quarta-feira, 3 de junho de 2015

SAFADOS DA FIFA





Eduardo Costa

Quando, pouco antes das duas da tarde dessa terça-feira, fiquei sabendo da renúncia do presidente da Fifa fiquei arrepiado. E como agradeço a Deus por me arrepiar com uma notícia que vem lá da Suíça e, aparentemente, nada tem a ver comigo! Fico sim emocionado toda vez que o bem derrota o mal e, não sei se por conta da natureza do meu ofício, isso é cada vez mais raro. Joseph Blatter disse: “Meu mandato parece que não é mais apoiado por ninguém”. Como todo velho gagá (porque gente como ele, Marin, Havelange e dessa raça de ratos da barriga branca não merece o respeito de idosos), ele está totalmente equivocado. Primeiro, não “parece”... Ninguém apoia, jogadores europeus ameaçavam não receber o troféu da UEFA das mãos dele no próximo sábado, e clubes do velho continente preparavam um histórico boicote à Copa da Rússia; segundo, não é apenas o mandato dele, mas, a prática, a safadeza sem limites.

O mundo está se enchendo de rolos e mais rolos. E a razão maior da minha alegria é que – não tenho dúvidas – por trás dessa atitude está uma imposição dos patrocinadores. Sim, porque é o dinheiro que move a humanidade. O mesmo dinheiro que corrompe, seduz, violenta, compra, derruba lá na frente quando os lucros estão ameaçados. Qualquer criança minimamente informada, de oito ou nove anos, sente do cheiro de safadeza nestes grandes acordos e aquela cena do Marin surrupiando uma medalha na premiação de categorias de base é algo inimaginável até em centro de internação para menores infratores. Assim, sabedores de que não dá para associar sua marca à quadrilha dos velhos gagás, os donos do dinheiro no mundo deram cartão vermelho a Blatter.

Nós, os pais, agradecemos a Deus por poder dizer aos filhos que não vale a pena ser esperto, não é certo acreditar que os canalhas estão na dianteira porque, um dia depois do outro, cada um só colhe aquilo que planta. Quem quiser ter uma velhice tranquila, decente e respeitada, tem de construir um castelo de verdade a vida inteira. Vale para os poderosos da Fifa e para os espertinhos que estão mais perto da gente... Afinal, não é que agora sabemos, de uma só vez, que a Cowan - histórica cliente dos governos e parceira dos governantes – em menos de duzentos metros de avenida Pedro I conseguiu derrubar um viaduto com menos aço que o devido, erguer dois outros que precisaram ser escorados e ainda fazer uma cabeceira de viaduto só de areia... 

Só queria saber como os vovós que juntaram tanto dinheiro pobre reagem diante do neto que, entre a admiração e o medo da descoberta, pergunta: É verdade o que estão falando a seu respeito?

“Fico sim emocionado toda vez que o bem derrota o mal e isso é cada vez mais raro”

CARROS AUTÔNOMOS



  

Mário D'Alcântara

Não sei se você já assistiu, no TED, uma palestra do Zack Kanter a que ele deu o título de “Falling in Love With the Future”. Impressionou-me tanto que resolvi fuçar seu blog, onde, entre outras coisas, ele trata da radical revolução que os carros autônomos irão fazer nos próximos dez anos. Para quem não leu o blog e não viu o post no Facebook, vou listar aqui alguns dados que me deram uma “porrada mercadológica”, a começar pelo título: “Como os Carros Autônomos da Uber Irão Destruir 10 Milhões de Empregos e Reformatar a Economia Por Volta de 2025”.

Zack Kanter afirma que a mudança provocada, na economia, pelos carros autônomos irá eclipsar qualquer outra inovação já surgida em nossa sociedade. “Os carros autônomos causarão uma perda de empregos sem precedentes e uma reestruturação da nossa economia, solucionarão grande parte dos nossos problemas ambientais, evitarão dezenas de milhares de mortes por ano, economizarão milhões de horas com o aumento da produtividade e criarão indústrias inteiramente novas que ainda não podemos sequer imaginar em nossa atual posição”.

As grandes montadoras já começaram a se preparar para enfrentar os desafios impostos por essa revolução. O impacto sobre a posse de carros será enorme. Em um futuro muito próximo os carros serão comprados e operados por “empresas de caronas” e outras companhias que irão compartilhar a propriedade de veículos. Um estudo da Universidade de Colúmbia sugere que uma frota de 9 mil carros autônomos poderia substituir toda a frota de táxis de Nova York. Os passageiros iriam esperar uma média de 36 segundos para uma corrida que custaria US$0,50 por milha. A rigor, a frota norte-americana de carros cairia de 245 milhões de automóveis para apenas 2,4 milhões de veículos.

O mercado de US$198 bilhões de seguros de automóveis, de US$98 bilhões de financiamento, os US$ 100 bilhões do setor de estacionamentos e a montanha de US$ 300 bilhões de peças e serviços de reposição iriam simplesmente evaporar.

