando Brant.
Hermínio Bello de Carvalho: foi ele quem me pediu para trazer, pela primeira vez, ali pelos idos de 80. Antes, foi o segundo convidado, o primeiro foi o França. Depois, no La Taberna, era presença constante: na mesa de debates, ou na plateia. Depois, Cabaré Mineiro, tantas lembranças... Claudinho Duarte, Wagner Tiso, Ramón. Depois, os papos na Cervejaria Brasil, Cozinha de Minas. Nelly Rosa sempre presente, em tudo, com sua liderança amena e amorosa.
Gonzaguinha sentado no fundo da plateia, uma vez. Ele viu lá do palco, me cutucou. Eu falei: vamos chamar ele para a mesa? Não, deixa ele, quer só ouvir. Antes, muito antes, Festival de Inverno em Diamantina, ali por 82, 83. Seguimos muitas capistranas na madrugada. Capistrana é coisa para levar bebum pra casa. É só seguir a da direita que a gente chega na Pousada, dizia.
Neste zigue-zague da memória, consegui convencer a Editora Record a publicar “Clube dos Gambás”, uma reunião de crônicas com ilustrações de Veveco. E saímos por aí em lançamentos. As muitas vezes que liguei para o Fernando, pedindo para ele parar de fazer crônicas que me fazem chorar. Ele ria, ria... Mais zigue-zague, uma longa espera em Confins, pai zeloso, indo visitar a Bel no Rio de Janeiro. Não conseguia ficar muito tempo longe das filhas. Um pai repleto de saudades.
Um dia me deu um estalo: Minas não valoriza seus gênios, aquela conversa mole e equivocada. Chamei ele e Tavinho para fazer alguns eventos comigo. Levei os dois para São Paulo, no Sesc Vila Mariana. Este ficou eternizado, foi gravado, está disponível na página do YouTube. Virou memória.
Lembro também da mágoa com o pessoal do grupo da Paula Lavigne, em uma reunião que ele foi maltratado. Aí vem o Fernando combativo, dos direitos autorais, ao lado de Hildebrando, amigo de vida inteira. Mas um combativo sempre pronto a dar um sorriso, uma boa gargalhada. Esta é a memória que fica, e vai ficar para sempre, ao lado de suas letras, eternas. Fernando Brant soube fazer o sentimento de um País virar poesia, na forma de letras de músicas. Mas não precisava ir tão cedo. Minas, hoje, não são muitas, mais. Minas são todas Fernando Brant.
Morre em Belo Horizonte o
compositor Fernando Brant, aos 68 anos
Um dos fundadores do Clube da Esquina e parceiro de
Milton Nascimento em clássicos como 'Travessia', ele sofreu complicações
decorrentes de um transplante de fígado
Fernando Brant, compositor e parceiro
de Milton Nascimento, que morreu em Belo Horizonte - Ailton de Freitas /
Agência O Globo (08.03.2006)
RIO – O músico,
jornalista e escritor Fernando Brant morreu às 21h40m desta sexta-feira, aos 68
anos, em Belo Horizonte, vítima de complicações decorrentes de um transplante
de fígado. O velório começa às 10h deste sábado, no Palácio das Artes. O
enterro será no Cemitério do Bonfim, na capital mineira. Brant tornou-se
conhecido na MPB por conta de sua parceria com Milton Nascimento, com quem
compôs mais de duas centenas de músicas, entre elas "Travessia".
A amizade foi um
divisor de águas na vida dos dois. Um encontro mágico. Fernando Brant e Milton
Nascimento se conheceram nos idos de 1960. Logo depois, Milton convenceu o
parceiro a escrever a letra de sua primeira música: “Travessia” surgiu em 1967
e foi um estouro. No mesmo ano, ficou com o segundo lugar no II Festival
Internacional da Canção, no Rio. A carreira do cantor mineiro decolou, e o
parceiro de fé sempre esteve por perto.
Mas Fernando Brant
era múltiplo. Seu envolvimento com música e literatura vinha desde o curso de
direito. Em 1969, começou a trabalhar como jornalista na revista “O Cruzeiro”.
