Luiz Hippert
Desde que o mundo é mundo rola essa
história de super poderes. Lá nos tempos mais antigos tinham os semideuses, e
até mesmo alguns humanos, com capacidades extraordinárias. Naquela época não
havia muita separação entre essas turmas, né? Mais pertinho aqui dos nossos
dias, temos o pessoal dos quadrinhos e desenhos animados, muitos deles depois
adaptados para o cinema.
Do Super Homem ao Aquaman, do Flash
Gordon ao Incrível Hulk, as habilidades são as mais espantosas. Isso sem falar
em todos os X-Men. No meio desse povo todo, sempre teve destaque também o Homem
Invisível. Seja como herói ou como o drama de cientistas malucos, vítimas de
suas próprias manias de grandeza.
Mas, o assunto aqui não é bem o super
poder da invisibilidade. É exatamente o contrário, o “desempoderamento” dos
invisíveis, pra usar o oposto de uma expressão bem em moda, o tal do
“empoderamento”.
Muita gente aí deve se lembrar da
experiência, feita por um psicólogo, para sua tese de mestrado na USP. Ele se
vestiu de gari e trabalhou meio horário na função durante um tempo. O mais
legal: trabalhou no mesmo ambiente que frequentava no outro meio horário do
dia, em sua posição “não gari”.
Fazendo uma pescaria no Google
“lembrei” o nome dele, Fernando Braga da Costa. Entre outros detalhes, peguei
uma de suas falas, talvez a principal, que resume a história: “Professores que
me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por
causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir
desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em
um orelhão”.
O tema não me caiu assim, de
paraquedas. Pensei em falar disso por causa da grande comoção da semana passada,
o acidente aéreo envolvendo Luciano Huck, Angélica, filhos e duas babás. Os
filhos – que eu não dei nome aqui – foram nominados desde a primeira hora. Já
as babás permaneceram babás até que o grito nas redes sociais ficou alto
demais. A visibilidade delas estava resumida às suas funções, e não à sua
condição humana. E não foram elas as únicas invisíveis nessa história.
Moradores do local onde aconteceu o acidente foram revelados também invisíveis
quanto ao atendimento pelos sistemas de saúde. As condições, que não existiam
até então, apareceram por encanto, diante da necessidade do socorro às
celebridades televisivas. Não sou eu que estou falando, o caso foi denunciado,
com grande repercussão, pelo Coordenador do Samu, Eduardo Curi.
É bom que fique claro que nem ele nem
eu consideramos errado o atendimento às vítimas famosas. A crítica vai é para o
NÃO atendimento aos outros, os invisíveis, que mereciam tanto quanto
eles.
Este caso pode ficar mais cotidiano,
se lembrarmos quantas vezes negamos um simples bom dia ou um muito obrigado
àqueles que nos rodeiam. Inadvertidamente, contribuímos para este fenômeno da
“invisibilidade social”, tema da tese do nosso psicólogo lá do início dessa
conversa.
Ah, Marciléia Garcia e Francisca
Mesquita. Estes são os nomes das babás invisíveis, personagens dessa aventura
da vida real. Tá, agora todo mundo já sabe, mas nem por isso vou incorrer de
novo na mesma falta.
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