Não mais existiriam as empresas de aluguel de carros nem mesmo as empresas de transporte. Apenas nos Estados Unidos, cerca de 3,8 milhões de empregos das montadoras, das indústrias de autopeças e de vendas e manutenção de veículos também iriam ser tragadas pela nova revolução. Mas, ao mesmo tempo, eliminando-se o preço de aquisição e manutenção de toda a frota, apenas no mercado norte-americano US$1 trilhão seria despejado na economia criando uma nova era, sem precedentes, de eficiência, inovação e criação de novos postos de trabalho.

Quem viver, verá.

“US$1 trilhão seria despejado na economia criando uma nova era, sem precedentes”

terça-feira, 2 de junho de 2015

RENÚNCIA DE BLATTER



Em meio a escândalo de corrupção, Blatter anuncia que deixará Fifa e convoca novas eleições




Uma era acabou no futebol mundial. Vivendo sua pior crise da história, a Fifa anunciou que Joseph Blatter vai convocar nova eleição para o presidente da entidade, apenas quatro dias depois de ter sido eleito para um quinto mandato. Sob forte pressão da polícia, de cartolas, de políticos e patrocinadores, Blatter deixa o poder e novas eleições estão convocadas. Ele ficará como presidente até a nova escolha.
Na semana passada, uma onda de prisões em Zurique havia deixado seu reinado debilitado e Michel Platini, presidente da Uefa, chegou a pedir que ele deixasse o poder. Mas Blatter se manteve no cargo e venceu as eleições de sexta-feira. Ele estava na Fifa desde 1976 e, como presidente, desde 1998.
O fim de seu mandato marca o fim de uma era que, de fato, começou nos anos 1970 com a presidência de João Havelange. Blatter, seu braço direito, apenas o sucedeu e manteve a mesma estrutura.
Sua posição ficou ameaçada quando, na última segunda-feira, o jornal New York Times revelou que a Justiça norte-americana também investiga seu secretário-geral, Jérôme Valcke, que também renunciou nesta terça-feira de seu cargo de secretário-geral da Fifa. Documentos revelaram que ele sabia dos pagamentos de US$ 10 milhões para cartolas no Caribe e que estão sob investigação pelo FBI. Foi a ele que uma carta foi direcionada para que a operação fosse realizada e o dinheiro do orçamento regular da Copa desviado.
Inicialmente, a Fifa insistiu que a carta não provava nada. Mas, na tarde desta terça em Zurique, o francês que ficou conhecido por sugerir que o Brasil deveria levar "um chute no traseiro" acabou abandonando seu cargo.
Valcke já havia anunciado que não viajaria ao Canadá, um forte aliado dos Estados Unidos, para a abertura do Mundial Feminino de Futebol que ocorre no fim de semana. Ele era o principal operador do torneio que, nos últimos anos, ganhou uma nova dimensão na entidade. Mas fontes em Zurique confirmam que existiam temores de que, estando no Canadá, a polícia local pudesse atender a qualquer momento um eventual pedido de extradição por parte dos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira, Valcke foi indicado por uma reportagem do New York Times como a pessoa que, na Fifa, autorizou o pagamento de US$ 10 milhões a Jack Warner, um ex-vice-presidente da Fifa e o homem forte do futebol de Trinidad e Tobago. O dinheiro seria uma retribuição ao voto dele pela África do Sul como sede do Mundial e faz parte do caso liderado pelo FBI.
Em nota emitida nesta segunda, a Fifa confirmava que o pagamento existiu entre a Associação de Futebol da África do Sul, que organizava o Mundial de 2010, e países caribenhos, como uma forma de apoiar a "diáspora africana" na região. A entidade nega que seja uma propina. Mas sim um programa de desenvolvimento.
O dinheiro, segundo a investigação do FBI, teria sido prometido em 2004. Mas, sem recursos, os sul-africanos tivera de esperar até 2008 para solicitar que o dinheiro fosse desviado. No informe financeiro da entidade sul-africana, porém, nenhuma referência é feita aos US$ 10 milhões no balanço aprovado e publicado em 2008.
Em defesa de um de seus principais dirigentes, a Fifa declarou oficialmente que o dinheiro sob suspeita foi autorizado pelo diretor do comitê financeiro à época, Julio Grondona, que morreu no ano passado. Jérôme Valcke, atual secretário-geral, também trabalhava na Fifa naquele momento. Mas, segundo a entidade, não foi ele quem assinou a movimentação.
Numa carta de 4 de março de 2008, porém, é para Valcke que o caso é dirigido. Trata-se de uma comunicação entre a Associação Sul-Africana de Futebol à Fifa (Safa, na sigla em inglês), sugerindo que o dinheiro fosse colocado sob a administração de Warner.
"Prezado sr. Valcke", inicia a carta. O texto pede que ele "segure" US$ 10 milhões do orçamento da Copa e depois transfira para o programa mencionado. O documento assinado por Molefi Oliphant, presidente da Safa, ainda insiste que Warner, um dos indiciados nos Estados Unidos, seria o "fiduciário" do dinheiro.
A Fifa tem outra avaliação sobre o assunto e insiste que, mesmo com a carta, sua resposta é consistente. "À pedido do governo sul-africano, e em acordo com a Associação de Futebol Sul-Africano, a Fifa foi solicitada a processar os recursos do projeto ao manter US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador Local", disse a nota da Fifa.
Segundo a Fifa, foram os sul-africanos que instruíram a entidade a mandar o dinheiro a Warner, naquele momento o presidente da Concacaf. Ele "administraria e implementaria" o projeto. Warner era também o vice-presidente do Comitê de Finanças, o mesmo que autorizou que o dinheiro o fosse destinado.
Morto
Para a Fifa, quem autorizou o depósito foi "o presidente do Comitê de Finanças" da entidade. Naquele momento, o cargo era de Julio Grondona, o argentino que tinha as chaves do cofre da entidade. "Os pagamentos de US$ 10 milhões foram autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo com os regulamentos da Fifa", disse.
"Nem Valcke nem nenhum outro membro de alto escalão da administração da Fifa foram envolvidos na aprovação, início e implementação do projeto", insistiu a Fifa pela manhã desta terça. Grondona morreu logo depois da Copa de 2014, num momento que deixou Joseph Blatter abalado.

