O PROBLEMA DA
DIMINUIÇÃO DO CONSUMO REFLETE NA DIMINUIÇÃO DO FATURAMENTO DAS EMPRESAS DE
ABASTECIMENTO DE ÁGUA E CONSEQUENTEMENTE GERA AUMENTO DE PREÇOS PARA O
CONSUMIDOR.
Tecnologia
pode ajudar a driblar a crise hídrica de São Paulo; veja como:
Márcio
Padrão
do UOL, em São Paulo
do UOL, em São Paulo
Enquanto
o Estado de São Paulo atravessa a pior estiagem de sua história, tecnologias e
peças hidráulicas com foco no melhor desempenho e na sustentabilidade
podem ajudar a gerenciar a crise e aproveitar melhor os recursos hídricos que
ainda restam.
Os
consumidores podem ir atrás dessas inovações para reduzir seu próprio consumo.
Já os serviços públicos de saneamento buscam investir mais em programas de
gerenciamento de água e combate a vazamentos. Essas tecnologias permitem desde
minimizar os gastos de água até a implantação de reaproveitamento da água
usada.
No
entanto, a utilização maciça dessas ideias implica em algumas barreiras, como a
falta de informações do grande público e o alto investimento em produtos
considerados "top".
Alguns
dos dispositivos mais simples e baratos que ajudam na economia já são
conhecidos. Por R$ 5 a R$ 15, o arejador de torneira é uma peça que pode ser
encaixada no bico da torneira para misturar ar ao fluxo de água, aumentando a
sensação de volume enquanto reduz a vazão. O grau de economia depende do
modelo, mas fabricantes falam em 10% a 50% a menos de água usada na torneira no
dia a dia.
Outra
solução que vem se tornando mais comum é a caixa d'água acoplada --aquela na
parte de trás do vaso sanitário-- com duplo funcionamento. O objetivo é
gastar a metade de água da descarga total com o objetivo de despejar apenas
urina no esgoto. Se o modelo de vaso sanitário da sua casa tiver sifonagem com 6
litros de água e acionamento na tampa de caixa acoplado, o consumidor
precisa instalar apenas o mecanismo de descarga dupla, que custa cerca de R$
110. Se a válvula for na parede, há kits conversores na faixa dos R$ 180.
Equipe
suas torneiras com arejadores: esses dispositivos (que parecem uma peneirinha)
custam em média R$ 5 e, ao serem instalados no bico da torneira, ajudam a
reduzir o consumo de água ao proporcionar a sensação de fluxo mais intenso.
Segundo cálculos do Instituto Akatu, se 12 apartamentos de um prédio aderissem
ao uso do arejador na torneira da cozinha, em um ano seria possível economizar
água suficiente para encher uma piscina olímpica.
Controladores eletrônicos
No
entanto, a eletrônica pode ser uma aliada inusitada do consumidor. Em Minas
Gerais, o engenheiro Cláudio Orlandi Lasso desenvolveu o Eco Shower, aparelho
que traz um controle mais preciso do aquecimento do chuveiro elétrico.
Como
resultado, economiza tanto água quanto energiam, pois não é necessário deixar a
água escorrer por um minuto para começar a esquentar, como é de praxe nesses
chuveiros. O preço é acessível: R$ 128, fora o frete. A redução no consumo de
água, segundo o fabricante, é de 40%.
"Cresci
ouvindo meus pais dizendo 'apaga a luz', 'fecha a torneira no banho demorado'
etc. Quando vejo desperdício, isso me incomoda profundamente", lembra
Lasso, que afirma que as vendas do produto aumentaram cerca de 20% nos últimos
três meses.
As
empresas de equipamentos sanitários ainda investem pouco em produtos que aliam
eletrônica à hidráulica. O mais comum é a torneira ativada por sensor de
presença, vista na maioria das vezes em shopping centers, prédios
administrativos, grandes empresas e outros locais públicos. O custo dessa
torneira vai de R$ 280 a R$ 1500.
A Deca já
lançou no país alguns exemplos mais sofisticados dessa vertente, como o
monocomando para chuveiro Deca Touch, que controla a vazão e limita o tempo de
água no banho, via controle remoto; e a torneira com hidrogerador Decalux
Save, que usa a água que desce pela pia para alimentar o funcionamento
energético da própria torneira. Esses, porém, possuem custos proibitivos para a
maioria do público: custam R$ 14 mil e R$ 1,8 mil, respectivamente.
"São
de fato tecnologias mais caras, mas buscamos desenvolver versões mais
acessíveis com o tempo. Em um prazo de quatro a cinco anos conseguiremos
massificá-las", afirma Bruno Antonaccio, diretor de desenvolvimento e
marketing da Deca.
Há ainda
soluções que podem ser compradas no exterior, como o Waterpebble, um tipo
de sensor que mede a água gasta durante o banho e avisa quando o usuário
extrapolou o limite mínimo de água para essa função. Custa US$ 11,95, ou R$ 29,
no site Amazon.
Além do consumidor comum
Para
clientes empresariais e industriais, a contratação de uma empresa de tratamento
e gestão hídrica pode contribuir com a redução do consumo. Situada em São
Paulo, a consultoria Essencis presta serviços que incluem redução ao
máximo do descarte por meio da otimização de processos industriais, redução da
relação consumo/custo com água e implantação de sistemas de tratamento de
efluentes (resíduos líquidos resultantes de processos industriais).
O Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), sediado em Campinas,
também possui uma solução de gestão da água para empresas que permite
centralizar dados das faturas de energia elétrica, gerar análises
técnico-econômicas e identificar potencial para redução do consumo. O banco
Bradesco é um dos clientes.
Na
Califórnia (EUA), que também atravessa um período de estiagem forte, a empresa
Valor Water Analytics desenvolveu um software que permite identificar e
analisar diversos cenários do gerenciamento da rede hídrica e antecipar
soluções. Uma delas é aplicar taxas mais altas a quem gasta mais água que a
média --uma das alternativas do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para
sanar a crise, mas abandonada antes de sua implantação.
Ele também prevê o consumo futuro com base nas fontes existentes de água,
previsões climáticas e tendências hidrológicas da região.
"A
estiagem é um desafio em muitos lugares no mundo de hoje. Basta olhar para o
Oriente Médio para ver como a escassez de água está desafiando o crescimento.
Regiões com períodos secos prolongados são forçadas a fazer escolhas difíceis,
como a eliminação de usos de baixo valor e racionamento. Na Califórnia, muitas
cidades do sul estão fazendo enormes investimentos em construções de abastecimento
de água potável e reutilização de águas residuais", disse a presidente da
Valor, Christine Boyle, por e-mail ao UOL.
A Sabesp,
por meio de sua assessoria de imprensa, informa que duas de suas principais
tecnologias para evitar desperdício na rede hídrica são o Programa de
Redução de Perdas, que utiliza tecnologias de detecção acústica de
vazamentos não visíveis no subsolo; e o controle da pressão na rede com os
chamados Distritos de Medição e Controle --áreas da rede de distribuição nas
quais a quantidade de água que entra ou sai é medida, permitindo conhecer o
comportamento dos consumos da região.