Antes, ainda como universitário, foi escrivão no Juizado de Menores de Belo
Horizonte.
Os anos 1960 foram
pródigos e marcariam profundamente a história da música popular brasileira. Em
Belo Horizonte, Brant e amigos lançaram um projeto que viria a ser a pedra
fundamental do Clube da Esquina. Ao lado de Milton e Brant, estavam nomes como
Lô Borges, Tavinho Moura, Beto Guedes, Toninho Horta, Ronaldo Bastos, Wagner
Tiso e Flávio Venturini, entre outros. A produção profícua de mais de 200
músicas que saiu dali é um passeio por clássicos como “Sentinela”, “Saudade dos
aviões da Panair (conversando no bar)”, “Ponta de Areia”, “Maria, Maria”, “Para
Lennon e McCartney”, “Canção da América” e “Nos bailes da vida”, só para citar
alguns.
INFLUÊNCIA DO RÁDIO
O gênio que se
tornaria o principal letrista de Milton Nascimento nasceu no interior de Minas
Gerais, em Caldas, em 9 de outubro de 1946. Fernando Rocha Brant mudou-se, aos
5 anos, para Diamantina e, aos 10, para Belo Horizonte, onde passou o resto de
sua infância e adolescência.
Numa entrevista ao
site do projeto Museu Clube da Esquina, Brant falou da importância de suas
raízes na sua trajetória musical. “O meu pai gostava de música. Ouvia muito
rádio, que tocava música boa da pré-bossa nova. Tito Madi, Elizeth Cardoso,
Agostinho dos Santos. Então eu acompanhava essas coisas, lia jornais também. A
primeira vitrola que chegou em casa foi o meu irmão mais velho que comprou, que
também trouxe os discos de música americana e já também do começo da bossa
nova. Quer dizer, foi aos pouquinhos. Primeiro através do rádio. Se bem que
desde pequeno, lá em Diamantina, ouvia muito a Rádio Nacional, porque a Rádio
Nacional era a TV Globo da época, então todo mundo ouvia”, contou ele em um dos
trechos.
Em outro momento, o
letrista discorreu sobre a dimensão humanística da música: “Eu acho difícil a
música não entrar na vida da gente. A música, essa que a gente vai ouvindo, é
trilha sonora da vida da gente. De Diamantina, eu lembro de uma música que era
assim: ‘Era de madrugada, ia raiando o dia/ Quando em minha casa bateu Maria’.
Era um samba que tocava na Rádio Nacional.”
Há três anos, Brant
foi diagnosticado com câncer no fígado e se submeteu a uma cirurgia para
retirada do tumor. Mas novos tumores foram descobertos este ano. De acordo com
a irmã dele, Ana Brant, o letrista passou por uma cirurgia que precisou ser
refeita cerca de 48 horas depois. Na terça-feira passada, foi submetido, no
Hospital das Clínicas de Belo Horizonte, ao primeiro transplante do órgão, mas
houve rejeição. Uma das artérias do fígado entupiu, necrosando o órgão e
liberando toxinas no organismo. Os médicos buscaram novo doador e, na madrugada
de sexta-feira, Brant foi mais uma vez operado para um segundo transplante. Ao
longo do dia, seu estado se agravou.
Na noite desta
sexta-feira, pelas redes sociais, alguns artistas e amigos já se manifestavam
sobre a morte do músico. Vermelho, tecladista do grupo 14 Bis, postou uma
homenagem a Brant, citando os famosos versos do músico em “Canção da América”
em sua página no Facebook: “Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do
peito, dentro do coração. Fernando Brant, parceiro querido de tantas belas
canções, partiu em sua travessia para outra vida. Um menino, um moleque morando
sempre em nosso coração...” Pelo Twitter, Lô Borges, seu parceiro do Clube da
Esquina, lamentou a morte: “Meus sentimentos à família desse grande e querido
parceiro e amigo, Fernando Brant”. Já o senador Aécio Neves (PSDB) escreveu, em
sua página no Facebook, que o compositor era um “grande poeta. Grande
brasileiro”: “Com muita tristeza, faço silêncio neste momento, manifestando a
minha homenagem e enviando, com emoção, o meu abraço à sua família”.

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