terça-feira, 2 de junho de 2015

MUITAS VEZES SOMOS INVISÍVEIS



  

Luiz Hippert


Desde que o mundo é mundo rola essa história de super poderes. Lá nos tempos mais antigos tinham os semideuses, e até mesmo alguns humanos, com capacidades extraordinárias. Naquela época não havia muita separação entre essas turmas, né? Mais pertinho aqui dos nossos dias, temos o pessoal dos quadrinhos e desenhos animados, muitos deles depois adaptados para o cinema. 

Do Super Homem ao Aquaman, do Flash Gordon ao Incrível Hulk, as habilidades são as mais espantosas. Isso sem falar em todos os X-Men. No meio desse povo todo, sempre teve destaque também o Homem Invisível. Seja como herói ou como o drama de cientistas malucos, vítimas de suas próprias manias de grandeza.

Mas, o assunto aqui não é bem o super poder da invisibilidade. É exatamente o contrário, o “desempoderamento” dos invisíveis, pra usar o oposto de uma expressão bem em moda, o tal do “empoderamento”.

Muita gente aí deve se lembrar da experiência, feita por um psicólogo, para sua tese de mestrado na USP. Ele se vestiu de gari e trabalhou meio horário na função durante um tempo. O mais legal: trabalhou no mesmo ambiente que frequentava no outro meio horário do dia, em sua posição “não gari”. 

Fazendo uma pescaria no Google “lembrei” o nome dele, Fernando Braga da Costa. Entre outros detalhes, peguei uma de suas falas, talvez a principal, que resume a história: “Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão”. 

O tema não me caiu assim, de paraquedas. Pensei em falar disso por causa da grande comoção da semana passada, o acidente aéreo envolvendo Luciano Huck, Angélica, filhos e duas babás. Os filhos – que eu não dei nome aqui – foram nominados desde a primeira hora. Já as babás permaneceram babás até que o grito nas redes sociais ficou alto demais. A visibilidade delas estava resumida às suas funções, e não à sua condição humana. E não foram elas as únicas invisíveis nessa história. Moradores do local onde aconteceu o acidente foram revelados também invisíveis quanto ao atendimento pelos sistemas de saúde. As condições, que não existiam até então, apareceram por encanto, diante da necessidade do socorro às celebridades televisivas. Não sou eu que estou falando, o caso foi denunciado, com grande repercussão, pelo Coordenador do Samu, Eduardo Curi.

É bom que fique claro que nem ele nem eu consideramos errado o atendimento às vítimas famosas. A crítica vai é para o NÃO atendimento aos outros, os invisíveis, que mereciam tanto quanto eles. 

Este caso pode ficar mais cotidiano, se lembrarmos quantas vezes negamos um simples bom dia ou um muito obrigado àqueles que nos rodeiam. Inadvertidamente, contribuímos para este fenômeno da “invisibilidade social”, tema da tese do nosso psicólogo lá do início dessa conversa. 

Ah, Marciléia Garcia e Francisca Mesquita. Estes são os nomes das babás invisíveis, personagens dessa aventura da vida real. Tá, agora todo mundo já sabe, mas nem por isso vou incorrer de novo na mesma falta.

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