Em meio a escândalo de corrupção,
Blatter anuncia que deixará Fifa e convoca novas eleições
Uma era acabou no
futebol mundial. Vivendo sua pior crise da história, a Fifa anunciou que Joseph
Blatter vai convocar nova eleição para o presidente da entidade, apenas quatro
dias depois de ter sido eleito para um quinto mandato. Sob forte pressão da
polícia, de cartolas, de políticos e patrocinadores, Blatter deixa o poder e
novas eleições estão convocadas. Ele ficará como presidente até a nova escolha.
Na semana passada,
uma onda de prisões em Zurique havia deixado seu reinado debilitado e Michel
Platini, presidente da Uefa, chegou a pedir que ele deixasse o poder. Mas
Blatter se manteve no cargo e venceu as eleições de sexta-feira. Ele estava na
Fifa desde 1976 e, como presidente, desde 1998.
O fim de seu mandato
marca o fim de uma era que, de fato, começou nos anos 1970 com a presidência de
João Havelange. Blatter, seu braço direito, apenas o sucedeu e manteve a mesma
estrutura.
Sua posição ficou
ameaçada quando, na última segunda-feira, o jornal New York Times revelou que a
Justiça norte-americana também investiga seu secretário-geral, Jérôme Valcke,
que também renunciou nesta terça-feira de seu cargo de secretário-geral da
Fifa. Documentos revelaram que ele sabia dos pagamentos de US$ 10 milhões para
cartolas no Caribe e que estão sob investigação pelo FBI. Foi a ele que uma
carta foi direcionada para que a operação fosse realizada e o dinheiro do
orçamento regular da Copa desviado.
Inicialmente, a Fifa
insistiu que a carta não provava nada. Mas, na tarde desta terça em Zurique, o
francês que ficou conhecido por sugerir que o Brasil deveria levar "um
chute no traseiro" acabou abandonando seu cargo.
Valcke já havia
anunciado que não viajaria ao Canadá, um forte aliado dos Estados Unidos, para
a abertura do Mundial Feminino de Futebol que ocorre no fim de semana. Ele era
o principal operador do torneio que, nos últimos anos, ganhou uma nova dimensão
na entidade. Mas fontes em Zurique confirmam que existiam temores de que,
estando no Canadá, a polícia local pudesse atender a qualquer momento um
eventual pedido de extradição por parte dos Estados Unidos.
Nesta segunda-feira,
Valcke foi indicado por uma reportagem do New York Times como a pessoa que, na
Fifa, autorizou o pagamento de US$ 10 milhões a Jack Warner, um
ex-vice-presidente da Fifa e o homem forte do futebol de Trinidad e Tobago. O
dinheiro seria uma retribuição ao voto dele pela África do Sul como sede do
Mundial e faz parte do caso liderado pelo FBI.
Em nota emitida
nesta segunda, a Fifa confirmava que o pagamento existiu entre a Associação de
Futebol da África do Sul, que organizava o Mundial de 2010, e países
caribenhos, como uma forma de apoiar a "diáspora africana" na região.
A entidade nega que seja uma propina. Mas sim um programa de desenvolvimento.
O dinheiro, segundo
a investigação do FBI, teria sido prometido em 2004. Mas, sem recursos, os
sul-africanos tivera de esperar até 2008 para solicitar que o dinheiro fosse
desviado. No informe financeiro da entidade sul-africana, porém, nenhuma
referência é feita aos US$ 10 milhões no balanço aprovado e publicado em 2008.
Em defesa de um de
seus principais dirigentes, a Fifa declarou oficialmente que o dinheiro sob
suspeita foi autorizado pelo diretor do comitê financeiro à época, Julio
Grondona, que morreu no ano passado. Jérôme Valcke, atual secretário-geral,
também trabalhava na Fifa naquele momento. Mas, segundo a entidade, não foi ele
quem assinou a movimentação.
Numa carta de 4 de
março de 2008, porém, é para Valcke que o caso é dirigido. Trata-se de uma
comunicação entre a Associação Sul-Africana de Futebol à Fifa (Safa, na sigla
em inglês), sugerindo que o dinheiro fosse colocado sob a administração de
Warner.
"Prezado sr.
Valcke", inicia a carta. O texto pede que ele "segure" US$ 10
milhões do orçamento da Copa e depois transfira para o programa mencionado. O
documento assinado por Molefi Oliphant, presidente da Safa, ainda insiste que
Warner, um dos indiciados nos Estados Unidos, seria o "fiduciário" do
dinheiro.
A Fifa tem outra
avaliação sobre o assunto e insiste que, mesmo com a carta, sua resposta é
consistente. "À pedido do governo sul-africano, e em acordo com a
Associação de Futebol Sul-Africano, a Fifa foi solicitada a processar os
recursos do projeto ao manter US$ 10 milhões do orçamento do Comitê Organizador
Local", disse a nota da Fifa.
Segundo a Fifa,
foram os sul-africanos que instruíram a entidade a mandar o dinheiro a Warner,
naquele momento o presidente da Concacaf. Ele "administraria e
implementaria" o projeto. Warner era também o vice-presidente do Comitê de
Finanças, o mesmo que autorizou que o dinheiro o fosse destinado.
Morto
Para a Fifa, quem
autorizou o depósito foi "o presidente do Comitê de Finanças" da
entidade. Naquele momento, o cargo era de Julio Grondona, o argentino que tinha
as chaves do cofre da entidade. "Os pagamentos de US$ 10 milhões foram
autorizados pelo então presidente do Comitê de Finanças e executados de acordo
com os regulamentos da Fifa", disse.
"Nem Valcke nem
nenhum outro membro de alto escalão da administração da Fifa foram envolvidos
na aprovação, início e implementação do projeto", insistiu a Fifa pela
manhã desta terça. Grondona morreu logo depois da Copa de 2014, num momento que
deixou Joseph Blatter abalado.
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