MUITAS VEZES SOMOS INVISÍVEIS



  

Luiz Hippert


Desde que o mundo é mundo rola essa história de super poderes. Lá nos tempos mais antigos tinham os semideuses, e até mesmo alguns humanos, com capacidades extraordinárias. Naquela época não havia muita separação entre essas turmas, né? Mais pertinho aqui dos nossos dias, temos o pessoal dos quadrinhos e desenhos animados, muitos deles depois adaptados para o cinema. 

Do Super Homem ao Aquaman, do Flash Gordon ao Incrível Hulk, as habilidades são as mais espantosas. Isso sem falar em todos os X-Men. No meio desse povo todo, sempre teve destaque também o Homem Invisível. Seja como herói ou como o drama de cientistas malucos, vítimas de suas próprias manias de grandeza.

Mas, o assunto aqui não é bem o super poder da invisibilidade. É exatamente o contrário, o “desempoderamento” dos invisíveis, pra usar o oposto de uma expressão bem em moda, o tal do “empoderamento”.

Muita gente aí deve se lembrar da experiência, feita por um psicólogo, para sua tese de mestrado na USP. Ele se vestiu de gari e trabalhou meio horário na função durante um tempo. O mais legal: trabalhou no mesmo ambiente que frequentava no outro meio horário do dia, em sua posição “não gari”. 

Fazendo uma pescaria no Google “lembrei” o nome dele, Fernando Braga da Costa. Entre outros detalhes, peguei uma de suas falas, talvez a principal, que resume a história: “Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão”. 

O tema não me caiu assim, de paraquedas. Pensei em falar disso por causa da grande comoção da semana passada, o acidente aéreo envolvendo Luciano Huck, Angélica, filhos e duas babás. Os filhos – que eu não dei nome aqui – foram nominados desde a primeira hora. Já as babás permaneceram babás até que o grito nas redes sociais ficou alto demais. A visibilidade delas estava resumida às suas funções, e não à sua condição humana. E não foram elas as únicas invisíveis nessa história. Moradores do local onde aconteceu o acidente foram revelados também invisíveis quanto ao atendimento pelos sistemas de saúde. As condições, que não existiam até então, apareceram por encanto, diante da necessidade do socorro às celebridades televisivas. Não sou eu que estou falando, o caso foi denunciado, com grande repercussão, pelo Coordenador do Samu, Eduardo Curi.

É bom que fique claro que nem ele nem eu consideramos errado o atendimento às vítimas famosas. A crítica vai é para o NÃO atendimento aos outros, os invisíveis, que mereciam tanto quanto eles. 

Este caso pode ficar mais cotidiano, se lembrarmos quantas vezes negamos um simples bom dia ou um muito obrigado àqueles que nos rodeiam. Inadvertidamente, contribuímos para este fenômeno da “invisibilidade social”, tema da tese do nosso psicólogo lá do início dessa conversa. 

Ah, Marciléia Garcia e Francisca Mesquita. Estes são os nomes das babás invisíveis, personagens dessa aventura da vida real. Tá, agora todo mundo já sabe, mas nem por isso vou incorrer de novo na mesma falta.

AS ARMADILHAS DA INTERNET E OS FOTÓGRAFOS NÃO NOS DEIXAM TRABALHAR

  Brasil e Mundo ...